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Efeitos da hidroterapia na cervicobraquialgia. Relato de caso

Efectos de la hidroterapia en la cervicobraquialgia. Relato de caso

 

*Acadêmica do curso de fisioterapia na Universidade Regional Integrada

do Alto Uruguai e das Missões – Uri Campus de Erechim

**Fisioterapeuta, Mestre em Neurociências e Docente da Universidade Regional Integrada

do Alto Uruguai e das Missões – campus Erechim, RS

(Brasil)

Giulia Piaia Quissini*

Emanuele Priscila Alves Cominetti*

Reni Volmir dos Santos**

revols@uol.com.br

 

 

 

 

Resumo

          A cervicobraquialgia se caracteriza pela presença de dor na região posterior do pescoço e região cervical, podendo irradiar para os membros superiores. A Fisioterapia, juntamente com sua modalidade, a hidroterapia, é uma importante opção de tratamento não medicamentoso, que age na diminuição da dor, preserva ou melhora a amplitude de movimento, força muscular, resistência e a capacidade funcional para as atividades de vida diária, evitando vícios posturais e deformidades. Como objetivos foram verificar se os efeitos da hidroterapia na amplitude de movimento dos membros superiores e coluna cervical, bem como força muscular, flexiblidade e quadro álgico. Estudo de caráter quali-quantitativo, do tipo relato de caso, contou com a participação de um paciente do sexo feminino, 34 anos, escolhida de forma intencional entre os pacientes atendidos na clínica escola da URI- Campus de Erechim. Foi realizada a avaliação da flexibilidade da musculatura posterior da perna e extensora da coluna vertebral, utilizando o Banco de Wells; força muscular de membros superiores e coluna cervical, através da escala de força muscular de Kendall; amplitude de movimento de membros superiores e coluna cervical, por intermédio da utilização de goniômetro e avaliação da intensidade da dor, utilizando a Escala Visual Analógica. O tratamento consistiu de dois atendimentos semanais, 50 minutos cada, envolvendo atividades de aquecimento, alongamento, fortalecimento e relaxamento muscular, totalizando 12 sessões. Resultados: Observou-se melhora na flexibilidade da cadeia posterior da perna e musculatura flexora da coluna vertebral, aumento da amplitude de movimento dos membros superiores e coluna cervical e melhora do quadro álgico do paciente.

          Unitermos: Cervicobraquialgia. Hidroterapia.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 192 - Mayo de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A coluna cervical é composta por sete vértebras, formando uma ponte de ligação entre a cabeça e o tronco, com função de sustentar o crânio, manter o alinhamento e permitir a movimentação da cabeça (MERCER; BOGDUK, 2001). Devido à extrema mobilidade da coluna cervical, e da importância das estruturas que compõe o pescoço, este segmento é muito vulnerável a patologias, e dificilmente o sintoma ocorre de uma forma isolada (BUENO, 2004).

    A cervicalgia é considerada uma patologia de várias causas etiológicas que acometem a coluna cervical, dentre as quais traumáticas, inflamatórias, neoplasias, metabólicas e outras (BÓGEA, VIEIRA & FONTEQUE, 2009). Pode ser definida como a presença de dor na região posterior ou póstero-lateral do pescoço e região cervical, podendo-se irradiar para os segmentos adjacentes, se tratando de uma algia de origem óssea, articular ou muscular (KAZEMI et al., 2000). Acomete 12 a 34% da população adulta, com maior incidência no sexo feminino. O diagnóstico é baseado no exame clínico (ALLISON, NAGY & HALL, 2002).

    Apesar da cervicobraquialgia, ter várias etiologias como traumas agudos ou micro-traumas repetitivos, secundários a erros posturais ou ergonômicos da coluna cervical ou ainda ser uma sintomatologia secundária (dor referida) que pode ser por alterações do forame intervertebral, do canal vertebral ou artérias vertebrais; na grande maioria dos pacientes, porém, a dor é desencadeada não pelas artropatias ou discopatias, mas sim por comprometimento de Síndrome dolorosa miofacial cervical e da cintura escapular, que se caracteriza por disfunção motora, presença de pontos gatilho, diminuição da flexibilidade muscular, fraqueza muscular e alteração da propriocepção (GRANDJEAN, 2005; COSTA, 2010; NOHAMA, 2009).

    A hidroterapia vem sendo indicada e utilizada por médicos e fisioterapeutas em programas de reabilitação multidisciplinares. Com o seu ressurgimento na década passada, houve um grande crescimento e desenvolvimento das técnicas e tratamentos utilizados no meio aquático (BIASOLI, 2006).

    Os exercícios em meio aquático promovem a recuperação funcional, proporcionando ao paciente um ambiente que lhe permita uma maior habilidade e independência para realizar diferentes tarefas. Além disso, proporciona ao fisioterapeuta um ambiente capaz de realizar diferentes intervenções terapêuticas (KISNER & COLBY, 2005).

    Sendo assim, os objetivos do presente estudo foram verificar os benefícios da hidroterapia na amplitude de movimento (ADM) da coluna cervical e membros superiores, força muscular, flexibilidade das estruturas posteriores da perna, e diminuição da dor em coluna cervical e membros superiores, de uma paciente com cervicobraquialgia.

Materiais e métodos

    Este estudo caracterizou-se como relato de caso do tipo quali-quantitativo. A amostra foi composta por um indivíduo do gênero feminino, 34 anos, com cervicobraquialgia, selecionado através de escolha intencional entre os pacientes atendidos na Clínica Escola da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões URI – Campus Erechim.

    A pesquisa desenvolveu-se na sala de Hidrocinesioterapia do Centro de Estágios e Práticas Profissionais da URI - URICEPP. Após, com o parecer favorável da voluntária, esta assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram realizadas duas sessões de fisioterapia aquática, com duração de 50 minutos, totalizando doze sessões. A paciente foi avaliada antes e após o programa de atendimento.

    Avaliou-se a flexibilidade da musculatura posterior da perna e extensora da coluna vertebral, utilizando o Banco de Wells; força muscular de membros superiores (MMSS) e coluna cervical, através da escala de força muscular de Kendall; amplitude de movimento (ADM) de membros superiores e coluna cervical, por intermédio da utilização de goniômetro e avaliação da intensidade da dor, utilizando a Escala Visual Analógica (EVA).

    Como procedimento, inicialmente foi realizada a adaptação da paciente ao meio líquido. As sessões englobaram aquecimento através de caminhadas (de frente, costas, dissociando cinturas) e corridas, mobilização de cintura escapular e cápsula articular do ombro, alongamento para musculatura de membros superiores; técnicas de exercícios ativos, ativo-assistidos para as articulações dos membros superiores, inferiores e coluna vertebral; fortalecimento com técnicas de Bad Ragaz; e para a diminuição da dor e relaxamento muscular foram empregados como recursos massoterapia e pompagem na região cervical, Watsu e turbilhão.

    A análise estatística foi descritiva dos dados obtidos na avaliação e reavaliação da paciente. Sendo os mesmos tabulados e os resultados analisados utilizando-se os programas Microsoft Word e Excel.

    Esta pesquisa está de acordo com as diretrizes da Resolução CNS 466/12 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde e foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Erechim, e aprovado sob o número 172/PPH/11.

Resultados

    Conforme expresso na tabela I, a qual demonstra os valores da flexibilidade da musculatura posterior da perna e extensora da coluna vertebral, aplicado pré e pós-tratamento, utilizando o banco de Wells, pode-se observar que teve uma melhora da flexibilidade em 55 mm.

Tabela I. Flexibilidade muscular pré e pós tratamento

Fonte: Ficha de avaliação

    Com relação à análise de força muscular dos ombros e coluna cervical, segundo a escala de Kendall, descritos nas tabelas II e III, observou-se que força se manteve igual em alguns valores da avaliação pré tratamento, e aumentaram em outros grupos musculares.

Tabela II. Análise do grau de força muscular segundo Kendall

Fonte: Ficha de avaliação

 

Tabela III. Análise do grau de força muscular segundo Kendall

Fonte: Ficha de avaliação

    Na tabela IV estão apresentados os valores da amplitude de movimento dos membros superiores direito e esquerdo e coluna cervical, obtidos através da goniometria. Observou-se melhora na amplitude de movimento quando comparado pré e pós-tratamento.

Tabela IV. Goniometria de membros superiores e coluna cervical

Fonte: Ficha de avaliação

    Conforme expresso na figura I, sobre a avaliação da intensidade da dor, observou-se que houve uma diminuição do quadro álgico em todas as semanas.

Figura I. Análise da intensidade da dor por intermédio da EVA

Discussão

    A fisioterapia é uma importante opção de tratamento não medicamentosa que tem como objetivo diminuir a dor, preservando ou melhorando a amplitude de movimento, força muscular, a resistência e a capacidade funcional para as atividades de vida diária (AVDs), evitando vícios posturais e deformidades (FÉLIX et al., 2007).

    Em estudo realizado por Candeloro e Caromano (2007), em que avaliaram o efeito de um programa de hidroterapia na flexibilidade e na força muscular de idosas. Trinta e uma idosas participaram do programa, sendo 16 de hidroterapia e 15 do grupo controle. O treino foi realizado em piscina aquecida em temperatura de 32°C, aplicado por três meses, três vezes por semana com duração de uma hora, e com exercícios de baixa e moderada intensidade, por intermédio da avaliação do miômetro para mensurar a força muscular e máquina fotográfica para avaliação da flexibilidade. A análise demonstrou melhora estatisticamente significativas na realização das atividades físicas e na amplitude de movimentos e nas articulações dos membros superiores e inferiores. A hidroterapia mostrou-se eficiente para produzir melhora na flexibilidade e na força muscular das idosas, como no presente estudo.

    Com relação à amplitude de movimento, observa-se que ouve aumento significativo em todos os movimentos, em relação aos valores do pré-tratamento. De acordo com Borges et al. (2010), alongamento e mobilização dos tecidos do ombro são freqüentemente incluídos nos programas de reabilitação, pois essas técnicas são uma forma passiva de amplitude de movimento utilizada para melhorar a artrocinemática da articulação. A utilização apropriada destas técnicas reduz a deficiência, alivia a dor e restaura o arco de movimento.

    Os efeitos agudos e crônicos do alongamento passivo, intervenção comum em programas de prevenção à lesão e melhora do desempenho, através do ganho de amplitude articular, reportando que o mecanismo potencial para redução do risco de lesão, associada ao aumento da flexibilidade é conferido pela variação das propriedades viscoelásticas das unidades musculares (PEIXINHO et al., 2008). Em estudo realizado, verificou-se que 30 segundos é tempo suficiente para se obter ganho de amplitude de movimento em adultos jovens (ALMEIDA et al. 2009).

    O exercício resistido, exercício ativo no qual uma contração muscular dinâmica ou estática é resistida por força externa, aplicada mecânica ou manualmente, é um quesito imprescindível num programa de reabilitação, para se promover a saúde e o bem-estar físico e prevenir o risco de lesões (LIMA, 2006).

    Em estudo realizado por Ruoti et al. (2000), os efeitos hidroterápicos, como a turbulência da água, que exige estabilização central com a co-contração de músculos abdominais e paravertebrais, antes que quaisquer movimentos de extremidade sejam executados, com os efeitos do Bad Ragaz, tais como reeducação muscular, alongamento paravertebral, melhora do alinhamento, estabilidade do tronco e da preparação das extremidades inferiores para sustentação do peso.

    A literatura indica que os movimentos geralmente estão limitados ou bloqueados em função da dor (BÓGEA, VIEIRA & FONTEQUE, 2009), devido a esta condição, pompagem, massagem terapêutica, alongamento muscular passivo são técnicas que promovem a liberação de pontos gatilho, melhoram a circulação sanguínea e auxiliam no relaxamento muscular de fibras encurtadas ou retraídas (KIMURA, 2012). A água, principalmente aquecida é capaz de diminuir a dor e o espasmo muscular. Além disso, a força de flutuação (empuxo) alivia o estresse de todas as articulações que realizam a manutenção da postura (FÉLIX et al., 2007; MARINS, 2004). A mais de cinco séculos que o tratamento efetivo para dores musculares, tensões musculares inclui o alongamento das fibras musculares do músculo envolvido e massagem (CANO, 2004).

    Ainda em relação à dor, em estudo realizado com paciente de 44 anos com queixa de cervicobraquialgia, ao ser tratada com mobilização articular, apresentou grande melhora na função e melhora no quadro álgico logo no primeiro mês de tratamento (COWELL; PHILLIPS, 2002). Assim como Wilhelm; Biazi e Santos (2014), observaram redução do quadro álgico em paciente fibromiálgico após 10 sessões de fisioterapia aquática.

Conclusão

    Os resultados finais permitem inferir que o tratamento aquático se mostrou benéfico para a paciente em estudo, no que diz respeito à flexibilidade, amplitude de movimento, aumento da força muscular e melhora do quadro álgico, sendo que os resultados pós tratamento foram todos clinicamente significativos. Desta forma, a hidroterapia se mostra como um recurso de grande valia para pacientes com cervicobraquialgia.

Referências

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  • RUOTI, R. G. et al. Reabilitação aquática. São Paulo: Manole, 2000.

  • WILHELM, J.; BIAZI, G. H.; SANTOS, R. V. Watsu no tratamento da Síndrome da Fibromialgia – Estudo de caso. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 188, Enero de 2014. http://www.efdeportes.com/efd188/watsu-no-tratamento-da-fibromialgia.htm

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