efdeportes.com

Desenvolvimento motor em crianças: benefícios
e prejuízos da atividade física

El desarrollo motor en niños: beneficios y prejuicios de la actividad física

 

Estudantes do Curso de Bacharelado em Educação Física

da Universidade de Caxias do Sul

(Brasil)

Felipe Dondoni

Matheus Perini

matheus-perini@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Revisando a literatura e artigos, o presente artigo busca observar alterações, tanto positivas quanto negativas, no desenvolvimento motor de crianças com a prática de atividade física.

          Unitermos: Desenvolvimento motor. Criança. Atividade física.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 190, Marzo de 2014. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

1.     Introdução

    O desenvolvimento é um processo contínuo, iniciando na concepção e termina com a morte. Ele inclui todos os aspectos do comportamento do homem. (GALLAHUE; OZMUN, 2003, 6).

    Já à infância é entendida como um período de grande importância para o desenvolvimento motor, sobretudo porque é nesta fase que ocorrem o desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais, que servirão de base para o desenvolvimento das habilidades especializadas que o indivíduo utilizará nas suas atividades cotidianas, de lazer ou esportivas (GALLAHUE; OZMUN, 2003, 232).

    O desempenho motor na infância se caracteriza pela aquisição de habilidades motoras, possibilitando assim que a criança tenha um amplo domínio de seu corpo em posições posturais, em locomoção e manipulação de objetos e instrumentos. A coordenação motora estuda as mudanças qualitativas e quantitativas das ações motoras do ser humano no decorrer da vida. (SANTOS; DANTAS; OLIVEIRA, 2004).

    Toda criança gosta de correr, pular, saltar, enfim, praticar esportes e atividades físicas. Nestas atividades onde a criança se diverte, ela também melhora sua qualidade de vida (BORTONI; BOJIKIAN, 2007). A melhora das capacidades físicas com a prática do esporte é benéfica ou maléfica (ALVES; LIMA, 2008).

    Os malefícios da atividade física são tão importantes quanto os benefícios, afinal, se feito de forma inadequada, atrapalha o crescimento e o desenvolvimento natural da criança, além de traumas e fraturas. Por outro lado, as melhoras a prevenção da obesidade e incremento da massa óssea, e se feito corretamente, ajudam também o crescimento e desenvolvimento da criança (ALVES; LIMA, 2008).

    Estudos também apontaram uma melhora nas capacidades físicas, como a melhora da velocidade, da coordenação motora e da agilidade em crianças tanto praticantes sobre as não praticantes de esportes (BUZOLIN NETO et al, 2009).

    Este estudo te por objetivo verificar a melhora da coordenação motora geral ou grossa, onde se utiliza os grandes músculos, querendo observar se a prática da atividade física ou esportes, regularmente, melhora ou piora o desenvolvimento motor das crianças que praticam estas atividades.

2.     Desenvolvimento motor

    O desenvolvimento motor é o processo de mudanças no comportamento motor, envolvendo tanto a maturação do sistema nervoso central, quando a interação com o ambiente e os estímulos dados durante o desenvolvimento de cada indivíduo. (OLIVEIRA, 2006).

    Observa-se então que o desenvolvimento motor apresenta uma ordem seqüencial, semelhante em todas as crianças, relacionada com o aprimoramento do controle motor, desde a fase do nascimento até a fase adulta (GIODA; RIBEIRO, 2006).

    O mesmo abrange a aprendizagem motora, que segundo Schmidt e Wrisberg (2001, 190), são as mudanças em processos internos que determinam a capacidade de um indivíduo para produzir determinada tarefa motora, com a prática, o nível da aprendizagem aumenta.

    O processo da maturação é utilizado para descrever os eventos que marcam o início e o fim do desenvolvimento humano, sendo este o processo em condições normais, devendo ser contínuo até que se alcance a maturidade como seu produto final (MACHADO; BARBANTI, 2007).

    Segundo Andrade (2004), desde que nascemos à maturação do sistema nervoso possibilita o aprendizado progressivo de habilidades, isto é, à medida que uma determinada área cerebral amadurece, a pessoa exibe comportamentos correspondentes àquela área madura, desde que tal função seja estimulada.

    Cada criança possui um repertório motor variado. Esse repertório pode ser mais desenvolvido ou menos. O desenvolvimento está relacionado com experiências e vivências de qualidade que esta criança possui. Quanto maior o número de experiências, maior será o desempenho realizado por elas (PAIM, 2003).

3.     Desenvolvimento motor em crianças

    Quando as crianças nascem, as regiões do cérebro relacionadas às funções básicas já estão bem desenvolvidas, permitindo o sono e a vigília, a atenção e habituação, também a eliminação de urina e fezes (GIODA; RIBEIRO, 2006).

    Os movimentos iniciais e bastante simples do recém-nascido se alteram e tornam-se mais variados e complexos, evoluindo a cada estágio. Mesmo com individualidades, o aprendizado de movimento é muito parecido e segue padrões comuns (GIODA; RIBEIRO, 2006)., porém, Santos et al (2004) concluíram que o padrão de desenvolvimento motor não é universal, onde em estudos compararam o desenvolvimento de crianças brasileiras e americanas, e constataram que, de maneira geral, os brasileiros tinham uma maior evolução nos primeiros oito meses, seguido de uma relativa estabilização.

    O desenvolvimento motor na infância é caracterizado pela aquisição de muitas habilidades motoras, possibilitando a criança o domínio de seu corpo em diferentes posturas, além de possibilitar a locomoção pelo meio ambiente de formas variadas, como andar, correr, saltar, etc., e manipular objetos, como arremessar uma bola. Estas habilidades básicas são conseguidas nas rotinas, tanto na escola quanto em casa (SANTOS et al, 2004).

    O processo do desenvolvimento motor é apresentado através de fases, como a dos movimentos reflexos, rudimentares, fundamentais e especializados. Para cada uma delas, são indicados estágios com idades cronológicas correspondentes (PAIM, 2003). Gallahue e Ozmun (2003, 98) caracterizam os movimentos como: estabilizadores, onde a criança é envolvida em constantes esforços contra a gravidade, na tentativa de manter a postura vertical, sendo através desta que as mesmas ganham um ponto de origem na exploração do espaço; locomotores, onde a uma mudança na localização do corpo em relação ao ponto fixo, envolvendo a projeção do corpo no espaço pela mudança de posição ao caminhar, correr ou saltar; e os manipulativos, que são as tarefas de arremessar, chutar, os movimentos mais grossos. Os três movimentos combinam-se na execução das habilidades motoras na sua vida.

    As fases do movimento fundamental são divididas em três estágios: inicial, elementar e o maduro. O primeiro estágio é o inicial, que representa a primeira meta que a criança irá tentar executar, um padrão de movimento fundamental; seriam as crianças de dois anos de idade. O estágio elementar envolve maior controle e coordenação rítmica dos movimentos fundamentais. Muitas crianças tendem a avançar para este estágio através de sua maturação, porém, algumas pessoas não conseguem desenvolver este estágio em muitos padrões, permanecendo assim por toda a vida. E o terceiro estágio é o maduro, onde é mecanicamente eficiente, coordenado e de execução controlada. Entre os cinco ou seis anos, as crianças já estão neste estágio, com grande parte das habilidades fundamentais desenvolvidas. (GALLAHUE; OZMUN, 2003, 104).

    Para Pazin, Frainer e Moreira (2006), o desenvolvimento infantil sofre forte influência de fatores intrínsecos e extrínsecos. O ambiente em que as crianças vivem, sua alimentação, seu espaço para os jogos e brincadeiras, sua oportunidade de socialização e sua educação formal através da escola, dentre outros, constituem uma série de elementos que participarão do desenvolvimento da criança.

    Muitas crianças obesas não agüentam a exclusão em suas atividades diárias e acabam, por muitas vezes, abandonando hábitos de vida saudáveis e que, geralmente nessa faixa etária, está relacionado com as atividades desportivas e em grupos. Sendo assim a criança, ao invés de estar participando de escolinhas desportivas e atividades elas passam a exercer atividades em casa, como jogar videogame, assistir desenho animado, atividades que não possibilitam vivencias motoras amplas, limitando o desenvolvimento de capacidades motoras que estão latentes nesse período de vida, e que precisam ser estimuladas (PAZIN, FRAINER e MOREIRA, 2006).

    Segundo Leite (2002) é necessário um programa de Educação Física no sentindo de propiciar as crianças, experiências motoras que venham a facilitar posteriormente elas em suas atividades e em sua vida.

4.     Esporte no desenvolvimento motor das crianças

    O domínio das habilidades motoras fundamentais é básico para o desenvolvimento motor de crianças. As experiências motoras, em geral, fornecem múltiplas informações sobre a percepção que as crianças têm de si mesmas e do mundo que as cerca. (GALLAHUE & OZMUN, 2001, p. 258). Mutti (2003) afirma que o desenvolvimento motor das crianças pressupõe várias experiências motoras que devem ser construídas no tempo e hábitos.

    Os benefícios da prática de algum esporte para a criança são diversos e Gomes (2010) observa que:

    Ao participar de atividades corporais, a criança libera sua energia acumulada e, desta forma, consegue evitar a obesidade. A oxigenação no sangue e no cérebro aumenta o que colabora para o melhor raciocínio. Ocorre o desenvolvimento muscular e a flexibilidade e conseqüentemente melhora suas capacidades corporais. Ele ainda se destaca que com estas ações motoras é possível oferecer ampla oportunidade de aquisição de habilidades, aperfeiçoando suas capacidades físicas.

    Um dos benefícios imediatos de maior magnitude que a prática de atividade física oferece para crianças e adolescentes é a melhora da aptidão física relacionada à saúde. Benefícios advindos da melhora na aptidão cardiorrespiratória, força muscular, flexibilidade e composição corporal contribuem para a melhora das atividades da vida diária nessa faixa etária (DE ROSE JR., 2009).

    Há alguns autores que relatam benefícios em um esporte específico, assim Gomes (2010) afirma que o atletismo permite desenvolver capacidades físicas como resistência, força, flexibilidade, velocidade e impulsão, além de estimular o raciocínio, a percepção e a agilidade, devendo estar presente na Educação Física Escolar. De acordo com Cyrino (2002) nas partidas de Futsal há uma grande intensidade de movimentação que abrange os participantes de forma geral e leva a um elevado gasto de energia, pressupondo uma solicitação metabólica e neuromuscular elevada, o que evidencia as contribuições de esporte para o desenvolvimento motor.

    Sabe-se que necessariamente ao longo do processo de formação do atleta a especialização irá acontecer, mas quando acontece precocemente, estamos cerceando o direito de a criança desenvolver padrões de movimentos gerais, básicos ou essenciais para o seu desenvolvimento motor. Além disso, carregam as implicações de serem considerados “mini adultos”, trazendo consigo todos os anseios, as pressões, as cobranças, a preocupação com o rendimento, em fases que o chamariz deve ser o brincar, o aprender, o prazer em praticar o esporte. (VINHÃO, 2009)

    Paes (1996) aponta que devido à cobrança excessiva por resultados positivos em competições, nas categorias de base, os jovens são avaliados por suas capacidades físicas, pelo seu desenvolvimento diferenciado comparado as outras crianças ou jovens, levando-os a exercer uma determinada função ou posição específica, a qual, conseqüentemente, implicará no treinamento limitado das especificidades técnicas daquela posição. No entanto, uma criança pode apresentar uma variação de até três anos no desenvolvimento físico (BARBANTI, 2005).

    Segundo Benda (2006), as crianças na prática esportiva são cobradas para ter comportamento de adulto e o alto rendimento precoce sugere um risco de abandono também precoce. Poderá haver possíveis implicações para a criança: fisiológica, neuromuscular, cognitiva e moral, e psicossocial (TANI, 2001).

    A prática esportiva competitiva iniciada precocemente pode ocasionar a saúde corporal das crianças, problemas ósseos, articulares, musculares e cardíacos, dependendo da especialidade esportiva e do tipo de metodologia trabalhada. Destacam-se sobremaneira as atividades tecnicamente mais complexas que empregam um grande número de repetições de gestos técnicos visando uma duração muito elevada diariamente e semanalmente, com ênfase na automatização e aperfeiçoamento do movimento, considerando assim como de tipos de risco físico (VOSER, VARGAS NETO e VARGAS, 2007).

    Há também casos onde médicos ortopedistas pedem para alguns pararem de jogar por causa de lesões nos joelhos, no tornozelo, na coxa, arrancamento de tendões junto à inserção óssea e até mesmo fraturas, devido a criança não apresentar maturação óssea equivalente, pois tem que tratar urgentemente (NEGRÃO, 1980, apud LEITE, 2006).

    Para Voser (2007) a prática intensa de um esporte competitivo ocasiona uma especialização precoce e traz possíveis riscos em quatro grandes áreas que são riscos de tipo físico, psicológicos, motrizes e riscos de tipo esportivo.

    Dentro deste contexto, as crianças são submetidas a exercícios extremamente desgastantes, cópias fidedignas do treinamento dos adultos, onde realizam inúmeras repetições do mesmo movimento fora do contexto de jogo, com o objetivo de aprimorar ou refinar a técnica específica do esporte, em fases em que a maturação do organismo e a base motora não foram suficientemente desenvolvidas (VINHÃO, 2009).

    Na infância, como nas atividades mais maduras, um aumento no programa de atividades físicas conduz alguns custos e riscos. Contudo, se a atividade física é mantida em um nível moderado, tais riscos não são altos, e são consideradas positivas por influenciar nos problemas do excesso de peso, desenvolvimento físico e psicossocial da criança com potencial para estabelecer hábitos de saúde, isso deverá acrescentar muito para a qualidade de vida nos anos futuros (SHEPARDH, 1995).

5.     Conclusão

    Tendo como base a revisão literária, podemos chegar à conclusão que há benefícios na criança com a prática correta de esportes ou simples atividade física, como a melhora do sistema cardiorrespiratório, força muscular, agilidade e flexibilidade e melhora da percepção de si mesma, em contra partida há os malefícios que podem ocorrer quando se começa um trabalho muito precocemente e de forma errada para a idade respectiva podendo acarretar lesões, fraturas, prejudicando o desenvolvimento dos padrões gerais e treinamentos muito limitados acabam fazendo com que a criança não desenvolva outras habilidades, junto a isto vem às pressões, cobranças, anseios prejudicando a evolução da criança no meio esportivo. Portanto as atividades mais indicadas para a criança principalmente quando a mesma inicia cedo as práticas de algum esporte deverão ser atividades prazerosas, que não as prejudique fisiologicamente e psicologicamente, mas ao mesmo tempo fazendo com que ela melhore suas habilidades corporais, ou seja, atividades mais lúdicas onde o professor poderá melhorar o desenvolvimento motor da criança sem pressões e cobranças.

Referências

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 18 · N° 190 | Buenos Aires, Marzo de 2014
© 1997-2014 Derechos reservados