efdeportes.com

Nível de raiva de treinadores esportivos

Nivel de irritación de entrenadores deportivos

 

*IDH, RS

**Faculdade Sogipa; Fadergs

***PUC, RS

(Brasil)

Vanessa Rodrigues Alves*

vat.alve@gmail.com

Marcio Geller Marques**

psiesporte@yahoo.com.br

Adolfo Pizzinatto***

adolfopizzinato@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O estudo buscou conhecer o nível de agressividade de treinadores esportivos da cidade de Novo Hamburgo (RS), através do teste STAXI (SPIELBERG e BIAGGIO, 2003). Foram avaliados 34 treinadores adultos de ambos os sexos, de 19 a 50 anos, de escolas e clubes de formação de atleta. Foi utilizado o Inventário de Expressão da Raiva Traço Estado (STAXI). Os dados foram analisados através do programa estatístico SPSS 14.0 (Statistical Package for Social Sciences). Houve diferença significativa comparando com a amostra brasileira de padronização do STAXI no Controle de Raiva e Raiva pra dentro. Foi realizada uma comparação de médias entre treinadores que treinam uma categoria e treinadores que treinam mais de uma, o primeiro grupo apresentou Expressão de Raiva, Raiva pra fora, Raiva pra Dentro e Reação de Raiva. Quem treina mais de uma categoria apresentou alteração na Raiva pra Dentro e Controle de Raiva.

          Unitermos: Raiva. Treinador. Psicologia do Esporte.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 195, Agosto de 2014. http://www.efdeportes.com

1 / 1

Introdução

    Sabe-se que os treinadores e técnicos influenciam o atleta na formação da global de sua identidade, por isso a importância de estudar a agressividade visando identificar os componentes de raiva que possam estar afetando treinadores na sua maneira de experiênciar a raiva, como: estado e traço; a expressão da raiva, raiva pra fora, raiva pra dentro e controle de raiva e a subescala traço de raiva compreende o temperamento raivoso e a reação da raiva.

    O psicólogo do esporte trabalha com atletas, treinadores e comissão técnica, mas pesquisa com treinadores tem sido escassas. Conforme Becker Jr. (2008), de um modo geral não se encontra características de personalidade que diferenciem os treinadores de sucesso dos restantes, porém aqui queremos estudar acerca de outras características de personalidade que não estejam implicados no sucesso ou derrota, mas sim características tais que falem acerca de como está à questão raiva e o modo como ela é expressada nos treinadores.

    É sabido que muitos treinadores quando tem o psicólogo no local não pedem auxilio do profissional (MARQUES, 2003). Desconhecendo assim treinamentos psicológicos para melhorar tanto seus atletas como assessorando a equipe técnica. A partir deste contexto o objetivo deste estudo foi verificar o nível de agressão de treinadores.

Treinador

    Segundo Becker Jr. (2008), a carreira de treinador pode ser considerada como uma das mais difíceis pela exigência a todo o momento de resultados positivos. Na maioria das vezes se considera o treinador uma figura central pelo caráter categórico que o seu cargo tem no processo de treino e competição, como pela maneira como são impactados pelo público em questões como ganhar e perder.

    Sabe-se que o técnico é a estrutura no esporte, sofrendo pressões da sociedade em resultados, por diretores do clube e pais dos atletas e, com isso é importante ele não mudar o seu jeito de trabalho em função da pressão e ter uma boa formação favorecendo a cooperação, bastante difícil quando seu cargo está em jogo, o que naturalmente ocorre quando se começa perdendo (MARQUES, 2003).

    Becker Jr. (2008) aponta que o treinador deve conhecer noções táticas, técnicas, de treinamento e de psicologia. No que se refere psicologia o autor fala sobre a eficácia da comunicação e como o treinador deve conhecer sua comunicação verbal e não verbal, mostrando através de pesquisas que a linguagem não verbal é mais impactante do que a linguagem verbal.

    Cruz et al. (2001) salientam que a relação do treinador e atleta determina a forma como esses são afetados pela sua participação na modalidade esportiva escolhida. Para tanto, refere-se que essa influencia vai além do contexto esportivo e conforme Cruz e Gomes (1996), os treinadores não têm uma consciência até que ponto existe essa influência no comportamento dos atletas além do contexto desportivo.

    Para Carravetta (2001) o técnico deve ser o elemento organizador exercendo liderança nos treinamentos compondo dessa forma seu trabalho de base, tendo uma visão ampla das possibilidades, objetivos e os resultados dos atletas e/ ou equipe.

    Becker (2008) explica a importância de verificar a raiva, pois após a competição alguns treinadores ficam muito irritados e descontam o resultado negativo nos próprios atletas que também não estão contentes com o resultado. Sobre isso, Weinberg e Gould (2008, p. 494) referem que psicólogos definem a agressão como um “comportamento dirigido ao objetivo de prejudicar ou ferir outro ser vivo que está motivado a evitar tal tratamento”.

Agressividade

    A agressividade no esporte pode ser boa ou ruim, depende se faz parte das regras do jogo, se não ocorre uma falta, por exemplo, seria uma agressividade boa e, se ocorre seria uma agressividade ruim. Seguindo essa teoria, a agressividade depende de uma interpretação do observador (SAMULSKI, 2008).

    Becker (2008) e Samulski (2008) expõem o quanto pais, treinadores e atletas são estimulados a condutas agressivas, apoiados pelos meios de comunicação de massa aumentam drasticamente a agressividade no meio esportivo.

    A agressividade representa segundo Weinberg e Gould (2008), uma disposição permanente de uma pessoa para comportar-se numa determinada situação de forma agressiva. Um comportamento é denominado agressivo quando existe a intenção ou o desejo de prejudicar outra pessoa, independente da realização da ação agressiva e dos efeitos prejudiciais pretendidos.

    A expressão da agressão passiva tem sua origem devido ao indivíduo não dar-se conta de que tem esse sentimento e de que ele está sendo expresso. A passiva inclui expressão atitudinal, condutual e cognitiva. Um exemplo claro de expressão atitudinal é quando a pessoa fica quieta enquanto outra pessoa tenta conversar com ela, já nota-se a condutual em atitudes que podem passar despercebidas, como impedir o atleta que passe pela porta ficando parado na mesma (BECKER, 2008).

    A agressividade é física quando o indivíduo tem consciência de que seu comportamento agressivo pode ferir o adversário não sendo, portanto inerente ao esporte. Para o Machado (1997) o comportamento agressivo pode ser como uma agressão físicas, simbólicas ou verbais, assim como os demais autores corroboram. A ação torna-se agressiva quando atinge a outra burlando as normas da modalidade esportiva.

    Há a necessidade de analisar as causas e os efeitos do comportamento agressivo no esporte e as possibilidades de evitar e controlar condutas agressivas (SAMULSKI, 1992). O conceito de raiva se refere a um estado emocional que abrange sentimentos que variam de leves aborrecimentos, até o descontrole de partir para agressão física. A agressividade, a agressão e a violência se referem a comportamentos expressados em relação a outras pessoas, em relação a objetos do meio ou até mesmo em relação à própria pessoa (HOKINO, 2001).

    Falar em agressividade e estado emocional, nos remete, evidentemente às suas possíveis causas. Dentre os fatores a serem considerados, é fundamental pensarmos nos aspectos de personalidade envolvidos. Segundo Weinberg e Gould (2008) personalidade é a soma das características que tornam a pessoa única. O estudo da personalidade ajuda-nos a trabalhar melhor com estudantes, atletas e praticantes de exercícios. O autor traz a importância de se entender à personalidade com uma abordagem de traço, situacional e interacional, ou seja: traço é relativamente estável, permanecendo na maioria das situações em que o indivíduo vivencia o situacional,ou seja, dependendo do ambiente, o traço da pessoa é reforçado ou não. Já a abordagem interacional soma a variável traço e situação para entender o comportamento.

    A maioria dos autores tem o entendimento de que a personalidade de uma pessoa é originada biopsicosocialmente, com influências do ambiente, como a educação de professores esportivos. Constituindo características pessoais que podem ser permanentes ou estáveis (SAMULSKI, 2009; HOKINO, 2001).

Método

    A presente pesquisa se valeu de uma perspectiva quantitativa, de caráter descritivo exploratório, com o objetivo de melhor apropiar-se dos aspectos que caracterizam a raiva em um grupo de treinadores.

    Foram selecionados 34 treinadores que trabalham com crianças, adolescentes e adultos em competições na cidade de Porto Alegre e Novo Hamburgo. De idades entre 19 a 50 anos, de ambos os sexos. Como protocolo, foi utilizado o teste de STAXI (SPIELBERG e BIAGGIO, 2003).

Resultados

    Antes da aplicação do teste os treinadores responderam algumas perguntas com o intuito de caracterizar a amostra como modalidade esportiva trabalhada, categoria, idade, titulação, sexo, religião, estado civil e tempo de trabalho no local.

Tabela 1. Caracterização da amostra

    A amostra é jovem sendo, a média de idade inferior a 30 anos. Com formação superior em sua maioria (58%) e 29,4% estão em formação. O sexo masculino compõe 85% da amostra e 14,7% de mulheres. Há mais solteiros 58,8% e 38,2% casados. A religião prevalente é católica 73,5% e 11,8% Evangélicos. O tempo de trabalho dos treinadores no local era menor ou igual a 4 anos,o que equivale a 58% da amostra.

Tabela 2. Resultado do STAXI

    Os treinadores avaliados mostram-se em quase todas as subescalas raiva menor índice do que a mostra brasileira de padronização, apenas maior no Controle de Raiva (21,59%) e Raiva pra Dentro (14,25%), monitorando a raiva e guardando-a para si respectivamente.

    A amostra foi realizada com modalidades diversas. Em relação às categorias, 4 treinadores treinam respectivamente: 1 treina a categoria de iniciação esportiva, 3 treinam a categoria mirim, 3 treinam a categoria infantil e 1 treina a categoria adulta compondo 23,52% do total da amostra. A grande maioria com 76% (26) da amostra treinam mais de uma categoria.

Tabela 3. Comparação de médias dos resultados do STAXI entre treinadores que treinam várias categorias e os que treinam somente uma categoria

    Comparando os índices obtidos no STAXI por treinadores que treinam numa modalidade esportiva uma categoria com a padronização brasileira temos diferenças significativas na Expressão de Raiva, que compreende, a raiva pra dentro, raiva pra fora e controle da raiva, ela fornece um índice geral de como a raiva é expressada, mostrando estar em 28,75% sendo que o padrão é 25,54%. Pode-se dizer, a partir desses dados que os treinadores que treinam apenas uma categoria, lidando com uma faixa etária específica estão sendo acometidos de intensos sentimentos de raiva reprimidos (14,25%) e expressos em comportamento agressivo (16%). Esses treinadores manifestam a raiva em várias facetas do comportamento, inclinados a ter extrema dificuldade em relações interpessoais e também correm o risco de desenvolver distúrbios médicos. (Spielberger, 2003).

    Em relação ao Estado de raiva, esses treinadores estão abaixo do padrão brasileiro, significando estar adequado nessa subescala, assim como para o traço também está apropriado sendo um grupo que não se sente injustiçado e não vivenciam um grande número de frustrações. O temperamento está abaixo da média, estando abaixo da padronização brasileira confirmando que o grupo não tem raiva explosiva a menores provocações, não sendo assim impulsivos.

    O mesmo grupo mostra reação à raiva de 8,75% um pouco acima da padronização brasileira de 8,31% evidenciando ser um grupo sensível ao julgamento crítico, afrontas e avaliações negativas, vivenciando sentimentos de raiva intensos.

    O resultado da comparação de treinadores que trabalham com uma modalidade esportiva em várias categorias estão alterados na mesma proporção que a do gráfico total da amostra. Tendo acima da norma padronizada em Raiva pra Dentro e Controle de Raiva.

Discussão

    As Médias totais, contando o grupo todo e as duas categorias posteriormente descritas mostram as subescalas Estado, Traço e Temperamento estão bem próximos das médias padronizadas para a população brasileira, este fato indica que a amostra não tem intensos pensamentos de injustiça, assim como não tem temperamento explosivo, bem como no momento da aplicação estavam bem, mencionando na hora da aplicação por 90% da amostra: “seria interessante que você estivesse aqui no dia do jogo porque é difícil se controlar quando a gente treina e o atleta não realiza em jogo ou então o árbitro rouba”.

    O controle da raiva quando alterado não é saudável porque o treinador está fazendo um esforço, reprimindo esses sentimentos que, se não afeta o seu trabalho pode afetar em outros âmbitos como na sua saúde. É interessante que se tenha um psicólogo no local para que possam intervir e pode ajudar o técnico nesses momentos, assim como auxiliar no manejo dessa agressividade da melhor forma possível.

    Sobre os resultados relevantes da amostra de todos os treinadores e dos que trabalham com várias categorias as pessoas que apresentam altos escores no controle da raiva tendem a investir bastante energia na vigilância e profilaxia da experiência e expressão da raiva. O controle em si é importante que o indivíduo tenha, mas excessivo resulta em indivíduos passivos,que acabam por se isolar e ficar com depressão (SPIELBERGER, 2003).

    Ser treinador não é uma tarefa fácil, muitas vezes pela carga horária trabalhada ser além da “normal”, tendo que trabalhar em finais de semana chega a ser um excesso preocupante porque muitos treinadores passam mais tempo trabalhando do que com sua família, mais tempo com atletas, sendo assim impossível que não atinja os atletas, como na amostra com treinadores que treinam apenas uma categoria onde a expressão está alterada, bem como também atingem quando a raiva é reprimida e a pessoa fica mais passiva.

    Analisando cada resposta pode-se perceber que a questão “tenho mais raiva do que estou disposto a admitir” revela que 52,9% quase nunca têm mais raiva do que está disposto a admitir, 35,3% às vezes, 5,9% freqüentemente e 5,9% quase sempre concordam com a frase. Sugerindo que 47,1% estão realizando o teste dentro da desejabilidade social.

Considerações finais

    Fica evidenciado através do teste que o grupo total tem raiva controlada e raiva pra dentro igual ao grupo que treina mais de uma categoria. O grupo que treina apenas uma categoria apresentou Expressão de Raiva, Raiva pra fora,Raiva pra Dentro e Reação de Raiva. Todas essas subescalas interferem no meio externo menos a Raiva pra Dentro, todavia quando é alto o escore Raiva pra Fora, a pessoa pode expressar a raiva em alguns momentos e em outros não conseguir e reprimir.

    Nos dois grupos é importante que seja trabalhada essa raiva, os escores de raiva pra dentro e controle de raiva nos permitem falar que esses treinadores estão reprimindo em demasia, podendo prejudicar a sua saúde futuramente.

    A raiva pode ser saudável quando motiva o treinador de alguma forma, mas quando externalizada verbalmente e fisicamente é prejudicial para as crianças e adolescentes que estão no desenvolvimento de sua personalidade. É necessário que os treinadores se conscientizem da importância da psicologia do esporte não somente para os seus atletas, principalmente para eles porque é mais um profissional que faz parte do contexto para ajudar nas questões emocionais envolvidas. Como a raiva e agressividade são um problema social, além de ser trabalhada com treinador e atleta, institucionalmente precisa ser trabalhada com todos os profissionais do local.

Referencias

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 195 | Buenos Aires, Agosto de 2014  
© 1997-2014 Derechos reservados