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ISSN 1514-3465

 

As brincadeiras e as possibilidades de protagonismo 

da Educação Física na Educação Infantil

The Games and the Possibilities of Protagonism of Physical Education in Early Childhood Education

Los juegos y las posibilidades de protagonismo de la Educación Física en Educación Inicial

 

Dionny Felipe*

dionnyufes@hotmail.com

Edvan Santos de Jesus**

pagodetanosangue@hotmail.com

Flávio Pereira Pires***

profefflavio@yahoo.com.br

José Roberto Gonçalves de Abreu****

abreufisio@gmail.com

 

*Mestre em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Regional

pela Faculdade Vale do Cricaré (FVC), Espírito Santo

Graduado em licenciatura plena em Educação Física

pela Universidade Federal do Espirito Santo - UFES

Professor de ensino superior do Instituto Vale do Cricaré, São Mateus/ ES

Professor efetivo da rede municipal de ensino de São Mateus/ES

**Licenciado em Educação Física – Faculdade Vale do Cricaré, Músico 

e Agente de Saúde no município de Pedro Canário, ES

***Mestre em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Regional

Licenciado pleno em Educação Física

Pós-graduado em Educação Física Escolar com Ênfase em Ludicidade

e em Educação Especial e Inclusão Socioeducativa

Docente do curso de Educação Física da Faculdade Vale do Cricaré

Professor efetivo das redes estadual e municipal de ensino em São Mateus – ES

Integrante do núcleo de pesquisas em EF, Educação e Saúde (NUPEFES)

****Mestre e Doutor em Educação Física – UFES

Professor do Mestrado em Ciência, Tecnologia e Educação (FVC)

Coordenador dos Cursos de Educação Física e Fisioterapia da FVC

Coordenador dos Cursos de Licenciatura em História e Pedagogia

Professor de Educação Física do Ifes

Fisioterapeuta do Hospital Meridional de São Mateus

Membro do Laboratório Proteoria - Cefd/Ufes

Vice-coordenador do Comitê de Ética em Pesquisa da FVC

Avaliador Institucional e de Cursos do Inep/Mec

(Brasil)

 

Recepção: 24/07/2020 - Aceitação: 07/02/2021

1ª Revisão: 30/12/2020 - 2ª Revisão: 15/01/2021

 

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Citação sugerida: Felipe, D., Jesus, E.S. de, Pires, F.P. e y Abreu, J.R.G. de (2021). As brincadeiras e as possibilidades de protagonismo da Educação Física na Educação Infantil. Lecturas: Educación Física y Deportes, 26(276), 175-192. https://doi.org/10.46642/efd.v26i276.2472

 

Resumo

    Esta pesquisa é resultado das reflexões e estudos desenvolvidos no curso de Licenciatura em Educação Física da Faculdade Vale do Cricaré dentro do Núcleo de Pesquisas em Educação Física e Saúde. Apresenta-se aqui o papel das brincadeiras na Educação Infantil destacando algumas orientações das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) e da Base Nacional Curricular (BNCC) sobre sua importância para o desenvolvimento cognitivo, motor, afetivo, social e cultural das crianças. Defende-se o protagonismo da Educação Física na Educação Infantil justamente a partir das brincadeiras, entendendo que o papel do professor da área deve ser daquele que propõe, instiga e estimula o desenvolvimento do ensino aprendizagem a partir do brincar, numa ação integrada entre os componentes curriculares e as áreas de conhecimento. Por meio de uma revisão bibliográfica, utilizando-se de livros, artigos científicos, dissertações de mestrado e trabalhos de conclusão de curso como fonte de pesquisa, ressalta-se o uso das brincadeiras como principal conteúdo e método de ensino para a Educação Física na Educação Infantil e mais, como possibilidade de assunção da mesma a um papel de protagonismo na etapa de ensino, tendo esta pesquisa como objetivo geral: compreender a importância das brincadeiras na Educação Infantil, destacando as possibilidades trazidas pelas mesmas no que tange ao reconhecimento do protagonismo da Educação Física Escolar na etapa de ensino.

    Unitermos: Brincadeiras. Educação Física. Educação Infantil.

 

Abstract

    This research is the result of reflections and studies developed in the Physical Education Degree course at the Vale do Cricaré Faculty within the Physical Education and Health Research Center. Here we present the role of Play in Early Childhood Education, highlighting some guidelines from the National Curriculum Guidelines for Early Childhood Education and the National Curricular Base about its importance for children's cognitive, motor, affective, social and cultural development. The protagonism of Physical Education in Early Childhood Education is defended precisely from the Play, understanding that the role of the teacher of the area must be the one that proposes, instigates and stimulates the development of teaching learning from playing, in an integrated action between the components curricula and areas of knowledge. Through a bibliographic review, using books, scientific articles, master's dissertations and course conclusion papers as a research source, the use of Games as the main content and teaching method for Physical Education in Education is emphasized Infantile and more, as a possibility of assuming it a leading role in the teaching stage, with this research as a general objective: to understand the importance of Play in Early Childhood Education, highlighting the possibilities brought by them with regard to the recognition of the protagonism of School Physical Education in the teaching stage.

    Keywords: Games. Physical Education. Child Education.

 

Resumen

    Esta investigación es el resultado de las reflexiones y estudios desarrollados en el curso de Licenciatura en Educación Física de la Faculdade Vale do Cricaré dentro del Centro de Investigación en Educación Física y Salud. Aquí se destaca el papel del juego en la Educación Infantil, destacando algunos lineamientos de la las Directrices del Currículo Nacional para la Educación Infantil (DCNEI) y la Base Curricular Nacional (BNCC) sobre su importancia para el desarrollo cognitivo, motor, afectivo, social y cultural de los niños y niñas. El protagonismo de la Educación Física en la Educación Infantil se preserva precisamente a través del juego, entendiendo que el rol del docente en el área debe ser aquel que proponga, instigue y estimule el desarrollo de la enseñanza aprendizaje a través del juego, en una acción integrada entre los componentes curriculares. y áreas de conocimiento. A través de una revisión bibliográfica, utilizando libros, artículos científicos, disertaciones de maestría y trabajos de conclusión de curso como fuente de investigación, se enfatiza el uso de los juegos como contenido principal y método de enseñanza para la Educación Física en Educación Infantil y más, como posibilidad de asumir un rol protagónico en la etapa docente, teniendo esta investigación como objetivo general: comprender la importancia de los juegos en la Educación Infantil, destacando las posibilidades que brindan en cuanto al reconocimiento del protagonismo de la Educación Física escolar en este nivel de enseñanza.

    Palabras clave: Juego. Educación Física. Educación Inicial.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 276, May. (2021)


 

Introdução 

 

    Na Educação Infantil, a Educação Física tem participação importante, pois permite que a criança tenha acesso a uma variedade de experiências e situações que possibilitarão a elas descobrirem novos conceitos, criarem movimentos e ideias que as ajudarão a construir sua base de desenvolvimento da personalidade, da afetividade e da inteligência.

 

    O diálogo com as escritas de diversos autores que se desenha no decorrer desta pesquisa evidencia a importância do brincar para a criança nos mais diversos aspectos, sejam eles cognitivos, motores ou sócio afetivos. Neste sentido, defende-se que a Educação Física Escolar tem fundamental importância nesse processo, ao apropriar-se das brincadeiras como seu principal conteúdo na primeira etapa da educação básica. Esta importância se acentua ainda mais quando a Educação Física se integra com as outras áreas de conhecimento, possibilitando uma integração também daquilo que é ensinado / aprendido e facilitando a internalização por parte da criança do que é proposto.

 

    Como objetivo geral desta pesquisa tem-se: compreender a importância das Brincadeiras na Educação Infantil, destacando as possibilidades trazidas pelas mesmas no que tange ao reconhecimento do protagonismo da Educação Física Escolar na etapa de ensino.

 

Métodos 

 

    A pesquisa, se dá a partir de uma revisão bibliográfica e traz como ponto relevante a quantidade de material disponível para pesquisar esse tema, ressaltando que, a relação aqui proposta entre o uso das brincadeiras como principal conteúdo da Educação Física Infantil e, a partir disso, a possibilidade de assunção da área como protagonista na etapa de ensino, dá um caráter inovador ao que aqui se discute.

 

    São utilizados como fontes bibliográficas para esta pesquisa publicações em livros, artigos científicos, trabalhos de conclusão de curso e dissertações de mestrado publicados entre os anos de 2002 e 2019 como fonte de pesquisa. Esse recorte aborda as escritas mais relevantes da área e que trazem ligação estreita com a proposta do presente artigo. Tais bibliografias bases para a construção desta pesquisa discutem sobre a Educação Física na Educação Infantil, bem como sobre as Brincadeiras na Educação Infantil ou na infância. Destacam-se como principais fontes de pesquisas a plataforma Scielo, o Google Acadêmico, os periódicos do Portal CAPES, bem como a página do Proteoria – UFES.

 

    Segundo Lakatos, e Marconi (2017), a pesquisa bibliográfica é aquela em que o embasamento teórico que se dá através de livros e sites sobre o assunto são muitas vezes vastos, podendo associar uma fonte bibliográfica com outra ou mesmo oferecer material de análise para outros tipos de pesquisa. Procurou-se investigar diversos autores da área da Educação e Educação Física Escolar para o melhor aprofundamento teórico sobre o tema da pesquisa.

 

    A técnica para a produção dos dados dessa pesquisa será embasada justamente nas tessituras de ideias realizadas a partir das diferentes escritas utilizadas como base de dados direcionando tais diálogos ao alcance dos objetivos do presente trabalho.

 

Resultados 

 

    Na Tabela 1 são apresentados, de forma resumida, os dados das obras selecionados para embasar esta pesquisa, indicando os autores e ano do estudo, o resumo da discussão realizada e os principais resultados de cada uma.

 

Tabela 1. Resumo dos estudos que compõem a presente pesquisa e que tratam sobre o brincar na educação infantil

Estudo

Ano

Discussões

Resultados

Sayão

2002

Discute aspectos relacionados à temática corpo e movimento na Educação Infantil, destacando a necessidade de formação permanente em que o corpo e o movimento sejam incluídos como meios de produção cultural.

Pensar o ensino-aprendizagem na Educação Infantil, é tratar das interações estabelecidas entre as e seus pares e também com os adultos, entendendo as mesmas como ponto de partida para o estabelecimento de uma cultura na qual o corpo e o movimento, situados principalmente no brincar, são compreendidos como características inerentes humanas.

Andrade Filho, e Schneider

2008

Reflete sobre a contribuição específica da Educação Física na Educação Infantil, tendo como proposta a abordagem sociocultural.

Apresenta reflexões significativas para a prática pedagógica da Educação Física na Educação Infantil, destacando o brincar como essencial à criança.

Freire

2009

Em especial no capítulo 1 aborda a Educação Infantil, tecendo uma crítica a ânsia pela alfabetização na etapa de ensino e defendendo que a corporeidade da criança seja estimulada.

Propõe uma Educação Infantil pautada no brincar e no universo infantil, onde a infância seja respeitada e com ela o brincar e o jogar assumam papel de destaque nas práticas pedagógicas.

Alves

2014

Toma por base a Revista Brasileira de Ciência do Esporte (R.B.C.E.), tendo como objetivo investigar a produção científica sobre Educação Física na Educação Infantil que circulou na R.B.C.E. na temporalidade de 2000-2013

Destacou o posicionamento crítico dos artigos publicados em relação ao ensino alicerçado na psicomotricidade, bem como uma tendência que aponta para a defesa da cultura corporal e da psicologia Vygotskiana como base para a atuação na primeira etapa da educação básica.

Gava

2010

Destaca a importância da Educação Física e do professor com esta formação na Educação Infantil.

Defende que deve haver a presença do professor de Educação física na Educação Infantil para estimular o desenvolvimento das crianças a partir das práticas corporais.

Bae

2016

Ilustra o modo como o direito da criança à participação se evidencia nos documentos legais acerca da Educação Infantil na Noruega, destacando o brincar como direito fundamental à infância.

As crianças têm o direito de experimentar e se expressar nas atividades diárias, seja através das práticas corporais, do canto, do desenho ou do brincar. Não deve haver redução do direito a participação, sendo uma possibilidade interessante os projetos colaborativos direcionados pelo universo infantil presente na brincadeira.

Pozas

2011

Discute a importância do brincar para aprendizagem e para o desenvolvimento cognitivo.

Evidencia que brincar é fundamental para o desenvolvimento infantil, destacando a necessidade das atividades lúdicas no ensino-aprendizagem.

Mello, e Santos

2012

Discutem sobre o papel da Educação física na Educação Infantil, bem como sobre seu lugar e modo de fazer na etapa de ensino.

Defendem a Educação Física na primeira etapa da educação básica como componente curricular de relevância e que deve propor práticas integradas de ensino a partir do brincar, do jogar e de outros elementos singulares à infância.

Marques, e Sperb

2013

Busca evidenciar o entendimento das crianças sobre a escola de Educação Infantil.

Os resultados destacaram as atividades relacionadas as brincadeiras, ao uso do espaço físico e as regras na fala das crianças como entendimento do que é realizado no tempo/espaço da Educação Infantil, indicando a importância de se pensar quais espaços e oportunidades para brincadeiras estão sendo disponibilizados na etapa de ensino.

Staviski, Surdi, e Kunz

2013

Reflete sobre o tempo no processo de educação das crianças, buscando a compreensão do se-movimentar como possibilidade de respeito à criança no que ela é e deseja, incluindo o brincar nessa discussão.

Posiciona-se criticamente no que diz respeito a escolha da quantidade em detrimento da qualidade no processo educativo da primeira infância, defendendo o tempo da criança como tempo a ser respeitado e sustentando a necessidade de respeitar a criança e, nesse sentido, também o brincar na constituição de um se-movimentar infantil.

Pires

2016

Defende a inserção da Educação Física na Educação Infantil, levantando desde o histórico da etapa, passando por discussões acerca das possíveis transformações causadas pela presença do componente curricular na etapa, quebrando paradigmas referentes a ideias fragmentárias de ensino e apresentando quais seriam suas práticas nas creches e pré-escolas.

A provocação acadêmica e pedagógica abre a discussão sobre a inserção da Educação Física na Educação Infantil local, alicerçada numa proposta pedagógica, produto da pesquisa em questão, e que é construída no intuito de promover o brincar como principal prática de uma Educação Física que atue de forma integrada ao projeto pedagógico das unidades de ensino.

Tüxen Carneiro, Scaglia, Bronzatto, Rodrigues de Assis, e Leite de Camargo

2018

Apresenta o brincar infantil focando principalmente nos aspectos socioculturais. Destaca-se as adaptações pelas quais o brincar passa com o tempo, com intuito de garantir um intercambio geracional a partir da cultura lúdica.

A partir do recorte histórico englobando o período de 1920 a 1930, argumenta-se no sentido de destacar sua importância na afirmação cultural das crianças enquanto pertencentes de determinados grupos socioculturais

Pires, Santos, e Jesus

2019

Traz a ideia de utilização das brincadeiras como prática pedagógica integradora do currículo na Educação Infantil.

Promove e apresenta uma sequência didática a partir das brincadeiras integrando o trabalho da professora com formação em pedagogia e dos pesquisadores na área de Educação Física com o projeto proposto pela escola, mostrando que é possível realizar o trabalho em conjunto a partir das brincadeiras.

Rivero, e Rocha

2019

Apresenta uma pesquisa na Educação Infantil que tem o brincar como representação social dos contextos familiares.

A pesquisa destaca a brincadeira enquanto atividade de uma atividade que propicia momentos de interação intercultural, com construção de enredos por parte das crianças que assim, produzem cultura e se desenvolvem.

 

Discussão 

 

    A presente revisão teve como objetivo compreender a importância das Brincadeiras na Educação Infantil, destacando as possibilidades trazidas pelas mesmas no que tange ao reconhecimento do protagonismo da Educação Física Escolar na etapa de ensino. Neste sentido, buscou-se estabelecer um diálogo com as escritas de diversos autores que apontam para a importância do brincar na primeira etapa da educação básica. Foi possível perceber nas escritas dos autores elencados nesta pesquisa que o tema demonstra uma investigação constante pela compreensão acerca do mesmo. Foi possível tecer caminhos no sentido de apresentar uma possibilidade de assunção, por parte da Educação Física, a um protagonismo na Educação Infantil, a partir das Brincadeiras e da atuação integrada aos demais componentes curriculares conforme destacado a seguir.

 

O papel das brincadeiras nas DCNEI e na BNCC 

 

    As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil1-DCNEI (Brasil, 2010, p. 12) definem a criança como “Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura”.

 

    No estabelecimento das propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil as DCNEI estabelecem que estas devem:

    [...] ter como objetivo garantir à criança acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens, assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e à interação com outras crianças. (Brasil, 2010, p. 18)

    É possível notar o destaque dado pelo documento à brincadeira, que nele é estabelecida como um direito da criança, tão importante quanto a saúde e a liberdade. Logo, se percebe que as DCNEI valorizam os aspectos culturais importantes para a formação do sujeito presentes no ato de brincar.

 

    No momento em que se pondera a Educação Infantil em sua totalidade, e como se dá o desenvolvimento das aprendizagens, é preciso ter em mente os eixos norteadores das práticas pedagógicas, indicados tanto nas DCNEI como na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ou seja, as Interações e a Brincadeira (grifos nossos) para o planejamento e execução das aulas, de modo a garantir um desenvolvimento que esteja de acordo com o período da infância por que passam as crianças em creches e pré-escolas.

 

    É preciso também compreender que as crianças devem estar no centro do planejamento, devendo elas ocuparem o papel principal na construção dos conhecimentos, e que por meio das Brincadeiras, associadas às suas experiências e relacionamentos cotidianos possam ir se constituindo como sujeitos únicos e com características muito próprias na formação de sua personalidade e da cidadania.

 

    A BNCC traz em seu texto para a Educação Infantil, seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento, a fim de garantir que as crianças aprendam desempenhando papel ativo no processo de ensino, sentindo-se provocadas e desafiadas em situações que tragam significados relevantes a seu contexto. Esses direitos são Conviver, Brincar, Participar, Explorar, Expressar e Conhecer-se (Brasil, 2018). Sendo que, sobre o direito de aprendizagem e desenvolvimento Brincar, a BNCC traz o seguinte texto:

    Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais (Brasil, 2018, p. 38).

    É nos momentos de entretenimento e ludicidade que passam a existir circunstâncias desafiadoras e que as crianças buscam de toda forma enfrentar e superar os desafios apresentados, desenvolvendo assim suas potencialidades e, por conseguinte, aprendendo.

 

    A BNCC destaca que “Parte do trabalho do educador é refletir, selecionar, organizar, planejar, mediar e monitorar o conjunto das práticas e interações, garantindo a pluralidade de situações que promovam o desenvolvimento pleno das crianças” (Brasil, 2018, p. 39). Nesse contexto vislumbramos aqui a Brincadeira como uma prática que oferece ao educador propor às crianças a possibilidade de desenvolver-se plenamente, movimentando-se, explorando suas potencialidades de maneira lúdica, interagindo com as outras crianças, bem como com os adultos, com o ambiente e com os objetos para que a aprendizagem se dê de maneira plena.

 

    Assim sendo, provocar situações que oportunizem as Brincadeiras se faz fundamental para a Educação Infantil. É brincando que a criança aprende e são com essas intervenções que ela tem a oportunidade de se construir como um ser completo, cultural, histórico e social. A Educação Física pode contribuir nesse processo oferecendo possibilidades de interações e de trocas afetivas a partir das práticas corporais, especialmente aquelas pertencentes ao universo infantil de acordo com Pires (2016, p. 21) que afirma:

    Uma Educação Física Infantil preocupada com o desenvolvimento da criança nos seus mais diversos aspectos, conecta-se intimamente com a proposta pedagógica da instituição de ensino, estreitando os laços entre o que é ensinado as crianças, proporcionando ao aluno uma unidade das temáticas trabalhadas, facilitando seu aprendizado e situando-o melhor durante todo o processo educativo.

    Cabe ainda destacar que a BNCC estrutura a organização curricular na Educação Infantil em cinco campos de experiências a saber: O eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons cores e formas; Escuta, fala, pensamento e imaginação; e Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações (Brasil, 2018). Ressalta-se assim que, em cada um dos campos de experiências e também realizando a integração curricular entre eles, a Brincadeira traz possibilidades inúmeras de desenvolvimento dos conteúdos e de temas geradores a partir de uma aproximação com o universo infantil, por meio do divertimento e da ludicidade característicos da mesma.

 

As brincadeiras na Educação Física Infantil e o ensino e aprendizagem 

 

    As brincadeiras juntamente com as interações são definidas como eixos norteadores da Educação Infantil tanto pelas DCNEI (Brasil 2010), quanto pela BNCC (Brasil, 2018). Desse modo é preciso dar destaque a esses eixos no ensino aprendizagem tanto no planejamento quanto na prática pedagógica dos professores na Educação Infantil.

 

    Rivero, e Rocha (2019, p. 10) destacam sobre o fato de que as pesquisas tem reafirmado e ampliado “[...] os conhecimentos sobre a brincadeira como atividade significativa na constituição subjetiva, social e cultural da criança e ressaltam a relevância das culturas lúdicas e do brincar entre as ações sociais das crianças de 0 a 6 anos”.

 

    Marques, e Sperb (2013, p. 414) relatam que “O destaque dado pelas crianças ao brincar investe-se de importância ainda maior ao se considerar o papel dessa atividade no desenvolvimento infantil”. Pensamento complementado por Freire (2009, p. 24) ao relatar que no brinquedo ou no ato de brincar:

    [...] a criança vive e representa um sem-número de relações. Saltar um rio largo, atravessar uma ponte estreita, repartir a comida feita, são atividades que materializam, na prática, a fantasia imaginada, e que retornarão depois da prática em forma de ação interiorizada, produzindo e modificando conceitos, incorporando-se às estruturas de pensamento.

    É na corporificação do ato de brincar que se encontra a riqueza da Educação Física na Educação Infantil, promovendo a representação do brincar a partir das possibilidades corporais das crianças, contribuindo com o desenvolvimento e produzindo cultura corporal infantil. Como nos apresentam Tüxen Carneiro et al. (2018), ao enfatizar que as crianças se reconhecem como sujeitos inseridas em um determinado contexto e grupo cultural, muitas vezes experienciando essa cultura a partir do brincar, apropriando-se de valores, habilidades e conhecimentos de seu habitat social.

 

    Para Vygotski (2007) o brincar e o brinquedo têm um grande papel no desenvolvimento da identidade e da autonomia da criança, que desde cedo usa os sons, os gestos e algumas representações contidas nas brincadeiras para desenvolver sua imaginação e se influenciar mutuamente com o mundo a sua volta. O brincar induz ao imaginário e o imaginário coopera imensamente no processo de interação indivíduo-sociedade, trazendo maturidade na sua capacidade de socializar com o meio ao qual está inserido.

 

    Pires, Santos, e Jesus (2019, p. 9) afirmam que “A criança tem como principal atividade diária o brincar, que está presente em todos os momentos, contextos históricos e social pelo qual passa, estimulando seu poder de criação e recriação, aguçando sua perceptividade e agregando conhecimento à sua bagagem cultural”.

 

    Nota-se que a defesa do uso das Brincadeiras como meio principal de desenvolvimento da prática pedagógica na primeira etapa da educação básica é abordada com ênfase pelos autores, que não são os únicos a fazê-lo, uma vez que segundo Pozas (2011, p. 15) “[...] brincar é uma das principais atividades da criança. É por meio da brincadeira que ela revive a realidade, constrói significados e os ressignificar momentos depois. Dessa forma, aprende, cria e se desenvolve em todos os aspectos [...]”. Assim, na ação de brincar, a criança imita, internaliza, cria e recria novos símbolos, situações e significados, ou seja, aprende e se desenvolve.

 

    Vygotski (2007) aponta para a importância da Brincadeira no processo de desenvolvimento infantil, chegando a afirmar ser esta a própria fonte do desenvolvimento ao destacar que é no brinquedo que:

    [...] a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além do seu comportamento diário; no brinquedo é como se ela fosse maior do que ela é na realidade. Como no foco de uma lente de aumento, brinquedo contém todas as tendências do desenvolvimento sob forma condensada, sendo ele mesmo uma grande fonte de desenvolvimento (Vygotski, 2007, p. 134).

    Vygotski (2007, p. 52) ainda ressalta que “[...] a brincadeira cria zonas de desenvolvimento proximal e que estas proporcionam saltos qualitativos no desenvolvimento e na aprendizagem infantil”.

 

    Cabe aqui relembrar o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), que é aquele conjunto de atividades que estão na intercessão entre aquilo que a criança já consegue realizar sozinha (desenvolvimento real) e aquilo que ela necessita de ajuda para fazer (desenvolvimento potencial) (Vygotski, 2007).

 

    Considerando ser na ZDP que a criança se desenvolve e, consequentemente, aprende, é possível pensar nas Brincadeiras como atividades que desafiem as crianças nessa zona, provocando-as na realização de atividades e na solução de desafios propostos (motores, cognitivos, afetivos e sociais) presentes no ato de brincar planejado e estruturado para as aulas na Educação Infantil.

 

    Pires, Santos, e Jesus (2019, p. 27-28) somam-se as ideias anteriormente defendidas por Vygotski sobre a influência do brincar no desenvolvimento infantil ao afirmar que:

    A Brincadeira exerce uma forte influência no desenvolvimento infantil, uma vez que é utilizada pela criança, de um lado pela necessidade de ação e, por outro lado, para satisfazer sua impossibilidade de executar determinadas ações. No entanto, a brincadeira não é apenas uma atividade simbólica, uma vez que mesmo envolvendo situações imaginárias, ela baseia-se em regras de comportamento condizentes com aquilo que está sendo representado e que fará com que a criança internalize.

    Brincando a criança cria símbolos, interage, se desafia na solução de problemas, coopera, assume papeis sociais presentes em seu cotidiano, se expressa com mais desenvoltura, se identifica com seus pares, aproxima-se dos adultos, manipula objetos diversos e se permite aprender de uma maneira bem peculiar à infância.

 

    Perceber as diferentes formas de brincar, enfatiza o lúdico como possibilidade humana para transitar entre modos e níveis de comunicação, oferecendo um potencial para desvendar competências e habilidades comunicativas das crianças permitindo-lhes mudar as perspectivas, entendendo a Brincadeira como um diálogo multifacetado. Isso chama à atenção no entendimento da Brincadeira como uma prática de exercício da liberdade de expressão e de pensamento das crianças. (Bae, 2016)

 

    Assim sendo, as brincadeiras precisam fazer parte do currículo desenvolvido para a Educação Infantil e, em se tratando da Educação Física nesta etapa, elas são os principais meios para alcançar o pleno desenvolvimento das crianças. Pires (2016) concorda ao afirmar que no brincar a criança se transforma, cria e recria personagens, interage e desenvolve. Produz cultura corporal infantil.

 

    Mas não basta apenas que um professor ou uma área do conhecimento se aproprie do brincar como eixo norteador de sua prática. É necessária uma articulação entre os saberes-fazeres desenvolvidos pelos professores das diferentes áreas na etapa de ensino, promovendo uma integração curricular e, assim, uma aprendizagem mais significativa e contextualizada por parte das crianças. É justamente nessa articulação entre os saberes das diferentes áreas do conhecimento que as Brincadeiras oferecem um considerável leque de possibilidades de atuação curricular integrada. (Pires, Santos, e Jesus, 2019)

 

    É notório que as brincadeiras oferecem inúmeras possibilidades para as aulas de Educação Física, sendo nesses momentos que se deve oferecer à criança o estímulo, a aprendizagem, a tranquilidade e a liberdade necessárias ao aprendizado e ao desenvolvimento, sem no entanto estigmatizar o certo e o errado no modo como se brinca, ou ainda correr o risco de direcionar tanto a atividade a ponto de tornar o ato de brincar em algo rígido e monótono. Sobre isso Sayão (2002, p.58) ressalta que:

    [...] quando as crianças brincam, elas o fazem para satisfazer uma necessidade básica que é viver a brincadeira. No entanto, a insistência de que a brincadeira precisa ter uma função “pedagógica” inserida numa lógica produtivista limita suas possibilidades e impede que as crianças recriem constantemente as formas de brincar e se expressar.

    Assim, destaca-se que o brincar infantil, mais do que um conteúdo escolar, é um patrimônio cultural imaterial da sociedade, devendo ser respeitado e se fazendo presente e disponível para que, com a devida articulação entre os saberes e com os devidos cuidados para manter as características lúdicas e infantis presentes nas brincadeiras, se constituam como uma ferramenta de ensino e desenvolvimento na Educação Infantil.

 

    Por sua aproximação com as brincadeiras, a Educação Física pode apropriar-se do brincar em suas aulas como principal atividade para o ensino aprendizagem na Educação Infantil, propondo projetos, sequências didáticas e/ou temas geradores alicerçados na ludicidade e na naturalidade da criança enquanto agente brincante. Essa característica do componente curricular e sua estreita aproximação com o universo infantil pode permitir à Educação Física galgar um protagonismo na primeira etapa da educação básica, tornando-se fator chave para o surgimento de ações pedagógicas ricas e substanciais na organização dos processos de ensino na Educação Infantil.

 

O protagonismo da Educação Física na Educação Infantil a partir das brincadeiras 

 

    Legalmente a Educação Física se faz presente na Educação Infantil por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (Brasil, 1996) que em seu artigo 26, determina que a Educação Física é componente curricular obrigatório da educação básica. Sendo a Educação Infantil a primeira etapa da educação básica, logo a Educação Física tem, por força de Lei, sua presença assegurada na etapa de ensino.

 

    Mas infelizmente é percebido que nem todas as redes de ensino que atendem a Educação Infantil oferecem as aulas do componente curricular com professor habilitado para tal, e mais ainda se percebe que em muitas das redes em que as aulas são ofertadas não há o devido valor ao que é desenvolvido nas unidades de ensino. (Gava et al., 2010)

 

    Muito disso ocorre por falta de conhecimento dos profissionais da Educação Infantil em geral acerca das possibilidades oriundas das práticas corporais desenvolvidas nas aulas, ou, até mesmo, pela falta de articulação e estreitamento do professor de Educação Física com o projeto político-pedagógico da escola.

 

    Segundo Mello, e Santos (2012, p. 32) se “[...] a Educação Física já conquistou, por força de lei, seu espaço na Educação Infantil, falta-lhe a universalização e, mais ainda, uma definição teórico-didático-metodológica para que ocorra também sua legitimação pedagógica”. Destaca-se aqui também a importância de dar publicidade no meio científico sobre a formação do professor de Educação Física, bem como de suas práticas profissionais, (Souza, e Neto, 2006)

 

    Assim é possível afirmar que há necessidade de que o professor de Educação Física busque um estreitamento com as demais áreas do conhecimento na Educação Infantil, possibilitando aos demais profissionais dessa etapa conhecer sobre o que é desenvolvido em suas aulas, bem como estimular o trabalho integrado entre diferentes componentes curriculares e áreas de conhecimento. Tal posicionamento pode proporcionar uma mudança de visão acerca do papel da Educação Física na etapa de ensino.

 

    Seguindo no mesmo pensamento, Pires (2016, p. 79) afirma que “Somente através de práticas coerentes entre o que se propõe na Educação Física Infantil e na Educação Infantil será possível o reconhecimento do trabalho da disciplina no trato com crianças nas escolas de primeira infância”. Afirmativa essa que corrobora com a ideia aqui defendida de que é necessário ao professor de Educação Física para além de desenvolver suas aulas, mas promover suas práticas na Educação Infantil permitindo acesso a toda a comunidade escolar sobre o que é realizado, dando visibilidade ao trabalho desenvolvido, possibilitando o surgimento de trabalhos integradores com outras áreas de conhecimento e provocando assim, uma melhora qualitativa na forma de pensar e fazer a Educação Infantil.

    Podemos então afirmar que a ação pedagógica da Educação Física deve estar intimamente ligada ao projeto da escola, hora acompanhando o trabalho da professora regente, hora servindo de base para o mesmo e muitas vezes realizando os trabalhos conjuntamente no trato de temáticas diversas. Assim apresenta-se como necessária a atuação do professor de Educação Física na educação infantil, os conhecimentos teóricos e práticos acerca do trabalho numa perspectiva interdisciplinar, que presume que o trabalho se dê através de um intercâmbio recíproco, com a interação de diversos conhecimentos e temáticas de maneira coordenada, visando integrar os resultados com cada disciplina trabalhando dentro do seu campo de atuação e complementando/auxiliando a compreensão do assunto por parte do aluno (Pires, 2016, p. 80)

    Uma maneira de realizar tudo que até aqui foi exposto nesta seção é a apropriação das Brincadeiras como elemento essencial no processo educativo, permitindo o ensino de diferentes conteúdos das mais distintas áreas do conhecimento a partir do universo infantil e da ludicidade.

 

    Mais que a utilização do brincar como um método de ensino, aqui se propõe assumir as Brincadeiras como o próprio ensino na Educação Infantil, entendendo que a criança é, naturalmente, um ser brincante, de manifestação muito mais corpórea do que verbal, capaz de imaginar e assumir papéis inúmeros enquanto brinca, se permitindo interagir, aproximar, criar, enfim aprender e desenvolver.

 

    Segundo Andrade Filho, e Schneider (2008, p. 85), entendendo que a Educação Física, componente curricular que dá valor a “[...] sua práxis e se encontra inserido no Projeto Pedagógico de uma escola comprometida com a socialização e ampliação crítica do universo cultural dos seus alunos [...]”, ao assumir as brincadeiras como prática pedagógica o professor estará promovendo o ensino da cultura corporal infantil nas escolas de Educação Infantil.

 

    Assim, cabe aqui uma ressalva importante no que tange ao ensino das Brincadeiras na Educação Infantil, uma vez que:

    Brinquedos e brincadeiras, de uma maneira geral, sempre foram lembrados quando se pensou em discutir o desenvolvimento da criança, mesmo que na maioria destas discussões o que dominou foi o aspecto funcionalista (desenvolvimento motor, cognitivo, socialização) presente no ato de brincar. Não que estes elementos não estejam presentes ou não sejam importantes, mas a brincadeira não pode ser compreendida apenas como uma atividade com um fim preestabelecido. (Staviski, Surdi, e Kunz, 2013, p. 122)

    Torna-se então, relevante considerar as brincadeiras como o próprio ensino aprendizagem, não deixando de levar em consideração todos as possibilidades de desenvolvimento nelas presentes, mas pensar que o próprio ensino do brincar infantil já é desenvolver em diferentes aspectos, com produção de cultura e incentivo as interações.

 

    Tornando-se produtora de cultura no ambiente da Educação Infantil, a Educação Física passará a ser encarada diferente por gestores, professores, e comunidade escolar em geral, podendo esse ser um ponto de partida para além de sua legitimação pedagógica, mas para assunção a um papel de protagonista no nível de ensino.

 

    Outro ponto que se faz necessário debater é com relação a postura de um professor protagonista, pois este não espera que venham lhe propor projetos, ou atividades integradas. O professor que tem como característica o protagonismo é aquele que se inquieta com a quietude do ambiente escolar. É aquele que para estar satisfeito precisa estar envolvido em algo que movimente a escola, que produza conhecimento.

 

    Assim deve ser uma Educação Física protagonista na Educação Infantil: aquela que propõe, desafia, articula, estabelece pontes e links para que não só suas aulas alcancem o sucesso de forma isolada, mas sim que as mesmas se tornem peça essencial de uma engrenagem muito maior chamada integração curricular.

 

    Aprofundando ainda mais a defesa do brincar como possibilidade de a Educação Física assumir um protagonismo, que está a sua espera, na primeira etapa da educação básica, questiono se há um meio mais singelo, suave e natural de articular o ensino dos cinco campos de experiências da Educação Infantil estabelecidos pela BNCC (Brasil, 2018): O eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons cores e formas; Escuta, fala, pensamento e imaginação; e Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações?

 

    Por se constituir em uma prática inerente a naturalidade da criança, o brincar facilita os processos de aprendizagem, de criação e de construção no ensino aprendizagem permitindo aos professores desenvolverem conteúdos diversos ao mesmo tempo, proporcionando uma aprendizagem prazerosa e de qualidade, na medida que cada criança é desafiada dentro de suas possibilidades e desenvolve-se a seu tempo, numa ação conjunta com as outras crianças, divertindo-se e vivendo sua infância.

 

    A Educação Física Escolar tem a capacidade de despertar nas crianças a vontade de se envolver com as práticas de atividades corporais despertando convívio harmonioso e construtivo com outras pessoas, capacitando-as reconhecer e respeitar características físicas em si mesmo e no próximo, despertando a curiosidade, o trabalho em grupo e o respeito, desenvolvendo valores, conhecimento e aceitação.

 

    Nesse sentido Pires, Santos, e Jesus (2019, p. 34) afirmam que:

    [...] é possível entender a presença da Educação Física nas creches e pré-escolas como um elemento fundamental para a integração curricular, uma vez que suas aulas desenvolvem justamente o brincar e o jogar, possibilitando a ludicidade e a aprendizagem pelo movimento, a partir de uma ação da criança sobre o objeto de ensino. Logo, alinhar as atividades desenvolvidas pelas diferentes áreas de conhecimento na Educação Infantil, tendo por base o que se faz nas aulas de Educação Física (a educação pela ação lúdica), é apresentada como uma rica possibilidade de afirmação da identidade da Educação Infantil.

    Desse modo, alicerçar as aulas de Educação Física Infantil nas Brincadeiras é promover o ensino da cultura corporal infantil no espaço da primeira etapa da educação básica, possibilitando laços com outras áreas de conhecimento e, assim, trabalhos integrados com outros professores. É permitir que a partir do que é natural no planejamento e execução de suas aulas, se construam pontes de atuação pedagógica. É tornar-se peça central de uma engrenagem maior e eficaz no ensino, na aprendizagem e no desenvolvimento das crianças em seus primeiros anos de escolarização. É vislumbrar coisas novas, propor, inquietar-se, questionar, sugerir soluções, chamar para planejar juntos, não se cansar nem se desestimular pelas situações negativas que surgirão no percurso. Enfim é assumir o papel de protagonista.

 

Conclusões 

 

    Constatamos, através de uma pesquisa bibliográfica, que as brincadeiras têm função fundamental para o desenvolvimento das crianças da Educação Infantil, uma vez que o brincar faz parte do que é inerente a rotina da criança, que, ao brincar, se aventura, se comunica e interage, permitindo-se desenvolver a partir dos desafios presentes nas brincadeiras e das necessidades comunicativas que elas solicitam, o que torna possível alcançar um nível de aprendizado maior e, principalmente, mais significativo.

 

    Não se trata, nesse sentido, de simplesmente oferecer as brincadeiras de forma aleatória às crianças. O professor de Educação Física deve, na Educação Infantil, estabelecer vínculo entre a cultura presente na comunidade escolar, a bagagem cultural já trazida pelas crianças e a proposta curricular abraçada pela unidade de ensino.Mais do que isso, deve propor um ensino sustentado no brincar e, a partir desse brincar estabelecer laços de integração na atuação dos diferentes campos do conhecimento e componentes curriculares presentes na primeira etapa da educação básica.

 

    No entanto, para que isso venha a acontecer, se faz necessário que o professor de Educação Física Infantil assuma o papel permanente de mediador durante as brincadeiras, permitindo assim situações que oportunizem aprendizagens significativas, pois é na Educação Infantil que o brincar é a principal atividade para a construção de conhecimentos. Papel esse que pode e deve ser assumido na proposição de práticas pedagógicas articuladas entre os diferentes professores de uma mesma turma.

 

    Acreditamos ter alcançado o objetivo proposto nesta pesquisa, uma vez que apresentamos o brincar infantil como uma possibilidade de desenvolvimento das práticas pedagógicas na Educação Infantil, não somente da Educação Física, tendo inclusive oferecido apontamentos que indicam no sentido de que há possibilidade de assunção desse componente curricular ao papel de protagonista na primeira etapa da educação básica a partir de uma postura assumida pelo mesmo como aquele que propõe, instiga, media e estimula ao trabalho integrado entre os professores de diferentes áreas de conhecimento, tendo sempre as Brincadeiras como eixo principal do processo educativo.

 

Nota 

  1. As DCNEI são diretrizes organizacionais e metodológicas para a Educação Infantil dos sistemas de ensino, visando a organização, articulação e desenvolvimento das propostas pedagógicas nacionais para a etapa da educação básica, criadas a partir da Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 276, May. (2021)