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Contribuições do slackline para o desenvolvimento humano

Contribuciones del slackline para el desarrollo humano

 

*Graduação – Universidade Estadual de Maringá

**Doutora – Universidade Estadual de Maringá

(Brasil)

Eliane Maria de Almeida*

elianemarialmeida@hotmail.com

Telma Martineli**

tapmartineli@uem.br

 

 

 

 

Resumo

          A prática esportiva, como elemento constitutivo da cultura corporal, é amplamente disseminada e apoiada desde a infância em virtude das muitas contribuições que traz ao desenvolvimento do ser humano. Na sociedade brasileira atual, a modalidade que vêm ganhando grande número de adeptos é o slackline, esporte que se baseia no deslocamento por uma fita instável, fixada a dois pontos a altura segura do chão, evitando a queda durante o trajeto da mesma. Assim, a proposta deste estudo é verificar como esta prática corporal pode contribuir para o desenvolvimento humano, com base nas produções científicas na área da educação física, a fim de oferecer mais uma forma de intervenção pedagógica e subsidiar a prática dos professores no âmbito escolar ou não, com o intuito de contribuir com a formação integral de crianças e adolescentes. O desenvolvimento da prática docente deste elemento da cultural corporal é relevante ao passo que se compreende a gama de benefícios que envolvem a prática do slackline, visto que se utiliza de movimentos como andar e equilibrar como técnica de execução; pode ser vivenciado em diversos locais, de forma segura; implica na superação de desafio e apoio ao próximo. Além de possibilitar uma visão crítica aos valores da sociedade capitalista, visto que a disseminação desta prática, que na nossa concepção é histórica e remonta ao equilibrismo e é recuperada atualmente, está imbricada com seu grande impacto mercadológico.

          Unitermos: Slackline. Desenvolvimento humano. Educação Física.

 

Resumen

          La práctica deportiva, como elemento constitutivo de la cultura corporal está ampliamente difundida y apoyada desde la infancia debido a las muchas contribuciones que brinda al desarrollo de los seres humanos. En la sociedad brasileña actual, un deporte que está ganando muchos aficionados es el slackline. Se basa en el desplazamiento por una cinta inestable fijada a dos puntos a una altura segura del suelo, evitando la caída durante el curso de la misma. Así que el propósito de este estudio es ver cómo esta práctica corporal puede contribuir al desarrollo humano basado en las producciones científicas en el área de Educación Física con el fin de proporcionar otra forma de intervención pedagógica y apoyar la práctica de los profesores en las escuelas o no, con el fin de contribuir a la formación integral de niños y adolescentes. El desarrollo de la práctica docente de este elemento de la cultura corporal es relevante, en tanto comprendemos la cantidad de beneficios que incluyen la práctica de slackline, ya que utiliza los movimientos como caminar y el equilibrio y la técnica de ejecución; puede ser experimentado en varios lugares de forma segura; implica la superación de retos y apoyo a los demás. Además de permitir una visión crítica a los valores de la sociedad capitalista, ya que la propagación de esta práctica, que a nuestro juicio es histórico y se remonta al equilibrio y se recupera en la actualidad, está integrado con su gran impacto de comercialización.

          Palabras clave: Slackline. Desarrollo humano. Educación Física.

 

          Trabalho apresentado no II Congresso Internacional de Pesquisadores e Profissionais da Educação Social - XIII Semana Da Criança Cidadã - Educação Social: Valorização Da Infância. Universidade Estadual de Maringá. 20 a 22 de maio de 2015.

 

Recepção: 04/07/2015 - Aceitação: 13/08/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 207, Agosto de 2015. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    A prática esportiva, como elemento constitutivo da cultura corporal, é amplamente disseminada e apoiada desde a infância em virtude das muitas contribuições que traz ao homem, em suas dimensões lúdicas, artísticas, técnicas e capacidades motoras, cognoscitivas e afetivas que compõe a totalidade do ser social.

    A educação física promove a formação e desenvolvimento do ser social tendo em vista que ela trata dos elementos da cultura corporal e de seus conhecimentos historicamente produzidos, no entanto, na sociedade capitalista predomina o seu status mercadológico e gerador de lucro, em detrimento do seu valor histórico. É uma produção humana, cujos aspectos históricos, culturais e técnicos são objeto de estudo e pesquisa e de prática pedagógica, que vai além de propiciar apenas a vivência de suas inúmeras possibilidades de práticas corporais, como é priorizado em algumas tendências pedagógicas neoliberais e pós-modernas.

Fuente: http://www.cerberus.ca/~scott/musings/slack_anchor.php

    Na sociedade brasileira atual, seguindo uma tendência mundial, a modalidade que vêm ganhando grande número de adeptos é o slackline, prática que se baseia no deslocamento por uma fita instável, recrutando o equilíbrio corporal, durante todo o comprimento e trajeto da mesma, sem cair, explicam Chaves, Anjos e Souza (2012). A disseminação desta prática se dá pelo fato de que para sua realização se utiliza de habilidades motoras básicas, como andar e equilibrar-se, pode ser realizada em diversos locais, desde que haja dois pontos de fixação da fita, não necessita de muitos recursos de segurança e o valor monetário da fita é variado, podendo ser acessível às diversas classes sociais.

    Portanto, a proposta deste estudo é analisar como a prática do slackline pode contribuir para o desenvolvimento humano, a fim de oferecer uma atividade que possa subsidiar a prática pedagógica dos professores nos mais diversos contextos de atuação, com o intuito de contribuir com a formação integral de crianças e adolescentes.

    Buscou-se, com base nas produções científicas na área da educação física, compreender como a modalidade esportiva slackline foi criada e desenvolvida até o presente momento, perpassando pelos aspectos que difundiu e disseminou rapidamente sua prática na atualidade brasileira, bem como entender como esta atividade torna-se inerente à cultura corporal, a fim de subsidiar a intervenção pedagógica de docentes.

    Sendo assim, este trabalho será apresentado em três partes, sendo que a primeira tratará dos aspectos históricos e técnicos do slackline, a segunda discutirá a contextualização desta prática na realidade brasileira e, por fim, apresentar as suas contribuições para o desenvolvimento humano.

Na corda bamba

    Em análise sobre a origem ontológica da educação física, Mello (2009) enfatiza que este complexo compreende todas as práticas e atividades corporais e que todos os movimentos humanos (andar, correr, saltar, etc.) são teleologicamente postos, possuem uma finalidade e, portanto, acompanha e contribui para a constituição do ser social. Da mesma forma que as determinações sociais modificam a educação física histórica e socialmente, por exemplo, na Antiguidade, o dardo tinha um objetivo puramente de sobrevivência, hoje é uma atividade esportiva.

    No entanto, os elementos da cultura corporal, na sociedade capitalista, distanciam-se do seu significado construído historicamente pelo homem, tornando-se mercadoria, seja ela no âmbito da saúde, arte, esporte e/ou lúdico. Neste sentido, Martineli (2013), em sua análise sobre a crise estrutural do capital, relata que na lógica de produção capitalista “o valor de uso dos bens socialmente necessários subordinou-se ao seu valor de troca” (Martineli, 2013, p.158) e, por isso os produtos da arte, cultura, ciência e técnica, bem como os seus produtores e criadores tomam a forma de mercadoria, tendo em vista que possuem seu valor de uso, porém sua utilidade está subordinada ao valor de troca.

    Não é possível compreender a realidade sem os seus nexos com a totalidade, a organização social capitalista baseia-se na divisão de classes, em que uma porção mínima da população (capitalistas) é detentora dos meios de produção, explorando a força de trabalho da maioria (trabalhadores), o que resulta em uma relação conflituosa entre as duas classes. Segundo Valle (2010) para ocupar o tempo livre do trabalhador e garantir a produção, a burguesia usou e usa da promoção de hábitos higiênicos, campanhas de exercício físico, criação de espaços ao ar livre, implantação do exercício ginástico obrigatório, dando origem ao esporte contemporâneo.

    O esporte contemporâneo possui um caráter mercadológico, comercializável e gerador de lucro, seja pelo espetáculo ou pela prática. Segundo Marques (2007) essa nova concepção do esporte se intensificou após a Guerra Fria e com o desenvolvimento da globalização, ampliando o contato dos indivíduos com as mais variadas formas esportivas e disseminando o acesso ao esporte.

    É evidente, no cenário atual, a característica mercadológica do esporte contemporâneo, especialmente relacionado ao campo da saúde e estética corporal, haja vista a crescente procura por academias de musculação e ginástica; e no campo do lazer, como as atividades de aventura. Com respeito ao âmbito do lazer, o desenvolvimento de diversas modalidades contemporâneas, na sociedade brasileira atual a modalidade que vive o seu auge é o slackline. Caracteriza-se como um esporte contemporâneo, pois sua disseminação se desenvolve e se destaca no meio mercadológico nacional, por meio da compra da fita de equilíbrio, a profissionalização da prática, aulas particulares e a propagação da sua prática no âmbito escolar, nas aulas de educação física.

    A origem desta prática ainda é considerada uma incógnita. Cássaro (2011) apresenta duas vertentes: a primeira refere-se à relação entre o esporte e o circo, visto que os artistas circenses utilizavam a corda bamba para realizarem equilíbrios e movimentos acrobáticos, no período da renascença; a segunda considera que o slackline surgiu na década de 1980, na Califórnia, onde escaladores esticaram suas fitas, fixadas em pontos distintos, utilizando as técnicas de ancoragem e começaram a se equilibrar. Por fim o autor considera que

    O slackline busca o equilíbrio físico e concentração de quem pratica, apresenta ramificações tanto dos escaladores que não tinha condições climáticas para escalar, montavam em árvores, postes, para fixar as fitas e ali praticavam, ou dos artistas do circo como os equilibristas, trapezistas, equilibristas que utilizavam tais gestos motores como forma de apresentação de espetáculo do circo (Cássaro, p.26, 2011).

    Cardozo e Neto (2010) explicam que o esporte já é dividido em seis modalidades trickline (que prioriza acrobacias), waterline (realizado sobre a água), highline (ocorre em alturas superiores a 10 metros), yoga slackline (realização meditação e relaxamento), longline (realizado em fita de grande comprimento, até 50m) e o jumpline (realização de saltos variados). No entanto, nenhum dos autores pesquisados aponta como se deu o desenvolvimento desta divisão da modalidade.

    As muitas interrogações acerca da criação e o desenvolvimento do slackline, nos leva a estabelecer relação entre este esporte e o conhecimento historicamente construído pelo homem. Partindo do mesmo princípio de Leontiev (1978) que a atividade humana fundamental é o trabalho e que o ser social é dotado de uma atividade criadora e produtiva compreendemos que

    Os homens não fazem senão adaptar-se à natureza. Eles modificam-na em função do desenvolvimento de suas necessidades. Criam os objetos que devem satisfazer as suas necessidades e igualmente os meios de produção desses objetos, dos instrumentos às máquinas mais complexas. Constroem habitações, produzem as suas roupas e outros bens materiais. Os progressos realizados na produção de bens materiais são acompanhados pelo desenvolvimento da cultura dos homens; o seu conhecimento do mundo circundante e deles mesmos enriquece-se, desenvolvem-se a ciência e a arte (Leontiev, p. 283, 1978).

    Fundamentadas neste pressuposto compreendemos que é a relação social que permite ao homem o desenvolvimento de suas todas as potencialidades humanas e não a hereditariedade biológica, assim:

    O homem não nasce dotado das aquisições históricas da humanidade. Resultando estas do desenvolvimento das gerações humanas, não são incorporadas nem nele, nem nas suas disposições naturais, mas no mundo que o rodeia, nas grandes obras da cultura humana. Só apropriando-se delas no decurso da sua vida ele adquire propriedades e faculdades verdadeiramente humanas. Este processo coloca-o, por assim dizer, aos ombros das gerações anteriores e eleva-o muito acima do mundo animal (Leontiev, p. 301, 1978).

    Assim, sem nos contrapor a versão de que o esporte surgiu na década de 1980 com os escaladores, compreendemos que as condições que eles estavam submetidos naquele momento permitiu a recuperação desta prática e, portanto, o slackline é resultado de um conhecimento construído pelo ser social, visto que esta prática esportiva nos remete ao equilibrismo circense, que tem seus primeiros desenhos “gravados em pirâmides egípcias” (Silva, Araújo e Gonçalves, 2008), enquanto Gonçalves e Lavoura (2011) relatam a presença de pinturas também na China, há mais de 5.000 anos. Portanto, são os conhecimentos produzidos pelas gerações anteriores que permitiu ao homem o desenvolvimento desta prática esportiva nos moldes em que se apresenta hoje.

    Como na corda bamba do circo, Chaves, Anjos e Souza (2012) explicam que a prática do slackline baseia-se em se deslocar por uma fita instável, recrutando o equilíbrio corporal, durante todo o comprimento e trajeto da mesma, evitando a queda. Porém, “no lugar do cabo de aço utiliza fitas de poliéster estendida entre árvores ou postes” (Pereira, Maschião, 2012, p.2). Em síntese, Ferreira e Euflasino (p. 82, 2012) concluem que “o slackline, também conhecido como corda bamba, significa ‘linha folgada’ e pode ser comparado ao cabo de aço dos circenses, entretanto, a sua flexibilidade permite que sejam feitas manobras e saltos mais inusitados”.

    Xavier (2012) destaca o papel da empresa Gibbon Slacklines, que ao desenvolver e se especializar na fabricação e comercialização de fitas de equilíbrio trouxe um novo conceito para a prática. Hoje a fita é de nylon, estreita e flexível, é possível encontrar fitas com comprimentos entre 10 e 50 metros e com largura entre 25 mm e 50 mm, as quais são tensionada por uma catraca de tensão, também há a comercialização do protetores para árvores (Gibbon Slacklines, 2015).

    Pereira e Maschião (2012), em sua pesquisa, elencam algumas informações que consideram necessárias para a prática do slackline. Segundo os autores é preciso se atentar a colocação correta da fita, bem como verificar sua tensão, proteção das árvores e sistema de segurança com mosquetões e sistema de backup. Quanto à técnica de execução, sugerem que os pés estejam alinhados a fita, os joelhos semiflexionados, manter postura ereta do tronco e da cabeça, os braços estendidos com abdução do ombro e olhos fixos ao fim da fita ou a um ponto fixo. Portanto, esta é a técnica que proporciona maior rendimento na execução desta prática esportiva, visto que a posição dos pés permite ao indivíduo uma maior distribuição de peso e percepção sensorial da fita, a posição dos joelhos possibilita a tensão muscular e controla o centro de massa, já a postura do tronco e dos braços visa à manutenção do equilíbrio, bem como, a recuperação ao desequilibrar-se.

    Para Lima et al (2001, p. 2,), “o equilíbrio é a noção e distribuição do peso em relação a um espaço, tempo e eixo de gravidade” e depende do sistema labiríntico e plantar, visto que o aparelho vestibular torna possível a percepção do movimento da cabeça em relação à gravidade, enquanto a articulação do tornozelo permite, além da mobilidade, a tomada de consciência da superfície de contato.

    Couto, Bernardes e Pereira (2013) explicam que na prática do slackline o equilíbrio envolve os pontos de ancoragem da fita, os pontos de apoio do indivíduo sobre a fita e o centro de massa, alinhados a força gravitacional, visto que na execução do movimento há uma relação entre a dinâmica corporal e a dinâmica externa proporcionada pela elasticidade da fita que se move devido a desequilíbrios e aplicação de forças, o que solicita reconfigurações posturais constantes.

    Diante disto, Barros (2015) relata que durante a travessia da fita os músculos do quadríceps e do glúteo são solicitados e que músculos mais internos e estabilizadores auxiliam no balançar durante a travessia, o que permite ao indivíduo melhora do controle corporal e coordenação motora Salienta, ainda, que a prática envolve diversos grupos musculares, agonistas, que executam o movimento, sinergistas que estabilizam e os antagonistas que se opõem a ação, o que protege de lesões articulares, especialmente no joelho e tornozelo, além de fortalecer a musculatura da cintura pélvica e da região escapular. Neste mesmo sentido, Santos (2013), diz que ao subir na fita sem a utilização de apoio, ocorre fortalecimento muscular, em virtude da extensão das articulações do quadril e do joelho e seus conseqüentes ajustes musculares e movimentos amplos sobre a base instável permite, também, o aumento da flexibilidade.

    Em conjunto com os benefícios fisiológicos, Santos (2013) e outros autores pesquisados verificaram que a prática do slackline produz estímulos proprioceptivos, controle postural, percepção de espaço e localização, o aumento da concentração e foco, desenvolvimento das capacidades cognitivas, como o raciocínio lógico, a capacidade de planejamento, disciplina e determinação, isto é, desejo de vencer desafios e de não desistir, o que motiva os praticantes a novas tentativas, quedas e repetições, reforçando a autoestima e encorajamento quanto ao medo e vergonha, fatores estes que podem afastar o indivíduo do esporte. Neto (2014) relata que a prática do slackline leva a coletividade e ao companheirismo se contrapondo ao sistema capitalista que prega o individualismo.

    No campo da educação física, o slackline se enquadra nos esportes de aventura em ambiente naturais, os quais são caracterizados por práticas vivenciadas na natureza, sob condições de incerteza e risco calculado, que promovam emoções e explorações de diversas possibilidades e educação ambiental, seja no âmbito do lazer, do rendimento e/ou educacional (Cardozo e Neto, 2010).

    No âmbito do lazer, a disseminação desta prática, bem como a disseminação da maioria dos esportes de aventura, se dá como uma forma de ocupar o tempo livre ou tempo de não-trabalho e ao mesmo tempo é uma forma de afastar os indivíduos das pressões vida moderna e das constantes contradições da sociedade capitalista, pois a aventura e o contato com perigo, mesmo que controlado, permite a transgressão das regras rígidas e dos compromissos diários, bem como promove o prazer e liberta o caráter lúdico do ser humano. Portanto, é uma atividade compensatória dos males desta sociedade.

    No campo do alto rendimento, vê-se a ascensão da profissionalização da prática, por meio de campeonatos regionais, estaduais, nacionais e mundiais, especialmente nas modalidades trickline e highline, no entanto não há a regulamentação da profissão. Neste sentido, em maio de 2011 foi criada Federação Mundial de Slackline (WSFED), a princípio em parceria com a empresa Gibbon, parceria esta que foi desfeita no fim do ano de 2014 a fim de manter a neutralidade da instituição. Segundo o site da Federação (WSFED, 2015) o seu objetivo é estabelecer regras, normas e regulamentos comuns em todos os âmbitos de competições, fornecer subsídio a juízes e criar e manter uma lista de classificação internacional, isto é, um ranking mundial. No Brasil, não há uma federação nacional, foi encontrada a presença de federação nos estados do Rio grande do Sul (sendo a primeira do país, criada em 2012), Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Piauí.

    Para subsidiar a prática docente de professores de educação física, a partir de Silva, Poli e Pereira (2013) e dos estudos realizados, elencamos alguns elementos que podem auxiliar durante a intervenção pedagógica:

  • Realizar atividades recreativas que possibilite o equilíbrio estático e dinâmico, como pega pega sobre as linhas da quadra poliesportiva, caminhar sobre uma corda estendida no chão, caminhar sobre uma corda com nós, caminhar sobre banco sueco, caminhar manipulando objetos, realizar exercícios de equilíbrios fora da fita;

  • Realizar exercícios com e sem calçados;

  • Apoiar os pés frontalmente na fita, alinhado a ela; manter os joelhos semi-flexionados, coluna ereta, o abdômen contraído, os ombros alinhados, o queixo levantado e o olhar fixo num ponto único como o final da fita, são formas de atingir o objetivo com mais facilidade.

  • Ao iniciar as atividades sobre a fita é preferível que se tenha o apoio de colegas, estes devem permitir que as mãos de quem executa esteja na altura dos próprios ombros; em princípio o apoio deve ser feito segurando as mãos de quem executa, depois manter contato apenas das ponta dos dedos ou de um dos dedos da mão com a palma da mão dos colegas que estão auxiliando o trajeto sobre a fita; o apoio de uma pessoa de cada lado da fita, também é eficiente, visto que é possível oferecer a mão como apoio caso o praticante sinta a necessidade do apoio para controle corporal e desequilíbrio;

  • Também é importante proporcionar desafios como equilibrar-se sobre um dos pés apenas, tocar uma das mãos no chão sem perder o equilíbrio, andar de olhos fechados, sentar sobre a fita, bem como dar a oportunidade dos praticantes criarem novas possibilidades de execução.

  • Subir na fita, a partir do chão, requer um grau de controle motor um pouco elevado, em virtude da combinação feita pela instabilidade da fita, centro de gravidade e o controle sobre a articulação do joelho. Assim, uma opção é a colocação de um banco no início do Slackline e começar a movimentação a partir dele, o que facilita o posicionamento do corpo.

  • Orientar sobre questões de segurança, como a montagem e tensionamento da fita, realização de backup.

  • Proporcionar experiências históricas, como praticar atividades na corda bamba, bem como relacionar a prática com suas raízes circenses.

  • Possibilitar o reconhecimento dos componentes biológicos que envolvem a prática do slackline, como grupos musculares e articulações trabalhadas, consciência corporal, sistema vestibular, equilíbrio estático e dinâmico, etc...

  • Conhecer as modalidades do esporte, seus elementos técnicos, manobras e regras no âmbito competitivo.

  • Realizar reflexões em grupo que ressaltem o valor histórico do slackline, propiciando a crítica aos valores mercadológicos com os quais a prática está imbricada, como processo comercialização da fita de equilíbrio, aulas particulares, profissionalização da prática.

Conclusões

    Os dados apresentados no presente trabalho, por meio do levantamento bibliográfico, propicia algumas conclusões e reflexões sobre os muitos fatores com os quais a prática do slackline está imbricada e que podem subsidiar a intervenção de professores de educação física.

    Em nossa concepção a modalidade esportiva slackline remonta ao equilibrismo circense e os moldes em que apresenta hoje é fruto de um conhecimento construído historicamente pelo ser social, visto que o homem se apropria do conhecimento já desenvolvido e a partir dele cria novas possibilidades. Assim é possível compreender que a corda bamba do circo foi substituída por uma fita de nylon flexível, pois esta possibilita mais e inúmeras formas de movimentação e exercitações.

    Na prática do slackline, é possível verificar contribuições psicomotoras como fortalecimento muscular da região pélvica e dos membros inferiores, fortalecimento das articulações do quadril, joelho e tornozelo, melhora do sistema vestibular, aumento da concentração e consciência corporal. Estudos também apontam benefícios relacionados ao aumento da autoestima, superação de desafios, ajuda ao próximo, encorajamento e companheirismo.

    O sistema econômico e mercadológico está intimamente ligado à disseminação desta prática, podemos citar o papel importante da empresa Gibbon com o desenvolvimento e comercialização de fitas de equilíbrio, no patrocínio de competições e na criação da federação mundial de slackline, com vistas à profissionalização esportiva. Seguindo a lógica capitalista, esta prática torna o momento de lazer ou a ocupação do tempo livre dos indivíduos mais uma forma de consumo, seja pela compra da fita ou pela busca por aulas particulares, além de ser uma tentativa de fugir contraditoriamente do sistema imposto pela sociedade.

    Com o intuito de subsidiar o trabalho dos professores de educação física, apontamos alguns elementos técnicos e pedagógicos que podem auxiliar durante a intervenção pedagógica. Vale ressaltar que o slackline é uma prática histórica, portanto um elemento constitutivo da cultura corporal, que pode contribuir para a formação humana, promovendo o desenvolvimento integral e formação política de crianças e adolescentes e a compreensão crítica, já que nela está presente, as próprias contradições econômicas, políticas e sociais desta forma de sociabilidade.

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