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Os jogos circenses nas aulas de Educação Física no ensino fundamental

Los juegos circenses en las clases de Educación Física en la escuela primaria

 

*Licencianda em Educação Física pela Universidade Federal de Lavras – UFLA

**Licenciado em Educação Física. Mestre e Doutor em Educação pela USP

e atualmente é professor Adjunto III do Departamento de Educação Física

da Universidade Federal de Lavras – UFLA

(Brasil)

Angélica de Souza Silva*

aa.lima.2@hotmail.com

Patrícia Oliveira Ferreira*

pati_o_f@hotmail.com

Prof. Dr. Fabio Pinto Gonçalves dos Reis**

fabioreis@def.ufla.br

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do presente estudo é apresentar a perspectiva do uso das artes circenses no âmbito escolar, designadamente nas aulas de Educação Física no Ensino Fundamental, analisando possibilidades e dificuldades ao ensinar as mesmas. Neste estudo há o relato de um projeto de artes circenses que possuiu duração de três meses, realizado em uma escola pública de Lavras-MG através Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). Ao longo do projeto houve uma ruptura da aversão dos discentes acerca de conteúdos que não se restrinjam apenas ás práticas desportivas.

          Unitermos: Escola. Educação Física. Artes circenses.

 

Recepção: 24/12/2014 - Aceitação: 16/02/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 202, Marzo de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Entre as manifestações mais antigas, encontra-se o circo, grande parte da população com certeza já presenciou alguma apresentação envolvendo qualquer conteúdo existente nesse ambiente, seja o malabarismo, equilibrismo, acrobacias ou qualquer outra atividade.

    O objetivo do presente estudo é apresentar a perspectiva do uso das artes circenses no âmbito escolar, designadamente nas aulas de Educação Física no Ensino Fundamental, analisando possibilidades e dificuldades ao ensinar as mesmas.

    Os professores dessa área devem ver essas práticas circenses não só como uma forma de entretenimento, pois ao passar do tempo essas práticas conquistaram seu papel educativo, constituindo-se como elemento da cultura corporal de movimento, havendo uma relação do homem com o movimento de seu próprio corpo.

    É relevante destacar que existe o aumento do interesse do professor de Educação Física pelas artes circenses que é destacado no trecho de Borboleto e Machado (2003):

    No Brasil, a inclusão das atividades físicas circenses também começa a dar seus primeiros passos. Há notícias da existência de escolas públicas e privadas em algumas regiões (São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro, etc.) que já incluem as atividades circenses como conteúdo da Educação Física em diferentes níveis, graças principalmente à ação de profissionais que se sentem sensibilizados com esta questão por já terem vivido algum tipo de experiência nesta área (p. 45).

    De tal modo, mesmo que muitos profissionais ainda não tiveram nenhum contato com esse tema, cabe a eles irem atrás de recursos, para que, assim como as danças, lutas, jogos, esportes e brincadeiras, as práticas circenses também se torne um conteúdo que enriquece o trabalho do professor.

    Perante isso, pode-se constituir uma reflexão diante das atividades circenses como componente propagador da cultura corporal, beneficiando o acesso a um componente cultural a ser admirado, analisado e vivenciado para que, em um futuro próximo os alunos possam desfrutar desse conhecimento adquirido através da educação física escolar, mesmo sem ter as aulas de Educação Física.

    Para isso, é imprescindível que os professores sejam capacitados para auxiliar o acesso dos alunos ao conhecimento do circo, sendo a formação de professores o espaço beneficiado para a concretização de vivencias sobre esse tema.

    Dessa forma, segundo Ayala e Melo (2012), com uma didática adequada decorrente de uma capacitação do profissional preparado para inovar e modificar suas práticas, partindo de uma suposição teórica que engrandece a capacidade do profissional ultrapassar os padrões pré-estabelecidos pelas instituições de ensino, que são aceitas sem nenhuma adivinha por conta do conforto de alguns professores, pode criar uma interação maior como seus alunos e a comunidade que os cerca, desde que o professor tenha a responsabilidade de se dedicar e ousar em recriar seu campo de trabalho.

    No entanto, este presente trabalho trata-se de um relato de experiência acerca de um projeto abordando o tema artes circenses, do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), desenvolvido com duas turmas do ensino fundamental, segundo e terceiro ano, durante as aulas de Educação Física em uma escola do município de lavras. O objetivo do projeto foi possibilitar oportunidades de experimentação e vivências das crianças em diversos conteúdos existentes no circo. Além de apresentar as possibilidades de utilização das artes circenses no contexto educacional, lembrando-se que devido à falta de infraestrutura da escola para a prática dessas atividades propostas, foi essencial a ressignificação de materiais para tornar possível essa vivência.

    No entanto, segundo Fontes (2010), as artes circenses propõem a arte do corpo, enquanto manifestações artísticas, ou seja, manifestação que despertam interesse e deslumbre para os espectadores e para os artistas, pois se trata de um espetáculo baseado no movimento e nas expressões corporais integradas ao divertimento, fundamentando-se nos conhecimentos e cultura em que estão inseridas.

    Outro aspecto importante é que o professor não deve priorizar somente o físico dos discentes em seus projetos, mas também trabalhar com o intelecto dos mesmos, levando sempre em consideração que nem todos os alunos apreciam determinadas atividades. Dessa forma, é necessário que as aulas sejam mais produtivas para todos os alunos e, conseqüentemente terem os seus objetivos alcançados. Oliveira (2001, p.89) afirma que é fundamental compreender que as atividades são meio e não fim e que "é importante que as pessoas se movimentem tendo consciência de todos os seus gestos. Precisam estar pensando e sentido o que realizam" (Oliveira, 2001, p.96).

    Batista (2001, p.16) afirma que "alguns professores de Educação Física sentem necessidade do conhecimento teórico, o qual é fundamental, para se fazer uma adaptação dessas idéias para a parte prática". Assim, ao trabalhar as artes circenses, é necessário adaptações devido à faixa etária, considerando também o conhecimento prévio dos alunos, pois levando em considerações as crianças, muitas delas já realizam movimentos inclusos no circo em seu dia-a-dia, como é o caso de acrobacias: estrelas, cambalhotas, etc.

    Contudo, é necessário, "redimensionarmos os espectros do conhecimento a ser (re)conhecido pelos profissionais da área, de modo a garantir que a cultura corporal [de nossos alunos] seja apreendida como dimensão significativa da sua realidade social complexa" (Castellani Filho, 1998, p.51);

Metodologia

    O projeto teve duração de aproximadamente três meses, totalizando onze encontros, com os alunos do ensino fundamental, nas aulas de Educação Física durante as tardes de quarta-feira. A metodologia durante todos os encontros permeou da seguinte forma: uma conversa inicial com a apresentação do tema que seria trabalhado e as atividades a serem desenvolvidas pelas crianças; a retomada de conteúdos anteriores para ampliar a organização da atividade; a aplicação do tema proposto; o acompanhamento das sugestões feitas pelos alunos; e, por fim, uma reflexão e alguns questionamentos à turma do que foi realizado. Sendo que as aulas sempre eram divididas em fase inicial, principal e final. Lembrando-se que, a cada aula, era realizada pelas bolsistas uma avaliação diagnóstica do conhecimento dos alunos sobre o tema.

    No primeiro encontro, a fase inicial da aula constou de uma apresentação das bolsistas e do PIBID (Projeto de Iniciação à Docência) aos alunos, com explicação da importância do mesmo no âmbito escolar, além de sugestões de atividades que os discentes gostariam de realizar durante o projeto. Na fase principal, foi realizada uma dinâmica relacionada a algumas imagens para que as crianças distinguissem o que pertencia ao circo ou não. Para isso, foi construída uma tenda de circo feita de cartolina e para explorar um pouco o conhecimento da turma em relação ao tema, procurou-se figuras semelhantes, como por exemplo, uma bicicleta própria do circo e uma de esporte, uma cartola de mágico e um chapéu comum, objetos para malabares e jarros de flores parecidos, acrobacias e ginástica comum, entre outras. Durante esta atividade foi possível realizar um levantamento do conhecimento que a turma já possuía sobre as artes circenses. Assim, após as atividades houve uma conversa final sobre a aula e abertura de espaço para as crianças opinarem sobre quais os elementos dos circos que elas tinham vontade de vivenciar, levando em consideração o interesse dos alunos e suas experiências anteriores.

    No segundo encontro, para despertar o interesse dos alunos, houve a construção de uma apresentação de fantoches para contar a história do circo de uma forma diferenciada do convencional. Contudo, foram feitos personagens de papel, incluindo: palhaços, equilibrista e malabarista, além de um pai e a uma filha que iriam até o circo para iniciar a história. Essa aula foi muito proveitosa, pois ocorreu uma interação maior entre os alunos e as bolsistas durante a apresentação, e as últimas conseguiram passar o conteúdo proposto de maneira que os alunos conseguiram refletir e entender o que seria trabalhado durante esses três meses.

    No terceiro encontro, iniciaram-se as aulas práticas. O primeiro elemento escolhido para ser trabalhado foi o equilibrismo, pois através de um planejamento pedagógico prévio, conteúdos foram articulados de maneira gradativa e se tratando do equilíbrio, é essencial para a maioria das apresentações encontradas no circo. Com isso, foi realizado um circuito envolvendo brincadeiras com bambolês, elástico (representando a corda bamba), colchonetes para as acrobacias e pedaços de madeiras (manipulação e equilíbrio de objetos). Cabendo ressaltar, que o intuito desde circuito não foi reprodução de gestos técnicos, mas sim, apropriação de conteúdos significativos acerca do equilibrismo.

    No quarto encontro, ocorreu um momento onde as crianças exploraram os objetos levados para a aula, sendo eles, “tules” para malabares. O intuito era trabalhar mais elementos nesse dia, mas como as crianças, protagonistas das aulas em questão, estavam sendo muito criativas, houve a flexibilidade de deixá-las conhecer mais o que elas mesmas eram capazes de inventar, estimulando sua criatividade, porém o processo foi sempre mediado pelas bolsistas. As crianças nos surpreenderam, desde equilibrismo, até acrobacias surgiram nesta aula. Uma das situações que mais marcou foi uma menina que conseguia jogar o tule para o alto, realizar uma estrela e pegar o objeto antes de chegar ao chão.

    No quinto encontro, os próprios alunos confeccionaram os objetos que seriam utilizados na aula, chamado baragandão. Dedicaram-se bastante na fabricação e à medida que iam terminando o seu, auxiliavam os demais colegas que ainda não haviam terminado. Logo em seguida, os alunos exploraram os movimentos que podiam ser realizados com o baragandão e as bolsistas estimularam a criatividade dos discentes através de algumas dicas do que poderiam acrescentar.

    No sexto encontro, foram construídas ‘bolas’ recicladas de sacolas plásticas e bexiga com alpistes; e ‘claves’ feitas de garrafinha de plástico. No entanto, a sala foi dividida em grupos para todos poderem ter contato com os diferentes materiais. No final da aula, foram formadas duplas para os alunos praticarem o malabares com claves. Foi perceptível que as crianças tiveram muita dificuldade para manipular as garrafinhas, mas algumas duplas conseguiram criar estratégias para tal atividade, utilizando até mesmo, mais de uma clave.

    No sétimo encontro, programou-se uma atividade mais diversificada. Levando as crianças para a praça em frente à escola, para que elas pudessem vivenciar algo semelhante à corda bamba. Com isso, foram montamos dois Slacklines com a ajuda de um monitor, da Universidade Federal de Lavras, que já praticava há algum tempo e tinha um conhecimento das estratégias para praticar essa atividade. No inicio, ele fez uma lacônica apresentação sobre da onde surgiu e fez uma demonstração de como se manter em cima do Slackline. Assim, todas as crianças participaram e gostaram bastante desse elemento do circo e a cada tentativa, iam conseguindo andar sem ajuda das bolsistas, a partir da construção de suas próprias técnicas durante a prática.

    No oitavo encontro, o elemento escolhido foi o trapézio. Como não havia nada semelhante na escola que poderia ser utilizado para essa aula, foram utilizadas duas cordas e canos de PVC que foram amarradas ao gol da quadra. Portanto, com a ajuda das bolsistas, as crianças conseguiram fazer movimentos bem complexos. Elas subiam no trapézio escalando na rede do gol e viravam de cabeça para baixo sem o auxilio das mãos. Como forma de proteção, colocamos colchonetes no chão e as bolsistas mediaram o processo o tempo todo. Para que as crianças não precisassem esperar muito tempo para ter acesso ao trapézio, ocorreu uma divisão da turma em dois grupos, enquanto um estava explorando as possibilidades que o trapézio proporciona, o outro grupo estava realizando atividades que já haviam sido passadas em aulas anteriores e que possuíam vínculo com a atividade em questão vivenciada.

    Na nona aula, demos o início às acrobacias. As crianças vivenciaram movimentos de estrela, equilibrar em três apoios e rolamento com e sem bambolê. Alguns alunos realizaram os movimentos com muita facilidade e outros não conseguiram, sendo um dos principais motivos, o medo. Nesse dia, foi perceptível que as práticas circenses podem ser trabalhadas em qualquer lugar, pois devido à chuva, uma das turmas realizou as atividades dentro da sala e isso não impediu o decorrer da aula, que fluiu da mesma forma que a primeira turma. Podemos ressaltar que foi até melhor, pois a acústica da quadra dificultava a comunicação com a turma, o que difere da sala que já é um ambiente mais controlado.

    Na décima aula, ocorreu uma demonstração de um vídeo da Turma do Chaves em que mencionava o circo. Nele mostrava vários elementos, inclusive o malabarismo, corda bamba, acrobacias, equilibrismo, trapezistas e principalmente a presença de animais como parte das apresentações que agora se tornou proibida. As crianças gostaram bastante e conseguiram relacionar o vídeo com as vivencias que eles tiveram nas aulas anteriores.

    No décimo primeiro encontro, as crianças fizeram desenhos para representar o que elas haviam aprendido durante o projeto. Apesar de muitas delas quererem desenhar igual ao colega que estava sentado ao lado, cada um inseriu os aspectos que haviam sido significativos aos mesmos e esses trabalhos serviram para as bolsistas avaliarem se realmente elas conseguiram apropriar-se dos conteúdos apresentados.

    Durante todo o projeto, houve a preocupação por parte das bolsistas sobre relembrar os conteúdos vivenciados, solicitando sugestões de propostas que atendessem suas necessidades durante o desenvolvimento do projeto. E o mais interessante, foi que no final de todas as aulas, os próprios alunos avaliavam a mesma através de um adesivo de carinha feliz ou triste. Assim, se caso a carinha fosse triste nós, as bolsistas, perguntávamos o porquê não havia gostado da aula e diante da resposta do aluno, procurávamos modificar a metodologia. Através desse método, descobrimos até problemas existentes em diversas aulas, pois os alunos sentiam-se mais seguros em se expressar, ou seja, a interação professor/aluno era intensificada quando comparada a outros momentos, uma vez que cada criança, individualmente, tinha a oportunidade de declaração. Cabe salientar também que estimulávamos os alunos a solucionarem os impasses presentes nas aulas, através de reflexão das diversas situações. Além de explorar a autonomia e criticidade individual na busca de soluções dos problemas do cotidiano.

    Para finalizá-lo, houve um encontro na escola em que todas as professoras apresentaram os projetos desenvolvidos e o projeto de artes circenses foi incluído nesse evento. O melhor de tudo foi poder mostrar para a escola e para a comunidade que as práticas circenses realmente são conteúdos educativos e que só enriquece o currículo escolar.

Considerações finais

    Neste estudo foi constatado que ainda se faz presente, por parte dos discentes, uma resistência aos elementos da cultura corporal de movimento que não se restringem apenas aos desportos tradicionais como o vôlei e futebol, sendo este o desporto que mais exerce fascínio no Brasil e por esta razão é extremamente solicitado nas aulas de Educação Física. Porém, é relevante que as crianças possuam um ambiente propício à experimentação e vivências diversificadas. Uma preocupação das bolsistas era que todos os discentes conseguissem realizar as atividades de forma a evitar a exclusão, independentemente das habilidades, gênero e capacidades físicas. Fato alcançado ao transcorrer do projeto, através de um planejamento pedagógico prévio e flexível permitindo redefinições. Ao longo das aulas proporcionadas, houve uma ruptura desta aversão, onde os alunos adotaram uma nova postura frente às mesmas, em que o conteúdo era trabalhado de forma diferenciada. Os discentes foram os protagonistas no processo de construção do conhecimento, participando efetivamente ao suceder das aulas que traziam diversas problematizações e indagações as crianças, levando-os ao exercício da reflexão e pensamento crítico dos elementos expostos vinculados aos interesses e experiências anteriores dos mesmos, favorecendo uma construção de autonomia.

    As artes circenses foram trabalhadas priorizando um enriquecimento social e cultural das crianças, e não a reprodução de gestos técnicos. Houve empecilhos para execução deste projeto, como a infraestrutura, que já foi citado, mas através de aulas organizadas e fundamentadas foram descobertas diversas formas de ressignificação e construções alternativas para solucionar tais problemas. Contudo, pode-se assegurar que para um acadêmico tornar-se um bom professor é imprescindível o domínio do conhecimento teórico, mas com uma articulação do mesmo com a prática que é possibilitada pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). Dessa forma, conhecimento e experiência serão construídos gradualmente através de experimentação e vivências acerca de novos projetos.

Referências

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