efdeportes.com

Formação do atleta de futebol nas categorias 

de base: o desenvolvimento motor

Formación del jugador de fútbol en divisiones inferiores: el desarrollo motor

 

*Bacharel em Educação Física (Uniban)

Pós-graduando em Futsal e Futebol: ciências do esporte

e metodologia do treinamento (UGF)

**Bacharel em Educação Física (UNICAMP)

Doutorando em Educação Física (UNICAMP)

(Brasil)

Marcio Aguilar Vinhão*

marciovinhao@uol.com.br

Tania Leandra Bandeira**

taniabas@terra.com.br

 

 

 

Resumo

          O presente trabalho tem como tema o desenvolvimento motor de crianças e adolescente freqüentadores de escolinhas e/ou clubes de futebol, cujo objetivo foi revisar os conceitos sobre desenvolvimento motor, refletindo sobre a influência que os profissionais envolvidos no contexto do futebol exercem durante o período de formação. O surgimento desde trabalho se deu em função da relevância do tema no âmbito esportivo, pois estímulos inadequados durante o período de formação podem direcionar o atleta a especialização precoce, diminuindo as possibilidades de adquirir um repertório motor amplo e diversificado.

          Unitermos: Desenvolvimento motor. Futebol. Especialização precoce

 

Abstract

          This work is addressing the development engine of children and adolescents of day visitors and / or football clubs, whose objective was to review the concepts on motor development, reflecting on the influence that professionals involved in the context of football during the exercise training. The appearance since work was given according to the relevance of the topic under sports, as inappropriate stimuli during the training period may direct the athlete to early specialization, reducing the chances of acquiring a large and diverse repertoire engine.

          Keywords: Development engine. Soccer. Early specialization

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 138 - Noviembre de 2009

1 / 1

Introdução

    Atualmente há inúmeras escolas de futebol. Isto acontece devido à paixão do brasileiro pelo esporte, como também pela falta de áreas de lazer, assim como da extinção dos chamados campos de “várzea”, locais onde comumente encontrávamos crianças e jovens praticando o esporte. Nesse “novo espaço” há ampla oferta de trabalho para professores de Educação Física ou ex-atletas (técnicos), os quais, muitas vezes atuam tendo como base apenas conhecimentos empíricos, desenvolvendo a mesma metodologia vivenciada durante a sua formação na universidade ou como atleta de futebol.

    Este estudo foi realizado devido à grande preocupação no âmbito esportivo com o tema especialização precoce, cujo assunto surge frequentemente em pesquisas e debates fomentados por acadêmicos e profissionais envolvidos com o futebol. Por isso, este artigo tem como objetivo apresentar um referencial teórico sobre o tema desenvolvimento motor, refletindo como a atuação do profissional de Educação Física ou técnico de futebol influencia na formação do iniciante no esporte.

    Inicialmente, serão apresentadas as definições sobre desenvolvimento e desenvolvimento motor, assim como as fases de desenvolvimento motor e o modelo da ampulheta de desenvolvimento de Gallahue e Ozmun (2005). Trata, em seguida, das possíveis conseqüências que podem ser geradas com treinamentos inadequados (especialização precoce) e das possibilidades de se trabalhar durante o período de formação.

Desenvolvimento

    Quando pensamos na formação dos atletas de futebol, um aspecto primordial para os profissionais da área é o conhecimento sobre desenvolvimento motor. Esta importância lhe é atribuída devido influência exercida pelos conteúdos aplicados em aula, que podem comprometer o desenvolvimento anatômico e/ou fisiológico, como na construção do acerto motor pelas crianças e adolescentes.

    Neste contexto, Gallahue e Ozmum (2005, p.18) definem desenvolvimento como “[...] alterações no nível de funcionamento de um indivíduo ao longo do tempo”. Eles também conceituam e diferenciam o que é desenvolvimento motor dizendo que “[...] é uma alteração contínua no comportamento motor ao longo do ciclo de vida” (p. 22).

    A fim de estabelecer um referencial teórico a respeito do tema, os autores acima citados nos mostram em suas pesquisas que o desenvolvimento motor está dividido em fases e estágios, como representado na figura abaixo:

Figura 1. As fases do desenvolvimento motor. Fonte: Gallahue e Ozmum, 2005 p. 57.

    Tani et al. (1998) também nos mostra uma seqüência de desenvolvimento motor, com as faixas etárias aproximadas para cada fase, sendo assim dividida: movimentos reflexos (vida intra-uterina a 4 meses após o nascimento); movimentos rudimentares (1 a 2 anos); movimentos fundamentais (2 a 7 anos); combinação de movimentos fundamentais (7 a 12 anos); movimentos determinados culturalmente (a partir de 12 anos).

    Gallahue e Ozmum (2005), assim como Tani et al. (1998) colocam que apesar da existência das faixas etárias aproximadas de desenvolvimento, isto não significa que todas as crianças integrantes de uma fase ou estágio, possuam capacidade de realizar os mesmos movimentos, sejam eles manipulativos, locomotores ou estabilizadores, pois a velocidade de progressão é variável para cada indivíduo.

    Este complexo processo é demonstrado por meio da ampulheta de desenvolvimento. Para Gallahue e Ozmum (2005) o conceito se fundamenta no que denominam do “recheio da vida”, que seria a “areia” entrando na ampulheta por dois recipientes que influenciam no desenvolvimento: o hereditário e o ambiental. O recipiente hereditário (genótipo) possui uma quantidade fixa de areia. No entanto, o recipiente ambiental (fenótipo) não é limitado previamente, ou seja, a areia entrará de acordo com os estímulos encontrados no meio onde vive.

    É oportuno ressaltar que durante o período de formação em locais destinados a prática do futebol, essencialmente estará presente neste recipiente ambiental, a figura do técnico ou do professor de educação física.

Figura 2. Modelo de Gallahue do desenvolvimento motor durante o ciclo da vida

Fonte – GALLAHUE E OZMUM, 2005 p.65

    Concordando com o modelo de desenvolvimento motor descrito acima, Tani et al. (1998) relatam a necessidade maturacional do organismo para execução de algumas atividades, ou seja, uma criança jamais correrá antes de andar. No entanto, algumas crianças começam a andar primeiro que outras, tendo elas a mesma faixa etária. Neste cenário, está presente o princípio da individualidade biológica, assim como os estímulos presentes no ambiente onde vive, os dois aspectos influenciando no desenvolvimento.

    Ao relacionar os conceitos anteriormente expressos a respeito do tema desenvolvimento motor ao ensino do esporte, podemos refletir em relação aos conteúdos aplicados (fator ambiental) em escolinhas e clubes de futebol, abordando uma questão importante no contexto da formação dos atletas de futebol, que é a chamada especialização precoce. Para isso, vamos ater-nos às duas últimas fases de desenvolvimento, pois é a faixa etária na qual, normalmente, se inicia a aprendizagem esportiva, assim como eleva-se a freqüência da prática do esporte.

    Entende-se por especialização esportiva o período em que se adotam programas e métodos de treinamentos especializados. É quando a criança pratica sistematicamente, principalmente, um único esporte, tendo como objetivo participar de competições e aprimorar a técnica dos fundamentos, assim como desenvolver conhecimentos táticos e as capacidades físicas exigidas para aquela modalidade esportiva (SANTANA, 2001).

    Paes (1996), aponta que devido a cobrança excessiva por resultados positivos em competições, nas categorias de base, os jovens são avaliados por suas capacidades físicas, pelo seu desenvolvimento diferenciado comparado as outras crianças ou jovens, levando-os a exercer uma determinada função ou posição específica, a qual, conseqüentemente, implicará no treinamento limitado das especificidades técnicas daquela posição. No entanto, uma criança pode apresentar uma variação de até três anos no desenvolvimento físico (BARBANTI, 2005). Por isso, este procedimento terá resultados imediatos para a equipe. Por outro lado, considerando a formação motora do atleta e a sua mudança de categoria, o mesmo sucesso dificilmente será alcançado, como coloca Paes (1996, p.56):

    [...] terá uma serie de dificuldades, quase que insuperáveis para exercer a função que lhe foi ensinada no primeiro período de aprendizagem, pois na atual categoria, ele dependerá de outros elementos fundamentais que não lhes foram oferecidos no devido estágio.

    Dentro deste contexto, as crianças são submetidas a exercícios extremamente desgastantes, cópias fidedignas do treinamento dos adultos, onde realizam inúmeras repetições do mesmo movimento fora do contexto de jogo, com o objetivo de aprimorar ou refinar a técnica específica do esporte, em fases em que a maturação do organismo e a base motora não foram suficientemente desenvolvidas. Segundo Oliveira (1998, p.34):

    Mesmo tratando-se de especializar, nada deve ser antecipado: a precocidade pode cercear a variabilidade de movimentos e prejudicar o desenvolvimento motor, comprometendo o futuro tanto pessoal quanto esportivo do individuo. Alias, a precocidade é um fator que, comumente, encontramos no esporte e revela um triste quadro de desconhecimento do que significa desenvolvimento motor e suas implicações sobre a vida.

    A especialização é inevitável no esporte de alto nível, entretanto a aquisição das habilidades motoras especiais tem que ocorrer no tempo certo. O trabalho deve ser pautado em uma estrutura de treinamento adequado ao desenvolvimento individual, proporcionando uma formação básica múltipla, garantindo a aquisição de movimentos coordenativos gerais (WEINECK, 2000).

    Nesse sentido, Scaglia (2003, p.61) indaga que “o esporte deve permitir ao iniciante a obtenção de uma cultural corporal, proporcionando ao jovem uma aprendizagem motora adequada”, culminando na fase pré-escolar e escolar num processo ensino-aprendizagem embasado em atividades e esportes diversificados, privilegiando a formação motora geral, para numa fase posterior iniciar o aprimoramento da técnica.

    Tal pensamento vai ao encontro do raciocínio de Freire (2006), que enfatiza a necessidade de um ambiente rico em brincadeiras e sem sistematizações rígidas, transformando o esporte em um momento prazeroso e motivador, para que estas experiências favoreçam as construções motoras, sociais e cognitivas do praticante. Sendo assim, o autor apresenta a “pedagogia da rua”, proposta que visa a valorização da cultura popular relacionada ao futebol. As brincadeiras e jogos comumente praticados por crianças e adolescentes nas ruas, nos parques, nas escolas, devem ser preservados, isto é, além de respeitar e atribuir a devida importância aos conhecimentos prévios a respeito do esporte, amplia-se as possibilidades de aprendizagem, assim como a formação primordial de uma base motora consistente e preparada para futuros treinamentos mais específicos.

    Surge neste momento, a necessidade de exemplificar como podemos dividir as categorias iniciais, assim como apresentar uma metodologia fundamentada em teorias e práticas de ensino para ser aplicada. Para isso, buscamos os estudos de Scaglia (2003), que sugere uma divisão de categoria através de faixas etárias, especificando os conteúdos a serem trabalhados em cada uma delas, que são: 7/8 anos fundamentos básicos (passe, domínio de bola, condução, drible, chute, desarme, cabeceio); 9/10 fundamentos básicos, 11/12 fundamentos derivados (cruzamento, cobranças de faltas, cobranças de pênalti, lançamentos, tabelinhas); 13/14 fundamentos táticos específicos (conhecer a posições táticas dos jogadores no campo).

    Por meio de uma metodologia bem peculiar, a aula é dividida em cinco fases, sendo que todas estão interligadas, isto é, inicia-se com atividades lúdicas e jogos-adaptados enfatizando dois temas (fundamentos) referentes a cada categoria por aula, chegando ao jogo propriamente dito com as regras oficiais e ou com modificações. Nesta perspectiva, utiliza-se uma pedagogia que privilegia o desenvolvimento global por meio do futebol, na qual não se enfatiza a execução dos gestos técnicos, mas sem perda de efetividade na aprendizagem dos mesmos (SCAGLIA, 2003).

    No entanto, para isso é necessário a qualificação dos professores de Educação Física e técnicos de futebol que já atuam nas categorias de base, assim como uma excelente formação dos estudantes e ex-atletas interessados em atuar na carreira profissional no âmbito esportivo.

Considerações finais

    Identificamos que devido a grande exigência de resultados positivos em competições, há uma falha no planejamento e na avaliação deste imediatismo existente no futebol. Aos iniciantes são determinadas posições específicas e são aplicados exercícios ou atividades com movimentos repetitivos como se fossem “mini-adultos”, objetivando o aprimoramento das técnicas usualmente utilizadas em determinadas posições. Isto acontece em fases onde o primordial não é a execução perfeita da técnica, e sim, a experimentação e aquisição de experiências motoras diversas que auxiliem na construção de um repertório de respostas motrizes rico em possibilidades frente aos desafios do esporte.

    Sabe-se que necessariamente ao longo do processo de formação do atleta a especialização irá acontecer, mas quando acontece precocemente, estamos cerceando o direito da criança desenvolver padrões de movimentos gerais, básicos ou essenciais para o seu desenvolvimento motor. Além disso, carregam as implicações de serem considerados “mini adultos”, trazendo consigo todos os anseios, as pressões, as cobranças, a preocupação com o rendimento, em fases que o chamariz deve ser o brincar, o aprender, o prazer em praticar o esporte.

Referências bibliográficas

  • BARBANTI, VALDIR J. Formação de esportistas. Editora Manole, 2005.

  • FREIRE, João Batista. Pedagogia do futebol. 2.ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2006.

  • GALLAHUE, David L; OZMUN, John C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 3.ed. São Paulo: Phorte, 2005.

  • OLIVEIRA, Marcelo de. Desporto de base: a importância da escola de esportes. São Paulo: Ícone, 1998.

  • PAES, Roberto Rodrigues. Aprendizagem e competição precoce: o caso do basquetebol. 2. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 1996.

  • SANTANA, Wilton C. Futsal: metodologia da participação. Londrina: Lido, 2001.

  • SCAGLIA, A. J. Escola de futebol: uma prática pedagógica. In: NISTA-PICCOLO, VILMA (Org.). Pedagogia dos esportes. 3. ed. Campinas: Papirus, 2003.

  • TANI, Go et al. Educação Física Escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo: EPU, 1988.

  • WEINECK, Jürgen. Biologia do esporte. São Paulo: Manole, 2000.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/

revista digital · Año 14 · N° 138 | Buenos Aires, Noviembre de 2009  
© 1997-2009 Derechos reservados