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Estudo das práticas corporais no Lago São Bernardo.

Transformações e evoluções de 2012 para 2015

Estudio de las prácticas corporales en el Lago Sao Bernardo. Transformaciones y desarrollos desde 2012 hasta 2015

Study of body practices on the Lake Sao Bernardo. Transformations and developments from 2012 to 2015

 

*Professor Assistente da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS)

Doutorando em Educação, Mestre em Educação, Especialista em Administração

e Marketing Esportivo, Licenciado em Educação Física. Integrante da linha de pesquisa

Corpo, Cultura e Sociedade – Grupo de Estudos em Práticas Corporais (GEPRACO)

**Acadêmica do curso de Pedagogia (UERGS-São Francisco de Paula). Aluna

bolsista IniCie/Uergs e integrante da linha de pesquisa Corpo, Cultura

e Sociedade – Grupo de Estudos em Práticas Corporais (GEPRACO)

Rodrigo Koch*

Micaéli Oliveira Passaglia**

koch.rodrigo@terra.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo apresenta novos dados sobre as práticas corporais realizadas no Lago São Bernardo (São Francisco de Paula, Rio Grande do Sul, Brasil), coletados no ano de 2015, pela linha de pesquisa Corpo, Cultura e Sociedade, vinculada ao Grupo de Estudos em Práticas Corporais (GEPRACO). Há comparativos com o estudo anterior (2012) de duas linhas de pesquisa (GANECO – Laboratório de Gestão Ambiental e Negociação de Conflitos; e PRACEMA – Estudos Olímpicos em Práticas Corporais e Meio Ambiente) vinculadas ao grupo Educação para Sustentabilidade. O objetivo deste trabalho foi identificar as evoluções e transformações nas práticas corporais realizadas no entorno do Lago São Bernardo, principal ponto turístico da cidade. Após a tabulação dos dados foi possível apontar o perfil dos freqüentadores do local, quando ocorre o maior número de atividades, e quais são as principais práticas corporais.

          Unitermos: Práticas Corporais. Lago São Bernardo. São Francisco de Paula.

 

Resumen

          Este estudio presenta nuevos datos sobre las prácticas corporales realizadas en el Lago Sao Bernardo (Sao Francisco de Paula, Río Grande do Sul, Brasil), recogidos en el año 2015, en la línea de investigación Cuerpo, Cultura y Sociedad, del Grupo de Estudios de Prácticas Corporales (GEPRACO). Se hace una comparación con el estudio anterior (2012) de dos líneas de investigación (GANECO - Laboratorio de Manejo Ambiental y Negociación de Conflictos, y PRACEMA - Estudios Olímpicos de Prácticas Corporales y Medio Ambiente) vinculados a la Educación para la Sustentabilidad. El objetivo de este estudio fue identificar los avances y cambios en las prácticas corporales realizadas en el entorno del lago Sao Bernardo, principal atractivo turístico. Luego de la tabulación de los datos fue posible identificar el perfil de los usuarios frecuentes del lugar, cuando se produce la mayoría de las actividades, y cuáles son las principales prácticas corporales.

          Palabras clave: Prácticas Corporales. Lago Sao Bernardo. Sao Francisco de Paula.

 

Abstract

          This study presents new data on the body practices performed on Lake Sao Bernardo (Sao Francisco de Paula, Rio Grande do Sul, Brazil), collected in 2015, the survey line Body, Culture and Society, under the Study Group Body Practices (GEPRACO). There are comparative with the previous study (2012) of two lines of research (GANECO - Environmental Management Laboratory and Conflict Negotiation, and PRACEMA - Olympic Studies in Corporal Practices and Environment) linked to Education for Sustainability group. The objective of this study was to identify the developments and changes in body practices carried out in the vicinity of Lake St. Bernard, the main tourist attraction. After tabulating the data it was possible to point out the local regulars profile when the most activity occurs, and what are the main body practices.

          Keywords: Body Practices. Lake Sao Bernardo. Sao Francisco de Paula.

 

Recepção: 27/01/2016 - Aceitação: 12/03/2016

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 21, Nº 215, Abril de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Neste estudo consideramos as práticas corporais como manifestações da cultura corporal de cada indivíduo e/ou grupo, ainda que estas possam, inclusive, produzir – simultaneamente e paralelamente – hábitos considerados não saudáveis como fumar ou ingerir bebidas alcoólicas. Como exemplo, podemos citar a tradicional “pelada”1 de fim de semana, habitualmente, acompanhada de carne gorda e cerveja; ou uma caminhada seguida de um encontro com amigos onde todos fumam. As práticas corporais contrapõem a idéia limitadora de simples atividades físicas. Também se exclui a tentativa de definir prática corporal como esporte. O esporte é algo normatizado, com regras, e quase sempre competitivo, portanto, também é uma prática corporal, mas nem toda prática corporal pode ser considerada esporte.

    Em pesquisa anterior, durante o ano de 2012 (KOCH; BICCA 2013), observamos que o espaço natural no entorno do Lago São Bernardo, em São Francisco de Paula/RS, era utilizado não só pelos moradores locais, mas também por turistas – estes com freqüência maior aos finais de semana –, para a realização de atividades físicas com objetivos de reaproximação com a natureza, preocupação dos mesmos com a saúde e conseqüentemente melhora da qualidade de vida. Ao retornarmos em 2015, para realização de nova coleta de dados – com objetivo de verificar transformações e evoluções – percebemos que tais hábitos se confirmam e permanecem.

    As possíveis relações entre a Educação Física e o Meio Ambiente aparecem constantemente em trabalhos recentes de pesquisadores, como no levantamento feito por Melo e Almeida (2007) onde apontam que

    Atualmente vem crescendo significativamente o número de indivíduos que buscam, sob diversos interesses, práticas de atividade física de aventura junto à natureza. O esporte, permeando-se por novas formas, valores e conceitos, torna-se um elemento chave nessa re-aproximação Homem-Natureza. (...) A cada dia, surge uma nova modalidade de atividade física, tanto em ambiente urbano como rural, e as práticas na natureza vem crescendo em uma proporção maior, devido ao estresse das grandes cidades, fazendo com que o homem resgate seu contato com o ambiente natural, em busca de aventuras e novos desafios. (Melo & Almeida, 2007, p.185)

    A linha de pesquisa Corpo, Cultura e Sociedade têm como objetivo discutir aspectos amplos da repercussão das práticas corporais na sociedade contemporânea, analisando as políticas públicas de acesso às práticas corporais, conflitos de gênero, sexualidade, e representações sociais através dos Estudos Culturais. Nossa área de atuação na pesquisa científica é as Ciências Humanas, em tópicos específicos da educação – atuando nos setores da educação, artes, cultura, esporte, recreação, administração do estado e da política econômica e social.

    Antes de apresentarmos a metodologia, os resultados e as discussões desta nova coleta, vamos retomar informações para contextualizar o local e a região onde se deu o estudo, bem como o histórico do Lago São Bernardo e sua importância para o município de São Francisco de Paula.

São Francisco de Paula – Lago São Bernardo

    O município de São Francisco de Paula localiza-se na Região Nordeste do Rio Grande do Sul e está a 112 quilômetros da capital, Porto Alegre. Junto com Canela e Gramado pertence à região das Hortênsias, principal polo turístico do Estado. Na parte central da sede do município localiza-se o Lago São Bernardo que garante a beleza cênica da região pelo conjunto formado com o histórico Hotel Cavalinho Branco e pela exuberante mata no seu entorno (Figuras 1 e 2).

Figura 1. Vista panorâmica do Lago São Bernardo

Fonte: arquivo pessoal

 

Figura 2. Lago São Bernardo

Fonte: arquivo pessoal

    A região no entorno deste lago é caracterizada pela ocorrência da Floresta Ombrófila Mista e Campos de Altitude, estas duas formações entre outras estão associadas ao bioma Mata Atlântica, que é considerado o segundo mais ameaçado de extinção do mundo. Apesar de sua devastação, é um dos biomas com uma das mais altas taxas de biodiversidade do mundo, sendo assim necessária a sua conservação.

    O Lago São Bernardo encontra-se a uma altitude de 842 metros, possui sentido norte-sul, com extensão total de 1900 metros e o espelho d’água 10,30 ha, sua profundidade fica entre 5 e 8 metros, com a seguinte localização: ao sul o Hotel Cavalinho Branco; ao norte a Avenida Júlio de Castilhos; a leste a RS 235 Canela; a oeste inserida em terras de propriedade da Sociedade Amigos de Cima da Serra (SACIS), encontra-se a Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) São Bernardo e a RS 20 Taquara; a sudeste o Parque Natural Municipal da Ronda e a noroeste o centro da cidade. Suas margens são ajardinadas e cercadas de árvores e pinheiros, seu entorno se resume em remanescentes de Floresta Ombrófila Mista, propiciando um convívio direto com a natureza. A Sociedade Amigos de Cima da Serra – criada em fevereiro de 1969 – tinha como finalidade promover e proporcionar atividades turísticas, sociais, culturais e recreativas aos seus associados, proporcionando a prática de esportes em convívio direto com a natureza. Na época em que a sociedade ainda encontrava-se ativa foram construídas canchas de bocha e vôlei, pista de bikecross, camping e restaurante, que funcionavam principalmente aos finais de semana. Durante certo período foram realizadas algumas atividades como: jantar baile, festas de quinze anos, reuniões, campeonatos de bikecross, e festivais – como o Ronco do Bugio (festival de música regionalista gaúcha).

    No local onde hoje é o Lago São Bernardo encontravam-se dois açudes. O primeiro, próximo à gruta, recebia dejetos de outro arroio, que passava no meio da atual Avenida Júlio de Castilhos, quase em frente à sede da Prefeitura Municipal. O segundo açude localizava-se onde hoje há uma pequena ilha no Lago, próximo à ponte, onde deságua uma das nascentes que forma o Lago. O segundo açude não era poluído e a população o utilizava para veraneio.

    Era nesse açude de águas claras e convidativas que os moradores preferiam tomar seus banhos nas tardes de verão: as crianças se divertiam e os serranos confraternizavam num lindo momento de lazer (Relato da moradora Zilah Teixeira Tedesco; Fonseca, 2012).

    Neste local a mata a oeste do Lago era de propriedade das famílias Andrade e Traslatti. Posteriormente, na área dos Traslatti, foi construído o loteamento São Bernardo, que deu origem ao nome do lago. Também havia dois banhados; um no meio destes dois açudes e outro em frente ao hotel Cavalinho Branco (Fonseca, 2012).

    Por volta de 1944, o Coronel Alziro Torres Filho ordenou a construção de uma contenção de pedras-ferro (pedras-mouras) e a escavação do banhado do meio para unir os dois açudes, formando o lago na medida em que as águas da chuva e das nascentes a oeste encontravam o reservatório (Fonseca, 2012). Após a construção do lago, por volta de 1948, começou a ser construído o Hotel Cavalinho Branco, que seria uma réplica do Hotel Cavalinho Branco na Alemanha e um cassino, mas logo após o início da sua construção, o jogo foi proibido no Brasil e a obra ficou parada por volta de 30 anos, sendo que somente em 1977 foi retomada a construção do hotel.

    O loteamento São Bernardo, que se localiza na parte oeste do lago, mesmo tendo origem antes do Lago, não possuía moradias construídas, pois a população que ali chegava, tinha medo da onça e do bugio, que habitavam aqueles matos. Por volta da década de 1960, deu-se início à construção das primeiras moradias, ou seja, o princípio da ocupação irregular no entorno do lago. O processo de transformação começou a acelerar há vinte anos, em decorrência da intensificação da especulação imobiliária, gerada principalmente pela demanda de pessoas de outras cidades, que tinham interesse em construir segundas residências e sítios de recreação, conseqüentemente acelerou-se o desmatamento na região e o uso indevido dos recursos naturais nesta área, que definitivamente deveria ser tombada como patrimônio natural.

    Com o passar dos anos, iniciou-se no lago um processo de assoreamento pela sedimentação dos detritos provenientes do esgoto lançado. Em 1989 a prefeitura começou a dragagem e limpeza do lago, e depois de aproximadamente mil dias foi concluída a despoluição do lago. A população tinha dúvidas se o lago encheria novamente, e então a prefeitura fechou as comportas e em duas semanas a água estava transbordando as margens do lago. Na gestão posterior foi pavimentada a rua no entorno do lago, denominada Coronel Alziro Torres Filho em homenagem ao seu idealizador, foram plantadas árvores, foi feita a pavimentação de bloquete e meios-fios, entre outros melhoramentos.

    Neste breve histórico, é importante destacar também que o lago já foi palco de diversas atividades esportivas e culturais, que não ocorrem atualmente, tais como: campeonatos de esqui aquático; pesca esportiva, que era realizada pela associação de pesca amadora ARPIA; a Odisséia das Águas, um show de luzes e canhões d'água; festivais musicais, como o festival de rock “Devonstock” em 1973; e nos anos 1970, também havia pedalinhos e a prática da motonáutica2.

    Além da sua relevância ecológica, o Lago São Bernardo é um dos principais pontos turísticos do município, sendo o cartão postal da região. A população de São Francisco de Paula e os turistas que freqüentam o lago, especialmente aos finais de semana, estão à procura de lazer, socialização, descontração, tranqüilidade, contemplação da beleza natural, práticas esportivas, entre outros, porém poucas atividades são realizadas a fim de atender este público e, portanto, o potencial deste local ainda é pouco explorado. As práticas que ainda ocorrem no lago são: a mateada, que é realizada uma vez por mês; o abraço do Lago São Bernardo, que ocorre anualmente; a pesca artesanal com caniço – liberada na semana da Páscoa; e no verão, são realizados campeonatos esportivos e alguns passeios ciclísticos abrangem como parte do roteiro o lago. A organização de mais eventos sociais, culturais e esportivos proporcionaria relevantes benefícios para a população, seja diretamente, promovendo o bem estar daqueles que freqüentam o local, seja indiretamente, através do aumento da procura turística e conseqüente benefício econômico compatível à conservação da área.

    Vale destacar que houve uma importante transformação na paisagem do lago a partir do verão de 2014 com a instalação de uma academia ao ar livre (Figura 3), inclusive com alterações significativas nos hábitos e práticas corporais da população como veremos a seguir. O conjunto de equipamentos, semelhantes aos de musculação e alongamento encontrados nas academias convencionais, forma um circuito com o objetivo de trabalhar todos os grupos musculares. Os dez aparelhos permitem uma variação de mais de 20 movimentos diferentes e, por serem usados por pessoas de todos os tamanhos e idades, não apresentam possibilidade de ajustes. Enquanto alguns trabalham a musculatura com o uso do próprio peso do corpo, outros contam com o auxílio de pesos, fixados ao aparelho e que não pesam mais do que dois quilos. As Academias ao Ar Livre visam oferecer às pessoas que não têm condições financeiras ou que não gostam de freqüentar as academias comuns a possibilidade de se exercitar, sem pagar nada por isso. Embora os aparelhos tenham como foco usuários da terceira idade, eles podem ser usados por pessoas de todas as faixas etárias, desde que acima de 12 anos.

Figura 3. Academia ao Ar Livre no Lago São Bernardo

Fonte: arquivo pessoal

Metodologia

    Repetimos a metodologia empregada no estudo de 2012 para a coleta de dados de 2015. Os dados deste estudo foram coletados sob duas formas: observações empíricas e questionário aplicado com freqüentadores do lago. As observações empíricas foram realizadas entre 11 de agosto de 2014 e 05 de janeiro de 2016, num total de 63 visitas, e consistiam em anotações em uma tabela onde eram apontados o dia da semana, o horário, as práticas corporais que estavam sendo realizadas naquele momento, a utilização da Academia ao Ar Livre, e outras atividades registradas, como lazer e turismo.

    Já o questionário, composto de seis (6) perguntas, foi aplicado entre os dias 24 de maio e 12 de dezembro de 2015, num total de 123 indivíduos. A escolha dos entrevistados foi aleatória. Observamos as seguintes situações: faríamos no máximo três (3) visitas ao lago por mês, em horários alternados, para evitar que os resultados ficassem deturpados e vinculados a um período do dia ou a uma estação climática específica do ano; portanto, foram feitas observações e entrevistas tanto na época do frio como na do calor, bem como nos turnos da manhã, tarde e noite (a partir das 18h) na cidade de São Francisco de Paula. As perguntas que os entrevistados responderam foram as seguintes: gênero (sexo), idade, naturalidade (onde nasceu), renda (mensal), com que freqüência visitava o Lago São Bernardo e em que horário, e com qual objetivo freqüentava o local. Nesta última questão os entrevistados poderiam dar respostas múltiplas, como por exemplo, utilizar o lago para o lazer e para práticas corporais. Em caso de resposta positiva para as práticas corporais, também eram questionadas quais eram as atividades.

Resultados

    De acordo com os dados coletados ao longo do ano de 2015 foi possível estabelecer um perfil dos freqüentadores do Lago São Bernardo. Quanto ao gênero podemos afirmar que há uma situação bastante equilibrada. Nos dados coletados durante as entrevistas houve uma pequena vantagem para o sexo masculino (51,22%) em relação ao feminino (48,78%). Quanto à idade, a maioria das pessoas está na faixa etária dos 21 aos 40 anos de idade (37%), ou seja, os freqüentadores do lago são adultos-jovens, ainda que seja bastante difícil estabelecermos definições absolutas e concretas para estes termos na contemporaneidade. No item renda mensal, foi observado que a grande maioria dos freqüentadores do local é assalariado ou de renda baixa; recebendo apenas um salário mínimo por mês ou menos, ou até três salários mínimos. Em números gerais mais de 75% das pessoas entrevistadas está nesta condição socioeconômica. Também questionamos sobre a naturalidade dos entrevistados, ou seja, queríamos saber onde nasceram, e de onde vinham as pessoas que freqüentavam o lago. Este item tinha como objetivo observar se havia muitos turistas que utilizavam o Lago São Bernardo. De fato, aos finais de semana, pelas observações empíricas é possível apontar o local como um espaço de grande movimentação turística. No entanto, no dia a dia, quem realmente se vale deste espaço é o próprio cidadão de São Francisco de Paula. Entre os entrevistados, 44% das pessoas são naturais da cidade ou que já vivem no município há muitos anos. As outras localidades que apareceram com destaque no estudo de 2015 são, por ordem de classificação, Taquara (8%), e Cambará do Sul (5%). Outras vinte e oito cidades3 foram citadas na coleta de dados, não só do Rio Grande do Sul, mas também de outros Estados do Brasil.

    Portanto o perfil médio do freqüentador do Lago São Bernardo é homem ou mulher, na faixa etária entre 21 e 40 anos de idade, com renda de um a três salários mínimos e natural ou morador de São Francisco de Paula.

    Vejamos agora outros aspectos que mais nos interessam neste estudo: com que freqüência as pessoas visitam o Lago São Bernardo, em que horário do dia, e quais são as atividades desenvolvidas por elas. Lembramos que para estas questões, os entrevistados poderiam dar múltiplas respostas, ou seja, valia apontar mais de uma alternativa para cada item. Também cruzamos os dados do questionário com as observações empíricas para chegarmos a conclusões mais aproximadas da verdadeira situação das práticas corporais desenvolvidas no Lago São Bernardo.

    De acordo com os dados coletados em 2015, a maioria das pessoas (34%) freqüenta o lago eventualmente. Entre os entrevistados, 23% visita o lago raramente ou estavam visitando o Lago São Bernardo pela primeira vez, 19% diariamente, 15% de três a cinco vezes por semana, e 9% de uma a duas vezes por semana. Quanto ao período do dia para ir até o lago, seja para o lazer, turismo ou para atividades físicas, 60% dos entrevistados preferem o final da tarde, ou seja, o horário que compreende entre às 15 horas e às 18 horas e 30 minutos. Ainda cabe destacar que cerca de 36% dos entrevistados também apontaram a noite (após às 18h30) como horário preferido para freqüentar o local. Vale lembrar que no Rio Grande do Sul na época em que vigora o horário brasileiro de verão, costuma anoitecer após às 20 horas, portanto, nos meses de outubro à fevereiro aumenta o número de freqüentadores entre às 18 e 20 horas. Este dado alterou bastante no comparativo com os resultados de 2012, quando a minoria dos entrevistados optava pelo horário noturno.

    A grande maioria das pessoas freqüenta o Lago São Bernardo para a realização de práticas corporais (aproximadamente 85%), além de atividades de lazer (72%), e alguns para turismo (cerca de 32%). São números bastante aproximados com os já verificados em 2012 (ver abaixo tabelas e gráficos comparativos). Dentre as práticas corporais a preferida continua sendo a caminhada, já que 82,47% dos freqüentadores do lago que aproveitam o local para alguma atividade física realizam este exercício. A implantação da Academia ao Ar Livre se configurou em importante equipamento para a realização de práticas corporais. Cerca de 57% das pessoas utilizam o espaço para alongamento e demais exercícios físicos. Para o público feminino que realiza práticas no entorno do lago as principais atividades apontadas pelas entrevistadas e observadas foram – além da caminhada e academia ao ar livre – ciclismo (26%) e corrida (20%). Entre os homens, a caminhada e a utilização da academia ao ar livre também são as práticas corporais preferidas. Outras atividades que apareceram com destaque para o sexo masculino foram ciclismo (24%), corrida (24%), e futebol (9%). Nas observações empíricas, foi possível identificar ainda a presença de muitos praticantes de canoagem e stand up paddle, duas novidades verificadas também a partir do verão de 2013-2014. A pesca e o banho, apesar de continuarem proibidos no local, também foram registrados novamente em algumas visitas ao Lago São Bernardo.

    Portanto, podemos concluir que o Lago São Bernardo essencialmente é um local para a realização de práticas corporais e estas muitas vezes também são consideradas pelos freqüentadores como atividades de lazer, pois em grande parte das oportunidades – por exemplo – as caminhadas são seguidas de rodas de chimarrão4 ou pela simples contemplação do local.

Tabelas e gráficos comparativos

Tabela 1. Gênero, Idade e Renda

 

Gráfico 1. Municípios (procedência / naturalidade)

 

Tabela 2. Frequência e Período do Dia

 

Gráfico 2. Práticas Corporais

Considerações finais

    Esperamos que este novo estudo de 2015, que teve como objetivo principal o mapeamento das práticas corporais que ocorrem no entorno do Lago São Bernardo, signifique um acréscimo para os apontamentos anteriores, e para novas pesquisas que visem tais investigações. Acreditamos que tal estudo também pode ser aplicado em outras cidades que dispõe de espaços semelhantes, não só na serra gaúcha – onde temos o Lago Negro, em Gramado – mas também em outras regiões do Brasil – como o Rio de Janeiro, com a Lagoa Rodrigo de Freitas; Belo Horizonte, com a Lagoa da Pampulha; Salvador, com a Fonte Nova; ou em São Paulo, onde há o Lago do Ibirapuera – para podermos traçar dados comparativos de como são utilizados estes espaços urbanos que contam com elementos da natureza e conduzem as pessoas a um contato diferenciado no seu dia a dia. Consideramos que o campo está aberto para futuras discussões e debates referentes ao tema das práticas corporais.

Notas

  1. Futebol “informal” normalmente reunindo um grupo de amigos.

  2. Hoje está proibida a utilização de qualquer embarcação a motor no lago.

  3. Araranguá (SC), Balneário Camboriu (SC), Canela, Caxias do Sul, Curitiba (PR), Erechim, Estância Velha, Esteio, Flores da Cunha, Florianópolis (SC), Garopaba (SC), Gramado, Guaíba, Igrejinha, Jaquirana, Nova Hartz, Osório, Pelotas, Porto Alegre, Rio Grande, Rolante, São Leopoldo, Santa Rosa, Santo Ângelo, Sapucaia do Sul, Três Coroas, Viamão e Xangrilá.

  4. Prática bastante comum entre os gaúchos.

Bibliografia

  • Fonseca, José Carlos Santos da (2012). São Francisco de Paula – Rio Grande do Sul: história, encantos e mistérios resgatando o passado serrano. Porto Alegre: Evangraf.

  • Koch, Rodrigo e Bicca, Bruna Benin (2013). Estudo das práticas corporais no Lago São Bernardo (São Francisco de Paula/RS) em 2012. Lecturas Educación Física y Deportes (Buenos Aires), vol. 178. http://www.efdeportes.com/efd178/estudo-das-praticas-corporais-no-lago-sao-bernardo.htm

  • Melo, Cristiane Ker de e Almeida, Ana Cristina (2007). Nas trilhas da relação Educação Física – Meio Ambiente. In: Almeida, ACPC; Dacosta, LP. Meio Ambiente, esporte, lazer e turismo: estudos e pesquisas no Brasil 1967 – 2007. Volume 1. Rio de Janeiro, Gama Filho.

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