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Efeito fisiológico imediato da aula de uma atividade física na
água, em mulheres com hipertensão arterial
Esp. Fabrício Carvalho Marques Silva y Dr. Ramón Fabián Alonso López

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 7 - N° 43 - Diciembre de 2001

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    O mecanismo preciso para o efeito do treinamento com exercícios físicos sobre a queda da pressão arterial ainda é umas das coisas mais intrigantes para os estudos científicos futuros. Porém alguns fatores importantes já conhecidos que contribuem podem incluir (6):

  1. Uma atividade reduzida do sistema nervoso simpático em virtude do treinamento. Isso poderia contribuir para uma queda na resistência periférica ao fluxo sangüíneo e uma redução subseqüente na pressão arterial.

  2. Uma função renal alterada para facilitar a eliminação à do sódio pelos rins e reduzir subseqüentemente o volume liquido e a pressão arterial.

    O efeito hipotensor e cardio-protetor da atividade física poderiam ser atribuídos, diretamente a mecanismos hemodinâmicos ou, indiretamente, através de modificações nutricionais, metabólicas ou comportamentais. Entre as alterações hemodinâmicas podem ser citadas as diminuições do débito cardíaco de repouso, do tônus simpático cardiovascular e da resistência vascular periférica. (4)

    O objetivo deste trabalho é avaliar o efeito fisiológico imediato da aula de uma atividade física na água, em um grupo de mulheres com Hipertensão Arterial essencial.


Materiais e métodos

    O programa de atividade física aplicada foi de uma atividade do tipo aeróbica, com aulas de hidroginástica como modalidade proposta, ministradas pelo próprio pesquisador. As aulas foram realizadas no período vespertino em dias alternados: Segunda, quarta e sexta-feira. O programa proposto foi assim dividido: (Ver Anexo).

  • -Parte Inicial: alongamento de 05 a 10 minutos.

  • -Parte principal: parte composta de exercícios aeróbios (80%) e localizados (20%) 25 a 35 minutos.

  • -Parte final: relaxamento de 05 a 10 minutos.

  • -Total: 45 minutos de aula.

    A intensidade média da aula foi de 63,8% da Freqüência Cardíaca Máxima, representada pelo valor médio mais alto do pulso durante a aula proposta. Ficando assim entre os limites da freqüência cardíaca para uma aula de intensidade de leve a moderada preconizada pelo

    American College of Sports Medicine (1994), para indivíduos com hipertensão arterial.

    O estudo foi realizado com 15 mulheres, que tinham idades que variavam entre 42 a 64, que realizaram a atividade física proposta.

    Para que as voluntárias fossem aceitas nesta pesquisa era necessário estarem participando do Grupo de Hipertensão do Centro de Saúde 04 de Taguatinga-(CST-04) da Secretaria de Saúde do Distrito Federal-(SES-DF) onde deveriam passar por uma anamnese antes de iniciar a atividade física proposta.

    A aferição da pressão arterial foi feita por uma profissional de enfermagem do Centro de Saúde 04 de Taguatinga-(CST-04), qualificada e orientada a seguir os critérios de medida descritos na Revista Brasileira de Hipertensão (Janeiro/Março-2000) e pelo pesquisador, ambos com experiência na tomada da medida indireta da pressão arterial. Os esfignomanômetros utilizados foram aneróides da marca MISSOURI, que foram previamente verificados pelo INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia), onde se certificou que estavam calibrados. Os estetoscópios também eram da marca MISSOURI e modelo DOUSCOPIC-YP.

    A aferição do pulso cardíaco para predição da F.C. (freqüência cardíaca), foi feita pelo próprio pesquisador de forma manual, ou seja, aferição através de palpação da artéria radial.

    As aferições foram feitas todos os dias de aula, sendo que a F.C. (freqüência cardíaca) foi medida em 07 (sete) momentos diferentes e a P.A. (pressão arterial) foi medida em 04 (quatro) momentos.

    As aferições de P.A. (pressão arterial) e F.C. (freqüência cardíaca) foram assim realizadas:

  1. O paciente chegava ao centro de saúde e ficava em uma sala de espera por 10 (dez) minutos sentado, estes 10 minutos foram necessários para que os alunos voltassem ao estado de repouso, porque a grande maioria chegava caminhando ao centro de saúde e por isso poderiam ter alterações significativas nos valores da PA (pressão arterial) e FC (freqüência cardíaca) de repouso. A pressão arterial era medida com o paciente sentado e com o braço apoiado, e o pulso era medido através da palpação da artéria radial por 30 segundos.

  2. Aferição somente do pulso, feita após o final da parte inicial da aula.

  3. Aferição somente do pulso, feita durante a parte principal da aula.

  4. Aferição somente do pulso, feita no final da parte principal da aula.

  5. Este momento de aferição era feito imediatamente após o final da aula, na área da piscina, com o paciente sentado e com o braço apoiado. (PA e FC).

  6. Aferição feita 05 (cinco) minutos após o final da aula, ainda na área da piscina. (PA e FC).

  7. Aferição feita 10 (dez) minutos após o procedimento anterior, na sala de espera. (PA e FC).

    A cada aula era escolhida uma aluna para a aferição da P.A. (pressão arterial) e da F.C. (freqüência cardíaca), esta escolha foi de forma aleatória.

    O Centro de saúde 04 de Taguatinga-(CST 04), possui uma piscina com diâmetros de 10 X 4m e profundidade de 150 cm. A temperatura da piscina foi aferida três vezes e teve como valor máximo 26°C e mínimo 24°C, com média de 25°C. A altura da água ficou localizada entre o processo xifóide e a região clavicular em relação à posição anatômica do corpo humano.

    O procedimento estatístico para a elaboração, análise e discussão dos dados do trabalho realizado, constituiu-se em:

  1. Determinação da F.C. (freqüência cardíaca) dos casos e a % (porcentagem) representativa com relação à amostra estudada.

  2. Determinação da X (média) e D.P. (desvio padrão) nos parâmetros de F.C. (freqüência cardíaca) e P.A. (pressão arterial).


Análise e Discussão dos Resultados

Caracterização da enfermidade

HTA
DMII - HTA
8
7
54%
46%

Tabela 1. Caracterização da enfermidade

    Fizeram parte do trabalho, 15(quinze) indivíduos do sexo feminino, que segundo a caracterização da enfermidade ficaram assim classificadas:

  • 08(oito) eram somente hipertensas, perfazendo um total de 54% da amostra.

  • 07(sete) eram hipertensas e diabéticas (DMII), perfazendo um total de 46%.

    A presença de diabetes aumenta o risco de desenvolvimento da hipertensão, principalmente nos casos de diabetes do tipo II (9). Considerando a existência de um meio comum, que resulta na combinação de hipertensão e Diabetes Mellitus tipo II (12). Por isso a estreita relação das duas patologias, ficando bem evidente a alta incidência no grupo pesquisado.


Caracterização quanto ao estilo de vida

Ativas
Sedentárias
9
6
60%
40%

Tabela 2. Caracterização quanto ao estilo de vida.

    A tabela 2 retrata a caracterização dos indivíduos quanto ao estilo de vida no início do programa proposto, dividindo-os em ativos e sedentários. Ficaram assim classificados:

  • 09(nove) eram ativas, ou seja, praticavam algum tipo de atividade física regular sistemática, representando 60% da amostra.

  • 06(seis) eram sedentárias, ou seja, não praticavam nenhum tipo de atividade física regular e sistemática, representando 40% da amostra.

    Estudos importantes demonstram que os indivíduos inativos ou sedentários apresentam um risco aumentado de 20 a 50% (por cento) de desenvolver hipertensão quando comparado com os fisicamente ativos (5). A mudança de estilo de vida, acompanhada do controle dos fatores de risco relacionados com a hipertensão arterial, é considerada como ponto primordial dentro do tratamento não medicamentoso do hipertenso, sendo o sedentarismo o fator mais evidenciado.


Comportamento do Consumo de Medicamentos

Medicamentos
Quantidade de pessoas
% (porcentagem)
Hidroclorotiazida
5
33,3
Propranolol
5
33,3
Captopril
2
13,3
Pressotec
1
6,6
Pressat
1
6,6
Vasopril
1
6,6

Tabela 3. Comportamento do Consumo de Medicamentos.

    Quanto ao consumo de medicamentos por parte dos indivíduos, ficaram assim distribuídos:

  • 05(cinco) faziam uso de remédios do tipo hidroclorotiazidas. Perfazendo 33,3% da amostra.

  • 05(cinco) faziam uso de propranolol, correspondendo 33,3% da amostra.

  • 02(dois) faziam uso de captopril, perfazendo 13,3% da amostra.

  • 01(um) fazia uso de pressotec, correspondendo 6,6% da amostra.

  • 01(um) fazia uso de pressat, correspondendo 6,6% da amostra.

  • 01(um) fazia uso de vasopril, correspondendo 6,6% da amostra.

    Todos os 15(quinze) indivíduos faziam uso de algum tipo de medicamento, como pode se notar nos dados acima apresentados.

    Os medicamentos são ministrados de acordo com a sintomatologia da doença onde também é levada em consideração a individualidade dos pacientes (20), ou seja, os medicamentos anti-hipertensivos podem apresentar diferentes formas de ação devido ao estágio da doença e da condição em que se encontra o paciente durante o tratamento em que o mesmo estar realizando.


Freqüência Cardíaca e Pressão Arterial durante vários momentos da aula

 
F.C.
P.A.
1- Repouso
78,6 ± 7,5
126,8 ± 17,3 / 83,2 ± 11,5
2- Final parte inicial
89,4 ± 10,4
----------------------
3- Parte principal
105,4 ± 8,6
----------------------
4- Final parte principal
106,4 ± 13,8
----------------------
5- Final
88,0 ± 8,1
141,9 ± 24,2 / 91,1 ± 11,5
6- 5 minutos
81,8 ± 8,1
137,1 ± 22,5 / 87,6 ± 8,1
7- 15 minutos
76,4 ± 8,1
132,8 ± 23,1 / 84,1 ± 13,8

Tabela 4. Freqüência Cardíaca e Pressão Arterial durante vários momentos da aula

    A tabela 4 mostra os valores médios da freqüência cardíaca e pressão arterial, juntamente com o desvio padrão, durante os 07(sete) momentos da aula de hidroginástica proposta pelo programa.

    Os resultados encontrados mostram que na freqüência cardíaca houve uma pequena redução no pulso final em comparação com o pulso inicial (repouso). Quanto à pressão arterial sistólica, não houve diminuição nos índices encontrados. Na pressão arterial diastólica também não se obteve diminuições de seus valores, porem observou-se que houve uma tendência a redução, pois a diferença foi pouca.

    Entre os hipertensos tem sido demonstrado que o treinamento físico diminui significativamente a pressão arterial de repouso, em média na ordem de 10 mmHg, tanto da pressão sistólica quanto da diastólica, nos casos de Hipertensão Arterial Leve (10). Isso demonstra que os valores pressóricos dos hipertensos podem alcançar níveis de normalidade quando inseridos em algum tipo de programa de Atividade Física Terapêutica como tratamento não medicamentoso.


Ação do Propranolol. Diferença entre a Freqüência Cardíaca de dois casos

    Comparação entre o uso de Propranolol (bradicardio) e Hidroclorotiazida (diurético), na alteração dos valores da freqüência cardíaca durante uma aula de Hidroginástica com intensidade moderada.

 
F.C. (Propranolol)
F.C. (Hidroclorotiazida)
1- Repouso
66
72
2- Final parte inicial
72
80
3- Parte principal
96
108
4- Final parte principal
84
116
5- Final
72
76
6- 5 minutos
68
72
7- 15 minutos
64
66

Tabela 5. Ação do Propranolol. Diferença entre a Freqüência Cardíaca de dois casos

    Através dos valores relacionados acima, obtidos durante a aula de hidroginástica proposta para o programa de atividade física terapêutica, aplicado aos indivíduos que participaram do estudo, destacamos os resultados de dois casos para uma comparação quanto ao uso de medicamentos. Os casos ficaram assim divididos:

  • Propranolol

  • Hidroclorotiazida

    Esta comparação foi devido ao efeito bradicardio que o medicamento Propranolol exerce no controle da hipertensão, alterando os valores da freqüência cardíaca.

    A diferença quanto à freqüência cardíaca fica bem evidente na tabela 5, onde se percebe que o indivíduo que faz uso do proponolol obteve valores menores de pulso quando comparado ao indivíduo que não faz uso do mesmo medicamento.

    O uso de Hidroclorotiazida ou de Propranolol é diferenciado de acordo com o estágio da hipertensão (20), pois a Hidroclorotiazida é um diurético e o Propranolol é um betabloqueador, tendo diferentes reações quando em esforço físico.


Conclusão

  1. Quanto à caracterização do quadro clínico da turma motivo de estudo, observou-se que a hipertensão arterial está associada com a diabete, pois quase a metade da turma tinha hipertensão associada com Diabetes Mellitus do tipo II. O grupo, porém apresentava mais pessoas ativas do que sedentárias, sendo que ninguém praticava, quando no início do programa, aulas de hidroginástica.

  2. Os resultados encontrados mostram que na freqüência cardíaca houve uma pequena redução no pulso final em comparação com o pulso inicial (repouso).

  3. Quanto à pressão arterial sistólica, não houve diminuição nos índices encontrados. Na pressão arterial diastólica também não se obteve diminuições de seus valores, porem observou-se que houve uma tendência a redução, pois a diferença foi pouca.

  4. Resultados obtidos durante a aula de hidroginástica proposta para o programa de Atividade Física Terapêutica, aplicado aos indivíduos que participaram do estudo, foram destacados os resultados de dois casos para uma comparação quanto ao uso de dois tipos de medicamentos (Hidroclorotiazida e Propranolol), a fim de se ter uma comparação entre estes medicamentos em pessoas que praticaram aula de hidroginástica.

  5. Segundo os resultados obtidos com os pacientes que utilizam Hidroclorotiazida e Propranolol, parece ser menos perigoso trabalhar com atividade física em quem usa Hidroclorotiazida, ou outro tipo de medicamento anti-hipertensivo que não seja bradicardio, pois estes medicamentos não terão ação bradicardia, o que facilita o feedback para o professor de educação física que esteja prescrevendo exercícios físicos terapêuticos para pessoas com hipertensão arterial.


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