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O Teatro na escola: uma proposta multidisciplinar no processo de ensino
e aprendizagem nas aulas de Educação Física
Luiza Helena Junqueira, Eliane Silva e Luiz Antonio Leitão

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 50 - Julio de 2002

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    A criança sendo estimulada nesta situação, ela irá começar a inventar personagens, desenvolvendo e aprimorando o diálogo com eles. Essa criação livre e natural pode levar à diálogos proporcionados por histórias lidas e ouvidas, textos prontos para este tipo de teatro.

    Geralmente, as crianças pequenas começam a brincar sozinhas com seus bonecos e pouco a pouco, vão unindo-se com outras crianças criando os seus próprios fantoches e iniciando a socialização, pois percebem a necessidade de esperar sua vez para falarem, para ouvir os outros, respeitar a opinião dos colegas e exprimirem um manifesto de suas opiniões usando de argumentos plausíveis.

    As brincadeiras com fantoches permitem que a criança desenvolva a expressão oral e artística, pois os bonecos levam a criança sempre ao mundo da imaginação e do faz-de-conta.

    Já os alunos maiores (geralmente do ensino fundamental), usam o fantoche para expressarem seus pensamentos de uma forma mais livre. Contam suas ações, seus desejos, aventuras, reproduzem fatos e histórias lidas e ouvidas do seu dia-a-dia.

    O teatro de bonecos também estimula a criança a desenvolver a potencialidade da voz porque de acordo com o personagem representado, a criança pode falar grosso, fino, imitar sons de bichos, de elementos da natureza como por exemplo, chuva e trovoadas, abrindo momentos lúdicos e sensórias. Elas começam a adequar a voz às diversas situações aliando o ritmo vocal ao gestual.

    A criança ao ouvir aos mais diversos sons, ela provavelmente ouve com mais interesse o que os outros falam. Isso faz com que ela perceba a musicalidade de uma canção e o seu ritmo, sendo considerado um fator fundamental na educação da audição (sensorial).

    Um outro fato é que os bonecos confeccionados pelos alunos, mesmo que o professor participe da confecção, são mais adequados para o aprendizado do que os comprados prontos, pois quando eles mesmos criam os fantoches, passam a gostar mais deles unindo neste momento, três aspectos da educação: a expressão oral, a plástica e as emoções vivenciadas anteriormente.

    O teatro de bonecos na formação do educando tem como objetivos: a percepção visual, auditiva e tátil; a percepção da seqüência de fatos (noção espaço-temporal); coordenação de movimentos; expressão gestual, oral e plástica; criatividade; imaginação ; memória; socialização e o vocabulário.

    Este tipo de teatro pode ainda revelar ao professor, aspectos do desenvolvimento da criança que não são observados durante os trabalhos escolares tradicionais. Com isso, o professor poderá direcionar atividades educativas e recreativas de acordo com a capacidade da criança. Assim, o teatro de bonecos significa para a criança um jogo e para o professor, uma técnica didático-pedagógico no processo de ensino-aprendizagem.

    Devemos sempre lembrar que a lógica infantil é diferente da lógica do adulto, sendo o teatro de bonecos real para a criança, dentro da realidade do jogo, lúdico e do jogo da vida no qual está inserido no contexto civilizacional do seu grupo social


3.1. Fases do Planejamento das peças

    O planejamento das peças pode ser realizado pelos alunos e pelo professor passando por três fases: a fase do planejamento propriamente dita, a fase de execução e a fase de avaliação.


Fase do planejamento

    Nesta fase ocorre a escolha do tema, escolha dos personagens, caracterização dos personagens e escolha do local para apresentação. Na fase da caracterização, o aluno deve descobrir sozinho como vestir os bonecos de acordo com o texto da peça.


Fase de execução

    No ensaio, cada apresentador decora a parte do personagem que irá representar. Os ensaios devem ser realizados na presença de todos os alunos da classe junto com o professor.

    Na representação é onde ocorre a apresentação da dramatização já pronta e ensaiada.


Fase de avaliação

    A avaliação deve ser considerada pelo professor uma forma de incentivo à atuação da criança. Nesta fase, os alunos revelam muito as características do seu eu, atitudes, comportamentos e habilidades. É a oportunidade que o professor tem de analisar seus alunos, conhecendo-os melhor para auxiliá-los no processo educativo.

    O professor deve avaliar no aluno as mudanças comportamentais dele, sua integração com o grupo levando em consideração, o desempenho da criança no desenvolvimento da apresentação da atividade.


3.2. Exemplos de peças sócio-educativas:

O macaco e o coelho

( Em cena, um macaco e um coelho. )
Macaco: Vamos fazer um trato?
Coelho: Que trato?
Macaco: Eu só caço borboletas e você só caça cobras.
Coelho: Está bem. Isso é pra valer?
Macaco: Claro que é.
Coelho: Então vou dar umas voltas pela mata e ver se consigo caçar cobras.
Macaco: Eu vou primeiro. Nesta hora, a mata deve estar cheias de borboletas.
( O macaco sai. )
Coelho: Vou aproveitar e dormir até o macaco voltar.
( O coelho dorme e o macaco volta. )
Macaco: O coelho está dormindo. Vou aproveitar !
( Puxa as orelhas do coelho. )
Coelho: Que é isso? Quem está puxando minhas orelhas?
( O macaco ri. )
Macaco: Ah ! Ah ! Ah ! Desculpe, amigo ! Pensei que fossem borboletas.
( O coelho vai saindo e pára na ponta do palco. )
Coelho: Espera que terás de volta.
( O coelho sai, e o macaco dá umas voltas pelo palco e depois fica distraído olhando alguma coisa. O coelho vem devagarinho por trás dele, segurando um pau. Dá uma paulada no rabo do macaco. O macaco berra. )
Macaco: Ai, ai, ai ! O que você fez?
Coelho: Desculpa, amigo. Vi uma coisa comprida e torcida. Pensei que fosse uma cobra.
( Sai apressado. )
( O macaco fica gemendo enquanto a cortina fecha. )
Narrador: Foi desde aí que o coelho, com medo de o macaco vingar-se, passou a morar em buracos.

O sapo encantado

1ª cena
( Aparecem o rei e a princesa.)
Rei: Minha filha, dou-lhe esta bola de ouro para você brincar no parque.
Princesa: Obrigada, papai ! Já vou brincar com ela !
( O rei sai. )
( A princesa joga a bola que, daí a pouco, some dentro do palco. )
Princesa: Oh ! Minha bola caiu dentro do poço e não posso pegá-la. O poço é tão fundo!
( A princesa chora. )
Sapo: Por que está chorando, linda princesa !
Princesa: Porque minha bola caiu dentro do poço e não sei como tirá-la de lá.
Sapo: Irei buscar sua bola, com uma condição. Você terá de levar-me ao palácio. Quero sentar-me à mesa, ao seu lado, e comer no seu prato.
Princesa: Está ....bem. Farei tudo isso que você me pede se trouxer minha bola de volta.
( O sapo some embaixo do palco e volta com a bola. )
Sapo: Aqui está sua bola, princesa. Não precisa chorara mais.
Princesa: O brigada ! Vamos para o palácio.

2ª cena:
( O rei entra em cena. Em seguida, entra a princesa. )
Princesa: Papai, veja o que aconteceu ! Minha bola de ouro caiu no poço e este sapo prometeu buscá-la se eu o trouxesse para comer conosco, sentado em nossa mesa.
Rei: Sim, minha filha. Palavra de princesa não volta atrás.
( A princesa acaricia o sapo. )
Princesa: Você não é muito bonito, mas foi muito bom para mim. Gosto de você.

( A princesa beija o sapo. )
( O sapo desaparece sob o palco e em seu lugar surge um príncipe. )
Príncipe: Obrigado, muito obrigado ! Sua bondade desencantou-me. A bruxa malvada transformou-me em um sapo e eu só poderia voltar a ser príncipe quando uma pincesa me beijasse. Jamais esquecerei seu carinho.
Princesa: Ah ! Que bom ! Que lindo príncipe você é.
( O príncipe dirige-se ao rei. )
Príncipe: Quero pedir-lhe, majestade, a mão se sua filha em casamento.
Rei: Você quer casar com o príncipe, minha filha?
Princesa: Sim, papai.
Rei: Concedo-lhe a mão de minha filha, com muito prazer! Quero que vocês sejam muito felizes.

A festa no céu
( Um sapo aparece no palco, passeando de cá para lá. Entra um coelho.)
Coelho: Bom dia, Sapo ! Como vai ?
Sapo: Vou bem, obrigado. E você ?
Coelho: Ah ! Eu vou bem ! Imagine você...Vou a uma festa .
Sapo: Onde é a festa ?
Coelho: Nem te conto. Vão todos os animais.
Sapo: Mas onde é essa festa ?
Coelho: É uma festa de arromba. É no céu.
Sapo: No céu ? Nunca ouvi falar.
Coelho: Pois é. Eu vou à festa no céu.
Sapo: Quem mais vai à festa ?
Coelho: Vão todos nossos amigos. Você também pode ir.
Sapo: Oba ! Oba ! Eu vou , eu vou !
Coelho: Vai haver muitos doces.
( O sapo abre um pouco a boca. )
Sapo: Oba ! Vou comer muitos doces.
Coelho: Vai haver refrigerantes.
( O sapo abre mais um pouco a boca. )
Sapo: Oba ! Está pra mim, gosto muito de refrigerantes...
Coelho: Dizem que a mesa é comprida, cheinha de doces, salgados, refrescos...
Sapo: Oba ! Vou comer até dizer chega. Oba !
( O sapo abre toda a boca. )
Coelho: Só que tem um detalhe.
( O sapo abre a boca o mais que pode e fica de boca aberta. )
Sapo: Qual é ?
Coelho: É que bicho de boca grande não pode entrar.
( O sapo fecha a boca de repente e torna a falar abrindo-a só um pouquinho. )
Sapo: Eu quero ver como o jacaré vai se arranjar....

Os ratos, o gato e o queijo
( Ao abrir-se a cortina, aparece, no centro do palco, um queijo. )
( Daí a pouco entram dois ratos: um de cada lado do palco. )
Ratinho: Olhe um queijo ! É meu !
Ratão: Eu vi primeiro, é meu !
Ratinho: Viu nada. Eu é que vi primeiro. Vou comê-lo.
Ratão: Vai nada ! Quem vai comer sou eu.
Ratinho: Isso é o que você pensa. Vou lhe dar uns tapas e o queijo é meu.
Ratão: Dá, se for homem !
Ratinho: Dou mesmo. É pra já.
( Brigam, um batendo no outro. )
Ratão: Pensando bem, é melhor repartir o queijo. Você fica com um pedaço e eu fico com o outro.
Ratinho: Ah ! Já sei que você quer o pedaço maior. Não aceito a sua proposta.
Ratão: Vou dividir o queijo em duas partes bem iguais. Confie eme mim.
Ratinho: E você é de confiança ? Vou ficar com o queijo inteirinho.
Ratão: Ah ! É assim ? Você vai é apanhar.
( Brigam. Depois de algum tempo de luta ouve-se um miado que vai aumentando à medida que alguém vai se aproximando. Aparece o gato. )
Gato: Miau ! Miau !
( Os ratos se assustam e fogem apavorados. )
Gato: Oh ! Oh ! Oh ! Que belo queijo ! Vou saboreá-lo !
( O gato come o queijo e fecha-se a cortina. )


Jogo de volei

    Duas equipes e um juiz (todos os alunos).

    Há disputa de uma partida de voleibol, onde uma das equipes é considerada vencedora. A outra equipe perdedora fica triste pela derrota. Vencedores e derrotados ao final se confraternizam no momento de cultura da paz e da introdução do Fair-Play, no sentido lúdico e educacional do jogo.


IV. Conclusões

    O teatro na escola é um meio rico, diverso e fácil de ser trabalhado com crianças.

    Utilizando um recurso material barato e de sucata para confeccionar os bonecos, as roupas, o palco, a cortina, etc.. é possível realizar várias atividades.

    Verificamos a importância que o professor tem , de planejar de forma adequada, as atividades a serem realizadas com os alunos que vão desde a confecção dos bonecos até o desfecho da peça. O educador deve levar em consideração o nível de desenvolvimento das crianças que estão participando do trabalho para que este possa alcançar os objetivos propostos.

    Com esta pesquisa, observamos a importância cada vez maior de utilizarmos esse recurso como estratégia educacional, para transmitir mensagens positivas e eruditas aos alunos, ajudá-los a enfrentar os desafios da vida, pois através do teatro, eles podem expressar palavras, vontades próprias, sentimentos, aumento da capacidade de articulação da voz, identificação com os personagens, prazer em reproduzir histórias ou situações que os encantam e quem sabe futuramente, possa aflorar algum talento que faça surgir um ator. Isso tudo e muito mais, pois para as crianças, dramatizar é brincar.

    E certamente, o professor também vivência muito com seus alunos, podendo verificar a personalidade, características comportamentais, sociais e de valores morais de cada criança e com isso poderá enriquecer e aprimorar a sua interação com o grupo, estimular e melhorar a interação entre os próprios alunos.

    Os alunos que tem a chance de participar deste tipo de trabalho, se este for bem conduzido, provavelmente irão enfrentar com menos dificuldades as situações de seu cotidiano, exteriorizando e sentindo e tendo uma maior liberdade de expressão de todos os seus atos.


Referências bibliográficas

  • LADEIRA, Idalina; CALDAS, Sarah., Fantoches & Cia. Rio de Janeiro, Ed. Scipione, 1993.


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