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Alteração dos motivos para a prática desportiva das crianças e jovens
Luís Filipe Cid

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 55 - Diciembre de 2002

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    Para fazer uma análise comparativa em função dos anos de escolaridade, por forma a verificar se existem ou não alterações dos motivos entre o 10º, 11º e 12º ano, utilizamos uma análise de variância - ANOVA One-Way, a um nível de significância de p<0.05, complementada com um teste F de Scheffé, para saber entre que grupos essas diferenças se verificam.


Apresentação e discussão dos resultados

Motivos para a prática desportiva

    Segundo Serpa (1992), os motivos considerados mais importantes são aqueles que têm as médias mais altas (> 4), o que corresponde aos motivos muito e totalmente importantes, segundo a escala do QMAD. Em relação aos menos importantes, são considerados os que têm as médias mais baixas (< 2), que corresponde, na escala do QMAD, aos motivos pouco ou nada importantes.

    Assim sendo, os sujeitos que compõem a nossa amostra indicaram como mais e menos importantes os seguintes motivos (por ordem decrescente):

    Como foi verificado anteriormente, os motivos mais importantes para a prática desportiva dos sujeitos da nossa amostra estão intimamente relacionados com os aspectos motivacionais intrínsecos, uma vez que são estes que se apresentam como mais duradouros e persistentes (Bruner, 1966 e Thomas e Tennant, 1980, citados por Carreiro da Costa et al, 1998) e promovem as necessidades individuais e sociais dos sujeitos, ao mesmo tempo que desenvolvem a competência e autonomia do ser humano (Alves et al, 1996).

    Os resultados obtidos vão ao encontro daqueles que são mais citados na literatura (Meuris, 1977, citado por Fonseca, 1995; Serpa, 1991 e 1992; Cruz, 1996; Frias e Serpa, 1991; Gill, 1983; Durand, 1988), sendo os motivos mais importantes como: manter a forma, estar em boa condição física e prazer e divertimento, a razão pela qual os jovens da nossa amostra procuram a actividade física e o desporto. Contudo, alguns dos estudos mencionados na nossa revisão da literatura evidenciam, também, outro tipo de motivos para além dos referidos.

    O facto é que, para a nossa amostra, eles não são muito importantes, apenas têm uma importância relativa. Não podemos esquecer que as necessidades não são sentidas da mesma forma por todos os indivíduos, sendo por isso variáveis de acordo com vários factores, entre os quais o contexto socio-cultural e o nível económico poderá ser a explicação (Cratty, 1983; Horn, 1992; Carvalho, 1994, citado por Pereira, 1997).

    No que se refere aos motivos menos importantes, os resultados obtidos revelam um carácter predominantemente extrínseco, relacionado com as recompensas que a prática pode proporcionar e influências externas ao sujeito (Cruz, 1996). Sendo as razões principais encontradas (viajar, influência da família e amigos, influência dos treinadores, receber prémios, pretexto para sair de casa, ser conhecido, ter a sensação de ser importante e ser reconhecido e ter prestígio), muito semelhantes aquelas que são apontadas nos estudos realizados pelos autores acima citados.


Análise comparativa dos motivos em função do ano de escolaridade

    Com o objectivo de verificar se os motivos sofrem alterações em função do ano de escolaridade, recorremos a uma análise comparativa das respostas aos itens do QMAD dos sujeitos do 10º, 11º e 12º ano, formando assim três grupos. Apesar de se verificarem algumas diferenças nos motivos em função do ano de escolaridade (analisando as médias das respostas), elas só são estatisticamente significativas em dois itens: Libertar a tensão; Prazer e divertimento.

    Assim sendo, podemos constatar que, enquanto os sujeitos do 12º ano acham que libertar a tensão (F=4,159; p<0.05) é um motivo muito importante para a prática desportiva, os do 10º ano acham que é pouco importante. Da mesma forma, os sujeitos do 10º ano atribuem maior importância ao motivo prazer e divertimento (F=3,339; p<0.05) do que os do 11º ano.

    Estas diferenças podem estar relacionadas com o facto da motivação ser determinada por factores pessoais e situacionais, estando dependentes das necessidades fisiológicas, psicológicas e sociais de cada sujeito, bem como das suas experiências passadas ou recentes (Carron, 1980 e Cratty, 1984, cit. por Serpa, 1990), opinião corroborada por Horn, (1992), Carvalho (1994, citado por Pereira, 1997) e Brito (1995), e também de Cratty (1983), ao fazer referência ao carácter dinâmico que a motivação pode assumir.

    Outra explicação possível, poderá estar relacionada com uma das dimensões envolvidas no processo de motivação - a intensidade, que diz respeito ao maior ou menor esforço empregue na actividade por parte do sujeito, com vista à realização dos objectivos estipulados (Alves et al, 1996; Weinberg e Gould, 1995, citados por Cruz, 1996; Cratty, 1984, Rodrigues, 1985, Martens, 1987, ambos citados por Carreiro da Costa, 1998).

    Contudo, não deixa de ser curioso o facto de não existir mais diferenças significativas nos motivos em função do ano de escolaridade, uma vez que os estudos citados na literatura assim o indicam. De facto, os trabalhos mencionados na revisão bibliográfica (Raposo, Figueiro e Granja, 1996, Gould, Feltz e Weiss, 1985, Rêgo, 1995, Neves, 1996, todos citados por Pereira, 1997), parecem evidenciar que os motivos sofrem alterações em função da idade dos sujeitos.

    No entanto, esta constatação poderá ser explicada através das idades dos escalões etários estudados pelos autores acima referidos, isto é, no estudo das alterações dos motivos nesses trabalhos foram comparados escalões etários muito diferentes (ex. dos 8 aos 19 anos, dos 10 aos 16 anos, dos 10 aos 21 anos, etc.), havendo uma grande amplitude de idades na amostra. Não podemos esquecer que o escalão etário por nós estudado é dos 15 aos 20 anos (estudantes do ensino secundário).

    O trabalho realizado por Dias (1995) pode sustentar esta explicação, uma vez que ao estudar, entre outras variáveis, a alteração dos motivos em função da idade, os resultados obtidos demonstram não existir diferenças significativas, para uma amostra de 257 sujeitos com idades compreendidas entre os 10 e os 14 anos (amplitude semelhante à nossa).

    As ilações a retirar deste trabalho terão, necessariamente, de ser consideradas tendo em conta os condicionalismos do estudo, nomeadamente no que se refere à distribuição dos sujeitos da nossa amostra pelos respectivos anos de escolaridade que delimitaram o trabalho. Estas devem apenas ser consideradas para a amostra estudada e analisadas tendo em linha de conta as limitações e especificidade do trabalho aqui apresentado. Em suma, os sujeitos estudados demonstraram mais importância pelos motivos intrínsecos do que pelos extrínsecos, no que se refere às razões da sua participação em actividades desportivas, sendo essas razões inalteráveis ao longo dos anos de escolaridade (10º ao 12º ano), pelo menos de uma forma estatisticamente significativa.


Bibliografia

  • ALDERMAN, R. - “Les motivations fundamentales du comportement sportif”. In Manuel de psychologie du sport, Vigot Editions, pp. 213-230, 1983

  • ALVES, J.; BRITO, A.; SERPA, S. - Psicologia do desporto: Manual do treinador. Lisboa: Edições Psicosport, 1996

  • BELL, J. - Como realizar um projecto de investigação. Lisboa: Gradiva, 1997

  • BENTO, J. - Planeamento e avaliação em Educação Física. Lisboa: Livros Horizonte, 1987

  • BRITO, A. - Psicologia do Desporto. Lisboa: Omniserviços, 1994

  • COSTA, C.; DINIZ, J.; PEREIRA, P. - “A motivação dos alunos para a Educação Física: A sua influência no comportamento nas aulas”. In Revista Horizonte, vol. XV, nº 86, pp. 7-15, 1998

  • CRATTY, B. - Psicologia no Esporte. Rio de Janeiro: Prentice-Hall, 1984

  • CRUZ, J. - “Motivação para a prática e competição desportiva”. In J.Cruz (Ed) Manual de psicologia do desporto, pp. 305-331, 1996

  • DIAS, I. - Estrutura de Motivos da Prática da Actividade Física: Estudo em jovens dos dois sexos, dos 10 aos 14 anos de idade, do Concelho do Porto. Porto: FCDEF, 1995 (documento não publicado)

  • DURAND, M. - El nino y el deporte. MEC México: Ediciones Paidos, 1988

  • FERNANDES, U. - “Motivações do jovem para as actividades físicas e desportivas”. In Revista Horizonte, vol. III, nº 15, pp. 70-82, 1986

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  • GILL, D.; GROSS, J.; HUDDLESTON, S. - “Participation motivation in youth sports”. In International Journal Sport Psychology, nº 14, pp. 1-14, 1983

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  • MAIA, J. - Análise de dados a partir do SPSS: Um passeio pela “floresta”. Porto: FCDEF, 2000 (documento não publicado)

  • MARCONI, M.; LAKATOS, Eva - Técnicas de pesquisa. S. Paulo: Atlas, 1990

  • PEREIRA, A. - SPSS: Guia prático de utilização. Lisboa: Edições Sílabo, 1999

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  • SERPA, S. - “Motivação para a prática desportiva: Validação preliminar do questionário de motivação para as actividades desportivas (QMAD)”. In F. Sobral, A. Marques (Coordenadores) FACDEX: Desenvolvimento somato-motor e factores de excelência desportiva na população escolar portuguesa, Vol. 2, pp. 89-97, 1992

  • SINGER, R. - Psicologia dos desportos: Mitos e Verdades. S. Paulo: Editora S. Paulo, 1977

  • SOBRAL, F. - Sobre a atitude e o método em ciências do desporto. Lisboa: FMH, 1993


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