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Dialogando sobre educação, educação física e inclusão escolar
Flavia Fernades de Oliveira

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 51 - Agosto de 2002

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    Há estudos em educação física como também na área de educação especial que comprova que os alunos com necessidades especiais separados de alunos “normais”, apresentam um resultado inferior, do que se ele estivesse incluído. Cruz (1997) em sua tese “Classe especial e Regular no contexto da Educação Física: Segregar ou Integrar?“ exemplifica com a aplicação de ginástica, jogos, voleibol, basquetebol, futsal, handebol e outras atividades em uma turma de RM1, mostra uma diferença significativa em que os alunos integrados apresentam um resultado superior do que se ele estivessem segregados ou os outros ditos normais isolados.

“ ... em aulas realizadas em conjuntos com alunos de classes regulares, ditos normais, os alunos portadores de deficiência mental tiveram um desempenho consideravelmente acima de seus próprios tempos, nas mesmas atividades, porém, em espaços restritos a seus pares de iguais, vulgo, classes especiais.” (p.61)

    Observa-se com a aplicação de atividades integrativas, que esses alunos obtiveram um melhor desempenho, como foi dito anteriormente, um dos papéis prioritário da educação física é a sociabilidade segundo De Marco, por Helder Guerra “ O discurso globalizante da educação foi confirmado nesta questão ao apontarem a formação global do educando e a socialização como propósito específicos da educação física.” (1995, p.84) Dentre outros, também um dos principais objetivos da educação física é a formação global do educando, que se dá também através do exercício da cidadania.

    O ambiente social intervém no desenvolvimento do aluno, com isso fica nítido a responsabilidade da Educação e principalmente da Educação física, que é levar o aluno a participação efetiva na vida social, ressaltando a igualdade de direitos e desprendendo quaisquer tipo de discriminação. Para Medina (1991) o profissional de educação física tem que:

”Estar sempre atento ao seu papel de agente renovador e transformador da comunidade de onde ele, via regra, se apresenta como um líder natural. As pessoas e os grupos sociais - dependendo da classe a que pertençam - apresentam características especiais de comportamento, interesses e aspirações que os determinam ou condicionam.” (p.63)

    A educação física como outras disciplinas tem muitas das vezes se fragmentado dentro do currículo escolar, apresentando diferentes tarefas, para grupos diversos, claro que, como foi citado por Medina, deve se atentar para que cada classe social apresente um comportamento, um tipo de interesse e aspiração diferente, porém para que haja formação de um cidadão, é importante notar as necessidades do grupo social a que pertencem.

    No caso dos jogos, a primeira interdição do professor é ver se o aluno tem ou não habilidade para jogar, e com isso fica explícito que os alunos com dificuldades motoras que não participam de jogos, por não terem oportunidades muita das vezes de experimentarem, ou por ouvirem comentários que “Não possuem controle motor”, por serem portadores de deficiência em função do seu aspecto anátomo -fisiológico.

    O jogo apresenta como uma das suas principais funções a estruturação das relações humanas, todos temos a necessidade do lúdico, já como foi dito por Chateu (1987) o homem só é completo quando brinca, partindo daí, damos uma importância aos jogos a serem trabalhados numa perspectiva educacional, ou seja levar os alunos através de uma relação social terem: respeito as regras, prazer, limites espaço-temporais, liberdade, ordenação, cooperação entre outros. JIMENEZ (1998) diz que os jogos trazem algumas atitudes para as crianças portadoras de necessidades especiais como:

  • Participação em diferentes tipos de jogos considerando seu valor funcional ou recreativo superando os estereótipos;

  • Sensibilidade ante aos diferentes níveis de destreza, tanto próprias como nos outros, na prática dos jogos;

  • Valorização das possibilidades como equipe e da participação de cada um de seus membros com independência do resultado obtido;

  • Aceitação do desafio que supõe se opor a outros em situações de jogo sem que ele derive em atitudes de rivalidade.

    A valorização e a participação nos jogos é de grande importância para essas crianças, pois fazem com que a mesma também desenvolva as suas atitudes que acaba gerando uma superação.

    A Secretaria de Esporte Lazer do Município do Rio de Janeiro, há três anos introduziu os jogos inclusivos para crianças na faixa etária de 6 à 8 anos matriculadas na rede municipal de ensino, promovendo a integração de portadores e o não portadores de deficiência, com provas de: lançamento de pelota, arremesso de massa, salto em distancia, chute a gol, bola ao cerco e cabo de guerra. O secretario de Esporte e lazer da Prefeitura do Rio, Ruy César diz que os jogos inclusivos serviram para estimular a prática esportiva nas escolas e promover um intercâmbio social e esportivo entre os portadores e os não portadores de deficiência. Nesses jogos dos inscritos 50% são portadores de deficiência e os outros 50% não são portadores.Estes jogos vêm cumprindo o seu papel que é mostrar o quanto é possível reunir estes grupos de criança e trabalha-las de forma integradas e eles podendo conviver.

    A proposta pedagógica da Educação física parte do princípio em que um dos objetivos gerais do ensino Fundamental, é fazer com que a criança através de atividades corporais conheça a si próprio e aos outros e principalmente que respeite as individualidades, com isso os blocos de conteúdos a serem trabalhados no ensino fundamental segundo os PCNs (1997) são esportes, jogos, lutas e ginástica; Atividades rítmicas e expressivas; Conhecimento sobre o corpo.

    O conhecimento sobre o corpo tem como finalidade através das atividades que dão aos alunos informações sobre o seu próprio corpo, sua estrutura física e interação com o meio social em que vive. Já os esportes, jogos lutas e variações de ginástica visam transmitir informações históricas sobre as origens, características de cada uma dessas práticas e a importância de valoriza-las. As atividades rítmicas e expressivas são manifestações que combinam expressões e sons, como danças, mímicas e brincadeiras cantadas. Por meio delas o aluno caracteriza diferentes movimentos expressivos, sua intensidade e duração.

    A prática dessas atividades não impede que os alunos portadores de necessidades especiais às executem, apesar de suas limitações, pois elas são benéficas a essas crianças principalmente no desenvolvimento de suas capacidades perceptivas, afetivas, de integração e inserção social,para sua futura independência.

    Nos é apresentado os “Parâmetros Curriculares Nacionais com Adaptações Curriculares: Estratégia para a Educação de Alunos com Necessidades Especiais”(1999) que diz :

“Consistem em adaptações individuais dentro da programação regular, considerando se os objetivos, conteúdos e os critérios de avaliação para responder às necessidades de cada aluno. São exemplos de estratégias adaptativas:
Adequar os objetivos, conteúdos critérios de avaliação, o que implica modificar os objetivos, considerando as condições do aluno em relação aos demais colegas;”
(p.50)

    Se pensarmos em modificar os objetivos e os conteúdos dentro da aula de Educação física para grupos distintos, iremos cair na mesma que foi dita anteriormente, segregar, ou melhor, integrá-los para fazerem parte do grupo, mas sem que participem das mesmas atividades ou grupo. LINHARES (1994) Sugere que haja nas aulas de educação física uma integração combinada (aulas Paralelas), que irão funcionar junto as aulas principais, sendo que dependendo do grau de deficiência dos alunos eles irão se integrando as aulas principais. Assim sendo uma mesma aula os objetivos e os conteúdos serão diferentes para grupos diferentes, é claro que na educação física os alunos portadores de necessidades especiais não irão fazer todas as atividades efetivamente, porém como foi observado por (Cruz,1997) os alunos segregados não tendem a apresentar nenhuma melhora.

    A avaliação dos alunos portadores de necessidades especiais, nas aulas de Educação física não pode ser da mesma forma, que dos outros alunos, até mesmo porque esses apresentam várias dificuldades de ordem psíquica, física, motora, sensorial e até mesmo emocional, devido as suas deficiências, e nem sempre estão predispostas a executarem as atividades que as outras crianças, então aptidão física que é um dos objetivos a ser avaliado nas aulas neste caso fica banido, apesar dos PCNs: Adptações Curriculares (1999) diz que

“ Quanto à promoção ou retenção dos alunos que apresentam necessidades especiais, o processo avaliativo deve seguir critérios adotados aos demais ou adotar adaptações quando necessárias. “(p.58)

    As novas tendências pedagógicas traz para os educadores uma forma de melhor aprimorar o seu trabalho porém parte de um movimento apresentado mundialmente pela UNESCO, “ Educação para Todos”, sem distinção de raça, cor, origem,... onde uma iria se criar direitos e oportunidades educacionais para todos. No Brasil criou-se os PCNs, em seguida, com receios de não atender a essas demandas introduziram outros PCNs: para portadores de necessidades especiais e o Indígena, sabendo-se que todos tem direito a Educação, porém para outras concepções diferenciados.

    O papel da educação física dentro de uma Educação Inclusiva nos faz refletir que é possível, mas é preciso querer e estar disposto a modificar a concepção da sociedade e a nossa própria forma de ver o mundo.

“ ...se aproximar desse indivíduo, e entende-lo com suas especificidades e suas dificuldades individuais - incluindo sua deficiência. E aí sim junto com ele, criar um programa individual de integração que atenda às suas necessidades, possibilidades e desejos. Não podemos carrega-lo no colo, podemos apenas ajuda-lo a percorrer o seu caminho, que no final das contas, será solitário e individual, como o de todos nós.” (Glat,1995,p.44)

    O que é necessário para a Educação física hoje é auxiliar esses alunos a se desenvolverem, criando para eles uma oportunidade de lazer, prazer e principalmente de bem estar físico e social.


IV. A pesquisa de campo

    Este estudo se caracteriza como uma pesquisa exploratória no campo de investigação da Educação Física Inclusiva, uma vez que realiza uma aproximação da temática com a realidade cotidiana dos professores de Educação Física, com o intuito de levantar seu discurso sobre a Educação Física Escolar Inclusiva. O design utilizado foi o da pesquisa de levantamento, onde 16 professores que atuam no ensino fundamental, foram interrogados através da técnica de entrevista. Estes professores pertencem a instituições públicas e particulares situadas na Zona Norte e Oeste do Município do Rio de Janeiro. A análise do discurso foi o referencial teórico-metodológico para se discutir as falas dos professores sobre a Educação Física Escolar Inclusiva. A questões centrais do roteiro apresento a seguir:


V. O discurso dos professores sobre a Educação Física inclusiva

    Diante das informações coletadas nas entrevistas realizadas com os professores de Educação Física, na sua grande maioria com experiência superior a 5 anos em educação física escolar foi possível levantar alguns discursos, que legitimam as dificuldades de se alterar as mentalidades apenas a partir de novas propostas.

    A maioria dos professores tem conhecimento das novas perspectivas da educação, afirmam “trabalhar com a Educação Inclusiva em suas aulas”, e ratificam em suas falas que “nenhum de seus alunos Portadores de Necessidades Educativas Especiais são dispensados das suas aulas”. Estes professores declaram que, “quando necessário eles também fazem adaptações para que esses alunos participem”, sendo assim pensam que a participação deles é importante fazendo com que haja uma integração já que eles realizam atividades junto com outros alunos.

    Na questão que versava sobre a dificuldade dos professores em adaptar suas aulas? Apenas 5 de 16 disseram que “não”, porém 11 de 16 disseram que “ sim”,mas tem dificuldades em adaptar as aulas. Esta entrevista também pode captar no discurso deste grupo de professores entrevistados que “a reação dos alunos ‘normais’ é boa”, e um dos professores ressaltou que: “ ... são crianças, e sabemos que elas não são preconceituosas como pode parecer, o adulto tem uma participação negativa nessa história toda, com certeza.”

    Na entrevista realizada com os professores, foi possível perceber também o tipo de apoio que esses tinham da escola para desenvolver a Educação Inclusiva; ficou claro que a escola está dando o apoio necessário na experiência destes docentes, eles têm trabalhado junto aos outros profissionais, como os da área de orientação pedagógica, e tem participado de Cursos e Congressos sobre o tema.

    Mas em uma das questões, considerada chave nesta entrevista, que foi verificar se a Educação física para os Portadores de Necessidades Educativas Especiais devia continuar sendo “ Educação Física Adaptada”? Para a surpresa da pesquisadora, diante de respostas tão otimistas no desenrolar das entrevistas, não se esperava que a maioria dos informantes dissessem que “sim”. Acredita-se que os professores não fizeram a distinção ainda entre os conceitos de Educação Física Inclusiva e Educação Física Adaptada”, ou seja o debate e a continuidade dos trabalhos junto aos profissionais é muito importante para a conquista de uma nova mentalidade junto a escola brasileira do que seja alcançar a formação de jovens integrados e com seus preconceitos reconceituados.


VI. Conclusão

    O presente artigo buscou demonstrar que há possibilidade de se trabalhar a educação inclusiva nas aulas de educação física, partindo do princípio que a escola deve estar disposta em receber e principalmente desenvolver este novo sistema, pois não basta somente à escola aceitar, se os professores, os outros profissionais ou até mesmo as comunidades escolares ainda não estão preparadas para a sua realização.

    A educação física como as demais disciplinas, estão caminhando para esta mudança, apesar do currículo ainda ser fragmentado e as disciplinas não serem integradas entre si, a educação física que visa a formação global do aluno, ou seja, o corpo e a mente, facilitando na aprendizagem do aluno, apresenta uma melhor maneira de trabalho com os portadores de necessidades educativas especiais, mesmo que esses não executem a atividade, por não apresentar habilidade motora, porém eles podem participar da mesma forma, sendo o árbitro no jogo, o cronômetrista nas provas, entre outros. De uma forma ou de outra ele está sendo incluído e participando da aula de educação física, pois o que não pode haver é a seleção de alunos, os que são habilidosos para as práticas desportivas e os não são, pois acaba ocorrendo que os alunos portadores de necessidades educativas especiais, não participam dessas práticas, então cabe ao professor de educação física e a escola, proporcionar a oportunidades para esses alunos participarem das aulas, visto que para eles é importante para o seu desenvolvimento social, físico, motor e principalmente afetivo. A pesquisa empírica demonstrou que os professores tem recebido apoio, mas a questão que fica é, será que eles têm realmente trabalhado os conceitos sobre os Portadores de Necessidades Educativas Especiais? Já que eles acham que a Educação Física para esses alunos deve continuar sendo Adaptada. Ou será que Educação Inclusiva na representação destes professores ainda está centrada unicamente nos alunos deficientes.

    Devemos pensar que enquanto criarmos adaptações na educação, sem saber se elas serão necessárias ou não, é importante verificarmos se o grupo que está envolvido quer esta mudança ou não, porque senão iremos cair na divisão dos grupos, que acaba gerando privilegio para alguns, onde teria que haver inclusão,acabará tendo exclusão.


Nota

  1. RM - designação atribuída pela Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro às turmas compostas por alunos portadores de Deficiência Mental.


Referências bibliográficas

  • CECCON, V. Escola da Vida e Vida na Escola, Petrópolis, Ed. vozes, 1993.

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  • LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL Nº 9394/96.

  • LINHARES, P. Fundamentos Psicoevolutivos de la Educación Física Especial, Granada, Ed.Universidad de Granada, 1994.

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  • NOVA ESCOLA, As Novidades da Educação Física, Edição nº 134, 2000

  • PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, Brasília: MEC/SEF,1997.

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  • SEYBOLD, A .Educação Física Princípios Pedagógicos, Rio de Janeiro, Ed. Ao Livro Técnico, 1994.

  • UNESCO, Declaração de Salamanca, http://www.spn.pt/notvar.


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revista digital · Año 8 · N° 51 | Buenos Aires, Agosto 2002  
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