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O gênero e sua relação com a Educação Física escolar

Gender and its relationship with school Physical Education

El género y su relación con la Educación Física escolar

 

*Aluna do curso de licenciatura em Educação Física FADIMAB/ GOIANA-PE

**Coordenador do curso de história FADIMAB/ GOIANA-PE

***Mestrando do Programa Associado de Pós-Graduação em Educação Física UPE/UFPB

****Coordenador do curso de Educação Física FADIMAB/ GOIANA-PE

*****Docente do curso de Educação Física FADIMAB/ GOIANA-PE

(Brasil)

Maria Jacqueline da Silva Alves*

Thiago de Oliveira Reis Marques Freire**

Diogo Barbosa de Albuquerque***

Jorge Henrique Gomes de Albuquerque***

Ângelo de Andrade Rodrigues dos Santo****

Bruno Leandro de Melo Barreto*****

barretoufpe@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo tem como objetivo revisar com base na literatura científica, os estudos que tratem o gênero e sua relação com a Educação Física Escolar. Ao decorrer da pesquisa percebeu-se que a divisão de alunos por gênero não é algo que está relacionado apenas à atualidade, uma vez que as pessoas em outra época já praticavam esta divisão, mesmo sem saber exatamente o que estava sendo feito, bem como, as consequências disso. A Educação Física vem se desenvolvendo cada vez mais, porém tem se percebido que o conceito de diferenciação por gênero geralmente se inicia em casa, já nos primeiros anos de vida da criança, a partir das condutas dos seus próprios responsáveis. Neste sentido, esses parecem estar ensinando valores de formas distintas para meninos e meninas, que por vezes, sem se dar conta dos possíveis prejuízos no qual poderão acometer o desenvolvimento da criança em sua dimensão social. Diante do exposto, observa-se a importância de se estimular a socialização, relação e interação entre meninos e meninas nas aulas de Educação Física escolar.

          Unitermos: Educação. Educação Física. Gênero.

 

Abstract

          This article aims to review based on scientific literature, studies that address gender and its relationship to school Physical Education. The course of the study it was observed that the students division by gender is not something that is related only to the present, since people in another time have practiced this division, even without knowing exactly what was being done, as well as the consequences. Physical Education is developing more and more, but has realized that the concept of differentiation by gender usually starts at home, since the first years of a child's life, from the conduct of the perpetrators themselves. In this sense, these seem to be teaching values in different ways for boys and girls, sometimes, without realizing the possible losses in which they may affect the child's development in its social dimension. Given the above, the importance of stimulating socialization, relationship and interaction between boys and girls in the classes of Physical Education is observed.

          Keywords: Education. Physical Education. Gender.

 

Resumen

          En este artículo se pretende hacer una revisión sobre la base de la literatura científica, los estudios que abordan el género y su relación con la Educación Física Escolar. En el curso de la investigación se observó que la división de los estudiantes por género no es algo que se relaciona únicamente con el presente, ya que la gente en otro momento ha practicado esta división, incluso sin saber exactamente por qué se está haciendo así y sus consecuencias. La Educación Física se está desarrollando cada vez más, pero se ha dado cuenta de que el concepto de diferenciación por sexo por lo general comienza en el hogar, en los primeros años de vida de un niño en la conducta de los propios responsables. En este sentido, estos parecen estar enseñando valores de formas diferentes a niños y a niñas, a veces sin darse cuenta de los posibles perjuicios con los que pueden afectar el desarrollo del niño en su dimensión social. Frente a los expuesto, es importante estimular la socialización, la relación y la interacción entre niños y niñas en las clases de Educación Física.

          Palabras clave: Educación. Educación Física. Género.

 

Recepção: 16/08/2016 - Aceitação: 16/03/2017

 

1ª Revisão: 27/02/2017- 2ª Revisão: 13/03/2017

 

 
Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, Año 21, Nº 226, Marzo de 2017. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A discussão a respeito do gênero é contínua e iniciada à décadas atrás, no entanto, se perpetua até os dias atuais. Para tal definição do que seria gênero, vamos seguir a vertente defendida por Ferreira (1986), no qual este termo é conceituado como "qualquer agrupamento de indivíduos, objetos, ideias, que tenham caracteres comuns" (p. 844). Em outra visão, Scott (1995, p. 89) define gênero como um elemento que “fornece um meio de decodificar o significado e de compreender as complexas conexões entre várias formas de interação humana”. Neste sentido, podemos entender que teríamos indivíduos dos dois sexos, o homem e a mulher, agregados por meio de características comuns, ou seja, o masculino para o homem e o feminino para a mulher.

    A questão do gênero é ativa entre os indivíduos, se caracterizando por ter início nas primeiras fases da vida, e com isso se perpetuando durante todas as fases seguintes (BRAH, 2006). Ainda de acordo com Brah (2006), este completa com a afirmação, no qual “as desigualdades de gênero penetram em todas as esferas da vida”. Quando falamos em desigualdades, logo nos remetemos a uma situação de separação, onde alguns possuem mais e outros menos. Neste caso, estamos falando de separação por gênero e até mesmo formas de exclusão, no qual diz respeito a divisões que acontecem entre indivíduos de uma mesma sociedade. Em linhas gerais, a conjuntura social apresenta uma forte inclinação para rotular e excluir as pessoas por vários motivos, sendo um desses o gênero (Santos, 2011).

    Neste sentido, a separação por gênero, masculino e feminino, é utilizada de diversas maneiras nas atividades diárias, atingindo também diversos ambientes. Contudo, um âmbito que ganha destaque são as escolas, principalmente dentro das aulas de Educação Física, visto os métodos utilizados pelos professores nas atividades, sobretudo nas que envolvem um teor mais prático. Neste intuito, essa separação pode afetar os alunos de diferentes maneiras, como defendido por Cruz e Palmeira (2009) que, ao indicar as consequências de se tratar diferentemente meninos e meninas, reforçam a ideia de que faz-se necessário a estes assumir determinadas posturas frente à sociedade por ela pré-determinadas.

    Ao nos voltarmos para o contexto da Educação Física, observa-se uma forte relação histórica com o seu estabelecimento no Brasil em meados do século XIX. Naquela época havia uma grande preocupação com o corpo saudável, mas, não era qualquer corpo e sim um corpo robusto e forte, o corpo masculino (Santos, 2011). Durante as aulas de Educação Física, ainda é uma realidade a divisão entre meninos e meninas nas atividades. De acordo com Vieira (2013), a diferença entre ambos pode ser percebida de acordo com a educação de cada um, pois as meninas são ensinadas a cuidar da casa e das atividades domésticas, já os meninos são educados e masculinizados, sendo ensinados a proteger o lar com força e coragem.

    Diante do exposto, a temática inicial para a estruturação desta investigação surgiu mediante a seguinte indagação: a divisão de gênero pode ser considerado um problema concreto nas aulas de Educação Física Escolar? Por conseguinte, o objetivo deste trabalho é revisar com base na literatura científica, os estudos que tratem o gênero e sua relação com a Educação Física Escolar, a fim de entender um pouco mais a respeito dessa temática presente em nossa sociedade.

Métodos

    Este artigo trata-se de uma revisão bibliográfica com base na literatura científica, construído por meio de pesquisas em periódicos publicados nas bases de dados científicos, Scielo, Efdeportes, Pepsic e Google Acadêmico, tendo como palavras chave: Educação, Educação Física e Gênero. Foram utilizados como critérios de inclusão, artigos contendo ao menos uma das palavras chave no título, para que assim fossem lidos, ter sido publicados nos últimos dez anos, no entanto com uma exceção, no qual foi utilizada como fonte de pesquisa a Constituição Federal Brasileira de 1988. No decorrer da leitura dos artigos considerou-se como amostra aqueles que possuíssem informações que se encaixassem com o título, o problema e os objetivos deste artigo. Essa pesquisa foi desenvolvida no período que está compreendido entre Janeiro e Maio de 2016.

Resultados e discussão

    A educação no Brasil passou por diversas fases. Em dados momentos da história parecia não estar disponível para toda a sociedade, mas a partir da Constituição Federal de 1988, houveram mudanças, especialmente abordadas em seu artigo 205, no qual diz que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento do indivíduo. Corroborando com esta afirmação, Poovey (1988) analisa que a oposição entre os sexos não é reflexo ou articulação de um fato biológico, mas uma construção social.

    Ao remetermos a Educação Física, para Soares (2012), esta profissão vem se desenvolvendo no país a partir de importantes mudanças político-sociais e atualmente é vista como elemento essencial para a formação do cidadão. Na perspectiva deste campo do conhecimento, ao ser integrado à proposta pedagógica na escola, passa a se configurar enquanto componente curricular obrigatório da educação básica, LDB (9.394/96), logo, essencial para a formação pedagógica e afirmação das práticas socioculturais.

    Quando falamos na Educação Física, logo percebemos a forte relação existente com o gênero, visto seu campo de atuação, principalmente nas escolas. Com isso, a separação por gênero durante essas aulas é considerada uma situação normal e presente neste ambiente ainda nos dias de hoje, podendo ocorrer em diferentes estágios durante a vida escolar. Corroborando com esta afirmação, Dornelles (2006) retrata que essa separação entre meninos e meninas é um recurso pedagógico bastante utilizado pelos professores no momento de ministrar suas aulas, especialmente as que possuem um caráter mais prático.

    Ainda neste arroubo, Maia (2011) aborda que apesar de haver ações sexistas e discriminatórias promovidas pela escola, não podemos atribuir a culpa disto somente ao professor, pois alguns aspectos relacionados ao gênero são transmitidos pelos pais e familiares. Com isso, o aluno acaba ficando cercado por conceitos convergentes a tal temática, e muitas vezes sem saber por qual discernimento seguir (Santos, 2007). Nesta perspectiva, é evidenciado que a separação de meninos e meninas nas aulas de Educação Física desconsidera a articulação do gênero com outras categorias, havendo a existência de conflitos, exclusões e diferenciações entre pessoas do mesmo sexo (Campos et al., 2008). Por outro lado, Santos (2009) considera que as desigualdades se consolidam devido às moldagens diárias e condicionamento comportamental aos quais essas crianças são submetidas no ambiente escolar.

    Por consequência, acabam sendo gerados grandes conflitos entre os gêneros dentro da escola, nos quais estão além das aulas de Educação Física. Por outro lado, são nessas mesmas aulas que os alunos podem ter um contato maior com o gênero oposto através das atividades e práticas corporais, podendo desenvolver suas potencialidades de modo a identificar e combater criticamente os conflitos possivelmente estabelecidos em relação às questões de gênero apresentadas.

    Nesta direção, Marques (2014) ao investigar tal temática numa escola pública do Estado de São Paulo, observou que a representação de alunos da escola e os docentes preferem turmas separadas por gênero, por considerar melhores para o rendimento da turma, uma vez que para eles os conflitos seriam silenciados e resolvidos. Podemos observar isso, principalmente nas aulas de Educação Física Escolar, onde os alunos, fora do ambiente formal da sala de aula, possuem uma certa liberdade de expressão por meio das práticas corporais e dinâmicas de caráter lúdico (Vieira, 2013). De fato, com esta afirmação, o autor constata que a iniciativa foi ineficaz no sentido de resolver a problemática então apresentada.

    No entanto, as diferenças e conflitos existentes entre indivíduos do mesmo sexo parece ser o principal motivo pelo qual ocorre a separação de meninos e meninas na escola, sem levar em consideração os demais fatores existentes para que isso ocorra. Neste caminho, é evidenciado que as distintas formas de conflitos, existentes entre meninos e meninas, configuram um dos fatores para que ocorra a divisão dos alunos durante as aulas de Educação Física (Lehnhard, Lehnhard, Manta, 2011).

    Portanto, podemos entender que a separação por gênero nas aulas de Educação Física é presente no âmbito escolar, porém os conceitos acerca dessa temática são presentes em espaços distintos e considerados anteriores a escola, tais como as próprias casas com os familiares e as ruas com os conhecidos, o que de certa forma torna essa ideia de separação mais acentuada pelos sujeitos.

Conclusões

    Diante do exposto, foram observadas características do contexto educacional brasileiro, principalmente no que diz respeito à separação por gênero no ambiente escolar e nas aulas de educação física. Nesta direção, tais práticas ganham maior destaque nessas aulas, visto que os professores elaboram atividades diferentes para serem realizadas de maneira sectária por meninos e meninas, o que acaba por firmar ainda mais esses conceitos de separação por gênero.

Bibliografia

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