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Exercício físico e Síndrome de Down: um estudo de revisão

Ejercicio físico y Síndrome de Down: un estudio de revisión

 

*Doutoranda em Promoção da Saúde – Unifran.

**Mestranda em Promoção da Saúde - Unifran

***Docente do curso de Mestrado e Doutorado em Promoção da Saúde – Unifran

(Brasil)

Lilian Cristina Gomes do Nascimento*

Mônica Cecília Santana Pereira*

Juliana Ribeiro Gouveia Reis*

Vitória Regina de Morais Cardoso Rodrigues**

Marina Candida Lopes**

Helena Siqueira Vassimon***

Maria Georgina Marques Tonello***

liliangomes@hotmail.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Na atualidade há maior interesse sobre pessoas com necessidades especiais, nesse aspecto pode-se destacar pessoas com Síndrome de Down, alteração genética do cromossomo 21, sendo esta aneuplodia mais comum que leva a um atraso global no desenvolvimento e características físicas, estruturais e cognitivas específicas. Incentivar a pratica regular da atividade física destaca-se como ação importante na área da saúde publica para promoção da saúde. A prática regular de atividade física, bem orientada, trás melhoras em relação à estrutura óssea, composição corporal e a saúde de uma forma geral, proporcionando inclusive um incremento na qualidade de vida da população como um todo. Espera-se que tais benefícios também possam a ser ofertados aos indivíduos com SD, entretanto são necessários maiores averiguações a respeitos de prováveis evidências quantos aos resultados a esta população, em especial aos advindos de treinamentos resistidos.

          Unitermos: Síndrome de Down. Exercício físico. Promoção em saúde.

 

Abstract

          At present there is greater interest in people with special needs, this aspect can highlight people with Down syndrome, genetic disorder of chromosome 21, which is most common aneuploidy that leads to a global developmental delay and specific physical, cognitive and structural characteristics. Encourage regular practice of physical activity stands out as important action in the area of public health to health promotion. A regular, targeted, physical activity behind improvements in relation to bone structure, body composition and health in general, including providing an increase in the quality of life of the population as a whole. It is expected that such benefits may also be offered to individuals with DS, however larger investigations are required to respect the evidence how likely the results to this population, especially those arising from resistance training.

          Keywords: Down Syndrome. Physical exercise. Health promotion.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 196, Septiembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Nos últimos anos surgiu um relevante aumento do interesse referente às particularidades sobre pessoas com necessidades especiais. Neste cenário merece destaque a síndrome de Down (SD), tamanha relevância, deve-se ao fato desta síndrome ser a mais frequente entre todas as síndromes cromossômicas existentes (MOREIRA, EL-HANI, GUSMÃO, 2000; Dierssen, 2012).

    Indivíduos com SD apresentam atraso global no desenvolvimento acarretado por características físicas, estruturais e cognitivas específicas (Roizen, Patterson, 2003). Mesmo frente às dificuldades sabe-se que as pessoas com SD quando estimuladas e atendidas adequadamente, têm potencial para responder positivamente aos programas de atividade motora e desenvolver suas aptidões físicas e a saúde como um todo (GIMENEZ, 2007).

    Tendo em vista a importância do tema, o objetivo desta revisão é divulgar os prováveis efeitos da prática de exercício físico regular para a promoção da saúde de crianças e jovens com SD. Esta análise é de grande relevância científica e clínica, pois pretende fornecer subsídios para uma melhor compreensão dos efeitos, em especial, do treinamento resistido em relação ao fortalecimento muscular, composição corporal e qualidade de vida destes indivíduos.

2.     Referencial teórico

2.1.     Deficiência

    Segundo a World Health Organization – WHO (Organização Mundial da Saúde) (1980) deficiente é todo indivíduo que apresenta qualquer perda ou anomalia em uma estrutura na função psicológica, fisiológica ou anatômica. A incapacidade constitui qualquer restrição ou falta de habilidade decorrente de uma deficiência para desempenhar uma atividade na forma pré-esperada ou dentro do intervalo considerado normal para um ser humano.

    O Censo 2010 mostrou que quase 24% da população brasileira possui algum tipo de deficiência, seja visual (18,6%), auditiva (5,1%), motora (7%) ou mental/intelectual (1,4%), sendo ainda estimado que 8,3% da população brasileira apresentam ao menos um tipo de deficiência severa (BRASIL, 2012a). No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012b), existem cerca de 300 mil pessoas com SD, onde a cada 600 a 800 nascimentos, uma criança tem esta alteração genética, independentemente de etnia, gênero ou classe social. A estimativa global da incidência da SD é de 1 em 1000 a 1 em 1200 nascimentos vivos (BERTOTI, 2008).

2.2.     Síndrome de Down

    A síndrome de Down é a mais frequente entre todas as aneuplodias que levam a retardo mental (Dierssen, 2012). É uma alteração genética em que o indivíduo apresenta um cromossomo a mais no par 21, em todas ou na maior parte das células de seu corpo, onde são retratados três tipos de problemas: trissomia 21 livre (ou simples), a translocação ou o mosaicismo (Mutton, Alberman, Hook, 1996; ROIZEN, PATTERSON, 2003). Nesta síndrome também chamada "Trissomia do 21", a presença deste cromossomo extra na constituição genética determina características físicas, estruturais e cognitivas específicas, que acarretam em atraso global no desenvolvimento (FERNHALL, MENDONÇA, BAYNARD, 2013). As causas que levam a esta alteração cromossômica não foram totalmente esclarecidas, mas pode ser constatada uma maior prevalência em crianças com pais em idades avançadas, pais acima de 55 anos e mães acima de 35 anos (Nakadonari, SOARES, 2007).

    Entre as características físicas mais comuns em pacientes com SD, estão: hipotonia, cabeça pequena, microcefalia, dobras epicantais para cima, ponte nasal plana, fissuras palpebrais oblíquas, manchas de Brushfield, boca pequena, orelhas pequenas, excesso de pele na nuca, prega palmar transversal única, mãos pequenas, quinto dedo com clinodactilia, aumento do espaçamento entre o primeiro e segundo dedo dos pés entre outras (Sanmaneechai et al., 2013; Hill et al., 2012; BULL et al, 2011).

    A presença destas distinções está distribuída em diferentes proporções nesta população, a hipotonia muscular, por exemplo, está presente em quase todos os recém-natos com SD, tendendo a diminuir com a idade (DEY et al., 2013). No entanto, o tônus muscular é uma característica individual e apresenta variações de uma criança para outra.

    Além destas características físicas específicas, existe um conjunto de alterações que exigem especial atenção e necessitam de exames específicos para sua identificação como: risco significativo de perda de audição (75%); apnéia obstrutiva do sono (50% -79%); otite média (50% - 70%); doença ocular (60%), incluindo cataratas (15%) e erros de refração graves (50%); cardiopatias congênitas (50%); disfunção neurológica (1% - 13%); atresias gastrointestinais (12%); luxação do quadril (6%); doenças da tireóide (4% - 18%) dentre outras (BULL et al, 2011).

    No entanto, apesar das dificuldades sabe-se que as pessoas com SD quando estimuladas e atendidas adequadamente, têm potencial para uma vida saudável e de inclusão social. Apesar dos avanços e conquistas já alcançados por estes indivíduos, comparado a outras deficiências e doenças, ainda é muito escasso o apoio às pesquisas referentes à SD.

2.3.     O exercício físico e a promoção da saúde

    Recentemente alguns países desenvolveram políticas visando iniciativas para a regularização e implementação dos direitos dos deficientes, visto a grande necessidade de incentivos a esta parcela da população. Tais iniciativas representam uma reflexão e um progresso em relação à maior consciência da população na busca por minimizar as diferenças e expandir as igualdades de direitos.

    O incentivo à prática regular da atividade física vem se destacando como importante ação na área da saúde pública, na forma de programas e campanhas em prol de estilos de vida mais ativos (WHO, 2002). No Brasil foi desenvolvido o Plano de Ações Estratégicas para enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis 2011-2022 o qual define e prioriza ações visando enfrentar e deter as DCNT que constitui um problema de saúde pública correspondendo a 72% dos casos de morte. A Promoção da Saúde é um dos eixos do plano que destaca a prática de atividade física e a alimentação saudável como um dos caminhos contrários ao sedentarismo, a obesidade e as DCNT (BRASIL, 2011).

    Pode-se observar que cada vez mais aumenta a preocupação com a saúde e bem estar das pessoas com deficiências, sendo a atividade física um dos meios mais utilizados para este propósito. Como exemplo no Brasil, tem-se a aprovação da Política Nacional de Promoção da Saúde (BRASIL, 2006), a qual preconiza ações que promovam estilos de vida mais saudáveis, e estabelece o estímulo a inclusão de pessoas com deficiências em projetos de práticas corporais e atividade física como fator de proteção contra os riscos que ameaçam a saúde.

    O desenvolvimento de comportamentos e posicionamentos favoráveis à saúde em todas as etapas da vida e a todas as pessoas, encontra-se entre os campos de ação da promoção da saúde. Sendo imprescindível à propagação de orientações sobre a educação para a saúde. Segundo a WHO (2002), a prevenção não está relacionada apenas ao uso de estratégias no combate dos fatores de risco da doença, mas também, em impedir o progresso e reduzir as suas consequências, uma vez estabelecida a doença.

2.4.     Exercício físico e a Síndrome de Down

    A prática da atividade física regular tem sido apontada como uma relevante ação na área da saúde pública incentivando ações de promoção da saúde e hábitos de vida mais saudáveis (BRASIL, 2011; FERREIRA, NAJAR, 2005). Tem-se o treinamento resistido (TR), exercício voltado para o incremento das funções musculares por meio da aplicação de sobrecargas (FRONTERA et al, 1988), como um importante auxiliador para tal alcance, inclusive para a saúde de crianças e jovens. Não restam dúvidas quanto aos benefícios do TR para população e que programas adequados auxiliam na maturidade física e emocional, além de seguros e promotores de melhorias nas habilidades motoras, bem estar psicossocial e resistência a lesões (ROBERTS, 2002).

    A baixa taxa de formação óssea apresentada pelos pacientes com SD, somado ao fato que estes apresentam, com o envelhecimento, um agravamento da baixa densidade mineral óssea aumenta o risco de fraturas nestes indivíduos (McKelvey et al., 2013). Sendo assim, torna-se claro a necessidade de uma intervenção precoce, e esta deve ocorrer de preferência ainda na infância por meio de cuidados preventivos como a prática de atividade física regular e uma alimentação saudável, visando prevenir o risco de fraturas devido a fragilidades ósseas (Fergeson et al., 2009; SMITH, TEO, SIMPSON, 2013).

    Recentemente foi demostrado que 21 semanas de um programa de exercício foi capaz de aumentar a massa óssea em jovens com síndrome de Down (GONZALEZ-AGÜERO et al, 2012). Entretanto, são necessários mais estudos onde haja um maior número de indivíduos com SD, assim como a avaliação de parâmetros frente ao uso de diferentes protocolos de treinamentos.

    O aumento da adiposidade caracterizado por uma maior porcentagem de gordura corporal durante a infância e adolescência, constitui um fator de risco para o desenvolvimento prematuro de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) como doenças cardiovasculares e diabetes mellitus tipo 2 (GOING et al, 2011; Tirosh et al., 2011). Embora alguns estudos clínicos (Hawn et al., 2009; Loveday, Thompson, Mitchell, 2012) indiquem que uma característica comum de jovens com SD é possuir obesidade moderada, a composição corporal em crianças e adolescentes com síndrome de Down não foi suficientemente estudada e não se apresenta totalmente esclarecida (Gonzalez-Agüero et al., 2011).

    Cerca de 50% dos indivíduos com SD tem algum tipo de doença cardíaca congênita, entretanto mesmo os que não cardiopatas, ao apresentar-se com características tais como maior gordura corporal, menor massa muscular e acentuada hipotonia muscular, tendem a exibir disfunção autonômica cardíaca ou incompetência cronotrópica. Ressalta-se, contudo, que este quadro pode ser melhorado por meio do exercício físico aeróbico (Giagkoudaki et al, 2010; BULL et al, 201 1).

    Encontra-se bem elucidado na literatura que programas de treinamento físico melhoram a composição corporal em crianças e adolescentes saudáveis. É fato constatado em estudos científicos que o ideal seria substituir o sedentarismo por um tempo dedicado à atividade física moderada para impedir o aumento da massa de gordura e da obesidade em crianças e adolescentes (ARA et al., 2010; PEREIRA, MOREIRA, 2013), entretanto vale ressaltar que mais estudos são necessários para verificar a abrangência de tais benefícios em grupos com SD.

    Há um descondicionamento extremo presente entre os indivíduos com SD, acredita-se que tal despreparo encontra-se associado à falta de motivação para a realização de exercícios (Tanaka, 2013). É evidente que crianças e jovens com SD se deparam com limitações para a prática de atividade física, estas podem ser de caráter físico (cardiopatias, doenças respiratórias, problemas articulares, hipotonia muscular entre outros), mas existe também as limitações como a discriminação e super proteção dos pais. (Guerra, Llorens, Fernhall, 2003).

3.     Considerações finais

    O exercício físico regular reduz o risco de doenças crônicas entre os indivíduos em geral e pode também reduzir estas nos grupos com SD. Todavia encontra-se pouca informação de caráter científico sobre a prática regular de atividade física nesta população, o que demonstra a necessidade de mais estudos que abordem o tema.

    Não restam dúvidas sobre os benefícios do TR para a saúde de crianças e jovens, e que programas adequados à maturidade física e emocional são seguros e promovem melhorias nas habilidades motoras, no bem estar psicossocial e na resistência a lesões (Benedet et al, 2013). No entanto, ainda não existe consenso na literatura a respeito das variáveis de treinamento (intensidade, número de séries e repetições, intervalo de recuperação, frequência, velocidade da ação, seleção e ordem dos exercícios) ideais para crianças e jovens com SD.

    Supomos que o exercício físico resistido pode ser considerado um “tratamento ideal” para crianças e jovens com SD, já que este tipo de treinamento interfere em vários pontos de mecanismos fisiopatológicos destes indivíduos. No entanto, até o momento, são poucos os específicos, avaliando os efeitos de um treinamento físico resistido seguro e eficaz, para melhora do fortalecimento muscular, da composição corporal e qualidade de vida em crianças e jovens com SD. Sugerimos que estudos experimentais sejam desenvolvidos relacionando treinamento resistido e esta população, proporcionando maiores evidências para uma compreensão dos possíveis benefícios advindos.

Referências

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