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O conceito de arquétipo e a inserção
de atividades rítmicas na escola:
considerações iniciais

   
Acadêmicas do segundo ano de Educação Física
do Centro Universitário Positivo
(Brasil)
 
 
Ana Letícia Padeski Ferreira
Fabiana Soares da Silva
Teumaris Regina Buono Luiz (org.)

professorateo@hotmail.com
 

 

 

 

 
Resumo
    Este artigo tem o objetivo de esclarecer os possíveis fatores que contribuem para que as atividades rítmicas e de expressão corporal não sejam utilizadas no cotidiano escolar, em detrimento das atividades esportivas como o futebol e o vôlei. Dentre os fatores possíveis para esta exclusão, ressaltamos os arquétipos, que possuem grande influência no inconsciente humano e regem grande parte de suas ações. Por serem involuntários, estes arquétipos não podem ser confrontados durante a exposição de uma aula de atividades rítmicas, sendo necessárias estratégias que utilizem uma atividade cotidiana e que gradativamente inclua-se a atividade rítmica nesta, não causando impactos negativos.
    Unitermos: Educação. Arquétipos. Dança

Trabalho apresentado como quesito parcial à disciplina História
da Educação Física e Esportes. Professor André M. Capraro

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 70 - Marzo de 2004

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Introdução

    No âmbito formal sempre foram utilizados esportes como meio de desenvolvimento das faculdades motoras dos educandos. Mas por que não são utilizadas atividades rítmicas e de expressão corporal visando o mesmo fim? Afinal, tais atividades fazem parte dos Parâmetros Curriculares Nacionais, portanto obrigatórias. Mesmo com o amparo legal, as atividades rítmicas não são utilizadas na maioria das escolas, deixando uma grande lacuna no desenvolvimento do aluno. A explicação para tal comportamento da maioria das escolas é encontrada nos estudo de JUNG1 nos seus conceitos de arquétipos, ou seja, "tendência para formar as mesmas representações de um motivo, sem perder sua característica original" .

    O corpo humano é fruto de evoluções, não somente anatômicas e funcionais, mas também psíquicas. Tais evoluções da mente são produto da história, visto que o homem primitivo tinha uma consciência próxima à dos animais e o homem contemporâneo possui um sistema de consciência e inconsciência muito mais elaborado. Porém, a psique do homem primitivo não foi descartada e continua sendo a base para a psique de todos os seres humanos, dando origem a imagens coletivas. Estas imagens são encontradas em qualquer lugar do mundo e a qualquer tempo. Por isso mesmo em culturas diferenciadas podemos encontrar um mesmo simbolismo, o que seria inviável sem as imagens do inconsciente coletivo. Um exemplo citado por JUNG2 foram as semelhanças entre uma psicose, doença atual, com uma possessão demoníaca, datada da Idade Média.

    Os arquétipos também são entendidos como tendências instintivas, das quais o homem não tem controle, representadas por imagens simbólicas, principalmente em sonhos. O inconsciente, assim como a consciente, tem a capacidade de interpretar os acontecimentos, porém o primeiro o faz de uma maneira instintiva, com base nos arquétipos. Já o segundo o faz com base na razão, o que proporciona uma resposta mais clara ao ser humano. Muitas vezes o inconsciente realiza uma prognose, ou seja, uma "previsão" do futuro, baseada na interpretação instintiva dos acontecimentos. Tais interpretações são manifestadas em sonhos, dificultando o seu entendimento, devido aos simbolismos utilizados por este. (JUNG3 )


Desenvolvimento

    Em um levantamento de fontes históricas sobre a dança no Paraná foi constatado que apesar do grande volume de fontes encontradas, apenas uma relacionava a dança à educação e ainda assim não da maneira desejada pelas autoras deste artigo. Tal fonte do Jornal do Estado de 23 de junho de 1997 com o título: "Projeto Dança Masculina estréia amanhã no Guairinha". Juntamente com tal projeto foi apresentada a iniciativa Dança Escola, que forneceria bolsas em escolas de dança para as crianças que freqüentam o ensino fundamental e médio e possuem bom desempenho nas notas. Não havia fontes que indicassem o trabalho de dança, atividades rítmicas e de expressão corporal na Educação Física escolar dentre as fontes existentes na Biblioteca Pública do Paraná.

    Esta ausência de trabalhos com atividades rítmicas nas escolas pode ter origem nos arquétipos incutidos nos professores, onde existe o preconceito com tais atividades como não sendo merecedoras de espaço no âmbito formal, por não ter importância para o desenvolvimento da criança, não serem atividades aplicáveis aos alunos do sexo masculino, ou até mesmo dos arquétipos incutidos nos pais dos educandos, que conseqüentemente são incutidos no educando. CARVALHO4 em seu trabalho afirma que os estudos do inconsciente da vida psíquica infantil está relacionado com o conceito de identidade primitiva (arquétipos), devido ao estado de inconsciência que se encontra a criança pequena. A mesma situação aconteceria com o homem primitivo, que é tão desprovido de consciência quanto a criança. Sendo a criança portadora somente dos arquétipos, o inconsciente dos pais infiltram-se nela, implementando seus conceitos e fazendo-a viver e agir de acordo com os problemas dos pais. É valido reforçar que, segundo Jung citado por CARVALHO5 a criança não pode ser concebida como uma página em branco. Está incutido nela todas as imagens do inconsciente coletivo, que parecem refletir os modos universais de experiência de comportamento humano em uma intrincada rede psíquica, porém a criança não tem consciência disso.

    A influência dos pais na educação da criança foi enfaticamente defendida por Jung e se dá tanto no consciente quanto nas esferas mais profundas do inconsciente. As pressões exercidas pelo meio ambiente tem influência no caráter da criança, sendo a principal a atitude emocional dos educadores e dos pais. Para que esta relação entre pais e filho não seja desastrosa e causadora de neuroses, ela deve ser progressiva, visando a liberdade da criança como indivíduo, não incutindo nela os valores e problemas dos pais, de modo que ela possa seguir seu próprio caminho e não o caminho escolhido pelos pais. (CARVALHO6 )

    Ao impregnar a criança com seus valores, muitas vezes os pais a tornam reticentes a algumas atividades, como o futebol não sendo adequado para meninas e a dança não sendo adequada para os meninos. Este último pensamento ganhou força quando as mulheres, na época dos balés de corte, substituíram as pesadas vestimentas e os saltos altos por roupas mais confortáveis a prática da dança, fazendo com que a figura masculina se retirasse da dança. Ainda hoje este conceito é vigente, sendo explicitado por inúmeras iniciativas como esta fonte citada anteriormente: Jornal do Estado no dia 23 de junho de 1997 com o título "Projeto Dança Masculina estréia amanhã no Guairinha". Este projeto visava incluir menores de rua na dança, que infelizmente não teve a repercussão esperada e o projeto foi extinto. Outro dado importante que explicita este preconceito é a política de admissão de alunos da Escola de Balé Teatro Guaíra, onde os alunos do sexo feminino necessitam pagar uma taxa para ter direito às aulas e os alunos do sexo masculino não necessitam pagar tal taxa, como um incentivo a entrada de meninos na escola.


Conclusão

    Ao trabalhar uma atividade que instiga tanto os arquétipos do ser humano e seus instintos, o professor deve ter muito cuidado. Uma proposta viável seria iniciar a prática rítmica através dos esportes, retirando gradativamente o aspecto esportivo e inserindo o aspecto rítmico, sem causar um impacto negativo nos alunos. Assim eles perceberão que a atividade rítmica, sendo inclusa nesta a dança, pode ser uma prática prazerosa e sem limitações como o gênero e seus arquétipos.


Notas

  1. Jung, Carl Gustav. O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro, Nova Fronteira: 1964, p.67.

  2. Jung, Carl Gustav. O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro, Nova Fronteira: 1964, p.69.

  3. Jung, Carl Gustav. O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro, Nova Fronteira: 1964, p.78.

  4. CARVALHO, Jussara Maria. Jung e a Educação Infantil. Revista Psicologia Argumento - ano XXVI - n. XXVI, abril/2000 p.12

  5. CARVALHO, Jussara Maria. Jung e a Educação Infantil. Revista Psicologia Argumento - ano XXVI - n. XXVI, abril/2000 p. 17

  6. CARVALHO, Jussara Maria. Jung e a Educação Infantil. Revista Psicologia Argumento - ano XXVI - n. XXVI, abril/2000 p. 24


Referências bibliográficas

  • Jung, Carl Gustav. O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro, Nova Fronteira: 1964.

  • CARVALHO, Jussara Maria. Jung e a Educação Infantil. Revista Psicologia Argumento - ano XXVI - n. XXVI, abril/2000.

  • Fontes Históricas: Biblioteca Pública do Paraná

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