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Auto-estima do diabético e atividade física

* Professora de educação física -FEDF
** Prof. Titular Visitante da Universidade de Brasília

Ana Maria Rodrigues Oliveira* (Brasil)
ana.rodrigues@zaz.com.br
Hiram M. Valdés Casal** (Cuba)
hiramv@uol.com.br

Resumo
    O presente estudo tem como objetivo analisar o comportamento da auto-estima, a depressão e ansiedade dos diabéticos, com um programa de atividade física terapêutica. Foram estudados 20 indivíduos diabéticos, na faixa etária entre 45 e 55 anos, sendo 10 do grupo de controle e 10 do grupo experimental do posto de saúde número 06 de Brasília e Associação de Diabéticos de Brasília, com duração de dois meses. Foi possível identificar os efeitos do exercício físico na saúde emocional dos indivíduos diabéticos e o perfil psicológico . Os benefícios do exercício levam ao controle da glicemia retardando os efeitos das lesões vasculares a longo prazo e melhorando a auto-estima.
     Não se encontram diferenças estatisticamente significativas nas mudanças de ansiedade e depressão; porém as mudanças encontradas na auto-estima do grupo de diabéticos tratados com atividade física, aconselham manter a atividade física como parte das medidas terapêuticas utilizadas para os indivíduos diabéticos que não apresentam contra-indicações médicas.
    Unitermos: Diabetes. Autoestima. Reabilitação. Ansiedad Depressão.

Resumen
    El presente estudio tiene como objetivo analizar el comportamiento de la autoestima, la depresión y la ansiedad de los diabéticos sometidos a un programa de actividad física terapéutica. Fueron estudiados 20 individuos diabéticos de edades comprendidas entre 45 y 55 años, siendo 10 del grupo control y 10 del grupo experimental. El trabajo fue realizado en el puesto de salud número 06 de Brasilia y la Asosicación de Diabéticos de Brasilia, con una duración de dos meses. Fue posible indentificar los efectos del ejercicio fisico en la salud emocional de los individuos diabéticos y su perrfil psicológico.Los beneficios del ejercicio llevan al control de la glicemia, retardando los efectos de las lesiones vasculares a largo plazo y mejorando la autoestima.
    No se encuentran diferencias estadisticamente significativas en los cambios de ansiedad y depresión. Sin embargo, las variaciones encontradas en la autoestima del grupo de diabéticos tratados con actividad física aconsejan mantener la actividad física como parte de las medidas terapeuticas utilizadas con los individuos diabéticos que no presentan contraindicaciones médicas para el ejercicio.
    Palabras clave: Diabetes. Autoestima. Rehabilitación. Ansiedad. Depresión.

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 6 - N° 32 - Marzo de 2001

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1. Introdução

    DIABETES Mellitus é uma doença crônica degenerativa que surge como uma disfunção metabólica originada pelo comprometimento na produção e/ou utilização do hormônio da insulina que tem como principal função da regulação do metabolismo da glicose em todos os tecidos, com exceção do cérebro. A classificação etiológica do diabetes mellitus: DM tipo I, auto imune e idiopático, DM tipo II e outros tipos específicos como: defeitos genéticos da função da célula B, defeitos genéticos na ação da insulina, doenças do pâncreas, induzidas por medicamentos, infecções e outras síndromes genéticas, às vezes associadas ao DM (síndrome de Down, Klinefelter, Turner, Wolfran, Prader Willans) ou mesmo diabetes gestacional.

    O tipo I mellitus insulino-dependente, ocorre habitualmente em indivíduos mais jovens. Está associado a uma deficiência absoluta de insulina e, com bastante freqüência , de outros hormônios pancreáticos. O tipo II ou diabete mellitus não-insulino dependente (DMNID), tende a ocorrer em indivíduos mais idosos. O tipo II, resistente à insulina significa que o corpo produz insulina excessiva em resposta a um aumento na glicose sangüínea, como ocorrem em virtude da digestão e absorção rápidas de alguns amidos dietéticos e açucares simples.

    O diabetes trata-se de uma doença genética cujo desenvolvimento está ligado a uma brusca mudança do ambiente sendo o fator hereditário preponderante, mas também que, aparentemente, esse peso por si só não é suficiente como explicações e que é preciso, para que a doença apareça, acrescentar-lhes modificações exteriores violentas com valor de trauma.

    Pode-se pensar que para cada diabético deverá existir um jogo interdependente variável entre esses dois elementos: o que decorre do peso dos fatores genéticos e o decorrente do peso do ou dos traumas desencadeantes.

    A doença constitui em si em si mesma uma carga muito pesada para seu portador; carga que pode se revestir de um aspecto traumático secundário para o indivíduo e para o seu meio. Hawkings, Turrell e Jackson (1983), “For both males e females, dissatisfation with body image has been found to correlate with low self-steem, insecurity, and depression”.

    A conseqüência na saúde emocional do indivíduo diabético está também relacionada com as lesões vasculares que poderão surgir a longo prazo tornando-o insatisfeito com sua imagem corporal, além da baixa auto-estima que poderá estar também relacionada com a insegurança e depressão. Tem tendência a evitar os esportes competitivos e a procurar um trabalho em que esperam não encontrar demasiada competição. Diferem e adiam decisões procurando eximir-se de responsabilidade para com os outros, se isso acarretar conseqüências nefastas. G . Engel e seus colaboradores (1995,1960). “A ênfase é posta na noção de perda do objetivo (real ou imaginária) e nos sentimentos de perda da ajuda e da esperança, que a acompanham, como elementos desencadeantes da doença”.

    A . Mistscherlich (1965) desenvolve , por sua vez , a teoria de uma defesa bifásica: as perturbações psicossomáticas aparecem quando os pacientes portadores de distúrbios neuróticos não são mais capazes de enfrentar uma perda do objeto, real ou imaginária, utilizando mecanismos de defesa neuróticos. É a teoria da ressomatização dos afetos elaborados por MAX schur (1965) .

    O organismo ligado a seu ambiente constitui uma unidade funcional. Isto será variável de pessoa para pessoa, pois o organismo utiliza os dados da percepção e da ação para formar seu meio ou sua realidade específica. Defrontando com uma situação de estresse ( os autores se referem à teoria do estresse de H. Selye (1956), o organismo pode reagir com a ativação de programas inatos constitucionais ou adquiridos ( imunológicos, por exemplo) e até com a falência dos programas de que dispõe, quando se trata de experiências passadas com fase no aprendizado ou na comunicação e que podem revelar-se inadequadas ou incompatíveis com a situação presente A resposta frente a essa “situação de crise”, em que se trata de compreender e utilizar os significantes, envolverá necessariamente e de forma inseparável, em variados níveis de organização e integração, os aspectos somáticos e psíquicos do sujeito.

    Segundo, William D. Mc Ardle, pág. 357, no que diz respeito ao perfil psicológico, os aumentos com menor ansiedade, melhora do humor e da auto-estima, maior sensação de bem estar e uma qualidade de vida aprimorada. A atividade Física será fator importante no controle do diabético, ajudando-o a aceitar e conscientizar-se de sua patologia. Quanto mais baixa for sua auto-estima, a menos aspira e, talvez, menos conseguirá.

    O “medo do novo e não familiar” (Nathaniel Branden, 1998, pág.24), leva o indivíduo diabético a questionar em torno da influência da doença em sua vida. Nas questões relacionadas ao trabalho, sexualidade, ou seja, sua vitalidade sexual, a possibilidade de ter ou não ter filho faz com que tenha uma baixa auto-estima. Porém, o indivíduo diabético, como todos os outros seres humanos, deverá aceitar a si mesmo, ou seja, procurar estar do seu próprio lado, estando praticamente a seu favor, assumindo a responsabilidade do próprio tratamento e a capacidade de sentir-se feliz, dia após dia, consciente do que deve fazer, diminuindo sua angústia, tendo, com isso, uma melhor qualidade de vida.

    Segundo, (Nathaniel Branden, 1988, pag.94), a “auto-estima é uma conseqüência, um produto de atitudes geradas internamente, não podemos trabalhar de forma direta, nem com a nossa nem com a de ninguém”.

    As pessoas podem elaborar o recebimento do diagnóstico da doença e as suas perdas passando pelos estágios mencionados por ( Kubler-Ross, 1969), “choque, negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Mesmo que não existam nesta seqüência para todas as pessoas, estas têm formas diferentes de receber e se ajustar aos golpes do destino e têm necessidades variadas, conforme o estágio em que se encontram.


Perfil psicológico dos diabéticos “Flanders Dunbar”

  • Hereditariedade

  • Estado de Saúde anterior

  • Vida familiar

  • Atitudes fora de casa

  • Comportamento individual

  • Reação à doença


Benefícios do exercício físico para os diabéticos

  • Controle glicêmico : o exercício agudo acarreta uma queda brusca nos níveis plasmáticos de glicose. Essa melhora na regulação da glicose com o exercício de alta e baixa intensidade pode persistir por vários dias, sendo devida possivelmente a uma maior sensibilidade à insulina por parte dos músculos ativos. Existem três mecanismos responsáveis pela elevação da utilização e captação da glicose pelas células musculares, as quais consome grande quantidade de glicose durante o exercício: o aumento da ação da insulina, causado pelo aumento do metabolismo, a atuação específica do exercício nos glicotransportadores GLT4 e o conseqüente aumento da sensibilidade à insulina.

  • Captação da glicose pós-exercícios: este fenômeno é responsável por hipoglicemias em até 48 horas após o término da atividade física, sendo explicado pela reposição de glicogênio pelas células e pelo gasto energético causado pela recuperação do organismo.

  • A atividade produz alterações significativas no contexto glicêmico, mesmo a curto prazo. A duração é de 60 min, com intensidade de 50-75%.

  • O incremento das funções cardiorespiratórias: aumento do peso e volume do coração, volume sangüíneo, fluxo sangüíneo e distribuição do sangue VO2 max, freqüência cardíaca max, glicogênio muscular e hepático e massa muscular. Diminuição da freqüência cardíaca de repouso e pressão arterial de repouso.

  • Incremento da força e resistência: o ganho de massa muscular e a melhora do fornecimento e na utilização do oxigênio e energia proporcionam aumento da força muscular, assim como da resistência geral do organismo ao esforço.

  • Diminuição da gordura corporal: após 20-30 min de exercício, a gordura passa a ser fonte primordial de energia, proporcionando decréscimo da gordura das células adiposas.

  • Redução dos fatores de risco nas lesões vasculares: os fatores de risco para as doenças tipo coronariopatias, acidente vascular cerebral, doença vascular periférica que resulta da arteriosclerose podem melhorar com resultado da participação de exercícios regulares incluindo modificações favoráveis na hiperinsulinemia, na hiperglicemia, nas proteínas plasmáticas em alguns parâmetros da coagulação sangüínea e na pressão arterial.


Recomendação para atividade física em diabéticos

    Procurar sinais de complicações vasculares e neurológicas, teste de esforço, para portador de coronariopatia suspeita ou conhecida. Prescrição: tipo aeróbico, freqüência de 3-5 vezes por semana, duração de 20% da capacidade aeróbica max. Com gasto energético para atingir de 700-2000cal / semana, o horário não deverá coincidir com o pico da insulina, monitorar a glicemia capilar, ingerir 15-30 grs. de carboidrato para cada hora de exercício intenso, lanche após o exercício e evitar aplicar insulina nos locais de maior demanda muscular.


Risco da atividade física para os diabéticos

    Ainda que, os exercícios regulares possibilitem benefícios aos praticantes, tanto na prevenção como no tratamento do diabetes, estes só serão alcançados se realizados de maneira adequada, para que não ocorram riscos indesejáveis como hipertensão, doenças cardíacas e articulares degenerativas além da exacerbação destes quadros patológicos, poderá existir angina pectoris, arritmias cardíacas ou mesmo infarto do miocárdio.


Objetivos

  1. Determinar as mudanças da ansiedade nos diabéticos tipo II com a prática da atividade física.

  2. Determinar as mudanças da depressão nos diabéticos tipo II com a prática da atividade física.

  3. Determinar as mudanças na auto-estima dos diabéticos tipo II com a prática da atividade física.


Metodologia

Tipo de estudo

    Foi realizado um projeto de estudo “antes e depois” com grupo de controle, de caráter experimental. Os indivíduos objeto deste estudo foram examinados diariamente no posto de saúde número 06 de Brasília e Associação de diabéticos de Brasília e posteriormente submetidos ao Programa de Atividade física terapêutica no Posto de Saúde número 06, no período de abril de 2000.

Amostra

    Para encontrar os indivíduos participantes do estudo, foi feita uma seleção dos pacientes diabéticos atendidos no Posto de Saúde 06 de Brasília e Associação de diabéticos de Brasília. Foram selecionados 10 (dez) pacientes, com a ajuda da enfermeira chefe, que é responsável pelo programa de atendimento ao diabético. Foi visto cada prontuário e posteriormente a seleção pela faixa etária entre 45 e 55 anos, com a glicemia controlada e com avaliação clínica quinzenal. O grupo foi submetido ao Programa de Atividade Física Terapêutica, seguindo os princípios metodológicos estabelecidos ( PINI, 1978: MATVEIV, 1986) para uma atividade física saudável, o qual inclui:

  • especificidade

  • sobrecarga

  • continuidade

  • interdependência volume-intensidade

    O programa de Atividade física terapêutica amplia as chances de obtenção dos objetivos de uma prescrição individualizada, garantia de segurança dos diabéticos, e empenho regular numa atividade durante toda a vida.

    Este plano deve dirigir-se a todas as fases de interações do diabético com o programa, PAINTER & HASKELL, 1994).

    O grupo de controle não participante do Programa de Atividade Física Terapêutica, sendo portanto, pacientes com características sedentárias e com participação expontânea no programa.

    Houve na primeira quinta-feira do mês de abril uma palestra para explicar a importância da atividade física terapêutica para a melhora da qualidade de vida do diabético e a melhora da auto estima. Participaram os pacientes diabéticos do centro 06 e da equipe multidisciplinar que tem como integrantes: uma enfermeira chefe, médicos, assistente social e estagiários.

Protocolo de Estudo

    Os pacientes foram submetidos ao pré programa de atividade física com: avaliação clínica, verificação diária dos níveis de glicose sangüínea e responder questionários de auto-estima depressão e ansiedade.

Questionário de auto-estima e depressão

    Para avaliação da auto-estima, pré e pós programa de atividade física terapêutica, utilizou-se o questionário elaborado por mim, sob a orientação do Prof. Dr. Hiram M. Valdés Casal . Foram utilizados também os testes de ansiedade de Spielberger e de depressão Beck.

O programa de atividade física terapêutica

    Com o objetivo de uma prescrição individualizada, garantia de segurança dos diabéticos, e empenho regular, foi incluído no programa de atividade física terapêutica alongamento, sobrecarga e atividades psicomotoras. As atividades psicomotoras tiveram o objetivo claro e específico da relação do diabético consigo mesmo, aceitando a sua doença, e, com o outro, respeitando os limites, levando estes indivíduos a uma consciência corporal, melhorando a imagem corporal e a sua auto-estima.

    O Programa de atividade física terapêutica teve a duração de 8 semanas. Com a freqüência de 2 (duas) vezes por semana, realizadas às segundas e quartas feiras, e com duração de 30-60 min.

Análise estatística

    Utilizou a média para descrição das medições realizadas.

    Utilizou-se a prova não paramétrica dos signos para avaliar a significação estatística dos dados depois de um período do dois meses no grupo de controle e depois de dois meses da aplicação da atividade no outro grupo.


2. Análise dos resultados

Tabela 1. Teste de ansiedade de Spielberger. Traço de ansiedade

Grupo
1ª aplicação
2ª aplicação
Z
Sig
EXPERIMENTAL
37,7
39,6
-0,378
____
CONTROLE
37,6
35,8
1,41
____


Tabela 1 - Análise

    Expressa-se com clareza que tanto o grupo experimental e de controle têm ao início o mesmo nível de traço de ansiedade. Este traço de ansiedade que expressa os grupos coincidem com as médias dos grupos testados na população brasileira e também está muito perto dos valores obtidos pelos grupos testados na população norte americana, pelo qual podemos considerar que os grupos têm traços de ansiedade normal.

    Da primeira para a segunda aplicação não houve diferença significativa estatisticamente, da primeira para a segunda aplicação manteve-se dentro da média dos grupos testados por Spielberger e Biaggio (1972).


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