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ISSN 1514-3465

 

Tecnologias digitais e autorregulação: investigação sobre 

a percepção de acadêmicos do curso de Educação Física

Digital Technologies and Self-Regulation: Research on the 

Perception of Students of the Physical Education Course

Tecnologías digitales y autorregulación: investigación sobre 

la percepción de estudiantes del curso de Educación Física

 

Camila Maria Bandeira Scheunemann*

camila.b91@hotmail.com

Caroline Medeiros Martins de Almeida**

carolinemalmeida@unisinos.br

Paulo Tadeu Campos Lopes***

pclopes@ulbra.br

 

*Mestre e Doutoranda em Ensino de Ciências e Matemática

pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)

**Doutora em Ensino de Ciências e Matemática

pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)

Professora pesquisadora do programa de Pós-Graduação em Gestão Educacional

da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)

***Doutor em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Professor pesquisador do programa de Pós-Graduação em Ensino

de Ciências e Matemática da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)

(Brasil)

 

Recepção: 03/09/2019 - Aceitação: 19/12/2020

1ª Revisão: 14/10/2020 - 2ª Revisão: 06/11/2020

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Scheunemann, C.M.B., Almeida, C.M.M. de, e Lopes, P.T.C. (2021). Tecnologias digitais e autorregulação: investigação sobre a percepção de acadêmicos do curso de Educação Física. Lecturas: Educación Física y Deportes, 26(277), 31-46. https://doi.org/10.46642/efd.v26i277.1642

 

Resumo

    O objetivo desta pesquisa foi verificar e analisar as percepções de acadêmicos de Educação Física sobre a utilização de tecnologias digitais e seu processo de autorregulação. Caracterizada como quantitativa e exploratória, teve como participantes 47 alunos das disciplinas de Patologia Humana e Anatomia Humana do curso de Educação Física de uma universidade privada da região metropolitana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. A coleta de dados ocorreu no primeiro trimestre de 2019, por meio da aplicação de um questionário com questões fechadas e do tipo Likert, criado no Google Formulários e disponibilizado através de um link. Para a análise dos dados foi utilizada a estatística descritiva, através dos escores das porcentagens apresentadas nas respostas. Os participantes indicaram que os professores utilizam tecnologias digitais em boa parte das aulas, e o Power Point destaca-se como o recurso mais frequente, o qual também foi apontado pelos estudantes como o de sua preferência para as aulas. Quanto ao tempo de conexão, grande parte do público investigado permanece conectado por várias horas ao dia; apesar disso, classificaram seus conhecimentos sobre tecnologias digitais como básicos ou intermediários. Quanto à autorregulação, os acadêmicos demonstraram preocupação em aspectos como aprender o máximo possível nas aulas e em não entender os conteúdos previstos. Outros pontos como saber o que fazer para aprender melhor o conteúdo e utilizar adequadamente o tempo de estudo apresentaram maior variação nos escores, o que indica que são aspectos a serem aprimorados no seu processo de autorregulação.

    Unitermos: Tecnologia digital. Autogestão. Educação Física. Ensino Superior. Ensino e formação.

 

Abstract

    The objective of this research was to verify and analyze the perceptions of Physical Education students about the use of digital technologies and their self-regulation process. Characterized as quantitative and exploratory, the research had 47 students from the subjects of Human Pathology and Human Anatomy of the Physical Education course of a private university in the metropolitan region of Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brazil. Data collection took place in the first quarter of 2019 by applying a closed-ended, Likert-type questionnaire created on Google Form and made available through a link. For data analysis, descriptive statistics were used, through the percentages scores presented in the answers. Participants indicated that teachers use digital technologies in most classes and Power Point stands out as the most frequent resource, which was also pointed out by students as their preferred class. As for the connection time, much of the investigated public remains connected for several hours a day; nevertheless, they rated their knowledge of digital technologies as basic or intermediate. Regarding self-regulation, participants showed concern in aspects such as learning as much as possible in class and not understanding the expected contents. Other points, such as knowing what to do to learn the content better and using the study time properly, presented greater variation in the scores, which indicates that they are aspects to be improved in the self-regulatory process.

    Keywords: Digital technology. Self-management. Physical Education. Higher Education. Teaching and training.

 

Resumen

    El objetivo de esta investigación fue verificar y analizar las percepciones de los estudiantes de Educación Física sobre el uso de las tecnologías digitales y su proceso de autorregulación. Caracterizados como cuantitativos y exploratorios, participaron 47 estudiantes de las disciplinas de Patología Humana y Anatomía Humana del curso de Educación Física de una universidad privada de la región metropolitana de Porto Alegre, Brasil. La recolección de datos tuvo lugar en el primer trimestre de 2019, mediante la aplicación de un cuestionario con preguntas cerradas y del tipo Likert, creado en Google Formulario y disponible a través de un enlace. Para el análisis de los datos se utilizó estadística descriptiva, a través de las puntuaciones de los porcentajes presentados en las respuestas. Los participantes indicaron que los docentes utilizan tecnologías digitales en la mayoría de sus clases, y Power Point se destaca como el recurso más frecuente, que también fue señalado por los estudiantes como el de su preferencia. En cuanto al tiempo de conexión, gran parte del público investigado permanece conectado durante varias horas al día; sin embargo, clasificaron su conocimiento de las tecnologías digitales como básico o intermedio. En cuanto a la autorregulación, los estudiantes mostraron preocupación en aspectos como aprender lo máximo posible en clase y no comprender los contenidos esperados. Otros puntos, como saber qué hacer para aprender mejor el contenido y utilizar adecuadamente el tiempo de estudio, mostraron mayor variación en las puntuaciones, lo que indica que son aspectos a mejorar en el proceso de autorregulación.

    Palabras clave: Tecnología digital. Autogestión. Educación Física. Educación Superior. Enseñanza y formación.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 277, Jun. (2021)


 

Introdução 

 

    Na educação contemporânea, faz-se necessário um repensar quanto às práticas pedagógicas, visando a inserção das tecnologias digitais (TD), compreendendo as potencialidades desses recursos para modificar o ensinar e o aprender, além de fomentar aspectos como a colaboração, a interação e a participação. (Silva, e Novello, 2020)

 

    Apesar do acesso e maior destreza que as gerações atuais apresentam no manuseio das TD, elas nem sempre são aproveitadas de maneira satisfatória em sala de aula, pois os jovens as utilizam mais para entretenimento do que para a aprendizagem. No entanto, sua correta e eficaz utilização pode impactar no auxílio para a autorregulação, pois permite uma aprendizagem mais individualizada e que respeita os diferentes ritmos, o que contribui para o autoestudo. (Lima, e Silva, 2010; Oliveira, 2018)

 

    A área profissional da saúde tem sinalizado uma adoção de tecnologias nos mais variados ambientes de trabalho, por isso, sua inclusão na graduação já pode colaborar para a atuação futura para o emprego destes recursos. (Cavalcante, e Vasconcellos, 2007; Pessoni, e Goulart, 2015)

 

    As tecnologias podem contribuir com a formação dos profissionais da saúde, pois propiciam alternativas para integrar e dinamizar as aulas, oportunizando uma formação coerente com a realidade na qual os acadêmicos irão se deparar em suas práticas futuras, além de permitirem o compartilhamento de um mesmo canal de comunicação entre professores e alunos. (Fornaziero, e Gil, 2003; Alves, 2018)

 

    O emprego dos recursos digitais promove um desenvolvimento tecnológico, pedagógico e comunicacional, o que implica na construção de competências importantes para a alfabetização digital na área de Educação Física. Além disso, pode contribuir para a formação de um melhor perfil profissional, condizente com as exigências da sociedade e do mundo do trabalho contemporâneo. (Neira et al., 2018; Quilamaqui, Ordoñez, e Garcés, 2019)

 

    Berkhout et al. (2017) discutem a importância em se obter uma compreensão mais profunda de como vários aspectos do contexto influenciam o comportamento de alunos autorreguladores e como poderiam ser utilizados para auxiliar num comportamento de aprendizagem mais favorável.

 

    Nesta perspectiva, a autorregulação é um processo ativo e construtivo no qual os discentes monitoram e avaliam sua cognição, afeto e comportamento, o que envolve a autoconsciência, automotivação e habilidades comportamentais. (Pintrich, 2000; Zimmerman, 2002)

 

    Analisar as percepções dos estudantes referente às TD e o seu processo de autorregulação pode auxiliar os professores a criarem estratégias de ensino, levando em consideração os seus níveis de aprendizado e suas preferências tecnológicas. Segundo Durall, e Gros (2014), as pesquisas sobre autorregulação oferecem soluções com potencial para assessorar os docentes e discentes nesse processo de aprendizagem.

 

    Diante do exposto, esta pesquisa teve como pergunta central: Quais são as percepções de acadêmicos de Educação Física sobre a utilização de tecnologias digitais e seu processo de autorregulação? Assim, seu objetivo foi verificar e analisar as percepções de acadêmicos de Educação Física sobre a utilização de tecnologias digitais e seu processo de autorregulação.

 

Metodologia 

 

    Esta pesquisa caracteriza-se como de abordagem quantitativa, que busca “responder questionamentos que passam por conhecer o grau e abrangência de determinados traços de uma população” (Pereira, e Ortigão, 2016). Apresenta-se, ainda, como um estudo exploratório, que objetiva realizar aproximações empíricas com um fenômeno a ser pesquisado, buscando compreender suas particularidades. (Bonin, 2012)

 

    Os participantes foram 47 acadêmicos das disciplinas de Patologia Humana e Anatomia Humana do curso de Educação Física de uma universidade privada da região metropolitana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Quanto aos aspectos éticos, este artigo faz parte de um projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da universidade vinculada, sob o número CAAE 00331018.2.0000.5349.

 

    A disciplina de Patologia Humana tem como objetivo capacitar os alunos a compreender os conceitos fundamentais dos processos patológicos do organismo humano, seus mecanismos formadores e as alterações que desencadeiam.

 

    Entre os objetivos da disciplina de Anatomia Humana estão aprender a organização morfológica do corpo humano, por meio da forma e da função dos órgãos e sistemas, construindo a compreensão da estruturação e conformação do organismo humano. (Salbego et al., 2015)

 

    No presente estudo foi elaborado um questionário digital sobre as percepções de acadêmicos do curso de Educação Física a respeito do uso das TD em sala de aula e sua autorregulação, em duas disciplinas relacionadas à área da saúde (Patologia Humana e Anatomia Humana). O estágio de percepção dos alunos está relacionado com os dados educacionais, tratados e apresentados de forma estruturada, com destaque para informações relevantes sobre o comportamento e o desempenho. (Silva et al., 2018)

 

    A coleta de dados ocorreu no primeiro trimestre de 2019. O questionário foi elaborado com base nos trabalhos de Vrugt, e Oort (2008) e Almeida (2018). Foi criado no Google Formulários e disponibilizado através de um link que continha questões fechadas e do tipo Likert. Os alunos tiveram uma semana de prazo para enviar as respostas.

 

    O questionário é um instrumento de coleta de dados constituído por uma série ordenada de perguntas que possibilita atingir um número grande de pessoas, já que pode ser enviado por e-mail e apresenta a vantagem do anonimato das respostas e a liberdade do respondente de expor sua opinião dentro da sua disponibilidade de tempo. (Zanella, 2013)

 

    Para análise dos dados foram utilizados os escores das porcentagens apresentados nas respostas, por meio da estatística descritiva, a qual “tem por objetivo a descrição de dados de uma amostra ou de uma população” e pode incluir a verificação, ordenação, compilação ou criação de gráficos com os dados. (Ferreira, 2005, p. 8)

 

Resultados e discussão 

 

    Quanto à caracterização dos participantes, 48,9% eram do sexo masculino e 51,1% feminino e, em relação à idade, variavam entre 17 e 49 anos, demonstrando um grupo heterogêneo quanto a esse aspecto.

 

    Referente ao emprego das TD durante as aulas, na pergunta “Os professores do seu curso utilizam propostas educacionais que envolvam as TD? Com que frequência?” 93,6% responderam que sim e 6,4% responderam que não. Os dados sobre a frequência desta utilização são apresentados na Figura 1.

 

Figura 1. Frequência da utilização de tecnologias digitais pelos professores nas aulas

Figura 1. Frequência da utilização de tecnologias digitais pelos professores nas aulas

Fonte: A pesquisa

 

    A partir da Figura 1 observa-se, segundo as percepções dos participantes, que a maioria dos professores utiliza as TD em todas (21,7%) ou em quase todas as aulas (45,7%), o que apresenta um resultado favorável quanto à inserção desses recursos. Oliveira e Azevedo (2020) destacam a importância da incorporação das TD nos processos formativos educacionais, uma vez que elas oportunizam novas possibilidades e formas de ensinar e aprender.

 

    Na pergunta “Quais tecnologias digitais os professores mais utilizam nas aulas?”, 86,7% disseram ser o Power Point, 8,9% os sites e 4,4% os aplicativos. O emprego do Power Point apresenta-se amplamente difundido, especialmente no Ensino Superior e, como salienta Sanches (2016), destaca-se como um recurso multimídia de amplo potencial pedagógico.

 

    Já os sites e aplicativos podem ser utilizados nos próprios smartphones dos alunos, que geralmente estão em sua posse durante as aulas. Para Lima, Sá e Vasconcelos (2018 p. 4), os aplicativos “podem ser ferramentas complementares e de grande potencial para o processo de ensino e aprendizagem de alunos e professores”.

 

    Chagas et al. (2020) apontam, em sua pesquisa, que recursos como a Internet e o WhatsApp são potenciais para serem utilizados pelos professores de Educação Física em suas práticas pedagógicas.

 

    Na pergunta “Que tipo de TD você prefere?” 72,3% responderam Power Point, 14,9% sites, 6,4% jogos e 6,4% aplicativos. Esses percentuais indicam que os alunos preferem Power Point, que também se apresentou como a tecnologia mais utilizada pelos professores.

 

    Quando questionados “Qual o tempo, em média, permanecem conectados por dia?” obtiveram-se os percentuais apresentados na Figura 2.

 

Figura 2. Tempo médio de conexão por dia.

Figura 2. Tempo médio de conexão por dia.

Fonte: A pesquisa

 

    A Figura 2 mostra que a maioria os estudantes (38,3%) permanecem conectados entre 4 e 6 horas por dia; as opções “Entre 2 e 3 horas” e “Mais de 6 horas” também apresentaram percentuais significativos (23,4% cada). Infere-se, a partir disso, que grande parte do público investigado permanece conectado várias horas por dia, o que indica o potencial de estratégias didáticas que utilizam conexão.

 

    Junior, Rolim, e Carvalho (2015) aplicaram questão semelhante com estudantes de nível superior e obtiveram um percentual de 33% para conexão por até 3 horas/dia, 29% para 8 horas/dia e 17,4% para até 5 horas/dia. Os jovens estudantes da geração digital apresentam comportamentos semelhantes quanto à quantidade de tempo conectados às diversas mídias, o que torna necessário uma maior participação e esclarecimento das instituições de ensino na sua utilização. (Spizzirri et al., 2012)

 

    Na pergunta “Como você classifica seus conhecimentos referentes às TD?”, 53,2% responderam intermediários, 38,3% básicos e 8,5% avançados. Neste caso, embora os alunos afirmem passar muitas horas conectados, poucos se consideram conhecedores das TD.

 

    Os participantes também foram questionados quanto ao processo de autorregulação de suas aprendizagens. O meio e as estratégias didáticas utilizadas influenciam no processo de autorregulação, uma vez que elas podem oportunizar ao aluno que se coloque em um papel ativo diante do aprender. (Simão, e Frison, 2013)

 

    Referente ao processo de autorregulação, foram feitas afirmações e os alunos precisavam responder, em uma escala de um a sete, onde um (não é verdade para mim) e sete (muito verdadeiro para mim). Na afirmação “Eu quero aprender o máximo possível das minhas aulas” verificam-se as respostas na Figura 3.

 

Figura 3. Querer aprender o máximo possível nas aulas

Figura 3. Querer aprender o máximo possível nas aulas

Fonte: A pesquisa

 

    Com base na Figura 3, percebe-se que os estudantes afirmam querer aprender o máximo possível nas aulas. Segundo Basso, e Abrahão (2018),a autorregulação está relacionada com a percepção que os discentes desenvolvem da sua capacidade e controle sobre os processos de aprendizagem.

 

    As respostas para a afirmação “Eu me preocupo se não conseguir aprender os conteúdos das matérias”, estão representadas na Figura 4.

 

Figura 4. Preocupação em não conseguir aprender os conteúdos

Figura 4. Preocupação em não conseguir aprender os conteúdos

Fonte: A pesquisa

 

    Percebe-se que os participantes demonstram preocupação em relação à não aprenderem os conteúdos previstos, tendo em vista que um percentual expressivo (78,3%) apontou como muito verdadeiro para esse quesito. Para Zoltowski, e Teixeira (2020), é fundamental estimular atitudes autorregulatórias através de feedbacks constantes, que possam acompanhar o desenvolvimento, investindo não apenas na transmissão e mensuração do conhecimento.

 

    Para a afirmação “Quando considero difícil um conteúdo, ou entender um material a ser estudado, procuro encontrar outras maneiras de resolver isso”, os escores estão representados na Figura 5.

 

Figura 5. Busca por maneiras de entender o conteúdo, quando em dificuldade

Figura 5. Busca por maneiras de entender o conteúdo, quando em dificuldade

Fonte: A pesquisa

 

    Para esse aspecto, 74,5% indicaram nível máximo pela busca diferenciada de formas de entender os conteúdos. Isso é importante, uma vez que os conteúdos estão disponibilizados de diferentes formas, especialmente através das TD, no contexto atual.

 

    Yot-Domínguez, e Marcelo (2017) comentam que as TD são utilizadas pelos estudantes para ler, classificar ou compartilhar informações com mais intencionalidade, monitoramento e autoavaliação, podendo contribuir para os processos autorregulatórios. Zimmerman (2002) menciona a importância de o aluno desenvolver uma autoconsciência e conhecimento estratégico para tomar medidas que possam lhe ajudar quando encontra dificuldades no entendimento do conteúdo.

 

    Para a afirmação “Quando começo a estudar um conteúdo, primeiro me questiono o que preciso fazer para aprender melhor”, verificam-se as respostas na Figura 6.

 

Figura 6. Questionamento sobre o que fazer para aprender melhor o conteúdo

Figura 6. Questionamento sobre o que fazer para aprender melhor o conteúdo

Fonte: A pesquisa

 

    Embora um percentual de alunos (29,8%) tenha marcado a opção sete (muito verdadeiro), uma quantidade expressiva marcou as opções quatro e cinco, demonstrando que, para parte do grupo investigado, questionar-se sobre o que fazer para aprender melhor não é uma atitude frequente em relação ao seu processo de aprendizagem.

 

    Esse ponto está relacionado com o autoconhecimento sobre entender a forma que melhor aprende.“Apostar na auto-regulação [...] consiste em reforçar as capacidades do sujeito para gerir ele próprio seus projetos, seus progressos, suas estratégias diante das tarefas e dos obstáculos”. (Perrenoud, 1999, p. 97)

 

    Na Figura 7 estão representadas as respostas para a afirmação “Faço perguntas para me certificar que entendo as matérias que estou estudando”.

 

Figura 7. Perguntas para certificar o entendimento da matéria

Figura 7. Perguntas para certificar o entendimento da matéria

Fonte: A pesquisa

 

    Para essa afirmação, verificou-se que a maior parte dos alunos diz realizar perguntas a si mesmo para se certificar a respeito do entendimento da matéria, condição importante que perpassa os processos de metacognição e autorregulação.

 

    A metacognição auxilia no planejamento, monitoramento e regulação, aproximação com saberes prévios que, reestruturados, passam por uma segunda análise (Rosa, e Ghiggi, 2017). Kipnis, e Hofstein (2008) refletem que o desenvolvimento de competências metacognitivas é um resultado desejado na educação científica porque promove aprendizado significativo, autonomia e autorregulação.

 

    Os escores para a afirmação “Ao estudar, tento relacionar o conteúdo com o que eu já sei” são apresentados na Figura 8.

 

Figura 8. Relação do conteúdo aprendido com os conhecimentos prévios

Figura 8. Relação do conteúdo aprendido com os conhecimentos prévios

Fonte: A pesquisa

 

    A maioria dos participantes (59,6%) declarou essa afirmação como muito verdadeira, o que é significativo, tendo em vista a importância dos conhecimentos prévios. (Teixeira, e Sobral, 2010)

 

    Na Figura 9 estão apresentados os escores para a afirmação “Faço bom uso do meu tempo de estudo”.

 

Figura 9. Bom uso do tempo de estudo

Figura 9. Bom uso do tempo de estudo

Fonte: A pesquisa

 

    As respostas apresentaram escores bastante distribuídos, indicando que alguns dos participantes acreditam fazer um uso adequado do seu tempo de estudo, enquanto outros parecem duvidosos para essa afirmativa.

 

Conclusões 

 

    Este estudo teve por objetivo verificar e analisar as percepções de acadêmicos de Educação Física sobre a utilização de TD e seu processo de autorregulação. Os participantes apontaram que os professores utilizam as TD em boa parte das aulas, sendo o recurso mais frequente o Power Point, o mesmo mencionado como o de sua preferência.Quanto ao tempo de conexão, permanecem conectados por várias horas ao dia;apesar disso, em sua maioria, classificaram seus conhecimentos sobre as TD como básicos ou intermediários.

 

    Sobre seu processo de autorregulação, verificou-se que a maioria dos acadêmicos se preocupam em aprender o máximo possível nas aulas. Foi expressivo o percentual que indicaram como verdadeira a busca diferenciada de formas de compreender os conteúdos e realizar perguntas, de modo a certificar a sua aprendizagem. Referente aos tópicos “saber o que fazer para aprender melhor o conteúdo” e “fazer bom uso do tempo de estudo”, expressaram uma ampla distribuição dos escores atribuídos, indicando esses como pontos a serem aprimorados em seu processo de autorregulação.

 

    Apesar de limitações, como a falta do enfoque qualitativo para melhor entendimento do contexto, esta pesquisa contribui por investigar as percepções de acadêmicos de Educação Física sobre as TD nas aulas, bem como, seu processo de autorregulação. Estudos desta natureza podem auxiliar no repensar de estratégias de ensino e aprendizagem que envolvam o emprego das tecnologias e que contribuam para desenvolver a autorregulação.

 

    Para estudos futuros, pretende-se aprofundar as investigações relacionadas às influências e impactos das TD nos processos autorregulatórios dos acadêmicos.

 

Agradecimento 

 

    O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 277, Jun. (2021)