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ISSN 1514-3465

 

Prevalência e motivos das dispensas das aulas de Educação Física no Ensino Médio

Prevalence and Reasons of Dismissals from Physical Education Classes in High School

Prevalencia y motivos para la exención de las clases de Educación Física en la Escuela Media

 

Mariana Silva Häfele*

marianesef@hotmail.com

Francisco José Pereira Tavares**

francisco.jptavares@gmail.com

 

*Doutora em Educação Física pela Universidade Federal de Pelotas na área

de concentração "Movimento Humano, Educação e Sociedade" (linha: Biomecânica)

Membro do Laboratório de Avaliação Neuromuscular

(Escola Superior de Educação Física - UFPel)

**Doutor em Educação Física pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL)

Professor Adjunto UFPel – Escola Superior de Educação Física (ESEF)

Coordenador do Curso de Bacharelado em Educação Física (ESEF-UFPel)

(Brasil)

 

Recepção: 26/03/2020 - Aceitação: 31/07/2020

1ª Revisão: 27/06/2020 - 2ª Revisão: 05/07/2020

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Häfele, M.S., e Tavares, F.J.P. (2021). Prevalência e motivos das dispensas das aulas de Educação Física no Ensino Médio. Lecturas: Educación Física y Deportes, 26(276), 36-51. https://doi.org/10.46642/efd.v26i276.2086

 

Resumo

    O presente estudo teve como objetivo geral analisar a prevalência e os motivos relativos às dispensas das aulas de Educação Física no ensino médio na rede pública de ensino da cidade de Morro Redondo-RS. O mesmo foi caracterizado como descritivo, de cunho exploratório, fazendo contribuições de abordagens tanto quantitativas quanto qualitativas. Todos os sujeitos dispensados, num total de dezesseis, de ambos os sexos, participaram do estudo respondendo um questionário. Os resultados obtidos permitem inferir que os pedidos de dispensa das aulas de Educação Física ocorrem em sua maioria por motivos relacionados acerca da jornada de trabalho.

    Unitermos: Educação Física. Escola. Ensino médio.

 

Abstract

    The present study had the general objective analyze the prevalence and reasons related to class dismissals of Physical Education in high school in the public school system in the city of Morro Redondo-RS. It was characterized as descriptive, exploratory, making contributions from both quantitative and qualitative. All the dismissed subjects, in a total of sixteen, of both sexes participated in the study by answering a questionnaire. The results obtained allow us to infer that the requests for exemption from Physical Education classes occur mostly for reasons related to work.

    Keywords: Physical Education. School. High School.

 

Resumen

    El presente estudio tuvo como objetivo analizar la prevalencia y los motivos relacionados con la exención de las clases de Educación Física en el bachillerato en el sistema escolar público de la ciudad de Morro Redondo-RS. Se caracterizó por ser descriptivo, de carácter exploratorio, haciendo aportes tanto desde enfoques cuantitativos como cualitativos. Todos los sujetos exceptuados, un total de dieciséis, de ambos sexos, participaron en el estudio respondiendo un cuestionario. Los resultados obtenidos permiten inferir que las solicitudes de exención de las clases de Educación Física se dan en su mayoría por motivos relacionados con lo laboral.

    Palabras clave: Educación Física. Escuela. Escuela media.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 276, May. (2021)


 

Introdução 

 

    A Educação Física (EF) vem sendo foco de um número cada vez maior de estudos e já há consenso sobre a sua importância e necessidade no ambiente escolar, visto que quase todas as pessoas passam pela escola em algum momento da vida. Entretanto a EF nem sempre é vista como uma disciplina similar às outras, sendo considerada muitas vezes como uma simples saída para o pátio ou mesmo como um segundo recreio. (Feitosa et al., 2011)

 

    Pode-se considerar que, mesmo com a obrigatoriedade da EF enquanto componente curricular, as escolas têm o poder de determinar por meio do projeto pedagógico o número de aulas semanais e como se organizará a disciplina. Isto pode nos levar ao entendimento de que, para alguns alunos, o conhecimento acerca da cultura corporal do movimento poderia ser negado. (Novais, e Avila, 2015)

 

    Se considerarmos o ensino médio, percebemos que em grande parte das situações a EF parece estar deixada de lado, fato que pode ocorrer em função da mesma não ser vista como um componente que contribua na preparação para os vestibulares, o que provoca na maioria das vezes uma duração de suas aulas de forma reduzida, bem como colocadas em turno inverso. Isto faz com que os alunos produzam um deslocamento repetido à escola somente para a aula desta disciplina. (Sousa et al., 2019)

 

    O ensino médio, em quanto uma etapa pertencente ao sistema educacional brasileiro, pode ser considerado como último nível do mesmo (Brasil, 2000). As duas principais finalidades para esta última fase tratam da preparação do aluno para a vida universitária ou para o mercado de trabalho, sendo assim, independente de qual for o caminho, a educação visa a formação de cidadãos. (Polis, e Porto, 2010)

 

    Diversos autores retratam que a EF no ensino médiotem levantado diversas questões problemáticas sobre a sua prática, parecendo não estar condizente aos interesses e necessidades dos alunos para esta etapa da educação básica. (Gambini, 1995; Darido, 1999; Polis, e Porto, 2010; Feitosa, 2011; Souza et al., 2019)

 

    De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) os indicadores que apontam para uma aprendizagem de qualidade é meta que deve ser alcançada de maneira incansável e, neste caminho, a BNCC é um componente fundamental no que diz respeito, em especial ao Ensino Médio, visto os preocupantes índices de aprendizagem, de repetência e de abandono. (Brasil, 2019)

 

    No ensino médio os adolescentes estão passando por um momento de descobertas e devido as transformações porque passam,surgem dificuldades na relação com esse “novo eu”. Num período em que são necessários o conhecimento e a expansão nas relações do indivíduo com seu corpo,o mesmo é deixado de lado, diminuindo a carga horária da EF ou até tornando-a inexistente. (Gambini, 1995)

 

    Conforme Darido et al. (1999) muitos dos alunos que cursam o ensino médio já ingressaram no mercado e estão representando a força de trabalho no país, para seu próprio sustento ou para ajudar a família. Esta mudança na vida, onde o estudante passa a ser um trabalhador/estudante faz com que os indivíduos troquem o turno de aulas e passem para o ensino noturno.

 

    Adicionalmente, alguns fatores evidenciados em produções científicas influenciam no nível de satisfação dos estudantes com as aulas de EF e, por consequência, na participação das mesmas, tais como sexo, desenvolvimento motor e características demográficas. (Brandolin, Koslinski, e Soares, 2015)

 

    Alguns estudos identificam o trabalho como o principal motivo para as dispensas das aulas de EF seguidos de outros motivos com menor predominância como a prática de atividades físicas fora do ambiente, os fatores relacionados às doenças, a dificuldade para se deslocar em período inverso das aulas, a falta de material e o desinteresse dos professores, a falta de gosto pelas aulas e o treinamento fora do contexto escolar. (Galvão, 1993; Gambini, 1995)

 

    A falta de tempo e o descontentamento com os conteúdos, principalmente com o esporte e com as estratégias de ensino também são referidas e, para reverter tal situação, é indicada a diversificação e o aprofundamento dos conteúdos assim como a inclusão da disciplina no mesmo turno das demais. (Zonta et al., 2000)

 

    Outros estudos (Panda, e Luz, 2011; Feitosa 2011) observaram que conforme os alunos eram de séries mais avançadas, menor era a frequência nas aulas e que, quando as aulas foram oferecidas no mesmo turno de estudos, a participação nas aulas foi maior.

 

    Para Raupp (2012) diversas são as razões que influenciam os alunos a não participarem das aulas de EF. Entre estas razões estão a chegada e a adaptação do aluno em um novo ambiente escolar, a falta de habilidade ou capacidade motora para realização das atividades propostas em aula, aulas com outro professor de EF durante o ensino fundamental que apresenta métodos e concepções de EF diferentes em relação ao professor do ensino médio. Também são referidos fatores relativos à falta de sistematização de conteúdos, bem como a repetição dos mesmos, os quais já foram ministrados no ensino fundamental.

 

    Da Silva, Rodrigues, e Dos Santos Freire (2017) observaram que o conteúdo ministrado nas aulas de EF do ensino médio é aquele que envolve predominantemente o esporte e que a existência de problemas de saúde é o principal argumento para justificar a não participação nas aulas. Adicionalmente forma explorados relatos acerca dos estudantes, os quais atribuíram a não participação nas aulas por motivo de vergonha e de constrangimento com relação aos seus desempenhos nos esportes. Este fato chama a atenção, visto que ainda remete para uma EF elitista e com caráter de desempenho e não aquela que visa a incluso de todos.

 

    Para Souza et al. (2019), os motivos relacionados aos estágios, cursos e empregos são os que apresentam um maior número de pedidos de dispensas. Tais motivos implicam em dizer cada vez mais há uma preocupação latente entre os jovens que cursam o ensino médio com questões relacionadas ao mercado de trabalho.

 

    Esse trabalho tem como questão problema a observação quanto ao número de pedidos de dispensa em EF nas escolas da rede pública de ensino na cidade de Morro Redondo - RS.

 

    A preocupação em questão permitiu-nos refletir sobre as razões que levam os alunos a se desinteressarem pela EF. Tal reflexão se apoia na afirmação se Souza Neto que diz:

    “...os alunos aguardam com uma certa ansiedade as aulas de Educação Física no início da escolarização,bem porque é uma das poucas atividades oferecidas pela escola que rompe com o quadro estático das quatro paredes. Porém, com o passar do tempo, o que era entusiasmo se transforma em ceticismo e desilusão e as aulas se tornam enfadonhas, repetitivas e chatas”. (Souza Neto, 1992)

    Neste sentido, esta investigação tenta responder algumas questões quanto à disciplina em foco:

    Qual a prevalência de dispensados das aulas de EF?

 

    Quais os motivos para os alunos terem sido dispensados?

 

    Os dispensados praticam alguma atividade física fora do contexto escolar?

 

    Quais são estas atividades e onde elas são realizadas?

    Com base nas questões apresentadas o objetivo geral do estudo foi analisar a prevalência e motivos relativos às dispensas das aulas de EF no ensino médio na rede pública de ensino da cidade do Morro Redondo-RS.

 

Métodos 

 

    Este estudo se caracteriza como descritivo, de cunho exploratório, fazendo contribuições de abordagens tanto quantitativas quanto qualitativas (Thomas e Nelson, 2002). Foi escolhido intencionalmente o município de Morro Redondo, RS e para o estudo e o foco centrou-se na única escola que oferece o ensino médio da região.

 

    Fizeram parte da amostra deste estudo 16 indivíduos, sendo que 9 eram do sexo masculino e 7 do feminino. A média de idade encontrada foi de 17,1 com idades mínimas de 16 anos e máxima de 21. Os alunos estavam dispensados de praticar regularmente as aulas de EF no ano letivo de 2013. Foi considerada como critério de inclusão a dispensa registrada junto à direção/coordenação da escola participante desta investigação.

 

    A primeira etapa desse trabalho foi detectar os registros constantes na administração, bem como com os professores de EF da escola, o levantamento do número total de alunos matriculados e frequentes no ensino médio e o de dispensados das aulas de EF.

 

    Procedeu-se à aplicação de questionários com base em roteiro utilizado por Gambini (1995), o qual sofreu adaptações para permitir sua aplicação na realidade estudada.Posteriormente, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os dois professores de EF da escola, sendo as entrevistas gravadas e transcritas na íntegra, para posterior análise e interpretação.

 

    Aportamos ao tratamento estatístico através de frequência (f) e do percentual (%) para posterior descrição e interpretação das unidades de significados encontradas de forma a permitir a categorização explicitada, com subsequente discussão dos resultados.

 

Resultados e discussão 

 

    Na Tabela 1 observamos uma distribuição mais especificada com relação a amostra, o que nos permite identificar a totalidade de alunos frequentes no ensino médio da escola alvo do estudo. Os dados do diurno não foram detalhados em função da inexistência de dispensas das aulas de EF.

 

Tabela 1. Distribuição da amostra estudada

 

Alunos por turno

Dados Noturno

Totais

Diurno

Noturno

1º ano

2º ano

3º ano

Matriculados

165

36

12

12

12

201

Dispensados

0

16

4

2

10

16

Prevalência

0%

44,4%

33,3%

16,6%

83,3%

7,96%

 

    Dos 201 alunos matriculados, 165 alunos estão no diurno e apenas 36 alunos estão frequentando regularmente as aulas de EF no turno da noite e os mesmos estão distribuídos uniformemente nos três anos do ensino médio.

 

    Deste modo,na amostra estudada as dispensas das aulas de EF totalizam 16 alunos, o que representa 44,4% da amostra estudada, considerando que só ocorrem dispensas no ensino noturno. Verificando o número total de alunos da escola encontramos um percentual de 7,9% de alunos dispensados.

 

    Ao observarmos as distintas frequências e percentuais percebe-se uma oscilação entre os três anos do ensino médio para a amostra estudada, tendo o primeiro ano uma frequência 4, representando 33,3% de alunos dispensados. No segundo ano a frequência se reduz para 2e sua representação é de 16,6% e no terceiro ano a frequência se eleva para 10, o que parece impactar o trabalho da EF devido ao reduzido número de alunos para as práticas motoras, com um percentual que consideramos muito elevado (83,3%).

 

    Consideramos a presença de dispensados somente no ensino noturno pode estar relacionado ao fato de que o curso noturno se torna uma melhor opção para a possibilidade de trabalho pelos estudantes, ao invés de somente estudar, fato que segundo Darido (1999) ocorre com grande frequência no ensino médio.

 

    A oscilação das dispensas neste estudo, com exponencial crescimento no terceiro ano (83,3%), é referida por Silva, Silva, e Paula (2016) como uma tendência que ocorre com o avanço da idade escolar e que tem como maior causador o fato das aulas serem realizadas fora do turno normal das demais disciplinas. Tal resultado também encontra respaldo em estudo realizado por Panda, e Luz (2011), em que dispensas no último ano do ensino médio atingem um percentual que atinge mais de metade dos alunos sem praticar EF na escola (51,0%).

 

    No Gráfico 1 observamos com maior clareza uma distribuição especificada dos alunos que compuseram a amostra deste estudo e que estavam frequentes no momento da coleta de dados.

 

Gráfico 1. Alunos do ensino médio dispendados e praticantes de EF

Gráfico 1. Alunos do ensino médio dispendados e praticantes de EF

 

    Na coluna que representa a totalidade dos sujeitos, verificamos uma similaridade na frequência em todos os anos do ensino médio noturno na escola pesquisada. A referida totalidade em cada ano é igual a 12 para o 1o, para o 2o e para o 3o ano, o que consideramos um fator casual, visto que nas listas de frequência que dispusemos junto à coordenação da escola havia um maior número de alunos matriculados, porém muitos destes fizeram parte de uma evasão. Tal evasão apresenta relevante amplitude e com motivos que aludimos como variável não controlada para fins desta investigação.

 

    No que tange ao número de alunos praticantes nas aulas de EF constatamos distintas frequências para os distintos anos, tendo o 1o ano com uma frequência igual a 8, o 2o ano uma elevação desta para 10, a qual representa a quase totalidade dos alunos frequentes (12). Entretanto, quando referimos a prática no 3o ano, identificamos uma redução no contingente de alunos que participam das aulas desta disciplina. Desta forma, as frequências relativas aos dispensados apresentam uma oscilação nos três anos do ensino médio, tendo o último ano alcançado uma abstenção das aulas de EF igual a 10, o que permite interpretar um exponencial crescimento nas dispensas no final do ensino médio que no 3o ano se aproxima da totalidade dos alunos frequentes.

 

    De acordo com a direção da escola, os alunos que estão com notas baixas e percebem que não conseguirão concluir a etapa já desistem. Outro fator que também contribui para a evasão é o período de colheita de frutas, atividade característica da região, favorecendo os alunos se afastarem da escola para trabalhar.

 

    No que diz respeito à evasão, Krawczyk (2009) refere que a mesma tem se mantido nos últimos anos, após uma política de aumento significativo da matrícula no ensino médio, o que revela uma crise de legitimidade da escola que resulta não apenas da crise econômica ou do declínio da utilidade dos diplomas, mas também da falta de outras motivações para os alunos continuarem seus estudos.

 

Tabela 2. Tempo que os sujeitos não praticam EF

Tempo

Quantidade de sujeitos

Percentual correspondente

Menos de um ano

4

25%

Um ano

10

62,5%

Dois anos

1

6,25%

Mais de três anos

1

6,25%

 

    Na Tabela 2 identificamos o tempo em que os sujeitos manifestam não participar das aulas de EF. Com número igual a 4, menos de um ano representando 25% e 10 para um ano, com percentual de 62,5%. As frequências obtidas para as outras categorias de tempo de afastamento da pratica de EF são de número igual a 1 para dois anos e 1 também para mais de três anos, totalizando 6,2% em cada.

 

    Percebe-se que para os períodos até um ano prevalece dentre os sujeitos da amostra e os tempos de dispensa agregados para menos de um ano e um ano somados totalizam 14 casos representando um percentual (87,5%) para as faixas de tempo agrupadas.

 

    Em estudo realizado por Gambini (1995), apesar de diferenças temporais para a organização das categorias, o que prevaleceu também foi o afastamento dos alunos a 1 ano ou menos das aulas de EF, somando 40,0%. Referiu também alunos que nunca haviam participado das aulas de EF (13,3%).

 

Gráfico 2. Motivos da dispensas da aulas de EF

Gráfico 2. Motivos da dispensas da aulas de EF

 

    O Gráfico 2 apresenta com clareza dois motivos para as dispensas das aulas de EF que foram referidos pelos sujeitos respondentes. O motivo relacionado ao trabalho predominou e, dos 16 alunos dispensados 15 manifestaram ser o trabalho o impedimento para sua participação em tal disciplina. Um único aluno justificou sua dispensa em função de problemas de saúde expressado na apresentação de atestado médico.

 

    Gambini (1995) e Rodrigues et al. (2010) relatam que o motivo principal razão de pedidos de dispensas dentre os sujeitos de sua amostra, situação que se apresenta em conformidade com os dados obtidos neste estudo. De outro modo Zonta et al. (2000) retrata que os motivos de dispensas foram outros como a falta de tempo, por participarem de outras atividades, e o descontentamento com os conteúdos, principalmente com o esporte, e com as estratégias de ensino. Os fatores relacionados permitem uma vasta reflexão a cerca da regulamentação de pedidos de dispensa, visto que as alunas relataram motivos que não estão previstos na lei.

 

    Os professores de EF entrevistados foram indagados a respeito dos casos de dispensas previstos na lei expressarem que gostariam de visualizar todos os alunos praticando e em suas falas isto é apresentado:

    “Eu acho que tem que ter alguma dispensa para alguns alunos realmente. Aqueles alunos que tem um treinamento fora da escola eles são dispensados, por exemplo, que presta serviço ao exército, eu acho que realmente, de repente ele já tem uma atividade forte lá no quartel de exercício físico...” (Professor EF1)

 

    “Eu acho que com respeito a lei a gente não tem o que fazer né, é uma coisa que é imposta, mas muita gente que poderia ser dispensado não é, faz questão de fazer atividade. Muitos que a gente sabe que tem condições de fazer, mas por ser amparado pela lei não faz a atividade né...” (Professor EF2)

    Os professores de EF entrevistados parecem desconhecer os aspectos legais relativos às dispensas. Este é um fator preocupante para o cumprimento da legislação, como também para o desenvolvimento dos objetivos da EF no ensino médio, em especial dos pressupostos apontados pela BNCC (Brasil, 2019) para uma efetiva aprendizagem e para a prevenção do abandono das aulas de EF.

 

Gráfico 3. Prática de atividades físicas fora do contexto escolar

Gráfico 3. Prática de atividades físicas fora do contexto escolar

    Com base no Gráfico 3 observamos que metade dos dispensados em EF faz atividades em outro local, fora do contexto escolar, mas se mesmos tem condições de praticar questionamos “porque não o fazem na escola”?

 

    Quando os professores foram questionados sobre suas opiniões a respeito da possibilidade de influência na formação dos indivíduos não praticantes de EF, os dois responderam de forma positiva e esta influência, pode ser expressa em suas falas e ressaltadas dificuldades em que em geral observadas pelos alunos e do aprendizado que a disciplina pode oferecer.

 

    Os professores entrevistados destacaram em todas as suas falas o fazer EF, priorizando o movimento, a prática de atividades, porém um dos professores ressaltou que elementos além dos movimentos corporais incluem a preocupação nas esferas sociais e intelectuais.

 

    Dentre as atividades relacionadas pelos sujeitos predominaram as realizadas em academia com a frequência igual a 4. Seguem outras atividades com frequência igual a 1, como futebol, caminhada como deslocamento, atividades físicas no trabalho e alongamentos. O último entende-se que se trata de ginástica laboral já que o sujeito mencionou que o pratica no trabalho.

 

Gráfico 4. Participação em aulas de EF em alguma série

Gráfico 4. Participação em aulas de EF em alguma série

 

    Verificamos no Gráfico 4 que todos os alunos já participaram das aulas de EF em alguma série na vida escolar. Investigamos também qual era o sentimento deles em relação a participação nas aulas e, embora os alunos estejam dispensados das aulas de EF, quase a totalidade da amostra (15) manifestou um sentimento que consideramos positivo em relação ao tempo em que praticaram as aulas.

 

    De acordo com o gráfico 5, um considerável número dos alunos (11) gostaria de participar das aulas de EF, caso as mesmas fossem ministradas de outra forma ou em outro horário. Um número menor (5) não apresentou interesse em retornar a participar das aulas nem mesmo com modificações.

 

    De acordo com diversos autores a EF no ensino médio tem levantado diversas questões problemáticas na sua prática, parecendo não estar condizente aos interesses e necessidades dos alunos nesta etapa da educação básica. (Polis e Porto, 2010; Darido, 1999; Feitosa, 2011; Novais, e Avila, 2015)

 

Gráfico 5. Interesse na participação das aulas

Gráfico 5. Interesse na participação das aulas

 

    Gambini (1995) questiona se os alunos dispensados participariam se as aulas fossem diferentes, 93,3% diz que participariam se as aulas fossem no mesmo turno e se fossem também ofertados conteúdos diversificados. Tal resposta permite refletir o real papel da EF e a necessidade de um planejamento e organização com os diversos conteúdos que integram a área. Se percebeu que a maioria dos casos de alunos que não participam das aulas de Educação Física tem como o maior causador do problema está no fato das aulas serem realizadas fora do turno normal das demais disciplinas.

 

    A BNCC (Brasil, 2019) apresenta um cenário em que se destacam um insuficiente desempenho dos alunos nos anos finais do Ensino Fundamental e que apontam para uma organização curricular do Ensino Médio vigente com excesso de componentes curriculares, além de apresentar uma abordagem pedagógica afastada das culturas juvenis e do mundo do trabalho e, desta forma há um grande desafio para o Ensino Médio na atualidade, que são de garantir a permanência e as aprendizagens dos estudantes, de modo que se possa responder às suas aspirações, tanto no presente, bem como para o futuro.

 

    No Gráfico 6 verificamos que a maioria dos indivíduos participou da EF oferecida pela escola em anos anteriores, sendo que com uma frequência de 12 participou nos dois últimos anos e uma frequência igual a 2 para a participação somente no ano anterior.

 

    Observamos ainda que 2 alunos não participaram das aulas nos anos passados e, ao serem questionados em relação aos motivos das dispensas detectamos um relacionado ao trabalho e outro por atestado médico.

 

Gráfico 6. Participação nas aulas de EF em anos anteriores

Gráfico 6. Participação nas aulas de EF em anos anteriores

 

    De acordo com a Tabela 3 os conhecimentos e conteúdos que são mais relacionados pelos sujeitos é, de uma forma mais geral, a diversificação de práticas (4). Entendemos que a mesma também aparece de outras formas como inclusão da ginástica (2), mais aulas de basquete (1), mais aulas de voleibol (1), aeróbica (1), atletismo (1) e futebol (1).

 

Tabela 3. Conteúdos e conhecimentos que os 

sujeitos gostariam que fossem trabalhados

Conteúdos e conhecimentos

Frequências

Nutrição/Alimentação saudável

2

Diversificação de práticas

4

Inclusão da ginástica

2

Aulas mais interativas

1

Mais aulas de basquete

1

Conhecimentos sobre o esporte

2

Mais voleibol

1

Aeróbica

1

Atletismo

1

Futebol

1

Drogas

1

Obesidade

1

Racismo

1

Aulas teóricas

1

Total

20

 

    Os professores valorizam a disciplina, entretanto parecem priorizar o esporte, fator que chama a atenção já que as sugestões para conteúdos/conhecimentos que os alunos mais deram estão em sua maioria relacionados com a diversificação de práticas.

Percebe-se que o esporte é um fenômeno social importantes e que permeia o cotidiano dos estudantes de EF no ensino médio e que deve ser abordado no âmbito escolar, todavia é necessário repensar essa abordagem, a fim de atender o alunado nos dias atuais. (Nardon, e Darido, 2017)

 

    Portanto, ressalta-se assim como Montiel et al. (2019), sobre a importância de uma reflexão por parte dos professores de EF incluírem em suas práticas possibilidades para o desenvolvimento de alunos e alunas em todas as potencialidades individuais, de forma a estimular uma formação que se torne mais humana e que seja alicerçada com base na reflexão crítica e contextualizada capaz de propiciar uma transformação na realidade onde vivem.

 

Conclusões 

 

    Ao observarmos os resultados obtidos podemos considerar que no contexto estudado, a cidade de Morro Redondo-RS, apenas uma pequena parcela dos alunos matriculados no ensino médio está dispensada das aulas de EF. Entretanto, como não foram encontrados casos de dispensas no turno diurno, é necessário refletir sobre a incidência desta situação apenas em alunos matriculados no turno da noite.

 

    De um modo geral os dados permitem concluir que as dispensas das aulas de EF estão relacionadas exclusivamente ao trabalho e a apresentação de atestado médico, tendo o trabalho predominado e representado a quase totalidade da amostra estudada.

 

    No último ano do ensino médio a frequência de dispensados atinge um percentual muito alto (83,3%), que configura uma representatividade substancial em relação ao contexto e aos sujeitos que compuseram a amostra.

 

    A oferta da disciplina EF em turno inverso pode ser um fator determinante para as dispensas investigadas, visto que os alunos matriculados no período da noite já ingressaram no mercado de trabalho com o objetivo de seu próprio sustento ou como coadjuvante no sustento familiar.

 

    Cabe considerar que o panorama apresentado pela direção da escola investigada e as características da região, marcada por períodos de colheita, pode ser um fator primordial neste cenário de dispensas, além do fato de que a metade dos dispensados praticam outras atividades físicas fora do contexto escolar.

 

    O panorama apresentado oportuniza uma revisão nas possibilidades reais de oferta do componente curricular EF e, ainda que isto não possa ser efetivado numa revisão de conceitos ampliados na legislação vigente, que ao menos possa ser repensado no seio da escola, de forma que os gestores, os professores de EF e mesmo os alunos, estejam engajados para um repensar da EF no ensino médio que se torne permissivo para uma viabilização das aulas de EF no contexto estudado.

 

    Ressaltamos que os resultados apresentados no decorrer deste estudo serviram apenas de balizador para as discussões presentes, os quais foram considerados extremamente elevados no que tange as dispensas da EF, ainda mais quando nos reportamos ao ensino noturno, parcela que quase totaliza metade dos alunos matriculados e frequentes na escola alvo do estudo.

 

Referências 

 

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Brasil (2000). Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Ministério da Educação, Secretaria da Educação Média e Tecnológica. http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf/BasesLegais.pdf

 

Brasil (2019). Base Nacional Comum Curricular. Ministério da Educação. http://basenacionalcomum.mec.gov.br/

 

Da Silva, A.C., Rodrigues, G.M., e Dos Santos Freire, E. (2017). Educação Física no ensino médio: as percepções dos estudantes sobre as aulas. Pensar a Prática, 20(4). https://doi.org/10.5216/rpp.v20i4.43820

 

Darido, S.C., Galvão, Z., Ferreira, L.A., e Fiorin, G. (1999). Educação Física no ensino médio: reflexões e ações. Motriz: Revista de Educação Física, Rio Claro, 5(2), 138-145. https://doi.org/10.5016/8728

 

Feitosa, W., Tassitano, R.M., e Tenório, M.C.M. (2011). Aulas de educação física no ensino médio da rede pública estadual de Caruaru: componente curricular obrigatório ou facultativo? Revista da Educação Física/UEM, Maringá, 22(1), 97-109. https://doi.org/10.4025/reveducfis.v22i1.9580

 

Galvão, Z. (1993). Educação Física escolar. Razões das dispensas e visão dos alunos por ela contemplados [Monografia. Especialização, Faculdade de Educação Física. UNICAMP]. http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?view=000348397

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 276, May. (2021)