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Especialização precoce no esporte

La especialización precoz en el deporte

 

Estudante do curso de Bacharelado em Educação Física

da Universidade de Caxias do Sul

(Brasil)

Felipe Dondoni

dondonif@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Revisando a literatura e artigos, o presente estudo busca os benefícios e malefícios na especialização precoce no esporte e como o mesmo pode ser evitado na formação esportiva das crianças.

          Unitermos: Especialização precoce. Esporte. Iniciação esportiva.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 196, Septiembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    O desenvolvimento humano inicia desde a tenra idade, quando o bebê já tem seus primeiros sentidos “ativados” no mundo externo em que vivemos, desde então vive em uma constante evolução, onde é na fase da infância que desenvolverá sua consciência corporal de forma mais intensa.

    Esta evolução da consciência corporal na infância de maneira geral poderá ser muito desenvolvida com brincadeiras e jogos, é neste momento onde entra o esporte na infância, sendo este um marco na vida de qualquer criança: a iniciação esportiva.

    O esporte para a criança é normalmente uma relação entre jogos e lazer/brincadeiras e para a sua família, geralmente uma relação entre atividade física e futuro profissional, entre estes dois há o treinador que deverá transitar e trabalhar estes aspectos, sem interferir no desenvolvimento corporal, intelectual e emocional da criança.

    Neste contexto em muitas escolas esportivas ocorre uma inversão de objetivos quando se trata de iniciação esportiva, estas levam muitas vezes como prioridade os objetivos dos treinadores, segundamente dos pais e por fim os interesses das crianças, sendo esta realidade prejudicial à criança causando diversos malefícios, entre eles a especialização precoce no esporte.

    Portanto presente artigo tem por objetivo buscar na literatura sobre a especialização precoce no esporte, como ocorre o mesmo, quais são os benefícios e malefícios e como pode ser evitado na evolução esportiva infantil.

2.     Desenvolvimento

2.1.     Iniciação esportiva

    Algumas centenas de milhões de crianças estão envolvidas na prática de uma modalidade esportiva em todo o mundo (BECKER e TELOKEN, 2000 apud FILGUEIRA, 2005, p. 1).

    A iniciação esportiva é e sempre será um marco na vida de uma pessoa, seja esta iniciação de forma positiva ou negativa.

    Segundo Ramos e Neves (2008, p. 2) “o termo iniciação esportiva é conhecido mundialmente como um processo cronológico no transcurso do qual um sujeito toma contato com novas experiências regradas sobre uma atividade físico-esportiva”. A iniciação esportiva tem como objetivo o desenvolvimento da criança, sem competições regulares, podendo ser praticado uma ou mais modalidades (SANTANA, 2005 apud RAMOS e NEVES, 2008).

    “Tradicionalmente, a iniciação esportiva é o período no qual a criança começa a aprender, de forma específica, a prática de um ou vários esportes”. “A iniciação esportiva é o período em que a criança começa a aprender de forma específica e planejada a prática esportiva [...] contudo, é necessário que se conheçam e respeitem suas características para que ela não seja transformada em um mini-adulto” (RAMOS e NEVES, 2008, p. 2).

    Almeida (2005) apud Ramos e Neves (2008) defende que a iniciação esportiva deve ser dividida em três estágios.

    O primeiro deles, chamado de iniciação desportiva propriamente dita, ocorre entre oito e nove anos. Nessa fase, o objetivo do treinamento é a aquisição de habilidades motoras e destrezas específicas e globais, realizadas através de formas básicas de movimentos e de jogos pré-desportivos.

    A iniciação esportiva deve ser dividida em três estágios. O primeiro ocorrendo entre os 8 e 9 anos, chamado de iniciação desportiva, tendo como objetivo a aquisição de movimentos globais e habilidades motoras, sendo trabalhado através de jogos pré-desportivos (ALMEIDA, 2005 apud RAMOS e NEVES, 2008).

    O segundo ocorre entre os 10 e 11 anos, onde a criança aperfeiçoa o que trabalhou no estágio anterior e aprende a trabalhar em grupo com cooperação e colaboração. Nesta fase já é introduzido elementos táticos e técnicas gerais, juntamente com regras através de jogos lúdicos (ALMEIDA, 2005 apud RAMOS e NEVES, 2008).

    Já a terceira etapa é entre os 12 e 13 anos e é chamada de introdução ao treinamento, tendo grande desenvolvimento intelectual e físico, sendo trabalhado os sistemas táticos, qualidades físicas e aperfeiçoamento de técnicas individuais da criança. (ALMEIDA, 2005 apud RAMOS e NEVES, 2008).

    Estas faixas etárias são excelentes para atividades esportivas melhorando assim o repertório motor, introduzir elementos psicossociais permitindo a socialização e momentos de cooperativismo através de jogos e brincadeiras (ALMEIDA, 2005 apud RAMOS e NEVES, 2008).

2.2.     Especialização precoce

    Na atualidade as crianças que iniciam em um esporte estão tendo certos problemas com a questão de especialização precoce no mesmo, ela pode ocorrer quando a criança começa muito cedo no esporte e seus treinamentos ficam muito focados em uma só posição ou função dentro do esporte escolhido, podendo ocasionar sérios malefícios, mas também certos benefícios.

    Segundo Ramos e Neves (2008, p. 1) “a especialização precoce é o termo utilizado para expressar o processo pelo qual crianças tornam-se especializadas em um determinado esporte mais cedo do que a idade apropriada para tal”.

    Especialização precoce é quando as crianças aprofundam seus conhecimentos técnicos, táticos e físicos em certo esporte, em uma idade não condizente com este tipo de aprofundamento (BARBANTI, 2003 apud BARBIERI, BENITES e MACHADO, 2007).

    A prática intensa, sistematizada e regular de crianças antes do momento adequado, tendo treinos não adequados e utilização de sistemas de adultos em crianças e jovens é considerado especialização precoce (AÑÓ, 1997 apud RAMOS e NEVES, 2008).

    Para Barbieri, Benites e Machado (2007, p. 3) “a especialização precoce define a prática intensa, sistematizada e regular de crianças e jovens antes das idades consideradas oportunas”. Já Santana (2004) apud Leite (2007) acredita que “é quando a criança faz, sistematicamente, um único tipo de esporte e encontra aulas que não são diversificadas”.

    A especialização esportiva tem como característica treinos muito intensos com inúmeras repetições do mesmo movimento com o objetivo de aprimorar a técnica específica do esporte, levando ao esgotamento prematuro do rendimento, fugindo das necessidades da criança e indo de encontro aos objetivos dos adultos, criando uma barreira no desenvolvimento da criança/adolesceste (MARQUES, 1999 apud BARBIERI, BENITES e MACHADO, 2007; NASCIMENTO, 2005, p. 3; VINHÃO, 2009 apud DONDONI e PERINI, 2014).

2.3.     Benefícios e malefícios da especialização precoce

    Em toda prática esportiva há o ônus e o bônus, dentro da especialização precoce esportiva há autores onde defendem que esta especialização traz benefícios para a criança e por outro lado outros defendem que ocorrem malefícios. De acordo com Bento (2006) apud Barbieri, Benites e Machado (2007) “o treinamento precoce pode melhorar a auto-estima, a segurança e a sociabilidade, acreditando que os exercícios físicos e o esporte são de fundamental importância para um bom desenvolvimento físico, psíquico e social da criança.”

    O esporte competitivo proporciona desenvolvimento físico, emocional e intelectual da criança/adolescente, desenvolvendo também a autoconfiança e comportamento social (FÉDÉRATION INTERNATIONALE DE MÉDECINE SPORTIVA, 1997 apud BARBIERI, BENITE E MACHADO, 2007).

    Já pelo lado dos prejuízos com a iniciação precoce na infância, alguns deles são: estresse de competição, saturação esportiva, lesões, formação escolar deficiente, unilateralização de desenvolvimento, reduzida participação em jogos e brincadeiras infantis, desistência do esporte, entre outros.

     A prática intensa de um esporte competitivo ocasiona uma especialização precoce e traz possíveis riscos em quatro grandes áreas que são riscos de tipo físico, psicológicos, motrizes e riscos de tipo esportivo (VOSER, 2007 apud DONDONI e PERINI, 2014).

    A desistência do esporte é algo comum quando tratamos de especialização precoce e alguns fatores são determinantes para isto como, sobrecarga exagerada nos treinos tornando-os árduos e maçantes trazendo assim a falta de motivação, ausência de maturidade para trabalhar com cobranças e consciência corporal limitada para executar gestos mais técnicos (NASCIMENTO, 2005).

    Para Nascimento (2005, p. 3) “é comum surgir o desinteresse por parte dos jovens esportistas, em virtude de decepções, cobranças e frustrações, que refletem para uma evasão precoce do esporte” [...] “muitas crianças e jovens, com grande potencial na prática esportiva, dedicam tempo e esforços em função de resultados e conquistas e desistem de alcançá-los antes de chegar à fase adulta”.

    Então neste processo de especialização precoce acreditamos que sempre há mais malefícios do que benefícios, visto que a maioria de seus benefícios também são encontrados em um processo de aprendizagem condizente com a realidade da criança, por exemplo, a sociabilização, desenvolvimento físico e intelectual.

    Com a mídia como “incentivadora” do esporte e os empresários por traz de tudo, o que se vê são atletas que despontam muito cedo e logo desaparecem, sucumbindo através de seu estado psíquico não mantendo seu rendimento. A mídia expõem estes atletas quando em um único torneio se destacam e são ovacionados como um novo Pelé” (BARBIERI, BENITES e MACHADO, 2007).

    A valorização da vitória e da derrota e fracasso, desfiles e troféus, são fatos difíceis para a criança lidar, principalmente quando a mesma não possui personalidade formada, tendo assim uma instabilidade emotiva (ARAÚJO, 1985 apud FILGUEIRA, 2005).

    “As cobranças podem ser internas e externas. As primeiras dizem respeito à cobrança do próprio indivíduo sobre o seu desempenho (autocobrança), e as cobranças externas são as dos pais, dos professores e da torcida” (FILGUEIRA, 2005, p. 3).

    Para Santana (2004) apud Leite (2007) “nesse tipo de treinamento, a criança é pressionada a comportar-se como alguém que não é. É o tipo de situação inútil, que leva os professores a tomarem o tempo dos outros de ser criança”.

    A prática correta de esportes trás inúmeros benefícios na infância como a força muscular, flexibilidade, sistema cardiorrespiratório, entre outros, mas também há os malefícios onde um trabalho muito precoce pode acarretar lesões, fraturas, um não desenvolvimento geral, limitando a criança a desenvolver habilidades específicas e não gerais, tornando assim seu processo de desenvolvimento motor precário e desmotivando o mesma para a prática de esportes (DONDONI e PERINI, 2014).

2.4.     Como evitar a especialização precoce

    A especialização precoce na infância faz parte da realidade das escolas esportivas atuais, evitar esta especialização é necessário para que não ocorram prejuízos para as crianças e como conseqüência desistências precoces no esporte.

    Alguns autores relatam que há como evitar esta especialização precoce, para Costa (1997) apud Rodrigues e Clemente (s.d.), “o treinamento com crianças deve ter uma preparação generalizada, em que o desenvolvimento é multilateral, propiciando maior variação de movimentos de modo a evitar a especialização precoce”.

    Num programa de treinamento envolvendo crianças, a elaboração dos conteúdos e métodos de trabalho devem ser voltadas para essa população, visando uma preparação generalizada de modo a evitar a especialização precoce (RODRIGUES e CLEMENTE, s.d., p. 13).

    Já Oliveira e Paes (2004, p. 1) acreditam que “se deve evitar, nos jogos desportivos coletivos, as competições antes dos 12 anos, as quais exigem a perfeição dos movimentos ou gestos motores e também grandes soluções táticas”. Os mesmo autores complementam que “deve-se evitar a apreensão com a execução errônea do gesto técnico, pois cada forma diferente de movimento em relação ao modelo técnico pode ser aceita, deixando para a fase posterior às cobranças em relação à perfeição dos gestos motores”.

3.     Conclusão

    Acreditamos que o esporte de forma geral traz inúmeros benefícios para qualquer indivíduo, contudo devem ser respeitadas as fases de evolução do mesmo, principalmente as crianças que estão em processo de evolução corporal, intelectual e comportamental.

    É necessário aos técnicos terem o cuidado com a especialização precoce em um só esporte ou em uma só função dentro de um esporte, para que não ocorra um aprendizado motor limitado, sendo uma fase onde a criança deve ter uma evolução corporal e cognitiva de uma forma mais ampla.

    Aos pais cabe a sensibilidade de não sobrecarregar as crianças (estas em processo de evolução), passando assim seus anseios para mesmas, criando uma grande valorização nas vitórias e derrotas, onde em muitos momentos os fracassos se sobressaem, pois a criança não possui personalidade formada, sendo difícil lidar com estes fatos.

    Concluímos que é importante haver cada vez mais estudos sobre este assunto, também as pessoas envolvidas com o esporte em geral tenham um real cuidado com o fato da especialização precoce não ser uma constante na pratica esportiva das crianças, a partir daí acreditamos que o esporte trará mais benefícios do que já traz para as crianças que o praticam.

Referências

  • BARBIERI, Fabio A.; BENITES, Larissa C.; MACHADO, Afonso A. Especialização precoce: Algumas implicações relacionadas ao futebol e futsal. Especialização Esportiva Precoce: Perspectivas Atuais da Psicologia do Esporte – Jundiaí, SP: Fontoura, 18/09/2007 – 19:27.

  • DONDONI, Felipe; PERINI, Matheus. Desenvolvimento motor em crianças: benefícios e prejuízos da atividade física. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 190, Mar. 2014. http://www.efdeportes.com/efd190/beneficios-e-prejuizos-da-atividade-fisica.htm

  • FILGUEIRA, Fabrício M. Objetivos dos pais em relação à prática do futebol na iniciação. Pós-graduação "Lato Sensu" em Futebol - UFV. Apresentado no 3° congresso Científico Latino-Americano de Educação Física – UNIMEP, R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 1, p. 96- 110, 2005.

  • LEITE, Werlayne S. S. Especialização precoce: os danos causados as crianças. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 113, Out. 2007. http://www.efdeportes.com/efd113/especializacao-precoce-os-danos-causados-a-crianca.htm

  • NASCIMENTO, Ainda C. L. M. do. Pedagogia do esporte e o atletismo: considerações a cerca da iniciação e da especialização esportiva precoce. Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, 2005.

  • OLIVEIRA, V.; PAES, R. R. A pedagogia da iniciação esportiva: um estudo sobre o ensino dos jogos desportivos coletivos. EFDeportes.com, Revista Digital, Buenos Aires, Nº 71, Abr. 2004. http://www.efdeportes.com/efd71/jogos.htm

  • RAMOS, Adamilton M.; NEVES, Ricardo L. R. A iniciação esportiva e a especialização precoce à luz da teoria da complexidade – notas introdutórias. Pensar a prática, 11/1: 1-8, jan./jul. 2008.

  • RODRIGUES, E. A. R. F.; CLEMENTE, E. B. Treinamento Precoce na Natação: Aspectos Positivos e Negativos. Artigo de Revisão. Pós – Graduação Lato – Sensu em Natação – Universidade Gama Filho. Juiz de Fora – MG.

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