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Análise familiar na incidência de síndrome metabólica

Análisis familiar en la incidencia del síndrome metabólico

Analysis on family incidence of metabolic syndrome

 

*Doutor em Biologia Funcional e Molecular (UNICAMP). Núcleo de Estudos

Multidisciplinares do Estresse (NEME) do Instituto de Ensino Superior de Itapira (IESI)

**Mestranda em Ciências Médicas (UNICAMP). Núcleo de Estudos

Multidisciplinares do Estresse (NEME) do Instituto de Ensino Superior de Itapira (IESI)

Joaquim Maria Ferreira Antunes Neto*

Bruna Bergo Nader**

joaquim_netho@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Alterações decorrentes da obesidade, perfil lipídico, aumento de pressão arterial e hiperinsulinemia surgem como fatores de risco para instalação de doenças crônicas, com o diabetes melito tipo 2 e as doenças cardiovasculares. O conjunto destas patologias tem sido descrito como síndrome metabólica. Sabe-se que fatores genéticos e ambientais estão associados para a manifestação da síndrome metabólica nos diferentes estágios da vida. O objetivo deste trabalho foi apresentar como relações familiares podem ser importantes para a análise de prevalência da síndrome metabólica e estratégias simples de identificação da mesma.

          Unitermos: Síndrome metabólica. Fatores genéticos. Fatores ambientais.

 

Abstract

          Changes resulting from obesity, lipid profile, increased blood pressure and hyperinsulinemia appear as risk factors for chronic disease facility, with type 2 diabetes mellitus and cardiovascular disease. All these disorders have been described as metabolic syndrome. It is known that genetic and environmental factors are linked to the manifestation of the metabolic syndrome in different stages of life. The objective of this study was to present how family relationships can be important for the analysis of prevalence of metabolic syndrome and simple strategies to identify it.

          Keywords: Metabolic syndrome. Genetic factors. Environmental factors.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 173, Octubre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Dietas excessivamente calóricas, ricas em carboidratos e lipídeos, associadas à inatividade física tornaram-se combinações comuns na sociedade contemporânea, o que vem resultando em surtos epidêmicos de obesidade e de doenças metabólicas (Zimmer e colaboradores, 2001). A Síndrome Metabólica (SM) é considerada fortemente uma doença relacionada ao metabolismo glicolítico, englobando um conjunto de fatores de riscos cardiovasculares, concentração central de gordura e resistência à insulina (Reaven, 1994; Rosenbaum, Ferreira, 2003) (Tabela 1).

Tabela 1. Definição e condições de classificação da Síndrome Metabólica.

    Hoje dispomos de três critérios propostos para classificar a SM: o da Organização Mundial da Saúde, o do "National Cholesterol Evaluation Program" - ATP III e o da "American Association of Clinical Endocrinologists". Como os índices de morbidade e de mortalidade em pacientes com SM são muito altos, essa síndrome deve ser vista hoje como uma das principais metas do ponto de vista terapêutico em termos de prevenção cardiovascular (Lopes, 2004).

    Estratégias de avaliações simples, como análise de índice de massa corporal (IMC) e medidas de circunferências da cintura e quadril podem trazer informações importantes sobre condições de favorecimento de instalação da SM. Tais estratégias, quando utilizadas no âmbito escolar, ajudam a construir um projeto transdisciplinar entre as disciplinas de Educação Física e Ciências e com a própria comunidade (Antunes Neto, Andrade, 2011; Antunes Neto e colaboradores, 2012). Já, no âmbito familiar, indicam a propensão não apenas do sujeito avaliado para diagnóstico de doenças metabólicas, mas podem revelar tão quanto os fatores de risco para SM estão presentes em um mesmo núcleo de sujeitos com heranças genéticas e estilos de vida compatíveis. O objetivo deste estudo foi compreender a integração herança genética versus estilo de vida perante uma análise familiar de três gerações. As coletas simples de IMC e circunferência de cintura (CC), em conjunto com dados de um questionário simplificado, propiciaram uma discussão sobre SM.

Materiais e métodos

    Sujeitos. Foram analisadas três gerações de uma mesma família, da cidade de Itapira, interior do estado de São Paulo. Além do resgate do histórico de “causa mortis” dos primeiros genitores, obtivemos dados da primeira geração (quatro filhas e dois filhos), segunda geração (sete netas e cinco netos) e terceira geração (sete bisnetos e duas bisnetas). Encontram-se falecidos o quarto filho da primeira geração, aos 52 anos de idade, e a segunda neta da segunda geração, aos 33 anos de idade.

Figura 1. Árvore genealógica da família analisada. Onde: * = falecido(a); entre parênteses = idade atual/idade de falecimento.

    Análises. Os voluntários e seus respectivos responsáveis assinaram um termo esclarecido e de livre consentimento, permitindo que os dados fossem utilizados na respectiva pesquisa, desde que suas identificações permanecessem preservadas. Para a análise do Índice de Massa Corporal (IMC), medimos o peso (Kg) e estatura (m) através de uma Balança Mecânica de Plataforma Welmy 104A. O cálculo do IMC foi predito pela equação: IMC = peso/altura2. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, há 5 categorias de índices de classificação do IMC: abaixo do peso: <18,5; peso normal: 18,5 – 25,9; sobrepeso: 25 – 29,9; obesidade grau I: 30 – 34,9; obesidade grau II: 35 – 39,9; obesidade grau III: acima de 40. A circunferência de cintura (CC; cm) foi verificada através de fita métrica flexível (Sanny). Informações sobre patologias instaladas e atividade física foram coletadas por meio de um questionário simples e específico, desenvolvido de acordo com os interesses do estudo. As questões foram:

  1. Você é portador de alguma patologia de ordem crônico-degenerativa e/ou metabólica?

  2. Você pratica atividades físicas freqüentemente? Quantas vezes por semana (informar a quantidade de minutos por sessão de exercícios)?

  3. Você é fumante ou ex-fumante? Obs.: As “causa mortis” dos sujeitos informados foram indicadas pelas Filha 1 e Filha 3.

Resultado

Figura 2. Apresentação dos resultados que caracterizam fatores integrados de Síndrome Metabólica nos núcleos familiares estudados. Onde: CM = causa mortis; 

DM = diabetes mellitus; IMC = índice de massa corporal; CC = circunferência da cintura; * = falecido(a); entre parênteses = idade atual/idade de falecimento

    Os dados são relativos aos núcleos familiares das filhas de maior idade (Filha 1, Filha 2 e Filha 3). Nestes núcleos observou-se prevalência dos principais fatores característicos da SM (obesidade, hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes). Importante apresentar que o Filho 4 teve óbito por outro fator não relacionado à SM, enquanto que o Filho 6 já desenvolveu um quadro de carcinoma, porém encontra-se em condição controlada. Não há fatores associados à SM nestes dois núcleos, da mesma forma que para o núcleo da Filha 5.

Figura 3. Aderência à atividade física e hábitos de vida dos núcleos familiares estudados. 

Onde: * = falecido(a); entre parênteses = idade atual/idade de falecimento.

    Os dados coletados mostram que os núcleos familiares são, na sua maioria, sedentários. Os sujeitos que apresentam estados característicos de SM – Filha 1; Neta (45); e Bisneto (21a) – não realizam quaisquer tipos de atividade física sistematicamente. Importante salientar que a Neta (43) e o Bisneto (21b), do mesmo núcleo familiar (Filha 3), ex-portadores de câncer, sempre foram sedentários; um agravante é o grau de obesidade apresentado pelo Bisneto (21b) logo no início da fase adulta jovem.

Discussão

    Os principais componentes da SM relacionam-se com a obesidade central, as alterações da homeostase da glicose, como hiperglicemia ou Diabetes Mellitus (DM) tipo II, a elevação da pressão arterial e a dislipidemia. Estados pró-inflamatório e pró-trombótico também estão presentes (Grundy e colaboradores, 2004). Análises de núcleos familiares interligados propiciam interessantes considerações sobre o assunto.

    Uma primeira consideração reside na “causa mortis” dos genitores: doença cardíaca. De acordo com Lopes (2004), a associação de fatores de risco cardiovascular causa hoje grande preocupação nos órgãos de saúde pública nos vários países do mundo. A SM, caracterizada pela associação de vários fatores de risco para doença cardiovascular, resulta provavelmente de fatores genéticos e ambientais. Apesar da ausência de análises clínicas, os dados apresentados indicam forte predisposição genética dos núcleos familiares para SM. Ao analisarmos o núcleo da Filha 1, observamos a incidência dos vários fatores relacionados à SM: Diabetes Mellitus, obesidade, hipertensão e dislipidemia. Um dos fatos mais relevantes foi a transposição de DM2 para DM1 da Filha 1. O Diabetes Mellitus é uma síndrome de etiologia múltipla, decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade da mesma de exercer adequadamente seus efeitos, resultando em resistência insulínica. Caracteriza-se pela presença de hiperglicemia crônica, freqüentemente, acompanhada de dislipidemia, hipertensão arterial e disfunção endotelial (McLellan e colaboradores, 2007). A patologia, que no seu início era controlada por dieta, agravou-se com o quadro de resistência à insulina, o que a tornou (Filha 1) dependente de administração de dose diária de insulina. Os dados de IMC e CC da mesma não retratam forte tendência para desenvolvimento da obesidade, mesmo tendo estilo de vida sedentário. Neste caso, um fator que foi decisivo para a complicação do quadro de DM pode ter sido a própria ausência de atividade física na rotina diária. A literatura aponta que a sensibilidade à insulina pode ser elevada com a prática sistemática do exercício físico, independente da condição de composição corporal do indivíduo, sugerindo que o principal efeito do exercício seja o aumento da expressão de estruturas intracelulares da via de sinalização da insulina, principalmente dos transportadores de glicose na célula músculo esquelética (O'Donovan e colaboradores, 2005; Teran-Garcia e colaboradores, 2005). A herança genética parece manifestar-se neste núcleo familiar (Filha 1), uma vez que a Neta (52) não apresenta condição de sobrepeso, porém é hipertensa. O sedentarismo parece contribuir com tal fator. O Bisneto (21a) nunca participou de atividade física sistematicamente, apresenta complicações relacionadas à dislipidemia e encontra-se no nível grau I de obesidade. Todos os fatores associados remetem cuidados extremos para a manifestação de doenças cardíacas.

    No caso do núcleo da Filha 2, há circunstâncias importantes de análise. Novamente observa-se que outros fatores, além da obesidade, podem estabelecer disfunções metabólicas e funcionais sistêmicas. A Filha 2, fumante há quatro décadas, sedentária por toda vida adulta (iniciou caminhada há menos de dois anos), já apresentou episódios constantes de hiperglicemia nos últimos dez anos. O controle alimentar aliado à atividade física favoreceu o desaparecimento de tal quadro, da mesma forma que tem atenuado crises hipertensivas. A nosso ver, o controle de peso é uma estratégia positiva neste caso. O inverso pode ser visto nos relatos para a Neta (45). A mesma apresenta quadro diabético, hipertensivo, obesidade de grau I, sofrendo influência das condições de sedentarismo e de fumante. Todos os fatores são favoráveis para que haja aparecimento de doenças cardíacas. Neste caso, a prática de atividades físicas poderia contribuir com a atenuação do quadro apresentado. Estudos relatam que o treinamento físico diminui a adiposidade, o tamanho da célula de gordura, os níveis de insulina no plasma e aumenta a expressão de GLUT4 (transportadores de glicose) no músculo, favorecendo, assim, um estímulo importante para o transporte de glicose estimulada por insulina (Hardman, 1996; Mensink e colaboradores, 2003; Stubbs, Lee, 2004). O Bisneto (14) deste núcleo familiar participa de equipes de treinamento de tênis e futebol seis vezes por semana, circunstância que merece atenção sobre fatores inibitórios de surgimento de SM na adolescência.

    O Núcleo da Filha 3 traz subsídios que complementam as patologias associadas à SM. A obesidade vem se apresentando como um problema de saúde pública mais importante que a desnutrição. Com o aumento de prevalência de obesidade, identificou-se que, além do DM2 e da própria SM, outras condições clínicas também estão associadas à resistência à insulina. Destaca-se a doença hepática gordurosa não alcoólica, mas também a síndrome do ovário policístico, a hiperuricemia, a doença renal crônica, a insuficiência cardíaca, alterações cognitivas e câncer (Carvalheira, Saad, 2006). Ao analisarmos o Bisneto (21b), fatores importantes de instalação e manifestação da SM estão presentes: a condição de sedentarismo e o desenvolvimento progressivo da obesidade e a presença do câncer na infância (linfoma do tipo Hodgkin). Apesar da completa remissão do câncer ainda na infância, a preocupação atual é o ganho de peso nos últimos três anos e a indisponibilidade para a prática de exercícios físicos regulares. A influência do fator genético para surgimento de câncer surge de forma importante neste núcleo familiar.

Considerações finais

    A SM afeta uma proporção substancial de adultos nas sociedades que ingerem calorias em excesso, usam os aparatos tecnológicos que facilitam o trabalho e cuja atividade de laser é de forma passiva. A SM está sujeita a tornar-se uma pandemia uma vez que a obesidade vem crescendo de forma assustadora com o envelhecimento da população do mundo. Estratégias simples de diagnóstico/indicador de SM, como aquelas apresentadas neste estudo, podem ser utilizadas em aulas de Educação Física Escolar, gerando um projeto multidisciplinar possível de ser estendido aos núcleos familiares dos alunos. Caberá aos docentes conduzir a discussão sobre os resultados e determinar estratégias orientadas sobre atividade física e aspectos nutricionais.

Referências bibliográficas

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  • ZIMMER, P.; ALBERTI, K. G. M. M.; SHAW, J. Global and societal implications of diabetes epidemic. Nature, 414: 782-787, 2001.

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