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Influência da prática de exercícios físicos na Doença de Alzheimer

 

*Nutricionista pelo Centro Universitário São Camilo

**Nutricionista, Mestre em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública

da Universidade de São Paulo (USP)

Professora do Centro Universitário São Camilo

Atuação nas áreas de Nutrição Esportiva e Nutrição em Saúde Pública.

Fernanda Santos Thomaz*

Gretha Letícia Borsoi*

Renata Furlan Viebig**

fst.nutricao@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          A população mundial de idosos está aumentando nos últimos anos e, conseqüentemente, cresce também o número de doenças relacionadas à idade, particularmente as degenerativas, como a Doença de Alzheimer. No entanto, este processo pode ser amenizado e diminuído com a prática de exercício físico regular e bem orientado, preferencialmente ao longo de toda a vida. Desta forma este trabalho teve o propósito de contribuir com a comunidade científica através da identificação de aspectos relevantes e atuais sobre a importância da prática de exercício físico na Doença de Alzheimer. As recomendações de exercícios físicos devem se basear nos estilos de vida de cada indivíduo, podendo reduzir em aproximadamente 30% a 50% o risco de uma pessoa desenvolver a Doença de Alzheimer, sendo que as pessoas que têm uma tendência genética podem ter o risco reduzido em até 60% se praticarem exercícios regularmente. O Colégio Americano de Medicina Desportiva (ACSM) preconiza a prática de exercícios aeróbios, de intensidade de 40 a 60% da freqüência cardíaca de reserva, com duração aproximada de 20 minutos e freqüência de três vezes por semana. Assim, faz-se necessário programas regulares de exercício físico para prevenção e tratamento da DA e de outras doenças que acometem especialmente as pessoas idosas.

          Unitermos: Atividade física. Doença de Alzheimer. Envelhecimento.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 123 - Agosto de 2008

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Introdução

    A população mundial de idosos está aumentando e cresceu na alta taxa de 2,4% por ano durante a última década, particularmente o grupo com 85 ou mais anos de idade (SILVA e DAMASCENO, 2002; LAUTENSCHLAGER, 2007).

    Com o crescimento do número de idosos, cresce também o número de doenças relacionadas à idade, particularmente as degenerativas, como a Doença de Alzheimer (DA) (NETO, TARMELINO, FORLENZA, 2007). Estima-se que no Brasil, no ano de 2000, 1 milhão e 200 mil pessoas tinham DA, com a incidência de 100 mil novos casos por ano (SCAZUFCA et al., 2002)

    A DA na América do Norte, é a quarta causa de óbito na faixa etária compreendida entre 75 e 84 anos de idade, e a terceira maior causa isolada de incapacidade. Estudos mostram que uma em cada dez famílias americanas possui um membro com DA, sendo aproximadamente 4,5 milhões de indivíduos afetados, que podem alcançar quatorze milhões na metade do século XXI (MACHADO, FRANK, SOARES, 2006; ARAÚJO e PONDÉ, 2006).

    No entanto, o processo de envelhecimento progressivo devido principalmente a degeneração do sistema nervoso, pode ser amenizado e, diminuído com a prática de um exercício físico regular e bem orientado, auxiliando assim nas degenerações e transformações do organismo (OLIVEIRA e FURTADO, 1999; ARAÚJO, 2008).

    O exercício pode propiciar benefícios agudos e crônicos. São eles: melhora no condicionamento físico; diminuição da perda de massa óssea e muscular; aumento da força, coordenação e equilíbrio; redução da incapacidade funcional, da intensidade dos pensamentos negativos e das doenças físicas; e promoção da melhoria do bem–estar e do humor (CASPERSEN, POWEL, CHRISTENSON, 1985; WILLIAMS, 2002; FOUNTOULAKIS apud MORAES, 2007).

Benefícios do exercício físico no processo de envelhecimento

    As vantagens da prática de exercícios para idosos dependem de como se processa o envelhecimento e da rotina e tempo de exercício físico praticada. Sabe-se que os benefícios à saúde ocorrem mesmo quando a prática de atividade física é iniciada em uma fase tardia de vida, por sujeitos sedentários, sendo benéfica inclusive para portadores de doenças crônicas, prevenindo principalmente as doenças associadas ao sedentarismo, como coronariopatias, diabetes, hipertensão arterial, hipercolesterolemia, acidente vascular encefálico (AVE), osteoporose, osteoartrite, e câncer de próstata, mama e cólon intestinal (CAROMANO, IDE, KERBAUY, 2006).

    Conhece-se bem os efeitos dos exercícios na prevenção e recuperação das perdas motoras decorrentes do processo de envelhecimento. A relação entre os treinos específicos e a melhora do órgão ou sistema exercitado, como por exemplo, prática de alongamento muscular e ganho de flexibilidade, ou treino de equilíbrio e melhora no desempenho em testes de equilíbrio. Além de ganho de força e massa muscular, o que diminui a incidência de quedas e oferece autonomia para suas atividades de vida (FIGUEROA e FRANK, 2002; STELLA et al., 2002; JUDGE apud CAROMANO, IDE, KERBAUY, 2006). Para que os efeitos dos exercícios permaneçam, sua prática deve tornar-se parte da rotina diária.

    Em particular o chamado exercício aeróbio, realizado com intensidade moderada e longa duração (a partir de 30 minutos) propicia além dos benefícios citados acima, o alívio do estresse ou tensão, devido a um aumento da taxa de um conjunto de hormônios denominados endorfinas que agem sobre o sistema nervoso, reduzindo o impacto estressor do ambiente e com isso pode prevenir ou reduzir transtornos depressivos, o que é comprovado por vários estudos (STELLA et al., 2002). Ele também pode estar relacionado com a síntese de dopamina, devido a um aumento nos níveis de cálcio no cérebro, através do estímulo de um sistema enzimático conhecido como cálcio–calmodulina. A dopamina está relacionada com o desempenho motor, a motivação locomotora e a modulação emocional (INGRAN, 2000).

Benefícios do exercício físico na Doença de Alzheimer

    Para a população acima de 65 anos, o Colégio Americano de Medicina Desportiva (ACSM) preconiza atividade aeróbia de intensidade de 40 a 60% da freqüência cardíaca de reserva, ou 11 a 13 na escala de Borg, com duração de 20 minutos e freqüência de três vezes por semana (MORAES, 2007).

    Segundo o estudo publicado em 2005, pessoas com cerca de 50 anos que fazem exercícios por meia hora pelo menos duas vezes por semana podem reduzir pela metade o risco de desenvolver DA. As pessoas que têm uma tendência genética a ter a doença podem ter o risco reduzido em até 60% se praticarem exercícios. Foram acompanhados no estudo cerca de 1,5 mil homens e mulheres. Entre eles, aproximadamente 200 participantes desenvolveram DA ou outras desordens neurológicas entre os 65 e os 79 anos. Os cientistas analisaram as atividades físicas dos participantes da pesquisa até 21 anos antes, quando eles ainda tinham cerca de 50 anos. Aqueles que desenvolveram DA ou outras doenças neurológicas tinham feito muito menos exercícios físicos durante a fase adulta do que aqueles que não apresentaram essas doenças (ROVIO et al., 2005; MELO e DRIUSSO, 2006).

    O tempo e freqüência do exercício que aparentemente beneficiou os que não desenvolveram a doença foram de 20 a 30 minutos pelo menos duas vezes por semana, com intensidade suficiente para deixar a pessoa sem fôlego e suando (ROVIO et al., 2005). Sendo a recomendação usual de 20 a 30 minutos de exercícios aeróbicos de três a cinco vezes por semana para ter coração e pulmões saudáveis (MORAES, 2007).

    Pesquisadores afirmam que a descoberta tem enormes implicações na prevenção da DA. Entre os benefícios do exercício, citou-se o poder de manter pequenos vasos sanguíneos do cérebro saudáveis, além de proteger contra pressão alta e diabetes. A atividade física também pode reduzir a concentração da proteína amilóide, que se acumula no cérebro de pessoas com Alzheimer (ROVIO et al., 2005).

    Um estudo sobre os efeitos da atividade física em problemas mentais como demência e DA foi realizado na Universidade de Bristol, na Grã-Bretanha. Concluiu-se que uma vida ativa pode reduzir em quase 34% o risco de uma pessoa desenvolver a doença (BRITISH NUTRITION FOUNDATION CONFERENCE, 2007).

    De acordo com o estudo, a atividade física em homens e mulheres estava associada a uma queda entre 30% a 40% no risco de desenvolver DA. Entretanto, os pesquisadores concluíram que ainda não é possível determinar a razão deste efeito, mas avaliam que ele pode estar associado aos benefícios ao sistema vascular e também à liberação de substâncias químicas no cérebro (BRITISH NUTRITION FOUNDATION CONFERENCE, 2007).

    Outro aspecto interessante da atividade física para idosos é a promoção do convívio social do indivíduo, reduzindo os problemas psicológicos com ansiedade e a depressão comuns nesta idade, que impede a progressão rápida do tratamento (FIGUEROA e FRANK, 2002).

    Dentro da atividade física a assistência fisioterapêutica principalmente à paciente acamado ou com grandes limitações é bastante benéfica e eficaz. A partir da fase intermediária da DA, o portador começa a apresentar importantes deficiências motoras e alteração da marcha. Neste contexto, o tratamento fisioterapêutico passa a ter grande importância para retardar a progressão das perdas motoras, evitar encurtamentos e deformidades e incentivar a independência do doente (MELO e DRIUSSO, 2006).

Considerações finais

    Os resultados sugerem que o exercício aeróbio praticado com intensidade moderada, duração de 20 a 30 minutos e freqüência mínima de 3 vezes por semana, apresenta benefícios expressivos na prevenção e tratamento da DA, atuando na diminuição dos riscos de desenvolver a doença e para portadores na diminuição de seus efeitos deletérios.

    O envelhecimento é um processo lento, gradativo e inevitável que todo ser humano deve-se preparar. A atividade e o exercício físico propiciam efeitos positivos durante todo este processo.

    Assim, faz-se necessário a ação de programas de exercícios físicos regulares, segundo o preconizado, para melhora da qualidade de vida de pessoas idosas.

Referências bibliográficas

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