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Watsu no tratamento da síndrome da fibromialgia. Estudo de caso

El Watsu en el tratamiento del síndrome de fibromialgia

 

*Acadêmica do curso de Fisioterapia da Universidade Regional Integrada

do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Erechim, RS

**Fisioterapeuta graduado pela Universidade Regional Integrada

do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Erechim, RS

***Fisioterapeuta, Mestre em Neurociências e Docente da Universidade Regional Integrada

do Alto Uruguai e das Missões – campus Erechim, RS

Joyce Wilhelm*

Gustavo Henrique Biazi**

Reni Volmir dos Santos***

revols@uol.com.br
(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A fibromialgia é uma síndrome dolorosa crônica, não inflamatória de etiologia desconhecida, que se manifesta no sistema musculoesquelético, e pode apresentar sintomas em outros aparelhos e sistemas. A principal característica dessa doença é dor crônica e difusa. Sua prevalência varia de 0,66 a 4,4%, sendo maior no sexo feminino e na faixa etária entre 35-60 anos. A hidroterapia é usada em aproximadamente 75% dos pacientes com fibromialgia. No Watsu, técnica que vem se destacando no ambiente aquático, o paciente não faz nenhum movimento e flutua nos braços do terapeuta, conhecendo assim níveis mais profundos de relaxamento à medida que seu corpo se alonga livremente. Os portadores de Fibromialgia têm grandes dificuldades para realizarem exercícios, devido à dor imposta pela patologia, mas com esta técnica podem ser induzidos a realizá-los sem desconfortos álgicos. Desta forma, se fez necessária uma investigação dos efeitos dessa técnica nos casos de fibromialgia, na incumbência de que, os pacientes portadores dessa síndrome podem se beneficiar com os efeitos produzidos pelo Watsu, bem como da ação física da água. A amostra desde estudo foi composta por um indivíduo do sexo feminino com diagnóstico clinico de fibromialgia, selecionada através de escolha intencional entre os pacientes atendidos na Clínica Escola da URI – Campus Erechim. Inicialmente a paciente foi avaliada e depois de submetida a dez sessões de fisioterapia aquática seguindo o protocolo de atendimento que constava com aquecimento, alongamento, técnica de Watsu e desaquecimento, ao final a paciente foi reavaliada, onde foi possível observar uma melhora positiva tanto na diminuição do quadro álgico como na qualidade de vida e do sono da paciente através de análise estatística descritiva dos dados obtidos na avaliação e reavaliação da paciente; demonstrando assim que esta técnica é segura e também benéfica para pacientes portadores de Fibromialgia.

          Unitermos: Fibromialgia. Dor. Hidroterapia. Watsu.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 188, Enero de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A fibromialgia é considerada uma síndrome complexa cuja característica principal é amplificação da dor, que permanece difusa nos músculos, tendões e ossos, sem evidência de componentes inflamatórios, e que pode apresentar sintomas em outros aparelhos e sistemas (PROVENZA et al., 2004). Esta síndrome reumática caracteriza-se por apresentar dor crônica e difusa (MARQUES; ASSUMPÇÃO; MATSUTANI, 2007). O tratamento ideal da fibromialgia necessita uma abordagem multidisciplinar com a combinação de modalidades de tratamento não farmacológico e farmacológico (HEYMANN et al., 2010; JONES; LIPTAN, 2009).

    A fisioterapia, através de suas diferentes técnicas, tem um papel importante no alívio da sintomatologia, através do alongamento muscular, exercícios aeróbicos, massoterapia, eletroterapia e da hidroterapia (MARQUES; ASSUPÇÃO; MATSUTANI, 2007; DIAS et al., 2003). Uma das especialidades fisioterapêuticas mais utilizada em pacientes com fibromialgia é a hidroterapia, que consiste num recurso terapêutico abrangente que utiliza o meio aquático para ajudar na reabilitação de várias patologias (HECKER et al., 2011), sendo usada em aproximadamente 75% dos pacientes com fibromialgia (LANGHORST et al., 2009).

    Dentre tantas técnicas terapêuticas que abrange o universo da hidroterapia, vem se destacando o Watsu que consiste em um trabalho passivo do paciente que geralmente experimenta um relaxamento profundo, a partir da sustentação corporal pela água e o contínuo movimento rítmico de vários fluxos. Essa técnica de relaxamento foi introduzida a programas de reabilitação para beneficiar a melhora de patologias (BASTOS; CAETANO, 2010). Pois, segundo os mesmos autores, no Watsu o paciente não faz nenhum movimento e flutua nos braços do terapeuta, conhecendo assim níveis mais profundos de relaxamento à medida que seu corpo se alonga livremente. E como os portadores de fibromialgia (FM) têm grandes dificuldades para realizarem exercícios, devido à dor imposta pela patologia, com esta técnica podem ser induzidos a realizá-los sem desconfortos álgicos.

    Além do relaxamento o Watsu, também intervém com alongamentos globais, auxiliando os pacientes na correção postural, melhorando o sono e aliviando o quadro álgico. Assim, o Watsu traz benefícios tanto em condições patológicas quanto a pessoas que não possuam nenhuma patologia definida.

    Desta forma, o objetivo desde estudo foi verificar os efeitos da técnica de Watsu no portador de fibromialgia avaliando a qualidade de vida, a dor e a qualidade de sono antes e após o período de 10 sessões de tratamento de fisioterapia aquática.

Materiais e métodos

    Esta pesquisa caracterizou-se por ser um estudo de caráter qualiquantitativo do tipo estudo de caso. A amostra foi composta por um indivíduo com fibromialgia, selecionado através de escolha intencional entre os pacientes atendidos na Clínica Escola da URI – Campus Erechim, que concordou em participar do estudo e assinou o TCLE.

    A avaliação da paciente constou de dados da sensibilidade dolorosa nos 18 pontos de referência sugeridos pelo estudo publicado pelo Colégio Americano de Reumatologia (1990), aplicação dos questionários de impacto da fibromialgia (QIF) (MARQUES et al., 2006), e índice de qualidade de sono de Pittsburgh. Estes questionários foram realizados antes e após o período de tratamento de fisioterapia aquática. Além disso, em cada sessão foi verificado o grau de dor através da Escala Visual Analógica (EVA).

    Como procedimento, inicialmente, foi realizada a adaptação da paciente ao ambiente aquático. Depois de adaptada, as 10 sessões constaram com aquecimento, alongamento, técnica de Watsu e desaquecimento.

    A análise estatística foi descritiva dos dados obtidos na avaliação e reavaliação da paciente. Sendo os mesmos tabulados e os resultados analisados utilizando-se os programas Microsoft Word e Excel.

    Esta pesquisa está de acordo com as diretrizes da Resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde e foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Erechim, e aprovado sob o número 168/TCH/11.

Resultados e discussão

    Muitos estudos dizem que a idade de maior prevalência da fibromialgia varia de 40 a 50 anos e a média de duração do sintoma é de seis a sete anos, bem como o sexo feminino sendo o retentor do maior numero de casos (Kaziyama, 1998; HEYMANN et al., 2010); o que se confirma pelo estudo aqui apresentado, já que a paciente estudada era do sexo feminino, possuía 44 anos e com diagnostico clínico confirmado de FM há 3 anos.

    Na avaliação física inicial (pré-tratamento), observou-se a presença de dor difusa e contínua relatada pela paciente presente por mais de 6 meses em 15 dos 18 pontos de referência sugeridos pelo Colégio Americano de Reumatologia. Um estudo realizado por Salvador, Silva e Zirbes (2005) verificou os efeitos da hidrocinesioterapia em pacientes com fibromialgia e dos 15 participantes da pesquisa que se submeteram a 12 sessões de um protocolo hidrocinesioterapêutico o número de tender points teve uma redução estatisticamente significativa em 67% dos pacientes, concluindo os autores que a hidrocinesioterapia foi eficaz na redução do número de tender points dos fibromiálgicos. O estudo aqui realizado assemelha-se ao dos autores acima ditos, visto que a paciente teve uma redução estatística de 72% dos tender points, apresentando após as 10 sessões de hidroterapia com watsu, dor em apenas 2 dos 18 pontos dolorosos. (Figura 01)

Figura 01. Comparação estatística dos tenders points pré e pós-intervenção

Fonte: dos autores

    Linhares e Zaboti (2004) observaram em sua amostra, composta de três indivíduos do sexo feminino com diagnostico clínico de fibromialgia que após 25 atendimentos de hidrocinesioterapia o indivíduo 1 reduziu seu índice de dor em 9 pontos, o indivíduo 2 em 15 pontos e a do indivíduo 3 em 6 pontos. Os autores defendem a hipótese de que as alterações apresentadas nos tender points explicam-se porque a água aquecida reduz o espasmo muscular e a dor, interferindo, positivamente, na melhora das alterações isquêmicas e metabólicas nos referidos locais. Já Bastos e Caetano (2010 apud GIMENES et al 2006) citam que o método Watsu é extremamente propicio para o desenvolvimento de um estudo com pacientes portadores de fibromialgia, devido aos benefícios que este método proporciona, concluindo assim uma evidente redução dos pontos dolorosos, da intensidade de dor e do quadro depressivo após o término do tratamento.

    Kaziyama (1998) cita também que a depressão é geralmente aumentada na FM e também em outros pacientes com dor crônica, visto que a dor os impede de realizar diferentes atividades pessoais e sociais, muitas vezes atividades simples como fazer compras, dirigir carro ou andar por vários quarteirões. Esses dados foram analisados no presente estudo através da apreciação dos valores obtidos no questionário de impacto da fibromialgia (QIF) da avaliação inicial comparados aos valores da reavaliação (figura 2). Inicialmente a paciente aqui estudada apresentou um escore de 58 pontos de um total de 98, e após as dez sessões de hidroterapia a reavaliação apresentou um escore pontual de 07, o que demonstra um aumento de função e independência da paciente, bem como uma melhora psicossocial entendida pela mesma.

Figura 02. Comparação dos valores do impacto da fibromialgia na avaliação e na reavaliação

Fonte: dos autores

    Entre os efeitos obtidos pelo uso da imersão predominam o relaxamento e a diminuição à percepção da dor, pois a pressão da água afeta as terminações nervosas que faz com que a dor seja menos percebida. Sem dores os ricos de desenvolver problemas psicológicos como estresse e depressão reduzem-se muito (BECKER; COLE, 2000). Assim, Dall’agnol e Martelete (2009) em sua revisão bibliográfica observaram que em todos os estudos houve melhora nos parâmetros avaliados, tanto em exercícios realizados em solo, como em exercícios realizados na água (hidroterapia), contudo, o nível de melhora foi mais significativo nos grupos que realizavam hidroterapia e constatou-se a prevalência da melhora dos aspectos emocionais sobre a dos aspectos físicos.

    Gallo et al. (2007) realizaram um estudo com a participação de 12 voluntárias portadoras da síndrome em questão que se submeteram a 10 sessões de Watsu, observando que ao termino da intervenção as pacientes apresentaram uma diminuição da sensação de dor e uma conseqüente melhora na qualidade de vida. Citando os autores que as evidências de tal estudo confirmam que após dez sessões de Watsu são significativas as melhora da qualidade de vida dos portadores de fibromialgia.

    Skare (1999) diz que a depressão pode resultar de distúrbios do sono e que a carência de sono ou a mudança na sua estrutura natural podem resultar em depressão. Neste estudo os resultados também foram benéficos quando visto a comparação dos valores do índice de qualidade do sono de Pittsburgh. Inicialmente a paciente apresentava um escore de 21 pontos somando as questões quantitativas do questionário (questão 5 a 9), passando para escore 03 na avaliação final das mesmas questões. A questão 2 do questionário também apresentou melhora, pois no período pré-intervenção a paciente relatou demorar mais de 60 minutos para atingir o sono e após os atendimentos hidroterapêuticos o tempo reduziu-se para 10 minutos. A questão 10 também apresentou benefícios, visto que antes do tratamento a paciente relatou cochilar por necessidade e após a intervenção passou a não realizar mais tal ação.

    A pesquisa de Rocha et al. (2006) traz também o tratamento hidroterapêutico como favorável para o aumento da qualidade do sono, visto que em seu estudo a paciente submetida a 10 sessões de hidroterapia pontuou inicialmente 3 em uma escala de 1 a 4 (1: Dorme bem, sem acordar durante a noite; 2: Sono interrompido, acorda algumas vezes durante a noite; 3: Sono interrompido, acorda várias vezes durante a noite; 4: Insônia.) a após intervenção a mesma paciente pontuou 1, o que denota uma melhora significativa na qualidade do sono e conseqüentemente na qualidade de vida da paciente.

    Silva et al. (2012) ressaltam que a viscosidade é uma importante propriedade terapêutica da água, pois, seu efeito dará resistência aos exercícios, sendo assim, contribuirá para o fortalecimento da musculatura dos pacientes com FM que apresentam ineficiente contração muscular e baixa resistência aos exercícios; por fim a temperatura da água é responsável por possibilitar um relaxamento muscular adequado ao fibromiálgico, que pode melhorar sua qualidade do sono, uma vez que, o mesmo não apresenta um sono reparador na maioria dos casos.

    Em relação à dor a paciente foi questionada diariamente antes dos atendimentos de fisioterapia aquática utilizando-se da Escala Visual Analógica (EVA), os valores foram comparados através de dados quantitativos em escala numérica (Figura 03).

Figura 03. Comparação da dor inicial e final por dia

Fonte: dos autores

    Ramalho et al. (2002 apud DULL 2007), salientam que quando se realiza o tratamento com Watsu, observa-se uma melhora significativa na dor provocada pela analgesia propiciada pela água aquecida. Somado este benefício, a técnica promove uma melhora nos aspectos emocionais e aspectos físicos, diminuindo assim a dor. Desta maneira, Ramalho et al. (2007) investigaram os efeitos da técnica Watsu na dor relatada por seis pacientes portadores da síndrome da fibromialgia antes e após receberem 4 sessões de Watsu , uma vez por semana com uma hora de duração. Após o término do tratamento os autores concluíram que a técnica de Watsu foi eficaz em diminuir a dor dos pacientes fibromiálgicos.

    Gimenes et al. (2006) avaliaram e trataram dez pacientes do sexo femini­no com FM, por quatro meses utilizando a técnica do Watsu com movimentos similares aos do protocolo utilizado neste estudo e a dor foi comparada utilizando também a escala visual-analógica (EVA). Observou-se que das pacientes analisadas, 98,75% queixavam-se de dor com intensidade variando do nível 2,5 ao 10, segundo EVA, no período pré tratamento, e que pós a intervenção com Watsu, foi eviden­ciada uma significativa redução da intensidade da dor, que foi referida entre o nível 0 e 5 após intervenção, o que está em concordância com este estudo.

    Por isso, Martinez et al. (1998) ressalta que qualquer tratamento relativo à fibromialgia deve ser focado na melhora da qualidade de vida do portador, e que diminuir a intensidade de dor, melhor a qualidade do sono e propiciar demais efeitos benévolos são degraus para se alcançar o objetivo proposto.

Considerações finais

    Pode-se concluir que a hidroterapia associada à técnica de Watsu mostrou-se extremamente importante para pacientes portadores desta afecção. As dores observadas na fase pré-tratamento diminuíram comparadas ao período pós-intervenção, o que a propiciou uma melhor qualidade do sono, acarretando assim uma melhora global na qualidade de vida da paciente gerando benefícios físicos e psicossociais vastos a mesma, que descreveu o tratamento como um marco divisório de sua vida. Salienta-se assim, a importância de um tratamento global que não vise somente o alívio da dor, mas também a redução de outros sintomas e a melhora do bem-estar e da qualidade de vida dos portadores de fibromialgia.

Referências

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