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ISSN 1514-3465

 

Prevalência das lesões em atletas de peteca

Prevalence of Injuries in Shuttlecock Athletes

Prevalencia de lesiones en jugadores de peteca

 

Ricardo Batista Cardoso dos Santos*

ricardopetecauni@gmail.com

Jean Claude Lafetá**

jclafeta@yahoo.com.br

Amário Lessa Júnior***

lessauni@gmail.com

Geraldo Magela Durães****

geraldo.duraes@unimontes.br

 

*Bacharel em Educação Física

pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes)

Acadêmico de Licenciatura em Educação Física pela UNIBTA

Professor de Educação Física na Rede Municipal de Taiobeiras

Atua como árbitro de Peteca e Treinamento funcional

**Graduação em Fisioterapia pela Faculdade de Fisioterapia de Patrocinio

Doutorado em Ciências do Desporto (UTAD - Portugal)

Mestrado em Atividade Física e Saúde (UCB - Brasília)

Especialização em Fisioterapia Desportiva (UCB- RJ)

e Acupuntura (IMES / IPGU - Uberlândia)

Formação em Perícia Judicial e Assistência Técnica (IAPA-JUS)

Professor efetivo da Universidade Estadual de Montes Claros

nos Departamentos de Fisiopatologia (Medicina e Odontologia), Educação Física

e das Faculdades Unidas do Norte de Minas (Fisioterapia)

***Graduação em Licenciatura Plena Em Educação Física

pelo Instituto Católico de Minas Gerais

Mestrado em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília

Doutorando em biotecnologia pela UNIMONTES

Atualmente é professor efetivo da Universidade Estadual de Montes Claros

****Graduação (Licenciatura e Bacharelado) em Educação Física

ela Universidade Federal de Viçosa

Especialização em Ciência do Basquetebol pela UGF

e Metodologia do Ensino Superior pela Unimontes

Mestrado em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília

Doutorado pela Universidade Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal

Atualmente é Professor efetivo da UNIMONTES

(Brasil)

 

Recepção: 21/01/2021 - Aceitação: 28/08/2021

1ª Revisão: 17/06/2021 - 2ª Revisão: 26/08/2021

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Santos, R.B.C. dos, Lafetá, J.C., Lessa Júnior, A., e Durães, G.M. (2021). Prevalência das lesões em atletas de peteca. Lecturas: Educación Física y Deportes, 26(282), 44-58. https://doi.org/10.46642/efd.v26i282.2813

 

Resumo

    O objetivo desta pesquisa foi identificar as lesões mais frequentes nos atletas de peteca de um clube da cidade de Montes Claros/MG. Trata-se de um estudo que se caracteriza como uma pesquisa descritiva, sendo a população de atletas de peteca de um clube recreativo da cidade de Montes Claros/MG e a amostra foi constituída por 50 atletas do sexo masculino e feminino. Foi aplicado um questionário adaptado, onde o mesmo foi enviado para três especialistas que corrigiram e sugeriram novas possibilidades de investigação. A coleta dos dados foi realizada nas quadras do clube citado. Após a coleta e discussão dos dados, pôde-se concluir que as lesões mais frequentes nos atletas de peteca do Max-Min Clube são as contusões, as distensões e tendinites. Os locais das lesões mais citados pelos atletas são os joelhos e ombros, mas muitas lesões combinadas foram mencionadas pelos jogadores, tais como: tornozelo, ombro, panturrilha, joelho, coxa, braço, virilha.

    Unitermos: Peteca. Lesões. Clube.

 

Abstract

    The objective of this research was to identify the most frequent injuries in shuttlecock athletes from a club in the city of Montes Claros/MG. This is a study that is characterized as a descriptive research, being the population of shuttlecock athletes from a recreational club in the city of Montes Claros/MG and the sample consisted of 50 male and female athletes. A questionnaire adapted, where it was sent to three specialists who corrected and suggested new possibilities for investigation. Data collection was carried out in the aforementioned club's courts. After collecting and discussing the data, it could be concluded that the most frequent injuries in the Max-Min Club shuttlecock athletes are bruises, strains and tendonitis. The injury sites most cited by athletes are the knees and shoulders, but many combined injuries were mentioned by the players, such as: ankle, shoulder, calf, knee, thigh, arm, groin.

    Keywords: Shuttlecock. Injuries. Club.

 

Resumen

    El objetivo de esta investigación fue identificar las lesiones más frecuentes en deportistas de peteca de un club de la ciudad de Montes Claros, MG. Se trata de un estudio que se caracteriza por ser una investigación descriptiva, siendo la población de deportistas de peteca de un club recreativo de la ciudad de Montes Claros, MG y la muestra estuvo conformada por 50 deportistas hombres y mujeres. Se aplicó un cuestionario adaptado, que fue enviado a tres especialistas que lo corrigieron y sugirieron nuevas posibilidades de investigación. La recogida de datos se realizó en las canchas del mencionado club. Después de recopilar y discutir los datos, se concluyó que las lesiones más frecuentes en los jugadores de peteca de Max-Min Clube son hematomas, distensiones y tendinitis. Los sitios de lesiones más citados por los atletas son las rodillas y los hombros, pero los jugadores mencionaron muchas lesiones combinadas, como: tobillo, hombro, pantorrilla, rodilla, muslo, brazo e ingle.

    Palabras clave: Peteca. Lesiones. Club.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 282, Nov. (2021)


 

Introdução 

 

    A peteca é um esporte que iniciou a sua prática pelos indígenas brasileiros, antes da vinda dos portugueses (Confederação Brasileira de Peteca, 2021). O jogo de Peteca foi oficializado no Brasil como esporte competitivo em 27 de outubro de 1985, conforme Deliberação N° 15/85 do Conselho Nacional de Desportos, nos termos da Lei Federal nº 6251, de 8 de setembro de 1975. (Confederação Brasileira de Peteca, 2021)

 

Figura 1. Jogo de Peteca no Max-Min Clube de Montes Claros, MG, Brasil

Figura 1. Jogo de Peteca no Max-Min Clube de Montes Claros, MG, Brasil

Fonte: http://encurtador.com.br/gkpqH

 

    Esta é uma modalidade que apresenta um alto crescimento dentre as várias práticas esportivas no estado de Minas Gerais, bem como em todo o Brasil. Isto ilustra a edificação de quadras em todo o estado e o número sempre crescente de atletas de todas as idades e categorias, nas competições oficiais e alto grau de competitividade.

 

    Especificamente nesta modalidade, o jogo de peteca é jogado com um implemento de mesmo nome. De acordo com as regras, a base deve ser construída com discos de borracha montados em camadas sobrepostas. As penas devem ser brancas, em número de quatro, montadas paralelamente duas a duas, de modo que o quadrado formado por elas caiba num círculo ideal com diâmetro de aproximadamente 5 cm. O peso da peteca deve ser de 40 a 42 gramas aproximadamente, e sua altura total deve ser de 20 cm, incluindo as penas (Confederação Brasileira de Peteca, 2021) (Figura 2).

 

Figura 2. A Peteca que o implemento do jogo

Figura 2. A Peteca que o implemento do jogo

Fonte: https://url.gratis/oDvsy

 

    Conforme citam Queiroz, e Resende (2009, p. 8), “a peteca, em relação aos aspectos físicos, as atividades multilaterais de pouca duração e muita intensidade, exercícios de coordenação geral são importantes em qualquer fase do treinamento para competições”. O jogo é um esporte preponderantemente aeróbico que ocasiona a flexibilidade das articulações, agilidade dos movimentos, aumenta a aptidão respiratória, amplia os reflexos e avulta a destreza.

 

    Portanto, a alta performance deve ter como objetivos a aquisição de movimentos e gestos técnicos específicos da peteca, como ataques hábeis, defesas ordenadas e toque apurado, podendo ocorrer desgastes físicos e até lesões nos atletas. No que tange aos aspectos físicos, a peteca, de esporte recreativo, passou a ser um esporte altamente competitivo, causando diversas lesões em seus praticantes nos ombros, tornozelo, joelho, pé.

 

    De acordo com Santos et al. (2021) as lesões esportivas são consequências de atividades esportivas, sendo consideradas deletérias, pois causam dor, limitam a performance, podendo levar a maiores transtornos, como também, podem bloquear ou limitar a prática esportiva por um determinado tempo ou de forma definitiva.

 

    Porém, de acordo com a literatura, existem poucos estudos relacionados ao tema e especificamente direcionados às lesões nesse esporte. Portanto, o objetivo deste estudo é identificar as lesões mais frequentes nos atletas de peteca de um clube recreativo de Montes Claros, MG.

 

Método 

 

    O estudo trata-se de uma pesquisa descritiva que segundo Thomas, Nelson, e Silverman (2012, p. 34) “é relacionada com o status. Das muitas técnicas de pesquisa, a mais preponderante é o questionário”. Diascânio (2020) enfatiza que a pesquisa descritiva pode ser atribuída a uma investigação, na qual os pesquisadores detém conhecimentos teóricos, possibilitando dar continuidade e aprofundamento acerca de uma temática específica.

 

Amostra 

 

    A amostra do estudo foi constituída de 50 atletas amadores de peteca de ambos os sexos, do Max-Min Clube da cidade de Montes Claros, MG, que praticavam a modalidade de forma recreativa, sem orientação profissional especializada no esporte, selecionados por ordem de chegada ao clube, nos dias especificados para a coleta de dados.

 

Instrumentos 

 

    Foi utilizado um questionário adaptado de Rolla et al. (2004), sendo enviado a três especialistas que corrigiram e sugeriram novas possibilidades de investigações. As questões foram de escolhas múltiplas, combinando com respostas abertas, possibilitando mais informações sobre o assunto, sendo indispensável a apresentação das propriedades psicométricas de instrumentos que tenham sido validados previamente ou a indicação dessa limitação.

 

Procedimentos 

 

    Para realização da coleta de dados foi solicitada a autorização do gerente de esportes do Max-Min Clube por meio do TCI - Termo de Concordância da Instituição e dos atletas por meio do TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

 

    O questionário foi aplicado a cada atleta de peteca do sexo masculino e feminino no local de treino nos dias estabelecidos pelo clube, etapa esta ocorrida após a aprovação do Projeto de Pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UNIMONTES, sob o número 3.0558.043.

 

    Diante dessa hipótese o indivíduo que se sentiu incomodado, constrangido ou em situação de risco, teve o livre arbítrio de abandonar a pesquisa a qualquer momento, sem nenhum prejuízo, fato que não ocorreu.

 

Análise estatística 

 

    Para a análise dos dados foi utilizado o pacote estatístico Statistical Package for Social Science (SPSS - versão 22.0), através da estatística descritiva, com médias e frequências.

 

Resultados 

 

    Nesse estudo, cabe-nos relatar e apresentar os resultados obtidos pela coleta dos dados referentes a esse ramo de pesquisa de epidemiologia, sendo o “estudo da frequência, da distribuição e dos determinantes dos problemas de saúde em populações humanas, bem como a aplicação desses estudos no controle dos eventos relacionados com saúde”. (Dicionário Informal – Online, 2019, p. 1)

 

    Foram analisados 50 atletas de peteca do Max-Min Clube, como uma média de idade, em anos de 37,6 (±12,5). O peso médio, em quilogramas, foi 80,2 (±12,2) e a estatura em metros de 1,76 metros (±0,78). Quanto ao Índice de Massa Corporal - IMC do grupo, foi obtida uma média de 25,6 (±3,04) Kg/m², conforme figura abaixo.

 

Figura 3. Idade, estatura, peso de atletas de peteca e IMC

Figura 3. Idade, estatura, peso de atletas de peteca e IMC

Fonte: Dados da pesquisa

 

    Quanto ao gênero, o estudo identificou 41 indivíduos do sexo masculino (82%) e 9 do sexo feminino (18%), confirmando a maior presença de atletas do sexo masculino nas disputas da peteca.

 

Figura 4. Frequência semanal de prática por gênero

Figura 4. Frequência semanal de prática por gênero

Fonte: Dados da pesquisa

 

    Na frequência nota-se que 23 atletas (46%) não tiveram lesão e 27 (54%) tiveram algum tipo de lesão. Dos 27 atletas (54%) que apresentaram lesões, 5 atletas (10%) mostram uma lesão no joelho, 4 atletas (8%) têm lesões nos ombros, 2 atletas (4%) apontaram lesões na coluna, 2 atletas (4%) constataram lesões no tornozelo e coluna, 14 atletas (28%) mostraram lesões em alguns pontos no corpo como: tornozelo, ombro, panturrilha, joelho, coxa, braço, virilha.

 

Figura 5. Locais onde ocorreram as lesões

Figura 5. Locais onde ocorreram as lesões

Fonte: Dados da pesquisa

 

    Sobre o tempo de prática da peteca, o estudo revelou que a maioria dos praticantes têm entre 3 e 6 anos de prática, ou seja, 18 atletas (36%), seguido pelo tempo de mais de 15 anos que praticam o jogo com 12 atletas (24%). Os dados relataram ainda: com até 2 anos de prática, temos 9 atletas (18%), de 7 a 10 anos de prática, 5 atletas (10%) e de 11 a 15 anos de prática, 6 atletas (12%).

 

    As lesões mais frequentes citadas no presente estudo foram: as contusões com 8 atletas (16%), as distensões com 5 atletas (10%) e as tendinites com 3 atletas (6%). Como o protocolo da pesquisa (questionário) elencou diversas lesões, os participantes marcaram mais de uma opção. Isso fez com que os dados ficassem dissipados nesse conjunto de lesões associadas como: contraturas, entorses e condromalácia.

 

Figura 6. Lesões mais citadas pelos atletas

Figura 6. Lesões mais citadas pelos atletas

Fonte: Dados da pesquisa

 

    Relativo à conduta à lesão sofrida, dos 27 atletas que relataram lesões, 7 atletas (14%) não modificaram suas atividades devido as mesmas, 2 atletas (4%) deixaram de realizar alguns movimentos, 8 atletas (16%) adotaram algumas atividades de prevenção, 6 atletas (12%) deixaram de praticar a modalidade por um determinado tempo, 4 atletas (8%) deixaram de praticar o jogo e passaram a adotar medidas de prevenção como meio de evitar as lesões.

 

    Quanto ao tempo de inatividade, verificou-se que 39 atletas (78%) não pararam com as atividades, sendo que 1 atleta (2%), parou por 1 mês, 6 atletas (12%) cessaram por 2 meses, 3 atletas (6%) detiveram por 3 meses e 1 atleta (2%) parou por mais de 3 meses.

 

    Na procura por médicos/fisioterapeutas, constatou-se que 23 atletas (46%) buscaram atendimento, e 27 atletas (54%) que não procuraram um profissional. A importância da procura de um médico ou fisioterapeuta na identificação e reabilitação de lesões mostrou que 47 atletas (94%) acham importante e 3 (6%) não acham importante ter esse acompanhamento.

 

    Sobre a importância do profissional de Educação Física, 47 atletas (94%) acharam importante esse acompanhamento para evitar ocorrência de lesões, e 3 atletas (6%) entenderam que não é importante. Praticamente, 46 atletas (92%) realizam algum aquecimento antes da prática do esporte e 4 atletas (8%) não realiza nenhum tipo aquecimento.

 

    Os dados nos mostram, também, que quanto ao aquecimento 21 atletas (42%) efetuam alongamentos, 13 atletas (26%) realizavam alongamento e trote, 3 atletas (6%) executam alongamentos, trotes e exercícios calistênicos, 2 atletas (4%) fazem corrida moderada, 2 atletas (4%) realizam alongamento, trote e corrida moderada, 3 atletas (6%) executam outros tipos de aquecimentos, sincronizando as atividades acima citadas. Além disso, 6 atletas (12%) disseram não fazer nenhum tipo de aquecimento.

 

    Como métodos preventivos, 8 atletas (16%) revelaram fazer alongamentos, 10 atletas (20%) praticam a musculação, 7 atletas (14%) realizam alongamento e musculação, 1 atleta (2%) prefere o alongamento, corrida de rua e crossfit, 1 atleta (2%) efetua alongamento, musculação e funcional, 2 atletas (4%) executam somente o crossfit, 5 atletas (10%) praticam alongamentos e corrida de rua, 1 atleta (2%) efetua ciclismo, 2 atletas (4%) praticam a musculação e corrida de rua, 2 atletas (4%) praticam funcional, 1 atleta (2%) executam alongamento, corridas, natação e musculação, 1 atleta (2%) realizam alongamento, pilates, corridas e musculação, enquanto 3 atleta (6%) desempenham outra prática de prevenção. Por fim, 6 atletas (12%) não fazem nenhuma atividade preventiva.

 

    Da amostra de 50 participantes, 13 atletas (26%) descreveram que, com as atitudes de prevenção, houve uma melhoria dos sintomas, devido às alterações na dinâmica do jogo e sua preparação.

 

    Quando indagados se praticavam outros esportes além da peteca, 27 atletas (26%) disseram que não. 9 atletas (18%) citaram que praticam 2 modalidades, 12 atletas (24%), alegaram que praticavam 3 modalidades e 1 atleta (2%) relatou disputar 4 modalidades. Houve, porém, 1 atleta (2%) que revelou praticar 7 modalidades, incluindo a peteca.

 

Quadro 1. Lesões esportivas e número de modalidades praticadas

Número Modalidade Praticadas

Apresentou

Lesão

Frequência

Percentual

Percentual Acumulado

1 modalidade

Não

10

20%

54%

Sim

17

34%

Total

27

54%

2 modalidades

Não

6

12%

72%

Sim

3

6%

Total

9

18%

3 modalidades

Não

6

12%

96%

Sim

6

12%

Total

12

24%

4 modalidades

Não

1

2%

98%

Sim

0

0%

Total

1

2%

7 modalidades

Não

1

2%

100%

Sim

0

0%

Total

1

2%

Fonte: Dados da pesquisa

 

    O quadro acima ilustra as lesões e o número de modalidades praticadas pelos participantes da pesquisa. Enquanto 17 atletas que praticam apenas 1 modalidade tiveram lesões, o número diminui em relação aos atletas que praticam mais modalidades, ou seja, quem pratica um maior número de esportes apresentou menos lesões.

 

Discussão 

 

    A peteca constitui uma modalidade esportiva recente, tendo diversos relatos da sua prática de forma recreacional por indígenas da América do Sul desde meados de 1500 (Confederação Brasileira de Peteca, 2021). Os praticantes amadores buscam como motivação nesta modalidade esportiva um aprimoramento da aptidão física, do bem-estar e da saúde. Assim, existe uma preocupação dos atletas amadores em melhorar suas habilidades técnicas, além do momento de lazer e de fazer novas amizades (Carvalho, Ribeiro, e Bizinoto, 2018). No entanto, a prática esportiva exige dos seus praticantes uma sobrecarga física e técnica, com movimentos específicos e risco de desenvolver lesões esportivas.

 

    Como resultados da presente pesquisa sobre as lesões nos atletas de peteca do Max-Min Clube, destaca-se que grande parte (54%) da amostra revelou apresentar ou já haver tido alguma lesão nessa prática esportiva, sendo que dos 27 atletas, cinco (18,5%) apresentaram lesões principalmente nos joelhos, quatro (14,8%) nos ombros e dois na coluna vertebral. As principais lesões encontradas foram as contusões (16%), as distensões musculares (10%) e as tendinites (6%).

 

    Esses achados divergem da literatura, pois em estudo desenvolvido por Abrahão (2010) com atletas masters de peteca, destaca que os segmentos mais afetados foram o tornozelo (18%), seguido pelo ombro, cotovelo e coluna lombar com 14% em cada local. Um aspecto importante em relação ao presente trabalho, foi a pequena prevalência das lesões no joelho (22%), além da coluna cervical e panturrilha com 9%. Já Caixeta (2005) descreve em seu estudo realizado em clubes recreativos, que as principais lesões da peteca foram as entorses/estiramentos com 36,10% e a contusão com 27,07%.

    A articulação do joelho é particularmente suscetível à lesão traumática, por estar localizado nas extremidades de dois braços de alavancas longas, a tíbia e o fêmur. Além disso, como a articulação conecta um osso longo “assentando-se” sobre outro osso longo, sua força e estabilidade dependem dos ligamentos e músculos circundantes, não apenas da sua configuração óssea. (Magee, 2010, p. 727)

    Torres (2004) enfatiza que o joelho constitui um dos segmentos corpóreos mais suscetíveis às lesões esportivas, sendo afetadas principalmente as estruturas ligamentares e meniscais. Dessa forma, em decorrência da complexidade do joelho e a biomecânica inerente à prática em diversas modalidades esportivas, tais como o basquete e o futebol, haverá uma maior sobrecarga nas estruturas capsuloligamentares e meniscais.

 

    As lesões do joelho são muito frequentes em diversas modalidades esportivas, sendo, por diversas vezes, as causas de afastamento do esporte. Em perfeito estado funcional, oferece ao desportista adequada condição biomecânica para uma máxima performance. Entretanto, com alterações funcionais discretas e histórico de lesões anteriores, desalinhamento patelar ou microtraumas por uso excessivo podem provocar importante alteração nos gestos esportivos. (Pinto Júnior, 2014)

As lesões ligamentares do joelho encontram-se entre os problemas mais comuns (Ligamento Colateral Medial - LCM) e significativos (Ligamento Cruzado Anterior - LCA), também potencialmente incapacitantes ocorrentes durante as atividades esportivas (Safran, Mckeag, e Camp, 2002). Além disso, Moreira (2020) enfatiza que as lesões do LCA ocorrem principalmente nas modalidades futebol e basquete.

 

    Com relação à inatividade, Kurata et al. (2007) salientam a importância de um programa ativo de exercícios, estabelecido para precaver ou reduzir as consequências da ociosidade e monotonia, e que é nesse período que o atleta recupera toda a funcionalidade que tinha em períodos competitivos anteriores.

 

    No entanto, Abrahão (2010) revela que a prevenção das lesões deve apresentar um treinamento profilático para distensões musculares, necessitando compor exercícios resistidos e de alongamento. No entanto, para maior efetividade, deve-se aprimorar o gesto esportivo, mas os exercícios de flexibilidade devem ser aplicados com moderação antes do treino, trazendo benefícios para o organismo do atleta.

 

    No estudo de Torres (2004) o autor expõe que as lesões de ombro são a terceira com maior ocorrência, atrás apenas do joelho e tornozelo. Janer et al. (1986) afirmam que esportes que têm como arma principal a extremidade superior (mão, punho, cotovelo e ombro), sendo nestas, o maior índice de lesões. Porém, devido a mudanças de direção e saltos frequentes, podem ocorrer lesões em joelho e tornozelo.

 

    Essas lesões de ombro são bem características do jogo de peteca, pois os golpes (toques por cima, por baixo e em suspensão e os saques) são executados com as mãos, na maioria das vezes, acima da cabeça, em posição desconfortável e não anatômica, o que pode predispor à novas lesões nesses segmentos.

 

    Um fator interessante observado neste estudo refere-se que apenas seis atletas (12%) disseram não realizar nenhum tipo de aquecimento. Portanto, 44 atletas (88%) consideram relevante fazer algum tipo de aquecimento antes das partidas e torneios. Os alongamentos, trotes, corridas moderadas, exercícios calistênicos ou mesmo a associação de vários tipos de aquecimento foram citados, mas os alongamentos tiveram o maior destaque.

 

    Achour Júnior (1998) afirma que os diferentes tipos de exercícios de alongamento apresentam diversos benefícios corpóreos, tais como evitar o encurtamento do componente miotendíneos, elevar e estabilizar a flexibilidade e diminuir o risco de lesões mioarticulares. As principais técnicas são de alongamentos estático, balístico e por facilitação neuromuscular proprioceptiva. Além disso, Alves et al. (2021) preconizam que a realização de alongamentos é fundamental para os praticantes de atividade física regular, atuando de forma preventiva e preparatória.

 

    Existem divergências nos efeitos provocados pelos alongamento, principalmente antes de exercícios de força, como descreve Endlich et al. (2009, p. 201), no qual citam diversos autores que verificaram “que o alongamento agudo e prolongado executado antes do exercício pode reduzir a capacidade de produzir força e potência. Para explicar esses achados, especula-se que fatores neurais e mecânicos estariam envolvidos na redução temporária da atividade e da força muscular”.

 

    Neste sentido, conhecer as implicações de ajustes de exercícios de força e de alongamento pode auxiliar treinadores e praticantes de treinamento de força, e de exercícios físicos, a atingir respostas dos treinamentos mais eficazes e eficientes. (Gomes, et al. 2020)

 

    Para aprimorar as habilidades e desempenho na peteca, torna-se essencial o adequado conhecimento das técnicas e preparação física dos atletas. Conforme brinda Yadav (2017), é fundamental em qualquer prática desportiva a análise das variáveis de aptidão motora da técnica que devem ser dominadas e aprimoradas para melhorar o desempenho esportivo.

 

Conclusão 

 

    A partir dos resultados encontrados, conclui-se que as lesões mais frequentes nos atletas de peteca do Max-Min Clube foram as contusões, as distensões e tendinites. Os segmentos anatômicos mais afetados foram os joelhos, ombros e coluna vertebral. No entanto, vários atletas mencionaram apresentar um histórico de lesões em mais de um local, tais como tornozelo, ombro, panturrilha, joelho, coxa, braço e virilha.

 

    A epidemiologia das lesões esportivas torna-se essencial para a implantação de medidas preventivas e de conduta terapêutica, visando a manutenção da prática esportiva com desempenho e saúde. No entanto, como a peteca constitui uma modalidade esportiva recente com limitadas publicações, é fundamental novas pesquisas envolvendo esta temática.

 

    Com relação às limitações do estudo, para maior fidedignidade dos resultados, seria importante uma amostra maior, com atletas amadores e profissionais e de diversos clubes do município, de outras cidades do estado de Minas Gerais e do Brasil, onde se pratica esta modalidade esportiva com maior frequência.

 

Referências 

 

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Achour Júnior, A. (1998). Flexibilidade: teoria e prática. Editora Atividade Física e Saúde.

 

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Magee, D.J. (2010). Avaliação musculoesquelética (5ª ed.). Editora Manole.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 282, Nov. (2021)