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O sistema de formação esportiva e as possibilidades de ação
para o desenvolvimento do Tênis de Mesa Mineiro
(Uma Proposta da Direção Técnica da Federação Mineira de Tênis de Mesa - FMTM)
Luiz Henrique Porto Vilani

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 5 - N° 28 - Diciembre de 2000

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    Entretanto, a partir de maiores estudos, com base em (GALLAHUE 1982;1989; WEINECK 1989;1991; SCHMIDT 1992; MAGILL 1984; GROSSER 1996; RUIZ PEREZ 1987;1992; KREBS 19951;19952;19953 MARTENS 1990; MARTIN 1993; MEINEL & SCHNABEL 1984:1987HAHN 1998; CORBIN1980; BEE & MITCHELL 1984), verificamos que esta característica é apenas uma dentro da complexa estrutura que norteia a iniciação desportiva, desta forma, procuramos nos fundamentar em relação a todos os aspectos envolvidos no desenvolvimento da criança e do adolescente, evidenciando que não podemos restringir o treinamento apenas a um de seus aspectos, uma vez que o sujeito desenvolve-se de forma global, embora apresente períodos favoráveis para o desenvolvimento de determinado aspecto específico, seja físico, cognitivo, psíquico, etc. Ou seja, a abordagem do desenvolvimento humano, do desenvolvimento motor da criança, a estrutura temporal do desenvolvimento da criança, os aspectos específicos inerentes ao treinamento de crianças e adolescentes, a especialização esportiva precoce e até mesmo a aprendizagem do gesto técnico, justifica esta ampla preocupação na sistematização do processo de ensino-aprendizagem-treinamento. Portanto, concordamos com o modelo de Greco (1997), por entendermos que está perfeitamente adequado a todos aspectos aqui discutidos, logo, consideramos este modelo altamente aplicável aos esportes de raquetes, visto que, há uma grande coerência com os nossos propósitos. É importante destacar ainda, que estas faixas etárias sugeridas, apenas refletem um padrão observável, mas é claro que existem desvios fugindo à estas fases.

    Assim, apresentaremos a seguir, nossa proposta de sistematização do processo de ensino-aprendizagem-treinamento do Tênis de Mesa, com base neste modelo, mas sugerindo uma adaptação aos esportes de raquetes sob uma abordagem mais específica.


3. O SFE aplicado ao Tênis de Mesa

    O desenvolvimento do Tênis de Mesa mineiro é uma meta comum de todas as pessoas ligadas ao nosso esporte, seja diretamente via administração da FMTM, seja indiretamente via ações individuais. Os esforços neste sentido não estão partindo de uma única pessoa, ou somente de uma região do estado. Podemos observar interesses diversos que partem de locais que as vezes nunca entraram em contato com a FMTM e apenas querem desenvolver um trabalho regional. Entretanto, sabemos que há uma força em potencial, ou seja, a somatória das idéias, ideais e ações individuais, que em prol de uma integração coletiva sistemática e planejada, poderá acelerar a transformação deste processo, partindo para uma estrutura profissional e adequada ao SFE, o que deverá gerar frutos com maior rapidez em relação às ações individuais. Assim, estaríamos fortalecendo uma estrutura organizada com objetivos bem definidos a curto, médio e longo prazo, com mecanismos precisos de avaliação e controle do processo, ou seja, maior eficácia.

    VILANI (1998) orientado pelo professor Dr. Pablo Juan Greco adaptou o SFE para a realidade dos Esportes de Raquetes. Entendemos que se quisermos desenvolver um trabalho de otimização do processo de formação de atletas de Tênis de Mesa, é necessário um trabalho coletivo com base neste sistema de formação esportiva, com a devida flexibilização dos diversos componentes e estruturas do SFE para nossa realidade e possibilidades. Abaixo segue a síntese do SFE voltado para o Tênis de Mesa, adaptando-se o modelo de VILANI (1998):

  • Estrutura político-institucional - esta estrutura no Tênis de Mesa exerce um importante papel no SFE, atualmente através de ações independentes. Uma aproximação entre secretarias municipais, confederação, federação, clubes e escolas, seria um passo fundamental no sentido de discutir diretrizes e linhas de ação que englobassem o Tênis de Mesa de forma sistemática para o desenvolvimento da modalidade no estado. Assim, o incentivo ao desenvolvimento do esporte poderia ampliar o campo de ação dentro de uma perspectiva universal, ou seja, abordando de acordo com a estrutura temporal, o máximo de modalidades e brincadeiras com raquetes. Dentre as diretrizes principais, o controle do "drop out", da especialização esportiva precoce, e do desenvolvimento pleno do aluno/atleta, são pontos essenciais que poderiam reduzir consideravelmente as variáveis necessárias para o alto-rendimento. Uma política de ação voltada para a capacitação, "reciclagem" e incentivo a estudos e pesquisas na área, também seria fundamental neste processo devido a escassez de recursos humanos capacitados para trabalhar dentro deste sistema. Destacamos ainda, que a aproximação deste projeto com entidades administrativas de outros esportes de raquetes poderia não só facilitar a implantação desta estrutura, mas também fortalecer o desenvolvimento de todas as modalidades envolvidas. Assim, consideramos que esta estruturação política-institucional deve agir em conjunto e principalmente inter-relacionada às demais estruturas do SFE, que abordaremos a seguir.

  • Estrutura substantiva - mediante uma ação em conjunto por parte da primeira estrutura, torna-se possível o desenvolvimento de estudos, pesquisas e uma posterior divulgação e discussão destes trabalhos em seminários e congressos acerca de temas importantes da presente estrutura, ou seja, os componentes do rendimento esportivo (aspectos físicos, técnicos, táticos, biotipológicos, psíquicos, pedagógicos, sociais, etc.), constituindo um grande avanço em todos os sentidos para o desenvolvimento dos esportes de raquetes e em especial do Tênis de Mesa.

  • Estrutura de aplicação - a constituição de um espaço que permita a ampla participação da comunidade seria outro fator de extrema importância. Os esportes de raquetes trabalhados em todas suas áreas de expressão (recreação/lazer, rendimento, reabilitação, nas escolas e na promoção da saúde), o que hoje ainda não ocorre de forma organizada, teria condições de crescer e de se estabelecer enquanto prática cultural de massa na sociedade brasileira. É importante destacar, que dificilmente uma única modalidade de raquete consiga exercer este tipo de relação, devido ao alto custo, disponibilidade de espaços apropriados, etc. Entretanto, numa perspectiva sistemática e global, seria mais fácil a adaptação do desenvolvimento destes esportes nestas áreas. No caso do Tênis de Mesa, é imprescindível traçar metas específicas para cada área de aplicação, considerando ainda uma direção geral desta estrutura descentralizada através de coordenações específicas e regionalizadas.

  • Estrutura temporal - a análise da estrutura temporal constitui o ponto fundamental no SFE. Respeitando as características do desenvolvimento e da aprendizagem da criança, bem como os aspectos metodológicos e as características das modalidades de raquetes de forma geral, apresentaremos aqui, um esquema onde discutiremos os aspectos específicos dos esportes de raquetes baseando-se no modelo de Greco (1997).

  1. Pré-Escolar: Por volta de 2-3 anos, a criança pode ter uma relação de exploração das raquetes. As atividades básicas de deslocamento, equilíbrio, acoplamento, esquema-corporal, relação espaço-temporal entre outras, podem apresentar-se como jogos de imitação e perseguição envolvendo raquetes, e ou materiais alternativos que facilitem a ação prática. Podemos utilizar a todo momento, de acordo com as possibilidades da criança, balões, raquetes furadas com uma rede para aparar/catar a bola ao invés de rebater, dentre outros meios pedagógicos que facilite e simplifique ao máximo as exigências de controle de acordo com as possibilidades da criança, podendo assim estimular e promover um primeiro contato com estas modalidades.

  2. Universal: Nesta fase, os esportes de raquetes podem ser desenvolvidos através de uma riquíssima combinação de elementos. O desenvolvimento das capacidades coordenativas pode variar de acordo com a utilização de diferentes raquetes, bolas, balões, petecas, campo de jogo, tipo de jogos, etc. Assim, a utilização destes elementos será imprescindível para o treinamento da coordenação de acordo com a adequação das possibilidades de exigência e dos fatores condicionantes da ação. Os mini-circuitos, podem representar uma variada gama de atividades englobando a coordenação motora de forma generalizada. Ao final da fase, 10-12 anos, aspectos cognitivos do gesto técnico formal já devem ser trabalhados como forma de otimizar o processo de aprendizagem.

  3. Orientação: A orientação das vivências das técnicas esportivas específicas, passando pelas diversas combinações que podemos utilizar através dos variados estilos das diferentes disciplinas esportivas, consistem em um campo fundamental para a formação do atleta. Lembrando-se sempre que a prioridade nesta fase é a variação das técnicas, consideramos que esta formação geral aliada à preparação da fase universal, constitui-se no "alicerce" (base estrutural) para o rendimento futuro com grandes recursos de adaptação a nível técnico. Jogos de iniciação, pré-desportivos, grandes jogos, jogos recreativos, etc. podem ser criados, reestruturados e principalmente direcionados para uma experiência ampla com boa base teórica. É fundamental que as aulas de Tênis de Mesa possibilite ou incentive também estas vivências como forma de aquecimento, complementação, etc. considerando estes momentos como possibilidade de desenvolvimento e extrapolação da criatividade.

  4. Direção: O direcionamento para uma ou duas modalidades já nesta fase, aproximadamente 14 anos, permitirá que o jovem estabeleça sua opinião subjetiva em relação ao esporte com o qual ele mais se identifica. Por estarmos lidando com modalidades de caráter semelhante, acreditamos que não haverá nenhum tipo de dificuldade, pelo contrário, muitas vezes um esporte estará complementando o outro em um determinado aspecto, principalmente no aspecto tático, que nesta fase já deverá consistir um importante conteúdo. Aqui, inicia-se um trabalho direcionado já especificamente ao Tênis de Mesa, aumentando-se a carga de treinamento e considerações sobre o esporte..

  5. Especialização: O incremento do trabalho especificamente em uma disciplina esportiva de raquetes, objetivará o aperfeiçoamento e a otimização do potencial físico, técnico e tático, dadas as diferenças específicas de cada modalidade, visando empregar tais potenciais futuramente no alto nível. O número de competições também devem ser aumentados consideravelmente. Aqui, o atleta realmente deverá iniciar um trabalho voltado de forma única e específica para o Tênis de Mesa.

  6. Aproximação/Integração: Nesta fase, o trabalho de especialização deve somar-se a um aumento no volume do treinamento em relação às capacidades psíquicas e sociais, permitindo assim, uma opção segura pelo esporte de alto nível ou lazer, ou ainda, em níveis de competição relativamente reduzidos. Esta fase constitui a base para integrar um atleta ao alto nível de rendimento, aqui ele deverá optar por seguir uma carreira de forma dedicada e profissional, sem pressão de fatores externos, é o momento de uma decisão subjetiva.

  7. Alto Nível: É o momento de aprimorar as capacidades de rendimento adquiridas nas fases anteriores, ou seja, há um significativo aumento das cargas de treinamento, com relação ao volume/intensidade/densidade "psíquico-físico-técnico-tático". Aqui os meios de treinamento, assim como as condições materiais, devem ser encarados como um trabalho constante de reivindicação frente ao SFE no sentido de adequar-se às mais modernas características dos esportes de alto rendimento (testes, equipamentos, meios, etc.).

    É importante destacar, que em todas estas fases, estamos sensibilizando a sistematização de diversas variáveis do rendimento esportivo visando o alto rendimento. É claro, que estas considerações não irão impedir que a criança jogue antes de determinado passo, justamente pelo contrário, o jogo é fundamental para o seu desenvolvimento em todas elas. O que difere em relação a este ponto é o nível de cobrança, uma vez que devemos preservar o desenvolvimento harmônico de todos os condicionantes, logo temos que salientar as orientações psicossociais do rendimento. Aprender a competir, controlar-se emocionalmente, dentre outros aspectos como o próprio desenvolvimento do "espírito competitivo" é essencial, entretanto não pode desconsiderar que a criança não é um adulto em miniatura, seus sentimentos, suas características, emoções, motivações, necessidades, possibilidades, são extremamente diferentes, o que gera uma prioridade de não cobrar altos índices de rendimento, mas sim, procurar um alto índice de satisfação, ou seja, deixar que a criança tome gosto pelo esporte e aprenda os valores reais que ele pode oferecer desde que bem orientado.


4. Possibilidades de ação para o desenvolvimento do Tênis de Mesa de Minas Gerais

    Considerando-se este sistema, podemos observar nitidamente que os atuais mecanismos de ação propostos pelo nosso sistema técnico e administrativo ainda não recai para uma estrutura adequada de desenvolvimento do Tênis de Mesa em nosso estado. Assim, a presente proposta constitui-se uma alternativa de transformação da realidade de nosso esporte, com base em uma estrutura sistemática e previamente planejada.

    Basicamente, existem milhares de alternativas para tentarmos transformar a estrutura técnica e administrativa de uma federação, em nosso caso, acreditamos existir tantas quanto o número de praticantes/técnicos/dirigentes em nosso estado. Entretanto, não há como implantar cada uma destas, mas há como organizar um sistema que possa flexibilizar e descentralizar os mecanismos de ação para que a administração da FMTM possa atender às diversas regiões do estado com uma estrutura adequada às características locais e ao mesmo tempo, somar forças dentro da busca de uma meta em comum, o desenvolvimento do Tênis de Mesa mineiro.

4.1 - Bases Objetivas e Legais

    Quando refletimos sobre o funcionamento do sistema de formação esportiva proposto por Greco, logo imaginamos um certo sistema hierárquico que inicia-se no governo federal, mas na realidade não é bem assim. Este sistema é regido pela constituição federal e pela lei n° 9615 de 24 de março de 1998 que institui normas gerais sobre o desporto nacional, neste caso, nos termos do artigo 217, da Constituição Federal, "É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um, observados:

  1. a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua organização e funcionamento;

  2. a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento; " portanto, compete a esta Estrutura político-institucional, mediante os termos da constituição se organizarem e estabelecer as respectivas normas de funcionamento.

    Com relação ao sistema brasileiro do desporto, a lei n° 9615 de 24 de março de 1998, estabelece a composição e os objetivos da seguinte forma:

    " Art. 4°. O Sistema Brasileiro do Desporto compreende:

  1. Gabinete do Ministro de Estado Extraordinário dos Esportes;

  2. o Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto - INDESP;

  3. o Conselho de Desenvolvimento do Desporto Brasileiro - CDDB;

  4. o sistema nacional do desporto e os sistemas de desporto dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, organizados de forma autônoma e em regime de colaboração, integrados por vínculos de natureza técnica específicos de cada modalidade desportiva.

1°. O Sistema Brasileiro do Desporto tem por objetivo garantir a prática desportiva regular e melhorar-lhe o padrão de qualidade.

2°. A organização desportiva do País, fundada na liberdade de associação, integra o patrimônio cultural brasileiro e é considerada de elevado interesse social.

3°. Poderão ser incluídas no Sistema Brasileiro do Desporto as pessoas jurídicas que desenvolvam práticas não-formais, promovam a cultura e as ciências do desporto e formem e aprimorem especialistas."

    Assim, podemos observar que cada uma das instituições que integram a estrutura político-institucional, são organizados de forma autônoma, mas se integram através de vínculos de natureza técnica específicas de cada modalidade. Neste sentido, é indispensável perante o sistema desportivo nacional e o SFE, que se estabeleça vínculos técnicos administrativos entre estas instituições voltados para um mesmo objetivo e para o dever de promover, fomentar, e desenvolver o esporte seja em sua prática formal ou informal.

    Integrando-se a estrutura Político-Institucional, as demais estruturas poderão se desenvolver de acordo com as necessidades e demandas do nível de desenvolvimento do Tênis de Mesa no estado, mas, inicialmente, se não tivermos uma política de fomentar a prática do esporte (massificação do Tênis de Mesa), estaremos nos limitando a desenvolver um trabalho bem estruturado no aspecto sistemático, mas extremamente complexo no sentido da detecção de talentos. Desta forma, é fundamental estabelecer como prioridade, a missão de aumentar o número de adeptos para o nosso esporte.

4.2 - Das Possibilidades Autônomas

    De acordo com a experiência administrativa da gestão anterior da FMTM, pudemos observar uma grande carência de eventos em determinadas regiões do estado. É claro, que a FMTM, mediante sua receita anual não têm como promover eventos de grande porte em todas as regiões, até mesmo por falta de recursos humanos capacitados para organizar a estrutura de uma demanda deste nível (divulgação, patrocínio, etc.). Entretanto, a criação de Coordenações Regionais, subordinadas à Direção Técnica da FMTM, mas com a autonomia de promover pequenos torneios regionais com a distribuição de prêmios simbólicos (medalhas e troféus), e de pontos para o Ranking Mineiro, poderia fomentar inicialmente a prática regionalizada do esporte, e consequentemente aumentar a receita anual. Os Coordenadores seriam pessoas residentes na própria região, nomeadas pela FMTM para assumir o cargo que exigiria atribuições regimentais e treinamento da própria FMTM (unificação das estratégias, objetivos e metas).


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