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Estudo das práticas corporais no Lago São Bernardo 

(São Francisco de Paula, RS) em 2012

Estudio de las prácticas corporales en el lago Sao Bernardo (Sao Francisco de Paula, RS) en 2012

Study of body practices in lake Sao Bernardo (Sao Francisco de Paula, RS) in 2012

 

*Professor Assistente da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS)

Mestre em Educação, Especialista em Administração e Marketing Esportivo

Licenciado em Educação Física. Coordenador da linha de pesquisa

Estudos Olímpicos em Práticas Corporais e Meio Ambiente (PRACEMA)

**Acadêmica do curso de Gestão Ambiental (UERGS-São Francisco de Paula)

Aluna bolsista da linha de pesquisa Laboratório de Gestão Ambiental

e Negociação de Conflitos (GANECO)

Rodrigo Koch*

koch.rodrigo@terra.com.br

Bruna Benin Bicca**

brunabhangla@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo cruza dados de duas linhas de pesquisa (GANECO – Laboratório de Gestão Ambiental e Negociação de Conflitos; e PRACEMA – Estudos Olímpicos em Práticas Corporais e Meio Ambiente) vinculadas ao grupo Educação para Sustentabilidade, sediado na unidade da UERGS (Universidade Estadual do Rio Grande do Sul) de São Francisco de Paula, Rio Grande do Sul. O objetivo deste trabalho foi identificar as práticas corporais realizadas no entorno do Lago São Bernardo, principal ponto turístico da cidade, no ano de 2012 e, como se dava o aproveitamento e cuidado do espaço considerado patrimônio natural do município de São Francisco de Paula. Após a tabulação dos dados foi possível apontar o perfil dos freqüentadores do local, quando ocorre o maior número de atividades, e quais são as principais práticas corporais.

          Unitermos: Práticas corporais. Lago São Bernardo. São Francisco de Paula.

 

Resumen

          Este estudio cruza los datos de dos líneas de investigación (GANECO - Laboratorio de Gestión Ambiental y Negociación de Conflictos, y PRACEMA - Estudios Olímpicos de la Práctica Corporal y Medio Ambiente) de grupos vinculados a la Educación para la Sustentabilidad, localizada en UERGS (Universidad del Estado de Río Grande do Sul), de Sao Francisco de Paula, Río Grande do Sul. El objetivo de este estudio fue identificar las prácticas corporales realizadas en las proximidades del lago de Sao Bernardo, el punto turístico principal de la ciudad, en el año 2012, y cómo fue la recuperación y cuidado del patrimonio del espacio natural de la ciudad de Sao Francisco de Paula. Después de la tabulación de los datos fue posible señalar el perfil de los usuarios habituales del lugar, cuando hay el mayor número de actividades, y cuáles son las prácticas corporales principales.

          Palabras clave: Prácticas corporales. Lago Sao Bernardo. São Francisco de Paula.

 

Abstract

          This study crosses data from two lines of research (GANECO - Laboratory of Environmental Management and Negotiation Conflict, and PRACEMA - Olympic Studies in Practice Body and Environment) group linked to Education for Sustainability, based at unit UERGS (State University of Rio Grande do Sul) of Sao Francisco de Paula, Rio Grande do Sul. The objective of this study was to identify the body practices conducted in the vicinity of Lake Sao Bernardo, the main tourist spot in the city, in the year 2012, and how was the recovery and care of the space natural heritage of the city of São Francisco de Paula. After tabulating the data could point the profile of the regulars of the place, when there is the greatest number of activities, and what are the main body practices.

          Keywords: Body practices. Lake Sao Bernardo. Sao Francisco de Paula.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 178, Marzo de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Os estudos relacionados às práticas corporais têm crescido nos últimos anos, principalmente na área da saúde, entre outros segmentos como: gênero, mercado consumidor, e como próprio campo de estudo em si. Por enquanto, os pesquisadores (DI GIOVANNI 2005; SILVA & DAMIANI 2005; FRAGA 1995 e outros) que tratam do tema das práticas corporais não demonstram a preocupação em definir o termo, deixando o espaço de discussão vasto para as interfaces possíveis deste segmento sociocultural. Em poucas linhas, apenas para contribuir na delimitação do objeto de estudo, podemos considerar as práticas corporais como manifestações da cultura corporal de cada indivíduo e/ou grupo, ainda que estas possam, inclusive, produzir – simultaneamente e paralelamente – hábitos considerados não saudáveis como fumar ou ingerir bebidas alcóolicas. Como exemplo, podemos citar a “pelada1” de fim de semana, habitualmente, acompanhada de carne gorda e cerveja; ou uma caminhada seguida de um encontro com amigos onde todos fumam. As práticas corporais contrapõem a ideia limitadora de simples atividades físicas. Também se exclui a tentativa de definir prática corporal como esporte. O esporte é algo normatizado, com regras, e quase sempre competitivo, portanto, também é uma prática corporal, mas nem toda prática corporal pode ser considerada esporte.

    Durante o ano de 2012, observamos que o espaço natural no entorno do Lago São Bernardo, em São Francisco de Paula/RS, era utilizado não só pelos moradores locais, mas também por turistas – estes com frequência maior aos finais de semana –, para a realização de atividades físicas com objetivos de reaproximação com a natureza, preocupação dos mesmos com a saúde e consequentemente melhora da qualidade de vida.

    As possíveis relações entre a Educação Física e o Meio Ambiente aparecem constantemente em trabalhos recentes de pesquisadores, como no levantamento feito por Melo e Almeida (2007) onde apontam que

    Atualmente vem crescendo significativamente o número de indivíduos que buscam, sob diversos interesses, práticas de atividade física de aventura junto à natureza. O esporte, permeando-se por novas formas, valores e conceitos, torna-se um elemento chave nessa re-aproximação Homem-Natureza. (...) A cada dia, surge uma nova modalidade de atividade física, tanto em ambiente urbano como rural, e as práticas na natureza vem crescendo em uma proporção maior, devido ao estresse das grandes cidades, fazendo com que o homem resgate seu contato com o ambiente natural, em busca de aventuras e novos desafios. (MELO & ALMEIDA 2007, p.185)

    Já Viera (2007) destaca que o contato com a natureza através do esporte apresenta um lado positivo e outro negativo. O autor concorda que estas práticas corporais aumentam a consciência ecológica dos envolvidos, inibindo a ação predatória em seus locais de ação esportiva. No entanto, por outro lado “essas mesmas práticas esportivas podem interferir negativamente nos fatores ambientais, podendo ocasionar danos aos ambientes onde são praticados” (VIEIRA 2007, p.347). Em virtude disto, este pesquisador propôs a criação de um instrumento de avaliação dos impactos ambientais causados pelo esporte, em que são analisados efeitos na água, solo, atmosfera, fauna, cavernas e outros impactos ambientais. Neste trabalho, também tivemos o cuidado de observar de forma empírica como este espaço está sendo preservado e mantido pelos cidadãos, turistas e pelo governo municipal.

    A linha de pesquisa Estudos Olímpicos em Práticas Corporais e Meio Ambiente (PRACEMA) tem como objetivo investigar as práticas corporais no meio ambiente na região dos Campos de Cima da Serra e seus efeitos na sociedade local, realizando pesquisas de campo, com observações, entrevistas e registros de imagens para avaliação dos espaços de esportes na natureza (ou áreas ecológicas) e como estes locais são aproveitados/cuidados de maneira a se tornarem sustentáveis pelos esportistas e praticantes. Nossas áreas de atuação na pesquisa científica são as Ciências Humanas (Educação); Ciências da Saúde (Educação Física); e Ciências Sociais Aplicadas (Turismo) – atuando nos setores da educação, artes, cultura, esporte, recreação, saúde humana e serviços sociais.

    O Laboratório de Gestão Ambiental e Negociação de Conflitos (GANECO) foi fundado em setembro de 2008, através de uma parceria entre o Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS) e a Secretaria do Meio Ambiente do Estado (SEMA), ambos com sede em São Francisco de Paula. A proximidade geográfica entre diversas unidades de conservação e propriedades privadas de grande relevância ambiental favorecem a gestão integrada e a discussão dos conflitos comuns nesta região. A experiência do GANECO demonstra que a parceria entre as instituições, em que pesem as dificuldades burocráticas e administrativas, podem gerar propriedades emergentes, como ocorre com as interações entre as espécies num ecossistema.

    Antes de apresentarmos a metodologia, os resultados e as discussões desta pesquisa, vamos contextualizar o local e a região onde se deu a coleta de dados, bem como o histórico do Lago São Bernardo e sua importância para o município de São Francisco de Paula.

Descrição da cidade e da região no entorno do Lago São Bernardo

    O município de São Francisco de Paula localiza-se na Região Nordeste do Rio Grande do Sul e está a 112 quilômetros da capital, Porto Alegre. Junto com Canela e Gramado pertence à região fisiográfica dos Campos de Cima da Serra. Estes municípios fazem parte das rotas turísticas da Região das Hortênsias e da Rota Romântica. São Francisco de Paula é o quarto maior município em extensão territorial do Rio Grande Sul, com uma área total de 3.274,03 km2 e população de 20.537 habitantes (IBGE, 2011).

    Na parte central da sede do município localiza-se o Lago São Bernardo que garante a beleza cênica da região pelo conjunto formado com o histórico Hotel Cavalinho Branco e pela exuberante mata no seu entorno (Figura 1 e 2).

Figura 1. Vista panorâmica do Lago São Bernardo

Fonte: arquivo pessoal

 

Figura 2. Lago São Bernardo

Fonte: arquivo pessoal

    A região no entorno deste lago é caracterizada pela ocorrência da Floresta Ombrófila Mista e Campos de Altitude, estas duas formações entre outras estão associadas ao bioma Mata Atlântica, que é considerado o segundo mais ameaçado de extinção do mundo. Apesar de sua devastação, é um dos biomas com uma das mais altas taxas de biodiversidade do mundo, sendo assim necessária a sua conservação.

    Segundo a Lei da Mata Atlântica, a conservação deste bioma, bem como a preservação dos seus remanescentes, é fundamental inclusive para a manutenção das populações humanas que habitam as suas áreas de domínio.

    Deve-se priorizar a conservação dos remanescentes de Mata Atlântica, vitais para aproximadamente 120 milhões de brasileiros que vivem na área de domínio do bioma. A qualidade de vida desse contingente populacional depende da preservação dos remanescentes, os quais mantêm nascentes e fontes, regulando o fluxo dos mananciais d’água que abastecem as cidades e comunidades do interior, ajudam a regular o clima, a temperatura, a umidade, as chuvas, asseguram a fertilidade do solo e protegem escarpas de serras e encostas de morros (BRASIL, 2006, p. 41).

    O Lago São Bernardo encontra-se a uma altitude de 842 metros, tendo como coordenadas geográficas 22J 541414.00 m E 6741503.00 m S. Possui sentido norte-sul, com extensão total de 1900 metros e o espelho d’água 10,30 ha, sua profundidade fica entre 5 e 8 metros, com localização: ao sul o Hotel Cavalinho Branco; ao norte a Avenida Júlio de Castilhos; a leste a RS 235 Canela; a oeste inserida em terras de propriedade da Sociedade Amigos de Cima da Serra (SACIS), encontra-se a Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) São Bernardo e a RS 20 Taquara; a sudeste o Parque Natural Municipal da Ronda e a noroeste o centro da cidade. Suas margens são ajardinadas e cercadas de árvores e pinheiros, seu entorno se resume em remanescentes de Floresta Ombrófila Mista, propiciando um convívio direto com a natureza.

    A Sociedade Amigos de Cima da Serra foi criada em fevereiro de 1969, declarada de utilidade pública pelo Decreto Municipal nº 196 de 19 de novembro de 1969, cuja finalidade foi de promover e proporcionar atividades turísticas, sociais, culturais e recreativas aos seus associados, proporcionando a prática de esportes em convívio direto com a natureza. Na época em que a sociedade ainda encontrava-se ativa foram construídas canchas de bocha e vôlei, pista de bikecross, camping e restaurante, que funcionavam principalmente aos finais de semana. Durante certo período foram realizadas algumas atividades como: jantar baile, festas de quinze anos, reuniões, campeonatos de bikecross, e festivais – como o Ronco do Bugio (festival de música regionalista gaúcha). O prédio da antiga sede da SACIS, que atualmente está alugado, localiza-se no ponto mais alto do perímetro urbano do município, proporcionando uma vista panorâmica da cidade.

Histórico da origem e formação do Lago São Bernardo

    No local onde hoje é o Lago São Bernardo encontravam-se dois açudes. O primeiro, próximo à gruta, recebia dejetos de outro arroio, que passava no meio da atual Avenida Júlio de Castilhos, quase em frente à sede da Prefeitura Municipal. O segundo açude localizava-se onde hoje há uma pequena ilha no Lago, próximo à ponte, onde deságua uma das nascentes que forma o Lago. O segundo açude não era poluído e a população o utilizava para veraneio.

    Era nesse açude de águas claras e convidativas que os moradores preferiam tomar seus banhos nas tardes de verão: as crianças se divertiam e os serranos confraternizavam num lindo momento de lazer (Relato da moradora Zilah Teixeira Tedesco; FONSECA, 2012).

    Neste local a mata a oeste do Lago era de propriedade das famílias Andrade e Traslatti. Posteriormente, na área dos Traslatti, foi construído o loteamento São Bernardo, que deu origem ao nome do lago. Também havia dois banhados; um no meio destes dois açudes e outro em frente ao hotel Cavalinho Branco (FONSECA, 2012).

    Por volta de 1944, o Coronel Alziro Torres Filho ordenou a construção de uma contenção de pedras-ferro (pedras-mouras) e a escavação do banhado do meio para unir os dois açudes, formando o lago na medida em que as águas da chuva e das nascentes a oeste encontravam o reservatório (Figura 3). Há relatos de que a construção da barragem e a escavação do banhado foram feitos por presidiários da época (FONSECA, 2012).

Figura 3. Fotografias do lago após a construção da represa (1945)

Fonte: FONSECA, 2012

    Segundo A Folha da Serra de 14 de setembro de 1946, o Coronel Alziro Torres Filho, em sua despedida da prefeitura de São Francisco de Paula, pronunciou as seguintes palavras: “Fiz a represa da qual surgiu o açude que forma o ponto alto na futura urbanização da cidade” (FONSECA, 2012). Podemos notar que, naquela época, o Coronel Alziro Torres já tinha uma visão de planejamento urbanístico para o município e teve a ideia de construir o lago, com o intuito de criar uma área de recreação para a população e um atrativo para os turistas, pois naquele tempo era complicado chegar à praia.

    Após a construção do lago, por volta de 1948, começou a ser construído o Hotel Cavalinho Branco, que seria uma réplica do Hotel Cavalinho Branco na Alemanha e um cassino, mas logo após o início da sua construção, o jogo foi proibido no Brasil e a obra ficou parada por volta de 30 anos, sendo que somente em 1977 foi retomada a construção do hotel.

    O loteamento São Bernardo, que se localiza na parte oeste do lago, mesmo tendo origem antes do Lago, não possuía moradias construídas, pois a população que ali chegava, tinha medo da onça e do bugio, que habitavam aqueles matos. Por volta da década de 1960, deu-se início à construção das primeiras moradias, ou seja, o princípio da ocupação irregular no entorno do lago. O processo de transformação começou a acelerar há vinte anos, em decorrência da intensificação da especulação imobiliária, gerada principalmente pela demanda de pessoas de outras cidades, que tinham interesse em construir segundas residências e sítios de recreação, consequentemente acelerou-se o desmatamento na região e o uso indevido dos recursos naturais nesta área, que definitivamente deveria ser tombada como patrimônio natural.

    Com o passar dos anos, iniciou-se no lago um processo de assoreamento pela sedimentação dos detritos provenientes do esgoto lançado. Em 1989 a prefeitura começou a dragagem e limpeza do lago, depois de aproximadamente mil dias foi concluída a despoluição do lago. A população começou a ter dúvidas se o lago encheria novamente, então a prefeitura fechou as comportas e em duas semanas a água estava transbordando as margens do lago.

    Na gestão posterior foi pavimentada a rua no entorno do lago, denominada Coronel Alziro Torres Filho em homenagem ao seu idealizador, foram plantadas árvores, foi feita a pavimentação de bloquete e meios-fios, entre outros melhoramentos.

    Neste breve histórico, é importante destacar também que o lago já foi palco de diversas atividades esportivas e culturais, que não ocorrem atualmente, tais como: campeonatos de esqui aquático; pesca esportiva, que era realizada pela associação de pesca amadora ARPIA; a Odisseia das Águas, um show de luzes e canhões d'água, que ocorria até cerca de dois anos atrás; festivais musicais, como o festival de rock “Devonstock” em 1973; e nos anos 1970, também havia pedalinhos (Figura 4) e a prática da motonáutica (Figura 5).

Figura 4. Pedalinhos no Lago São Bernardo (década de 1970)

Fonte: Acervo Histórico do Município

 

Figura 5. A motonáutica no Lago São Bernardo (década de 1970)

Fonte: Acervo Histórico do Município

    Além da sua relevância ecológica, o Lago São Bernardo é um dos principais pontos turísticos do município, sendo o cartão postal da região. A reportagem publicada no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, de 03 de março de 1970, evidencia a importância da beleza natural do lago para o desenvolvimento das atividades turísticas e bem estar da população.

    A beleza e o grande volume de água do Lago São Bernardo impressionam a todos os turistas que visitam o município. Sem dúvida o São Bernardo é um dos mais belos lagos existentes no Brasil (apud FONSECA, 2012).

    A população de São Francisco de Paula e os turistas que frequentam o lago, especialmente aos finais de semana, estão à procura de lazer, socialização, descontração, tranquilidade, contemplação da beleza natural, práticas esportivas, entre outros, porém poucas atividades são realizadas a fim de atender este público e, portanto, o potencial deste local ainda é pouco explorado. As práticas que ainda ocorrem no lago são: a mateada, que é realizada uma vez por mês; o abraço do Lago São Bernardo, que ocorre anualmente; a pesca artesanal com caniço – liberada na semana da Páscoa; e no verão, são realizados campeonatos esportivos e alguns passeios ciclísticos abrangem como parte do roteiro o lago. A organização de mais eventos sociais, culturais e esportivos proporcionaria relevantes benefícios para a população, seja diretamente, promovendo o bem estar daqueles que frequentam o local, seja indiretamente, através do aumento da procura turística e consequente benefício econômico compatível à conservação da área.

    Visando a conservação e preservação da área, em função do crescimento imobiliário na região do entorno do lago, a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), através do Laboratório de Gestão Ambiental e Negociação de Conflitos (GANECO), em parceria com a Prefeitura de São Francisco de Paula, desenvolveu um projeto que apresenta propostas para a gestão da área, através da implantação de uma Unidade de Conservação, chamada Monumento Natural Lago São Bernardo. Os estudos técnicos preliminares foram realizados e ano de 2012 e foram apresentados em consulta pública para discussão com população. Neste diagnóstico socioambiental foram levantados os dados referentes ao histórico do lago, e também foram identificadas espécies raras e ameaçadas de extinção, importantes nascentes, sítios arqueológicos – mostrando a importante relevância ecológica do local e de seu entorno, o que justifica a necessidade de implantação de uma unidade de conservação. Sendo esta área de relevante interesse ecológico, por possuir espécies ameaçadas de extinção, sítios arqueológicos e importantes nascentes, é de extrema importância sua proteção.

Metodologia

    Os dados deste estudo foram coletados ao longo do ano de 2012 sob duas formas: observações empíricas e questionário aplicado com frequentadores do lago.

    As observações empíricas foram realizadas entre 18 de janeiro e 21 de dezembro, num total de 83 visitas, e consistiam em anotações em uma tabela onde eram apontados o dia da semana, o horário, o número aproximado de pessoas no entorno do lago, o gênero (e sua maioria), a faixa etária (e sua maioria), as práticas corporais que estavam sendo realizadas naquele momento, e outras atividades registradas, como lazer e turismo.

    Já o questionário, composto de seis (6) perguntas, foi aplicado entre os dias 04 de julho e 15 de dezembro. A escolha dos entrevistados foi aleatória, sendo o máximo de dez (10) entrevistados por visita ao lago. Também observamos a seguinte situação: faríamos no máximo três (3) visitas ao lago e vinte (20) entrevistas por mês, em horários alternados, para evitar que os resultados ficassem deturpados e vinculados a um período do dia ou a uma estação climática específica do ano; portanto, foram feitas observações e entrevistas tanto na época do frio como na do calor, bem como nos turnos da manhã, tarde e noite (a partir das 18h) na cidade de São Francisco de Paula. As perguntas que os entrevistados responderam foram as seguintes: gênero (sexo), idade, naturalidade (onde nasceu), renda (mensal), com que frequência visitava o Lago São Bernardo e em que horário, e com qual objetivo frequentava o local. Nesta última questão os entrevistados poderiam dar respostas múltiplas, como por exemplo, utilizar o lago para o lazer e para práticas corporais. Em caso de resposta positiva para as práticas corporais, também eram questionadas quais eram as atividades.

Tabela das Entrevistas

Resultados e discussões

    De acordo com os dados coletados ao longo do ano de 2012 foi possível estabelecer um perfil dos frequentadores do Lago São Bernardo. Quanto ao gênero podemos afirmar que há uma situação bastante equilibrada. Nos dados coletados durante as entrevistas houve uma pequena vantagem para o sexo masculino (53%) em relação ao feminino (47%). No entanto, nas observações empíricas notamos um número maior de mulheres realizando práticas corporais no entorno do lago. Isso nos leva a conclusão que neste item há um equilíbrio de gênero entre os frequentadores do local.

    Quanto à idade, a maioria das pessoas está na faixa etária dos 15 aos 55 anos, onde seja, os frequentadores do lago são jovens, jovens-adultos, adultos e pessoas de meia-idade, ainda que seja bastante difícil estabelecermos definições absolutas e concretas para estes termos na contemporaneidade. Percentualmente os dados coletados nos apontam em números gerais por ordem de classificação; 29,5% entre 21 e 40 anos de idade, 27,6% entre 41 e 60 anos de idade, e 25,7% de indivíduos com até 20 anos de idade. Também apareceram durante a coleta de dados sujeitos com idades entre 61 e 80 anos (15,2%) e com mais de 80 anos (1,9%). Ao classificarmos a faixa etária por gênero, a maioria dos homens que frequenta o Lago São Bernardo está entre os 21 e 40 anos de idade (32,1%) e as mulheres entre os 41 e 60 anos de idade (32,6%).

    No item renda mensal, foi observado que a grande maioria dos frequentadores do local é assalariado, ou seja, recebe apenas um salário mínimo por mês ou menos. Em números gerais 55,2% das pessoas entrevistadas está nesta condição socioeconômica, sendo aproximadamente 53% dos homens e 57% das mulheres. Outros índices financeiros também foram apontados na pesquisa como segue: 24,8% recebem de dois a três salários mínimos por mês, 8,6% de quatro a cinco, e 11,4% mais de seis salários mínimos por mês. Observa-se que boa parte dos entrevistados era composta por aposentados ou jovens trabalhadores do setor primário.

    Também questionamos sobre a naturalidade dos entrevistados, ou seja, queríamos saber onde nasceram, e de onde vinham as pessoas que frequentavam o lago. Este item tinha como objetivo observar se havia muitos turistas que utilizavam o Lago São Bernardo. De fato, aos finais de semana, pelas observações empíricas é possível apontar o local como um espaço de grande movimentação turística. No entanto, no dia a dia, quem realmente se vale deste espaço é o próprio cidadão de São Francisco de Paula. Entre os entrevistados, 54,3% são pessoas naturais da cidade ou que já vivem no município há muitos anos. As outras localidades que apareceram com destaque neste estudo são, por ordem de classificação, Porto Alegre (8,6%), Novo Hamburgo (6,7%), Cambará do Sul (3,8%), Sapiranga (2,8%) e Canoas (1,9%). Outras 23 cidades2 foram citadas na coleta de dados, não só do Rio Grande do Sul, mas também de outros Estados do Brasil.

    Portanto o perfil médio do frequentador do Lago São Bernardo é homem ou mulher, na faixa etária entre 21 e 40 anos de idade, com renda de até um salário mínimo, e natural ou morador de São Francisco de Paula.

    Vejamos agora outros aspectos que mais nos interessam neste estudo: com que frequência as pessoas visitam o Lago São Bernardo, em que horário do dia, e quais são as atividades desenvolvidas por elas. Lembramos que para estas questões, os entrevistados poderiam dar múltiplas respostas, ou seja, valia apontar mais de uma alternativa para cada item. Também cruzamos os dados do questionário com as observações empíricas para chegarmos a conclusões mais aproximadas da verdadeira situação das práticas corporais desenvolvidas no Lago São Bernardo.

    De acordo com os dados coletados, a maioria das pessoas (41%) frequenta o lago diariamente, sendo em sua maioria mulheres (49%) que adquirem este costume. Nas observações empíricas os dias que apresentavam maior número de frequentadores eram o sábado e o domingo, com cerca de cento e cinquenta (150) pessoas no entorno do lago nos horários de maior movimento. Nestas mesmas observações o dia com menor frequência foi a terça-feira, com apenas cinco sujeitos em horários como o do final da manhã. Entre os entrevistados, 21% visita o lago de três a cinco vezes por semana, 15,2% eventualmente, 12,4% de uma a duas vezes por semana, e 10,5% raramente ou estavam visitando o Lago São Bernardo pela primeira vez. Quanto ao período do dia para ir até o lago, seja para o lazer, turismo ou para atividades físicas, 59% dos entrevistados preferem o final da tarde, ou seja, o horário que compreende entre às 15 horas e às 18 horas e 30 minutos. Pelas observações empíricas, o início da manhã recebe em média cerca de 30 pessoas por hora, o final da manhã 45 indivíduos, o início da tarde 25 sujeitos, o final da tarde aproximadamente 80 pessoas, e a noite em torno de 30 frequentadores; ou seja, os números convergem para as mesmas conclusões. Ainda cabe destacar que cerca de 42% dos entrevistados também apontaram o início da tarde (12h às 15h), 37% o início da manhã (7h às 9h), 25% o final da manhã (9h30 às 12h), e 23% a noite (após às 18h30) como horário preferido para frequentar o local. Vale lembrar que no Rio Grande do Sul na época em que vigora o horário brasileiro de verão, costuma anoitecer após às 20 horas, portanto, nos meses de novembro à fevereiro aumenta o número de frequentadores entre às 18 e 20 horas.

    A grande maioria das pessoas frequenta o Lago São Bernardo para a realização de práticas corporais (aproximadamente 84%), além de atividades de lazer (70%), e alguns para turismo (cerca de 28%). Dentre as práticas corporais a preferida é a caminhada, já que 91,2% dos frequentadores do lago que aproveitam o local para alguma atividade física realizam este exercício. Dado relevante é que todas as mulheres (100%) que realizam alguma prática corporal no lago praticam a caminhada. No entanto não é somente esta atividade que o público feminino pratica no entorno do local. Também foram apontadas pelas entrevistadas e observadas outras práticas corporais como corrida, ciclismo, futebol e vôlei entre as mulheres. Entre os homens, a caminhada também é a prática corporal preferida, com 68% daqueles que frequentam o lago se apropriando dela. Outras atividades que apareceram para o sexo masculino foram ciclismo, corrida, vôlei, futebol, alongamento e slackline. Nas observações empíricas, foi possível identificar ainda cavalgada, skate, canoagem, futevôlei, patinete e patins. A pesca e o banho, apesar de proibidos no local, também foram registrados em algumas visitas ao Lago São Bernardo. Portanto, podemos concluir que o Lago São Bernardo essencialmente é um local para a realização de práticas corporais e estas muitas vezes também são consideradas pelos frequentadores como atividades de lazer, pois em grande parte das oportunidades – por exemplo – as caminhadas são seguidas de rodas de chimarrão3 ou pela simples contemplação do local.

Tabela dos Dados coletados no Lago São Bernardo em 2012

    Os dados coletados no entorno do Lago São Bernardo referentes às práticas corporais ratificam estudos realizados anteriormente sobre os hábitos esportivos dos brasileiros. Entre setembro de 2005 e julho de 2006, o estudo intitulado O Esporte na Vida do Brasileiro, conduzido pelo instituto Ipsos Marplan, apontava a caminhada (40%), o vôlei (14%), o futebol (8%), o ciclismo (6%), a natação (4%) e a corrida (2%) como as atividades físicas mais desenvolvidas pela população. Em 2011, pesquisa realizada pelo IBOPE, sob o título de Esporte Clube Ibope, confirmou que caminhada (61%), futebol (21%), ginástica (21%), vôlei (18%), natação (11%), corrida (10%) e ciclismo (8%) estavam entre os esportes mais praticados pelos brasileiros. Nota-se que nas três pesquisas a caminhada aparece em primeiro lugar na preferencia dos praticantes e que o ciclismo, a corrida, o futebol e o vôlei também estão entre os mais citados. Mesmo estando em um país futebolizado e completamente impregnado por esta cultura do esporte bretão, e hoje tendo o vôlei como a modalidade coletiva que apresenta os melhores resultados nas competições olímpicas, nossa prática corporal mais difundida e realizada é a caminhada, ainda que esta não possa ser considerada um esporte por não apresentar uma normatização internacional e nem um teor competitivo.

    Ainda que este aspecto não tenha sido o objetivo principal desta pesquisa, no que tange a conservação do local onde ocorrem estas práticas corporais, nas observações que realizamos, além de conversas informais após a aplicação dos questionários, notamos que a maioria das pessoas tem a preocupação e está consciente quanto à necessidade de preservação da área. Há a predisposição dos praticantes de atividades físicas, turistas e cidadãos em manter o local limpo e intacto, e de manter ações que permitam a manutenção do Lago São Bernardo. No entanto, são necessárias algumas atitudes e ações legisladoras por parte dos órgãos governamentais competentes para evitar alguns problemas que registramos e observamos. Por exemplo, faltam lixeiras no entorno do lago e, isso é uma reclamação constante daqueles que frequentam o local. Também observamos a depredação de alguns postes de iluminação e das placas de orientação para alongamento, durante o ano de 2012 (Figuras 6 e 7). Pelo estado em que encontramos os postes e as placas, concluímos que a condição tenha sido causada por atos de vandalismo, e não pela ação do tempo, que também causa danos ao patrimônio público através de ventos, chuvas, umidade e temporais. Portanto, é necessária a implantação não só de leis que preservem a área do Lago São Bernardo e que regulamentem a conservação, como também de fiscalização que evite ações de depredação além de segurança para proporcionar a visitação do lago também à noite.

Figura 6. Postes depredados no Lago São Bernardo

Fonte: arquivo pessoal

 

Figura 7. Placas de atividade física depredadas

Fonte: arquivo pessoal

Considerações finais

    Esperamos que este estudo, que teve como objetivo principal o mapeamento das práticas corporais que ocorrem no entorno do Lago São Bernardo bem como de ações de preservação do local, seja apenas o ponto de partida para novas pesquisas que visem a criação de instrumentos que contribuam para a melhoria e conservação de um dos principais cartões postais da região dos Campos de Cima da Serra. Acreditamos que tal estudo também pode ser aplicado em outras cidades que dispõe de espaços semelhantes, não só na serra gaúcha – onde temos o Lago Negro, em Gramado – mas também em outras regiões do Brasil – como o Rio de Janeiro, com a Lagoa Rodrigo de Freitas; Belo Horizonte, com a Lagoa da Pampulha; Salvador, com a Fonte Nova; ou em São Paulo, onde há o Lago do Ibirapuera – para podermos traçar dados comparativos de como são utilizados estes espaços urbanos que contam com elementos da natureza e conduzem as pessoas a um contato diferenciado no seu dia a dia. Consideramos que o campo está aberto para futuras discussões e debates referentes ao tema das práticas corporais e suas relações com a preservação do ambiente em que as mesmas ocorrem.

Notas

  1. Futebol “informal” normalmente reunindo um grupo de amigos.

  2. Abílio Luz (SC), Brasília (DF), Campo Bom, Canguçu, Dom Pedrito, Esteio, Faxinal dos Guedes (SC), Gramado, Ipiaú (BA), Itapiranga (SC), Livramento, Pelotas, Rio de Janeiro (RJ), Rolante, Santo Antônio da Patrulha, Sananduva, Santo Augusto, São Borja, São Gabriel, São Leopoldo, Soledade, Toledo (PR) e Viamão.

  3. Prática bastante comum entre os gaúchos.

Referências

  • BRASIL. Lei da Mata Atlântica: Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006 [e] Resolução CONAMA nº 388, de 23 de fevereiro de 2007. Revisão João L.R. Albuquerque, Clayton F. Lino. São Paulo: Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, 2007. Disponível em: http://www.rbma.org.br/rbma/pdf/Caderno_33.pdf. Acesso em: 25 jun. 2012.

  • DI GIOVANNI, Geraldo. Mercantilização das práticas corporais: o esporte na sociedade de consumo de massa. Revista Gestão Industrial. Volume 01, número 01, pp. 167-176, 2005.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 178 | Buenos Aires, Marzo de 2013
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