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Efeito fisiológico imediato da aula de uma atividade física
na água, em mulheres com hipertensão arterial

   
* Professor de Educação Física.
Especialisa en Atividade Física Teapêutica.
Centro de Saúde 04 de Taguatinga. Brasília-DF.
**Prof. de Fac. de Educ. Física. Universidade de Brasília.
Diretor do Instituto Latino-americano de
Atividade Física Terapêutica (ILAFiT)


 
Esp. Fabrício Carvalho Marques Silva*
Dr. Ramón Fabián Alonso López**
(Brasil)

 

 

 

 
     O trabalho estuda a aplicação de um programa de atividade física aeróbica - Hidroginástica - para verificar o efeito fisiológico imediato nos parâmetros: F.C. (freqüência cardíaca) e P.A. (pressão arterial) em diferentes momentos da aula proposta, em um grupo de pessoas hipertensas. Fizeram parte deste estudo 15 indivíduos do sexo feminino, idade média de 54,5 ± 6,3 anos, sem experiência em Hidroginástica.
    Sendo 08(oito) somente hipertensas e 07(sete) hipertensas e diabéticas (DMII), que faziam uso de medicamentos anti-hipertensivos. Em relação ao estilo de vida, 09(nove) eram ativas e 06(seis) eram sedentárias quando no inicio do estudo.
    Concluiu-se que os resultados apresentaram uma pequena redução no pulso final em comparação ao pulso inicial (repouso), referente à freqüência cardíaca. Quanto à pressão arterial, não foi encontrado nenhum valor reduzido, porem os resultados da pressão arterial demonstraram uma tendência à diminuição, pois a diferença entre os valores encontrados ficou bem próxima.
 
    The work studies the application of a program of aerobic physical activity - Hidroginástica - to verify the immediate physiologic effect in the parameters: C.F. (cardiac frequency) and A.P. (arterial pressure) at different moments of the lesson proposal, in a group of people with high blood pressure. Fifiteen individuals of the female sex had been part of this study, age measured of 54.5 ± 6.3 years, without experience in Hidroginástica. Being 08(eight) only high blood pressure and 07(seven) high blood pressure and diabetics (DMII), that they made medicine use antihypertensives. In relation to the life style, 09(nine) they were active and 06(six) they were sedentary when in the beginning of the study.
    It was concluded that the results had presented a small reduction in the final pulse in matching to the initial pulse (rest), referring to the cardiac frequency. How much to the arterial pressure, no value was not found reduced, to put the results of the arterial pressure had demonstrated a trend to the reduction, therefore the difference between the joined values was well.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 7 - N° 43 - Diciembre de 2001

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Introdução

    Com o crescente aumento da população de hipertensos, o alto custo social gerado por esta patologia e a conscientização dos problemas causados por uma hipertensão arterial sistêmica levantam uma preocupação nos indivíduos de pressão arterial elevada e das entidades governamentais em procurarem alternativas que amenizem ou solucionem os problemas causados pelas disfunções pressóricas. Dentre os métodos preventivos e de tratamento, os programas de atividade física são uns dos mais indicados, sendo utilizado em alguns casos como substitutos ou redutores das prescrições de medicamentos anti-hipertensivos. Dentro de um programa de atividade física há suficientes evidências dos benefícios na redução de morbidade e mortalidade.

    A partir desses eventos, os profissionais de educação física estão buscando especializar-se para poder atender essa parcela da população que necessita de uma orientação prática sistematizada e adequada para a sua condição clínica, pois a cada dia que passa há uma maior procura por esse tipo de trabalho entre estas pessoas que possuem algum tipo de problema de saúde, entre os quais destacamos a hipertensão. Que pelo fato de ser uma patologia multicausal e multifatorial torna-se necessário que o profissional realize um trabalho multidisciplinar e interdisciplinar, participando ativamente em conjunto com outros profissionais da área de saúde no trabalho com o hipertenso.

    O grande desafio dos tempos modernos, entres outros fatores, é a de como a população mundial se adaptará a nova realidade de vida, onde a evolução tecnológica e o contínuo crescimento populacional, e com eles suas vantagens e desvantagens, estão transformando o modo de vida em todo mundo, pois estes fatores podem ser considerados pontos primordiais e indicadores para a caracterização de um estilo de vida que pode ser modificável de acordo com a maneira pela qual é conduzida. Ou seja, relacionar o grande impulso tecnológico com o modo de vida da população é saber entender e interpretar os benefícios e os malefícios que norteiam esses fatores.

    “A atividade física está classificada como um dessas medidas que englobam as recomendações não farmacológicas para a prevenção, tratamento e controle da hipertensão” (5).

    A expressão Hipertensão Arterial Essencial pode significar simplesmente que a hipertensão é de origem desconhecida (6,8); definição que realmente é bastante simplificada em seus conceitos, mas muito evidente em suas conseqüências agudas e crônicas. A fisiopatologia da hipertensão esta longe de uma definição tão clara. Na verdade, Kaplan (1980) afirmou que a imensa maioria de todos os casos de hipertensão é idiopática, ou seja, de origem desconhecida (14).

    Essa definição demonstra o que seja a pressão arterial quando em indivíduos sadios ou sem alguma complicação aparente, que interfira diretamente no funcionamento perfeito do sistema arterial. Quando isso acontece, o funcionamento é alterado fisiologicamente e então surgem complicações como, por exemplo, a hipertensão arterial. Em essência a pressão arterial constitui uma função do sangue arterial por minuto (DC) e da resistência vascular ou periférica imposta a esse fluxo (11). Essa definição demonstra o que seja a pressão arterial quando em Para definir a pressão arterial, utiliza-se a seguinte equação hemodinâmica (7,13):

PRESSAO ARTERIAL= Débito Cardíaco x Resistência Vascular Periférica

    A classificação da hipertensão arterial se dá em relação à origem, isto é, em hipertensão primária ou essencial e hipertensão secundária. Existem dois tipos de hipertensão arterial (HA): hipertensão primária e secundária. A hipertensão arterial primária corresponde a 90% dos casos e se caracteriza por não haver uma causa conhecida, enquanto os 10% restantes correspondem à hipertensão arterial secundária, onde é possível identificar-se uma causa para a hipertensão (5).

    Consideremos a classificação do último consenso internacional, fornecido pelo “VI Joint National Committee on Detection, evaluation and Treatment of High Blood Pressure”, na tabela abaixo (9):

Categoria
Sistólica (mmHg)
Diastólica (mmHg)
Normal
< 130
< 85
Normal Alto
130 a 139
85 a 89
Hipertensão
 
 
Estágio 1 (leve)
140 - 159
90 - 99
Estágio 2 (moderada)
160 - 179
100 - 109
Estágio 3 (severa)
180 - 209
110 - 119
Estágio 4 (muito severa)
> 210
> 120

Classificação da Pressão Arterial de Adultos de 18 anos de idade ou mais (VI JNC).

    Sabe-se que a hipertensão está presente em 17% dos adultos de acordo com o National Health and Nutrition Examination Survey (11) e também uma grande parte da população mundial (90 a 95%) sofre de hipertensão arterial essencial, ou seja, isso significa que a hipertensão é idiopática (sem uma causa conhecida).

    A epidemiologia é o ramo da medicina que estuda as relações entre os vários fatores que determinam as freqüências e a distribuição de uma doença (14), no caso da hipertensão arterial essencial os dados epidemiológicos atualmente estão aproximadamente em torno de 15 a 20% de pessoas com hipertensão. No caso da população idosa, mais da metade é portadora de hipertensão arterial (15), fato esse que traz problemas adicionais aos serviços de saúde, uma vez que a tendência de aumento da população idosa é bastante evidente.

    A hipertensão arterial é uma doença crônica degenerativa mais comum em nosso meio, estimando-se que sua prevalência na população adulta seja de 15%, e constitui um importante fator de risco coronário, estando relacionada a 40% dos óbitos por doenças cardiovasculares e a uma maior chance de desenvolver complicações, tais como acidente vascular cerebral (derrame), infarto do miocárdio e insuficiência cardíaca (18).

    O American College of Sports Medicine (1994) recomendou que os exercícios aeróbicos tivessem uma duração de 20-60 minutos, de 3 a 5 vezes por semana, com freqüência cardíaca máxima de 60 a 90%. Portanto, provavelmente, os melhores resultados a serem obtidos com redução dos níveis pressóricos estão dentro do limite mencionados anteriormente, constituindo em uma excelente forma de se desenvolver adaptações benéficas ao sistema cardio-respiratório, não só para indivíduos hipertensos, mas também para pessoas sadias. (3,17)

    A inatividade física é reconhecidamente um dos mais importantes fatores de risco para as doenças cardiovasculares. O estilo de vida sedentário, o tabagismo, a hipertensão arterial e a dislipidemia compõem situações passíveis de modificação, para um conjunto de doenças crônico-degenerativas consideradas o principal problema de saúde dos tempos atuais. “Dados indicam que 20% dos adultos são pouco ativos (apenas uma vez /semana) e somente 8% fazem atividade física regular (três vezes /semana) no Brasil” (4). Isto evidência a importância de que se deve atribuir aos programas de Atividade Física Terapêutica como meio para a abordagem junto ao hipertenso.

    O aumento da atividade física tende a reduzir os casos de doenças coronarianas em um terço, devido à melhora da capacidade cardio-respiratória e ao controle dos fatores de risco (17). A orientação para atividade física não dispensa uma avaliação clínica e busca dos fatores de risco coronariano.

    O profissional das Ciências Médica ou Saúde conhece e determina se o paciente necessita de exercício físico para sua reabilitação ou manutenção da saúde. O professor de Educação Física dirige a atividade física terapêutica em coordenação direta com o médico, o qual terá a responsabilidade de controlar e avaliar o efeito do exercício físico de acordo com o processo de recuperação do enfermo (1,2).

    Todos esses procedimentos fazem parte de uma correta abordagem no tratamento não medicamentoso junto às pessoas com hipertensão, ou seja, um planejamento adequado e uma aplicação consciente do programa de atividade física é de grande importância nos resultados obtidos com os hipertensos.

    Exercícios isométricos, como levantamento de peso, não são recomendáveis para indivíduos hipertensos. Pacientes em uso de medicamentos anti-hipertensivos que interferem na freqüência cardíaca (como, por exemplo, betabloqueadores) devem ser previamente submetidos à avaliação médica.

    Os elementos a serem levados em conta para aplicar um programa de Atividade Física em pessoas com hipertensão arterial são (10):

  1. Prescrição de exercícios: Para que o exercício traga benefícios ao hipertenso deve-se atentar para o tipo, intensidade, freqüência e duração do treinamento físico.

  2. Tipo de exercício: O exercício dinâmico aeróbico comprovadamente reduz a pressão arterial, sendo considerado o mais adequado para o hipertenso. A sobrecarga pressórica imposta ao sistema cardiovascular durante a realização de exercícios isométricos e a efetividade duvidosa desse tipo de exercício como agente hipotensor levou a desencorajar este tipo de exercício para o hipertenso. No entanto atualmente tem sido recomendado que os exercícios aeróbios sejam complementados por exercícios localizados, realizados também de forma dinâmica com baixa intensidade e grande número de repetições (ver adiante em intensidade do exercício). Dessa forma se obteria uma melhor integridade do sistema músculo-esquelético e um aumento da força muscular que levaria a uma diminuição da sobrecarga diária ao coração, por redução da F.C. e da P.A. durante os esforços da vida cotidiana.

  3. Intensidade do exercício: O exercício leve a moderado possui efeito hipotensor semelhante ou mesmo superior ao exercício intenso, e a pressão arterial se eleva menos durante a sua execução.

    Aconselha-se que o exercício aeróbio de intensidade adequada para a redução da pressão arterial é aquele que atinge de 50 a 70% do VO2 máximo. Esse valor pode ser deduzido pela F.C. de reserva calculada pela fórmula (13):

F.C. treino = (F.C. máxima - F.C. repouso) X % intensidade (50 a 70) + F.C. repouso

Para os exercícios localizados recomenda-se o uso de 40 a 50% da carga máxima voluntária com grande número de repetições (20 a 25). Fundamentalmente é saber que o exercício físico terapêutico obedece a níveis previamente definidos, principalmente de intensidade, para o tratamento dos índices pressóricos. (19)

  1. Freqüencia do exercício: Para que haja algum efeito hipotensor é recomendável uma freqüência mínima de 3 vezes por semana. Freqüências de exercícios semanais maiores produzem maior efeito hipotensor. Quanto a exercícios localizados recomenda-se a freqüência de 3 sessões semanais.

  2. Duração do exercício: Possui relação direta com a condição física do indivíduo. Tempos maiores de exercício (40 minutos) são mais eficazes que períodos curtos de exercício (10 minutos) para obter o efeito hipotensor. Recomenda-se que o exercício aeróbio tenha de 30 a 45 minutos de duração.

    O exercício físico regular reduz a pressão arterial, além de produzir benefícios adicionais, tais como diminuição do peso corporal e ação coadjuvante no tratamento das dislipidemias, da resistência à insulina, do abandono do tabagismo e do controle do estresse. Contribui, ainda, para a redução do risco de indivíduos normotensos desenvolverem hipertensão. (5)

    Dentre as medidas não farmacológicas de tratamento para HAS a atividade física tem sido amplamente recomendada. Diversos estudos têm verificado que o treinamento físico é capaz de diminuir a pressão arterial de indivíduos hipertensos (10,16). No entanto deve-se atentar para a adequação do treinamento físico para essa finalidade, ou seja, quais as características do treinamento físico que ampliam seu efeito hipotensor.

    Estudos epidemiológicos têm demonstrado relação inversa entre a pressão arterial e o nível de atividade física habitual ou o nível de condicionamento físico do indivíduo. “Entre os hipertensos tem sido demonstrado que o treinamento físico diminui significativamente a pressão arterial de repouso, em média na ordem de 10 mmHg, tanto da pressão sistólica quanto da diastólica, nos casos de Hipertensão Arterial Leve. O efeito do treinamento sobre a pressão arterial de 24 horas é até o momento controverso com poucos estudos e resultados contraditórios”.(10)

    Existem alguns mecanismos que influenciam diretamente nos valores da pressão arterial; eles são múltiplos, complexos e ainda não totalmente esclarecidos. São basicamente mecanismos hemodinâmicos, neurais e hormonais, que podem ser chamados também de mecanismos de ação hipotensora, os quais vamos contextualizar a seguir (10):

  1. Mecanismos hemodinâmicos: Redução da resistência vascular periférica decorrente de um estado de vasodilatação induzida pelo exercício; Redução do débito cardíaco, pela diminuição da freqüência cardíaca basal e por uma possível redução do volume plasmático dos indivíduos hipertensos treinados.

  2. Mecanismos neurais: Redução da atividade simpática, que explicaria as alterações hemodinâmicas de vasodilatação periférica e bradicardia. O mecanismo é ainda desconhecido, mas sugere-se um aumento dos níveis de prostaglandina “E” e redução dos níveis de insulina.

  3. Mecanismos hormonais: Redução da atividade da renina plasmática foi observada em alguns trabalhos. Outra substância como a taurina também pode estar envolvida, necessitando ainda novas investigações para avaliar a real contribuição desses fatores.


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