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Uma abordagem etnográfica sobre os paradigmas 

corporais, a dança e o processo educativo na escola

Un enfoque etnográfico sobre los paradigmas corporales, la danza y el proceso educativo en la escuela

 

*Acadêmicos do curso de Educação Física da ULBRA Carazinho

**Mestre em Educação

Docente do curso de Educação Física da ULBRA Carazinho, orientadora

(Brasil)

Bianca Adriana Secco*

Diego Menegazzo* | Adrine Ferraz*

Tiago Vogelmann* | Vandressa Spironello*

Patricia Carlesso Marcelino Siqueira**

patriciasiqueira@wavetec.com.br

 

 

 

Resumo

          O estudo aborda uma reflexão advinda da disciplina de ritmo e expressão corporal sobre as questões que norteiam os paradigmas corporais, a dança e o processo educativo. Parte-se do papel do corpo para a vida, do resgate histórico sobre a origem e desenvolvimento da dança, da influência do movimento na expressão corporal e da discussão entre teóricos e acadêmicos sobre a necessidade de mudanças urgentes nos processos educativos atuais, para discutir a estruturação e preparação para um aprendizado equilibrado, evolutivo e com resultados práticos.

          Unitermos: Paradigmas corporais. Dança. Escola.

 

Resumen
          El presente estudio aborda una reflexión surgida de la disciplina de ritmo y expresión corporal y sobre las cuestiones referidadas a los paradigmas corporales, la danza y el proceso educativo, sobre la función del cuerpo para la vida, la rescate histórico sobre el origen y el desarrollo de la danza, sobre la influencia de la expresión y el movimiento corporal en el debate entre teóricos y académicos sobre la necesidad de cambios urgentes en los actuales procesos educativos, para discutir la estructuración y preparación para un aprendizaje equilibrado, evolutivo y con resultados prácticos.

          Palabras clave: Paradigmas corporales. Danza. Escuela

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 133 - Junio de 2009

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    O presente estudo nos convida a refletir sobre as questões que norteiam os paradigmas corporais, a dança e suas manifestações e o processo educativo vigente. O estudo se caracterizou por ser do tipo etnográfico, sendo sua amostra composta por 05 acadêmicos do curso de Educação Física, de ambos os sexos, com idades entre 20 e 26 anos. O estudo foi motivado pela disciplina de ritmo e expressão corporal do curso de educação Física, da Universidade Luterana do Brasil, ULBRA, campus Carazinho.

    Para manter o anonimato dos entrevistados, seguiram-se as premissas descritas pelo comitê de ética e pesquisa da instituição e da CNS196/96. Cada participante da pesquisa recebeu um codinome que foi caracterizado por nomes de passos de dança:

  • Plié - acadêmica de Educação Física, licenciatura, 20 anos;

  • Tandu – acadêmica de Educação Física, licenciatura, 23 anos;

  • Grand Jeté - acadêmico de Educação Física, licenciatura, 22 anos;

  • Sissone - acadêmico de Educação Física, licenciatura, 26 anos;

  • Deboullé - acadêmica de Educação Física, licenciatura, 21 anos;

    As informações coletadas durante a disciplina foram compreendidas segundo o método fenomenológico proposto por Giorgi (1985):

O Sentido do todo

    Esta etapa se caracteriza pela leitura das entrevistas concedidas para a compreensão de sua linguagem até alcançar a compreensão do todo.

As unidades de significado

    Consiste na redução fenomenológica. As unidades emergirão da análise e da percepção das releituras e são numeradas em ordem crescente conforme o número de cada entrevista.

Transformação das unidades significativas em linguagem psicoeducativa

    Captar as mensagens, estas são interpretadas e se expressa o fenômeno explicitado pelos sujeitos por meio da linguagem psicoeducativa.

Síntese das estruturas de significado

    Nesta etapa procuramos intuir as essências expressas pelas falas, considerando-as como a criação de algo novo, as quais fusionam as percepções dos entrevistados e do pesquisador, dando ao texto um conteúdo diferente, identificando os aspectos realmente significativos, segundo uma visão totalizadora.

Dimensões fenomenológicas proposta por Comiotto (1992)

    Esta etapa visa encontrar as dimensões mais significativas do fenômeno, que vão aflorando ao longo do trabalho e que compõem as essências.

As essências do estudo

    Através do corpo, o sujeito se expressa na forma humana. O pressuposto para qualquer ato, consciente ou não, está na existência do corpo e da vida. A partir dele, o indivíduo também demonstra sentimentos, realiza ações e comunica-se com outros seres. Logo,

    “O corpo como sujeito no mundo é criativo e se humaniza a partir de sua existência. É a expressão da corporeidade, são as formas preenchendo espaço e determinando um significado”. Verderi, (2000, p. 27)

    Diante deste contexto, o indivíduo encontra no corpo um complexo sistema de identidade e expressão que o faz ser reconhecido pelos demais e, ainda, fazer parte da vida de outros sujeitos. Por isso, “o corpo, assim, como parte da natureza, é também a expressão natural e espontânea do Homem, a manifestação de sua essência” ( Duncan).

    Ao demonstrar através dos comandos que dá ao corpo sua maneira de pensar, seus desejos, necessidades, intenções e muitos outros sinais que moldam sua personalidade e o sentido de sua vida, o ser humano manifesta sua essência. Afinal, “o indivíduo conhece o mundo através de sua identidade corporal” (Pérez, Samaniego e Gómez, 2001).

    Logo, percebe-se a relação existente entre corpo e linguagem. Mais que uma representatividade física do ser, o corpo comunica-se através de sua expressão. Ele, querendo ou não, manifesta-se “com o gesto ou com o movimento uma idéia, um sentimento, uma sensação ou uma forma de ser” (Rivera, APUD, Haas, Garcia e Gonçalves, 2002, p 11).

    Através do movimento, o corpo não só demonstra vida, mas revela a essência do ser. Deve-se considerar, porém, que “o movimento faz parte de um todo maior, que não deve ser analisado separadamente” (Castro, 2008). Afinal, o movimento por si só pode parecer sem sentido, no entanto, através dele se demonstram aptidões, sensações e sentimentos. No entanto,

    “o movimento não está anexado ao sentimento como uma reflexão tardia ou uma estrutura predeterminada, mas se torna parte do próprio sentimento” (Sheets-Johnstone, 1979).

    A partir disso, há uma relação direta entre movimento, sentimento e expressão. O conjunto destes três fatores resulta em uma ação que, impreterivelmente, traz algum sentido a alguém. Afinal, “expressar-nos é descobrir que temos alguma coisa para dizê-la com a linguagem que nos parece mais significativa, seja o gesto, a palavra, o desenho, a cor ou a dança” (Aymerich, APUD, Haas, Garcia e Gonçalves, 2002, p.11).

    Além disso, é preciso considerar que

    “O movimento tem um papel fundamental na afetividade e na cognição. Ele admite que a atividade muscular possa existir sem que se dê deslocamento do corpo no espaço. Vincula o estudo do movimento ao do músculo, responsável por sua realização. Diz que antes de agir diretamente sobre o meio físico, o movimento atua sobre o meio humano, mobilizando as pessoas por seu teor expressivo” (Wallow, citado por Galvão (2001), apud, Fiamoncini e Galli).

    A partir do domínio da técnica do movimento, o ser humano é capaz de expressar-se de forma equilibrada e coordenada. Um exemplo é através da dança. Vinculada ao sentimento, à expressão e à própria essência, ela faz parte da vida do homem desde os primórdios. Considerada uma manifestação instintiva do ser humano, ela era usada como forma de comunicação, pois através do movimento podia representar suas necessidades e sentimentos dentro do grupo social. Através do movimento, o homem estabeleceu uma forma de comunicação não só com os seus, mas também com seus deuses, através de rituais de adoração a forças superiores, para pedir sucesso em suas caçadas ou até mesmo para solicitar tempo bom ou ruim, além de ela ser usada para se aquecer e como forma de sedução. Hoje, a partir dela,

    “o homem transforma e adapta através do movimento, da improvisação, da meditação dinâmica e o movimentar-se, esse envolve o homem em uma evolução perfazendo um caminho de encontro com o homem consigo mesmo – corpo –sociedade” (Fiamoncini e Galli, 2006).

    Mais que uma simples forma de encontrar-se consigo mesmo, a dança revela a individualidade do ser, pois “o corpo dançando sempre quer se comunicar, e sempre se comunica com quem o assiste. Quando o corpo organiza o seu movimento na forma de um pensamento, então ele dança” (Katz, 1994). Comunicar-se e expressar-se através da dança é um costume antigo, já que

    “nas primeiras danças expressadas pelo homem primitivo, como as de caráter sagrado, já se visualizavam, muitos fatores e aspectos que, ao longo da evolução da história da humanidade, foram somando em todos os tipos de movimentos expressivos, entre eles a exteriorização dos estados de ânimo (alegria, tristeza), a comunicação interpessoal (coletiva/com os outros e com o mundo) e a comunicação interpessoal (individual/consigo mesmo)” (Haas, Garcia e Gonçalves, 2002, p. 14).

    Logo, a partir da dança o corpo se põe em movimento de forma a comunicar-se com os outros e consigo mesmo, bem como revela através da expressão sentimentos, desejos, preconceitos, experiências anteriores e a própria personalidade do indivíduo. Esse conjunto é expresso através de movimentos coordenados e, principalmente, com determinado ritmo.

    Entende-se por ritmo

    “um fenômeno cósmico infinito, presente no universo e no ser. O ser humano é integração das forças estruturais: corpo/mente-espírito/emoção de significado e expressão, pois é este que dá emoção, que torna viva, colorida, pessoal, a expressão de emoção que sente ser naquele momento particular”. (Nanni, apud , Garcia e Haas, 2003, p. 27)

    A dança, por si só, não existe senão for executada a partir de um ritmo. É ele que regula as ações e, consequentemente, mantém o equilíbrio do corpo e dos sentimentos e demais sensações que são externadas através dos movimentos. Logo, o ritmo se caracteriza como “um constante fluxo dinâmico, mediante o qual todos os processos corporais manifestam-se em infinita auto-regulação, em contínua ir e vir, subir e abaixar” (Monteiro e Artaxo, 2003, p. 11).

    No contexto da apresentação dos conceitos relacionados com a dança, movimento, ritmo e expressão corporal, desenvolveu-se uma pesquisa junto a acadêmicos do curso de Educação Física, de ambos os sexos, com idades entre 20 e 26 anos. A amostra realizada apontou que expressão corporal está presente no cotidiano de todos, de forma benéfica e muitas vezes inconsciente.

    As respostas, baseadas em conhecimentos do senso comum, assemelham-se aos embasamentos teóricos no que diz respeito à naturalidade do movimento e da expressão corporal. Para Plié, “apesar de não percebermos atualmente a expressão corporal e o ritmo estão se demonstrando cada vez mais presente em nosso cotidiano. A expressão corporal está presente até mesmo no mais simples gesto que fazemos, em um oi, um sorriso, em um teatro e o mais conhecido, a dança”.

    Os acadêmicos ainda citaram o ritmo como fator essencial para o desenvolvimento da expressão e mencionaram sua ligação com a evolução do corpo, sempre respeitando sua individualidade e seus limites motores e emocionais. Para Sissone, “cada um de nós possui um ritmo próprio e a partir deste ritmo é que podemos expressar nossa corporeidade”. O pensamento é semelhante ao de Deboullé, para quem “cada ser humano, em sua individualidade, tem uma forma única de se expressar”.

    Diante destas constatações, cabe ressaltar que ainda há intrínseco nesses pontos primordiais o sentimento envolvido em cada movimento. Muitas vezes, eles tornam-se mecânicos ao ponto de não se perceber o que se está fazendo, ou seja, viram habituais. Para Sissone, “muitas vezes os mesmos (movimentos) podem ser benéficos ao nosso corpo e principalmente a nossa mente”. Através da amostra feita junto aos acadêmicos, verifica-se que há a certeza que os movimentos podem ser involuntários, porém, quando se trata de corpo, é preciso um equilíbrio também entre ritmo e sentimento. É o que cita Deboullé ao concluir que “através do corpo, do sentimento envolvido e do ritmo, faz com que o ser humano se torne completo, que entre em sintonia com o universo e consigo”.

    Quanto à dança, os entrevistados reconhecem seu papel histórico e sua importância para moldar a personalidade do ser humano. É o que menciona Plié, que reitera que “desde os tempos primórdios até os dias atuais, o ritmo e a expressão corporal fazem parte dos nossos acontecimentos, da nossa história, do nosso passado, como por exemplo, as tribos indígenas, que dançavam para idolatrar seus deuses para “chamar” a chuva, e até mesmo para o domínio do território”.

    A amostra verificou ainda que ritmo e expressão corporal estão correlacionados, não somente no que diz respeito à dança, mas à forma e a velocidade com a qual o movimento é feito. Para Plié, “o ritmo consequentemente está interligado a expressão corporal, um sendo à base do outro”. Esta relação de interdependência entre ambos é ressaltada também por Sissone, que destaca a importância da criatividade dos movimentos, pois assim, segundo ele, “o movimento deixa de ser um ato mecânico e se torna mais livre e espontâneo”. Logo, percebe-se o envolvimento da dança, como um todo, na rotina diária de cada um, como cita Deboullé: “nosso dia a dia é uma dança, cada um de nós com o seu ritmo”.

    Partindo do corpo, movimento e suas formas de expressão, passando pela dança e o ritmo, chega-se a um ponto fundamental: conhecimento. Sabe-se que as expressões corporais acontecem até mesmo de forma involuntária, pois o corpo fala por si só, no entanto, quando se introduz o conceito de dança e ritmo, no pressuposto da regulação do movimento, é preciso o estudo de técnicas para que isso aconteça de forma adequada.

    Nesse contexto, esse processo de aprendizado exige disciplina e, principalmente, uma mudança de paradigma, o que “significa ao mesmo tempo mudar de crença, de ser e de universo” (Morin, 1998, p. 290). Logo, se faz necessário o ingresso de um processo de aprendizado a partir de pesquisa e educação para que a dança e o ritmo sejam introduzidos no dia-a-dia dos indivíduos.

    Nesse sentido, pode-se

    “observar que cresce a cada dia estudos e pesquisas relacionadas com consciência corporal, motricidade humana, corporeidade e, cada vez mais, a negação do corpo está ficando nas páginas do passado. Está se acentuando a necessidade de observação do corpo, uma nova maneira de vê-lo, porém essa nova abordagem do corpo requer uma amplitude de conhecimento para poder estarmos entendendo a complexidade humana e o significado da palavra corpo num sentido mais amplo” (Verderi, 2000, p. 27).

    Mais que uma simples expressão corporal ou movimento humano, a dança é uma área em que a técnica e o conhecimento se mesclam em prol de um aprendizado didático, baseado na repetição de movimentos e no constante aperfeiçoamento prático. No entanto, em muitas unidades de ensino essa visão é distorcida, pois

    “se analisarmos a maioria dos currículos escolares de Educação Física de primeiro e segundo graus, constataremos que existem previsões para o ensino da dança; entretanto, observa-se que é reduzido o número de escolas que a adotam efetivamente. Ainda que ela fosse introduzida nos currículos, tendo em vista apenas aqueles aspectos relativos à recreação, isso seria suficiente para provar a sua eficácia como complemento de qualquer estrutura educacional” (Cunha, 1992, p.16).

    Quando se fala em educação, impreterivelmente, torna-se essencial a existência de métodos para que o processo de troca de conhecimento aconteça. Para isso, porém, mais que intenção e boa vontade entre professor e aluno, é preciso dedicação e repetição de movimentos, afinal, “o domínio corporal só poderá ser conseguido quando se conhecem suas possibilidades e isso só é possível através de um treinamento constante e consciente” (Cunha, 1992, p.13).

    Dominar o corpo para depois aperfeiçoar os movimentos. Essa é a idéia que serve como base para um aprendizado de verdade, afinal,

    “Todo corpo gosta de descobrir, observar, experimentar, perceber o meio que o cerca, e não diferentemente, o corpo das crianças. É sendo espontânea, criativa, que a criança aprende. E é a partir do interesse que as atividades lhe proporcionarem, que ela estará construindo e transformando as bases educacionais de sua cultura”. Verderi, (2000, p. 79)

    Nesse contexto, porém, revela-se a necessidade da existência de um planejamento adequado, o que inclui não somente trabalhos em sala de aula, mas a elaboração de propostas mais amplas na estrutura do ensino nas escolas e demais instituições educacionais. Não há dúvidas que, “através de um planejamento coerente com os interesses e necessidades das diferentes faixas etárias, estaremos contribuindo efetivamente para o desenvolvimento de suas capacidades” (Cunha, 1992, p. 14).

    Para que isso possa ocorrer de forma adequada na relação de aprendizado existente em sala de aula, torna-se primordial, em primeiro plano, uma sintonia entre aluno e professor, já que

    “os estímulos e propostas advindos do professor deverão estar à altura do entendimento de seus alunos, ao mesmo tempo em que devem estar impregnados de vitalidade e prazer” (Cunha, 1992, p. 15).

    Tornar o aprendizado uma atividade de prazer é e sempre será a forma mais adequada para ensinar. Essa premissa é ainda mais evidente na dança, pois além do conteúdo teórico e das repetições de movimento na prática, a evolução nessa área passa por um processo que une disciplina, dedicação, esforço e sacrifício.

    Para estimular o ensinamento destas técnicas aliadas aos valores que se fazem necessários para um aprendizado adequado, “uma proposta viável seria iniciar a prática rítmica através dos esportes, retirando gradativamente o aspecto esportivo e inserindo o aspecto rítmico, sem causar impacto negativo nos alunos” (Ferreira, Silva e Luis, 2004).

    Sabe-se que o esporte atrai as atenções e interesses não apenas de crianças, mas de adolescentes e adultos. Impreterivelmente, trata-se de uma prática que trabalha o corpo, o movimento, as sensações e, ainda, exige ritmo e disciplina. A dança não é um esporte, mas também possui pressupostos semelhantes à prática esportiva, principalmente no que tange a corpo e movimento. Logo, introduzi-la nas aulas de educação física dos currículos básicos do ensino fundamental e médio, de forma a contemplar seu estudo através da ligação com o esporte, pode ser o caminho para que ela conquiste um espaço maior.

    Esse processo, no entanto, exige primeiramente o preparo de professores para atender à demanda de forma correta, afinal, a exigência de profissionais graduados em Educação Física e habilitados a ensinar a dança é fundamental para que os ensinamentos aconteçam adequadamente e, ainda, a disciplina possa consolidar-se nas escolas.

    O processo vigente hoje na grande maioria das escolas brasileiras, no que diz respeito à dança, baseia-se em um sistema sem controle, com raros profissionais capacitados na área e, ainda, sem a preocupação em ensinar a história e as bases teóricas da dança. Pelo contrário, o ensino resume-se a técnicas muitas vezes distorcidas e que, além de serem repassadas de forma errada, desestimulam os alunos e, ainda, causam riscos.

    Para Deboullé, “a escola e principalmente os professores devem ser preparados corporalmente para trabalhar com todos os tipos de culturas existentes, pois se o professor não é bem resolvido com seu corpo, com sua expressividade, tem valores já estabelecidos pela sociedade, não poderá fazer a diferença para essa criança”. Nesse sentido, a pesquisa realizada junto aos acadêmicos do curso de Educação Física também aponta o comprometimento dos aprendizes de hoje com os resultados do amanhã.

    Logo, faz-se necessária a profissionalização do ensino da dança no país, tendo como base o desenvolvimento corporal, o aperfeiçoamento dos movimentos, o treinamento constante, a troca de experiências e o trabalho de valores e sentimentos que servem como pilares para uma educação de qualidade e a obtenção de resultados satisfatórios tanto para quem ensina como para quem aprende.

    Além disso, é de fundamental importância a dedicação dos professores e alunos para que o máximo desempenho seja atingido. Desta forma, os resultados são uma consequência natural. Para Tandu, “nós devemos nos entregar ao máximo para que todos os nossos movimentos saiam o melhor possível”. Nesse contexto, Grand Jeté afirma que “uma das reclamações dos professores é o descontentamento dos alunos quando lhes é proporcionado outro tipo de atividade que não seja esportiva”. Como comentado anteriormente, sabe-se da preferência de crianças e jovens por atividades esportivas em detrimento da dança, por exemplo.

    Por outro lado, o próprio Grand Jeté admite que “a dança é uma atividade que, ao mesmo tempo em que necessita de movimentos de vários grupos musculares, ajuda os alunos a se soltarem em relação aos outros colegas, porque a dança proporciona relacionamentos mais “íntimos” entre os colegas, como abraçar, dar as mãos, etc.”.

    Através desse contato mais direto, não há dúvidas que “a dança pode ser uma opção para proporcionar diferentes vivências corporais para quem a pratica, fazendo com que, ampliem a sua percepção do mundo em que vivem. Essa dança pode também auxiliar na educação de novas gerações contribuindo para o desenvolvimento de pessoas críticas e reflexivas” (Grand Jeté).

    Hoje, muitas pessoas encontram na dança o equilíbrio perfeito entre expressão corporal, movimento, sentimento e diversão. O esporte lida com sensações de extrema emoção e, na dança, o equilíbrio entre os sentidos pode trazer aprendizados mais amplos que a simples técnica, mas que também incluem o desenvolvimento pleno da própria personalidade do ser.

    Nesse contexto, cabe ressaltar que para uma sintonia entre corpo, movimento, sentimentos e expressão corporal se faz necessário um aprendizado de excelência, o que passa por uma educação de qualidade ministrada por profissionais habilitados para tal função. A partir disso, certamente haverá um equilíbrio não somente nos movimentos, mas também no ensino e no crescimento da dança e da expressão corporal para a formação de uma sociedade melhor.

Considerações finais

    No presente artigo, tentamos mostrar que o sujeito se expressa através do corpo e, ao manifestar-se, revela mais que movimentos, mas sim sentimentos, desejos, necessidades, intenções, enfim, a própria personalidade. Logo, há uma relação entre corpo e linguagem e, nesse contexto, a expressão corporal e a dança são atividades em que tais premissas são expostas de forma mais clara e, principalmente, equilibrada.

    Nessa relação direta entre movimento, sentimento e expressão, a dança se coloca como uma forma de comunicação com os outros e consigo mesmo. Em sua execução, o ritmo é o volante que dirige seus rumos e seus destinos. Neste bojo, surge um ponto fundamental para que esse sistema se manifeste de forma correta: o conhecimento. Sem ele, tudo fica confuso e de forma desordenada, distorcendo os conceitos básicos que devem ser pressupostos.

    Mais que a vivência de experiências práticas, o conhecimento é fruto do aprendizado, que quando mais cedo vier mais resultados trará. Logo, discute-se neste texto as questões que norteiam os paradigmas corporais, a dança e suas manifestações e o processo educativo vigente. Para isso, além do referencial teórico, serviu como base uma pesquisa junto a acadêmicos do curso de Educação Física.

    Entre teóricos e leigos, entre a opinião de estudiosos e a do senso comum, duas certezas: a educação é mais que teoria; e a atividade física não se resume apenas ao esporte. O ensino da dança está completamente fora daquilo que se tem por ideal. Isso devido à falta de profissionais habilitados e preparados para ministrar as aulas, bem como pelo desinteresse das escolas e, ainda, dos próprios alunos, que preferem outras atividades e, ainda, tratam o tema com certo preconceito.

    Para que isso mude, são necessárias ações em diversas mãos. Além da qualificação de profissionais, da oferta da atividade na grade curricular e da orientação às crianças e adolescentes sobre a importância da dança para a vida, é de extrema importância a existência de um planejamento adequado e a elaboração de propostas mais específicas na estrutura do ensino nas escolas e demais instituições educacionais.

    Logo, introduzir a dança no currículo, com fundamentos teóricos e práticos, mesmo que dividindo espaço com o esporte, é a primeira das várias revoluções necessárias para que o processo de mudança comece e a atividade conquiste um espaço mais abrangente.

    Hoje, um aprendizado de excelência passa por uma educação de qualidade em que há oferta, estrutura, motivação e vontade de fazer e mudar. Portanto, está mais que na hora de uma transformação ampla na preparação de profissionais, na ampliação dos espaços no currículo da educação básica e, principalmente, na busca de um equilíbrio entre movimento e sentimento para, através da expressão corporal, quebrar um paradigma ultrapassado e dar espaço a um novo futuro com preparação, qualificação, dedicação e resultados.

Referências

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