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Repensando a prática pedagógica: as atividades circenses
como conteúdo possível de ser trabalhado nas aulas
de Educação Física. A visão docente

Repensando la práctica pedagógica: las actividades circenses como contenido

posible a ser trabajado en las clases de Educación Física. La mira del docente

 

*Graduado em Educação Física. Docente da rede municipal

de ensino de Ponta Porá, Mato Grosso do Sul

**Mestre em Educação Física pela Universidade de São Paulo

Docente e Coordenador do curso de Educação Física da Universidade Federal

do Mato Grosso Sul (UFMS). Câmpus do Pantanal

Corumbá, Mato Grosso do Sul

Diego José Pereira Ayala*

Rogério Zaim de Melo**

diegoayala1985@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este trabalho teve como objetivo refletir, junto a profissionais de Educação Física, sobre uma proposta pedagógica e didática das atividades circenses como conteúdo possível de ser ministrado nas aulas de Educação Física escolar. Para isso, partiu-se de uma revisão de literatura, caracterizando uma discussão densa entre professores. O circo deixou de ser uma atividade unicamente profissional, e atualmente suas modalidades têm sido praticadas por muitas pessoas como forma de lazer e recreação, com fins estéticos e de condicionamento físico, para fins sociais e educativos. Esses fatores implicam em varias discussões com intuito de ilustrar o processo didático-pedagógico de atividades oriundas do universo do circo em cada um desses âmbitos e na formação de profissionais que atendam a essa demanda. Com base nas reflexões desenvolvidas, chegou-se a conclusão de que a vivencia de atividades circenses nas aulas de Educação Física poderá enriquecer a experiência previa dos alunos e professores, a fim de contribuir para sua formação humana discutindo alguns aspectos da dinâmica histórico-cultural da arte do Circo dentro da sociedade, privilegiando seu processo educativo e formativo passiveis de ser incluídos nas aulas e na escola.

          Unitermos: Didática. Educação Física. Capacitação profissional.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 172, Septiembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O circo é uma das manifestações artísticas mais antigas do mundo. Qual ser humano nunca sentiu frio na barriga em ver o vôo de um trapezista? Sorriu com a piada de um palhaço? Ficou curioso com as habilidades de um mágico? Sentiu vontade de fazer malabarismo com bolinhas? Equilibrar-se na corda bamba ou até mesmo em pernas de pau? Seus saberes acumulados ao longo do tempo, ora empregados apenas com caráter de entretenimento, passaram a ser visto com outros olhares, assumindo com o passar dos tempos um papel educativo. Suas modalidades exigem uma reestruturação da relação: o homem com o seu corpo e o movimento. Por esses e outros fatores as atividades circenses são fecundas para a Educação Física Escolar.

    Os profissionais de Educação Física são pessoas capacitadas a trabalhar com os mais diferentes elementos da cultura corporal (dança, luta, jogo, esporte, ginástica), e as atividades circenses é um elemento plausível a ampliar e enriquecer as possibilidades de trabalho desse profissional, sobretudo no âmbito escolar, pois o mesmo apresenta-se com um local privilegiado para o desenvolvimento humano e seu acesso a sociedade, inerente a produção e reprodução do conhecimento.

    Diante disso, pode-se estabelecer uma reflexão acerca das atividades circenses como elemento disseminador da cultura corporal, favorecendo aos mesmos o acesso a um componente cultural a ser apreciado, debatido e vivenciado para que, em um futuro próximo os alunos, mesmo sem as aulas de Educação Física, esses possam usufruir desse conhecimento adquirido através da educação física escolar.

    Para isso, é indispensável que os professores de Educação Física sejam capacitados para viabilizar o acesso dos alunos ao conhecimento acerca do circo, sendo a formação de professores o espaço privilegiado para a realização de vivencias e reflexões sobre esse tema.

    Assim com uma didática correta decorrente de uma capacitação do profissional disposto a inovar e reestruturar sua práxis, partindo de um pressuposto teórico, filosófico que enaltece a capacidade do profissional transpor paradigmas esportivistas pré estabelecidos pelas instituições de ensino, que são acatadas sem nenhum problema por conta da comodidade de alguns professores, podendo criar uma interação maior como seus alunos e a comunidade que os cerca, desde que o mesmo tenha a responsabilidade de se dedicar e ousar em recriar seu campo de trabalho.

    Para concretizar essa idéia escolheu-se uma pesquisa de campo como suporte metodológico e professores de educação física na cidade de Ponta Porã – Mato Grosso do Sul, a pesquisa se caracterizou com uma aplicação de um questionário referente ao que os profissionais conheciam sobre atividades circenses, se era possível uma didática adequada para que as mesmas se efetivassem e se os profissionais se interessariam em uma capacitação (cursos, mini-curso, oficina.) na área.

    Os resultados obtidos permitem dizer que sonhar com o circo na escola é perfeitamente possível, basta o professor ser comprometido, estudar muito e ter acima de tudo muita forca de vontade.

1.     A didática como ferramenta necessária à formação do professor

    Libâneo (1994) coloca a didática como uma atividade pedagógica escolar, onde a mesma investiga a natureza das finalidades da educação como processo social, a didática coloca-se para assegurar o fazer pedagógico na escola, na sua dimensão político, social e técnica, afirmando daí o caráter essencialmente pedagógico desta disciplina. Define assim a didática como mediação escolar entre objetivos e conteúdos do ensino.

    Estabelecendo, mais alguns termos fundamentais nesta estruturação escolar, a instrução como processo e o resultado da assimilação sólida de conhecimentos; o currículo como expressão dos conteúdos de instrução; e a metodologia como conjunto dos procedimentos de investigação, quanto a fundamentos e a validade das diferentes ciências, sendo as técnicas recursos ou meios de ensino seus complementos.

    Sintetizando, os temas fundamentais da didática que se apresentam como: Os objetivos sócio-pedagógicos; Os conteúdos escolares; Os princípios didáticos; Os métodos de aprendizagem; As formas organizadas do ensino; Aplicação de técnicas e recursos; Controle e avaliação da aprendizagem.

    Mostrando que a aprendizagem escolar aparece como um processo de assimilação de determinados conhecimentos e modos de ação física e mental. Significando que podemos aprender conhecimentos sistematizados, hábitos, atitudes e valores. Neste sentido, temos o processo de assimilação ativa que oferece uma percepção, compreensão, reflexão e aplicação que se desenvolve com os meios intelectuais, motivacionais e atitudes do próprio aluno, sob a direção e orientação do professor. Podemos ainda dizer que existem dois níveis de aprendizagem humana: o reflexo e o cognitivo. Isto determina uma interligação nos momentos da assimilação ativa, implicando nas atividades mentais e praticas.

    Segundo (Gil, 2008) para que o aprendizado seja mais proveitoso, deve o docente se ocupar de dominar e desenvolver habilidades pedagógicas, além de aprimorar sua visão de mundo, de cidade, de cientista e educador, ajustáveis as necessidades de sua função. De modo que o professor deve abandonar aquela velha posição de figura inatingível e senhor de todo o conhecimento para adotar uma postura preocupada em identificar as necessidades e aptidões de seus alunos. Deve agir como um fio condutor do conhecimento, incentivando os alunos a desenvolver seus próprios pensamentos e opiniões.

    Desenvolvendo no educador um papel fundamental de moldar cidadãos e prepará-los para os desafios da vida e do magistério do ensino superior. Incumbindo dessa forma que o educador tenha certa sensibilidade em motivar seus alunos, para que se desperte o interesse ao conhecimento. Sob essa ótica, deve o professor reter técnicas pedagógicas, os conhecimentos específicos da matéria e motivação.

    Dessa forma toda e qualquer disciplina encontrada no âmbito escolar e no ensino superior deve ser gradativamente critica e reflexiva, preparando os profissionais a trabalhar nos mais diversificados setores, ampliando seu conhecimento, transformando-o não em um detentor do saber, mas sim um facilitador do mesmo, implicando o desenvolvimento de valores intrínsecos em suas ações pedagógicas.

2.     Como acontece a Educação Física na Escola

    Quando pensamos em Educação Física, logo imaginamos em exercícios físicos, jogos, esportes e competições. Nossos pais falavam em ginástica. Nossos alunos mais velhos em jogar bola e nossos alunos mais novos em brincar ou simplesmente sair da sala. Mas, devemos pensar que esse componente curricular vai muito, além disso, pois o professor elege sua pratica, dentro de uma perspectiva que deve corresponder às exigências do processo de construção da função social e cultural da Educação Física n contexto escolar.

    Como disciplina escolar, a Educação Física é uma das “entidades culturais” da escola. Nessa condição assume o caráter especifico desse lugar, encarnando-o. Noutras palavras, ela é uma propriedade e um produto do ambiente escolar: a ele se define nele se constitui e se realiza (Vago, 2003, p. 215).

    De acordo, com o professor Victor Hugo em uma publicação de seu blog a Educação Física atualmente tem como objeto de estudo “o homem em movimento” e pode ser entendida como uma área que interage com o ser humano em sua totalidade, englobando aspectos biológicos, psicológicos, sociológicos e culturais e a relação entre eles. Uma boa aula se desenvolveria quando as metas traçadas pelo professor poderiam se desenvolver no preparo físico dos alunos (aspecto biológico), aumentar sua auto-estima através da realização do movimento (aspecto psicológico), melhorar sua sociabilização (aspecto sociológico), realizar atividades conhecidas e aceitas naquela região (aspecto cultural) e, por ultimo, relacionar esses aspectos, lembrando que todos seriam trabalhados praticamente ao mesmo tempo. Acrescento a fala deste professor o homem em movimento “em um mundo que se movimenta constantemente”.

    A Educação Física no corpo escolar segundo Soares, Taffarel,Varjal, Castellani, Escobar e Bracht (1992) se apresenta em duas perspectivas a do desenvolvimento da aptidão física e da reflexão sobre a cultura corporal – no âmbito de suas matrizes pedagógicas.

3.     A Educação Física e seus saberes trabalhados

    A Educação Física se desenvolve de maneira cultural e historicamente construída pela sociedade, pautada pelo que a mídia explora como é o caso da pratica esportiva, onde todos vendem uma imagem de melhora e ascensão social através dos esportes, que de certa forma é uma maneira mais ampla da cultura de movimento. Sendo os esportes, as danças, as artes marciais/lutas, as ginásticas e os exercícios físicos produtos de consumo e objetos de informações amplamente divulgados ao publico. Jornais, revistas, rádio, televisão e internet difundem informações sobre atividades físicas e esportivas, tendo relações com a saúde determinando alguns significados.

    É nesse sentido que a Educação Física trata da cultura relacionada aos aspectos corporais, que se expressa de diversas formas, dentre as quais os jogos, a ginástica, as danças e atividades rítmicas, as lutas e os esportes apresenta uma variabilidade dos fenômenos ligados ao corpo onde movimentar-se é ainda mais importante quando se pensa na pluralidade dos modos de viver contemporâneos. Enquanto a Educação Física pautou-se unicamente pelo referencial das ciências naturais, ela pode afirmar categorias absolutas em relação às manifestações corporais humanas, sob o argumento de que corpos biologicamente semelhantes demandam intervenções também semelhantes ou padronizadas.

    No ensino da Educação Física escolar, pode-se partir do variado repertorio de conhecimentos que os alunos já possuem sobre diferentes manifestações corporais e de movimento, buscando aprofundá-los e qualificá-los criticamente. Dessa maneira espera-se levar o aluno, ao longo de sua escolarização e após, a melhores oportunidades de participação e uso dos conhecimentos oferecidos e desenvolvidos ao longo da vida escolar.

    Tradicionalmente nas aulas de Educação Física o professor trabalha apenas com desportos coletivos, raramente com esportes individuais. Embora recentemente os documentos oficiais que regem a Educação Física brasileira – os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) apresentem uma nova configuração para esse modelo, nos estágios supervisionados realizados durante o curso de Educação Física foi possível verificar que na esfera prática a mudança ainda não aconteceu.

    Observa-se comumente, a predominância do Esporte como conteúdo único e hegemônico nas aulas de educação física, o que acaba por reduzir o universo da cultura corporal, circunscrevendo-o ao contexto cultural norte-americano e/ou europeu, em detrimento das potencialidades que podem ser exploradas ao propor a vivência de práticas corporais oriundas da diversidade cultural de povos que constituem nossas raízes (BENTO, CORREA citados por Ferreira, 2000).

    A configuração desses documentos apresenta um avanço para a área, mas ainda deixa uma lacuna, como por exemplo, não explora manifestações pouco trabalhadas nas universidades. Dentre as quais se destaca as atividades circenses, oriundas do circo que trazem consigo uma magia peculiar capaz de contagiar todos os alunos.

4.     Mas o que é a Educação Física afinal?

    A Educação Física é uma área do conhecimento e intervenção que lida com a cultura corporal do movimento, objetivando a melhoria qualitativa das praticas constitutivas daquela cultura mediante referenciais científicos, filosóficos e pedagógicos (BETTI, 2001). E essa cultura corporal do movimento pode ser entendida como uma parcela da cultura em geral que abrange formas culturais historicamente construídas em um simbolismo, que se defende no exercício da motricidade humana que na Educação Física é vivenciada através do jogo, do esporte, das ginásticas e práticas de aptidão física, das atividades rítmicas/expressivas e da dança, das lutas e das artes marciais e das práticas alternativas.

    Na escola a Educação Física tem por finalidade introduzir e integrar o aluno no âmbito da cultura corporal do movimento tendo como ótica formar o cidadão que possa usufruir, compartilhar, produzir, reproduzir e transformar as formas culturais no exercício de sua motricidade (IBID).

    Daólio (2003) diz que a Educação Física escolar se apresenta numa perspectiva cultural, e é a partir deste referencial que a consideramos a como uma parcela da cultura corporal, ou seja: ela se constitui numa área de conhecimento que estuda e atua sobre um conjunto de práticas ligadas ao corpo e ao movimento, criadas e efetivadas pelo homem ao longo de sua história.

    Segundo Betti (1992), é tarefa da Educação Física, preparar o aluno para ser um praticante lúdico e ativo, que incorpore as práticas da cultura corporal em sua vida, para delas tirar o melhor proveito possível. É preciso preparar o cidadão que vai aderir aos programas de ginástica, esporte, etc., em instituições públicas e privadas, para que possa avaliar a qualidade do que é oferecido, e identificar as práticas que melhor promovam sua saúde e bem estar.

    Para Betti (1994) a Educação Física deve, progressiva e cuidadosamente, conduzir o aluno a uma reflexão crítica que o leve à autonomia no usufruto da cultura corporal do movimento. Formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, instrumentalizando o exercício crítico da cidadania e da melhoria da qualidade de vida.

5.     Atividades circenses, seus saberes preliminares

    O circo é uma das manifestações artísticas mais antigas do mundo. Quem nunca sorriu com a piada de um palhaço? Sentiu frio na barriga em um vôo do trapezista? Ficou curioso com as habilidades do mágico? Sentiu vontade de manusear as claves? Por esses e outros fatores as atividades circenses são fecundas para a Educação Física escolar.

    Na literatura já é possível encontrar estudos que demonstram a aplicabilidade de atividades oriundas do circo nas aulas de Educação Física. Claro e a Prodócimo (2005) em seu trabalho a arte circense como conteúdo da educação física escolar, trazem uma proposta na qual seus objetivos foram analisar a viabilidade e a adequação da arte circense como conteúdo da educação física escolar, além de contribuir para a discussão de uma metodologia para o ensino da mesma. Eles afirmam que a arte circense deve ser tratada pela educação física como um saber relativo à cultura corporal a ser trabalhado com os alunos, de maneira que possamos promover a compreensão, valorização e apropriação desta manifestação artística, através de uma abordagem que também possibilite, a cada aluno, a descoberta de suas possibilidades físicas e expressivas.

    Já Bortoleto e Duprat (2007) em um de seus artigos trazem a importância de identificar o conhecimento prévio de nossos alunos, identificando o que eles sabem sobre a arte do Circo ou algum aspecto dela inerente, e possibilitar a eles que a compreensão deste fenômeno seja ampla e consistente, pois o que sabemos é que ela é muito sedutora. Que seja assim por muito mais tempo, mas que nossos alunos saibam de onde partir e trilhem novos caminhos e possibilidades para onde querem chegar. Este é o papel do educador, dar subsídios para que nossas crianças sejam autônomas e conscientes de seus atos.

    Duprat (2007) em sua dissertação de mestrado expõe que o profissional da área de educação física tenha uma fundamentação histórica e crítica em relação aos conteúdos a ser trabalhado dentro de sua aula, então a Atividade Circense entra como divisor de águas, mostrando que se é possível romper com paradigmas estabelecidos pela educação física rotineira. Tendo como intenção oferecer este conhecimento, integrante da cultura corporal universalmente produzida, como conteúdo regular da disciplina de educação física transformando-a.

    Para tanto é preciso esclarecer que as atividades circenses são diferentes práticas encontradas dentro da instituição circo, sendo divididas em categorias ou agrupamento de técnicas como: Atividades aéreas, Equilíbrio, técnicas de encenação, Acrobacias e Manipulação de objetos.

    Mas tentar classificar fidedignamente as atividades circenses é uma tarefa árdua, pois existe uma grande variedade de modalidades e técnicas, De acordo com Bortoleto e Duprat (2007), podem ser classificadas em relação às ações motoras gerais e ao tipo e tamanho de materiais empregados.

Figura 1. Classificação das modalidades circenses de acordo com as ações motoras gerais

Figura 2. Classificação das modalidades circenses de acordo com o tamanho do material

    A arte circense exerce certo fascínio por sua plasticidade e efeito visual a quem assiste e aos que praticam, torna-se então uma pratica tentadora para superação de limites, por vivenciar o corpo em maneiras diversas e propor inúmeros desafios a serem explorados e vencidos, apresenta-se justificável na educação física, pois o campo de estudo da mesma defende a vivencia da cultura corporal do movimento, em uma análise superficial e observando as tabelas acima descritas podemos levar em consideração a aplicabilidade das modalidades no âmbito escolar se orientando pela segunda tabela na qual nos propõe uma visão mais realista, pelo fato da escola ser uma instituição limitada muitas vezes não há condições de fazer uso pedagógico de atividades de grande porte por apresentar problemas em relação ao seu deslocamento e por serem de custo alto, já às atividades de porte médio não apresentam o problema do deslocamento embora tenha um valor aquisitivo pouco alto também, sem contar que ambas necessitam certas condições como infraestrutura, segurança adequada e capacitação profissional.

    Assim as modalidades que necessitam de pouca infra-estrutura, como as que utilizam materiais de tamanho pequeno e as que não utilizam nenhum tipo de material, são consideradas mais acessíveis a uma aplicabilidade na escola, permitindo ser construída com material de baixo custo e praticada de maneira simples, sem apresentar riscos à integridade física dos praticantes, exigindo uma infra-estrutura básica e não sendo de difícil execução. Proporcionando assim uma Educação Física diversificada, e enriquecida com uma amplitude no repertório motor e cultural dos alunos promovendo uma variação das ações corporais.

6.     Reflexão sobre o circo na Educação Física

    Mas pensar no circo como conteúdo das aulas de educação física é romper com um paradigma pré-estabelecido, no qual nos impõe apenas os conteúdos encontrados nos Parâmetros Curriculares Nacionais para serem trabalhados nos distintos anos da vida escolar desde a educação infantil ao ensino médio e até mesmo no ensino superior, não nos permite atividades que estimulem o desafio e a segurança do aluno.

    Desde que as atividades circenses não são reconhecidas como conteúdo programático a começar pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB. E passando pelas Universidades que não tem em seus currículos atividades circense, mesmo em universidades que tenham o curso de artes cênicas na maioria das vezes as atividades circenses também não são contempladas enquanto disciplina da grade curricular. Na contramão dessa visão aparecem os grupos e as trupes de artistas que vão aos teatros, aos aniversários, praças e aos meios de comunicação trabalhar tendo o circo como linguagem artística, causando encantamento e prazer. Com o uso dessa linguagem e destes artifícios, surge então um elo entre o papel e a função da educação, ganhando uma ressignificação sustentada na implementação de estudos e atividades que contribuem para uma revalorização de conceitos, ampliando o conhecimento cultural e social da população.

    É impossível não reparar na expressiva expansão das praticas circenses na sociedade não sendo apenas o lócus de artistas, mas sim de outros profissionais, embora essa expansão esteja acontecendo e as produções cientificas acerca do circo venham crescendo, observa-se em sua grande parte artigos voltados a questão histórica com intuito de preservação do patrimônio cultural da humanidade. Embora, os estudos acadêmico-científicos sobre o fenômeno circenses ainda representam um universo extremamente reduzido, o que sugere a distância e o descaso que historicamente se construiu entre esse tipo de prática corporal artística, originalmente utilizada exclusivamente para o entretenimento, a Educação Física (SOARES, 1998).

7.     Metodologia da pesquisa e resultados obtidos

    O presente estudo teve o objetivo de verificar se professores de Educação Física na educação básica da rede estadual de ensino de Mato Grosso do Sul vislumbraram as atividades circenses como conteúdo passiveis de serem aplicados em suas aulas.

    Para atingir esse objetivo realizou-se uma pesquisa de natureza qualitativa, do tipo descritiva, tendo como instrumento de pesquisa um roteiro questionário aplicado a professores, ministrantes de aulas nas cidades de Antonio João, Aral Moreira e Ponta Porã, MS, totalizando 16 docentes (09 mulheres e 07 homens), sendo 08 atuantes apenas no Ensino Fundamental e o restante nas demais modalidades de ensino (Educação Infantil, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos).

    O questionário possuía 05 questões abertas e 01 questão fechada que versavam sobre o conhecimento da modalidade / atividades circenses; a aplicação das atividades na escola; e as habilidades desenvolvidas por essas modalidades.

    Os dados obtidos foram submetidos à análise do conteúdo e categorizados:

  1. Quanto à utilização das modalidades circenses na aula: 08 professores nunca ouviram falar sobre as modalidades empregadas na escola. Isso se justifica principalmente por que os estudos sobre o emprego das atividades circenses na Educação Física Escolar são relativamente novos no Brasil e a mesma não é estudada no ensino formal (graduação) em Educação Física.

  2. Modalidades conhecidas pelos professores: foram citados 12 tipos de modalidades (malabarismo, equilibrismo, trapézio, acrobacias entre outras). O malabarismo destaca-se normalmente pela destreza e por exercer fascínio em quem esta assistindo.

  3. Habilidades/capacidades físicas desenvolvidas: para os professores as modalidades desenvolvem a agilidade, a resistência muscular localizada, a coordenação motora ampla, o equilíbrio, a flexibilidade, a força e o ritmo. Todos os docentes apontaram a curiosidade de saber mais sobre como empregar as atividades oriundas do universo circense em suas aulas.

Considerações finais

    As modalidades circenses desenvolvem além das capacidades físicas o poder de superação, visto que depende apenas de quem está praticando. Portanto, é uma realidade urgindo assim a necessidade da sua inclusão nas Instituições de Ensino Superior que ofertam licenciatura ou bacharelado em Educação Física, quer seja por meio de cursos de extensão ou na sua matriz curricular, não apenas com caráter demonstrativo. Outro fator, que deve ser levado em conta, à quantidade de estudos existentes é mínimo, e devem ser aumentados e sistematizados, visando romper o empirismo e estabelecer um estatuto científico para o assunto.

    No decorrer de todo o processo da pesquisa foi possível perceber que o Circo, e por conseqüência suas atividades, é mágico. Dessa forma caracterizando que o objetivo inicial deste trabalho foi comprovado: é possível sonhar com atividades circenses realizadas na escola. Para tanto, se faz necessário estudos e coragem por parte dos docentes desenvolverem uma didática correta e clara o suficiente para enfrentar o inusitado, principalmente na busca de um embasamento teórico que dê suporte para a sua prática, como fora apontado pelos professores que responderam ao questionário.

    Este estudo não termina aqui, faz se necessário que novas pesquisas que envolvam atividades circenses aconteçam, envolvendo novas técnicas e novas metodologias didático/pedagógicas.

    Se o palhaço é a alma do circo, com certeza o Professor de Educação Física é a alma da escola a união dos dois nas aulas é algo fantástico que deveria ser constantemente explorado.

Referencias bibliográficas

  • BETTI, M. Educação Física e Sociedade. São Paulo: Movimento, 1991.

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  • DUPRAT, R. M; BORTOLETO, M. A. Educação Física escolar: pedagogia e didática das atividades circenses. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 02, n. 28, p. 171 – 190, Jan. 2007.

  • PRODÓCIMO, E. Picadeiro da escolar: o circo como conteúdo na educação física escolar. Motriz: Revista de Educação Física da UNESP. São Paulo: Editora Unesp, v. 11, n. 01, Suplemento Jan./Abr. 2005, p. 58 – 59.

  • SOARES, Carmen Lúcia. Imagens da Educação no Corpo. Ed. Autores Associados, Campinas – SP, 1998.

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  • GIL, Antônio Carlos. Didática do Ensino Superior. São Paulo: Atlas, 2008.

  • LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

  • VAGO, T. M. A Educação Física na cultura escolar: discutindo caminhos para a intervenção e a pesquisa. In. BRACHT, V.; CRISORIO, R. (Orgs.) A Educação física no Brasil e na Argentina: identidade, desafios e perspectivas. Campinas: Autores Associados, 2003.

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