efdeportes.com

Análise da quantidade de proteína fornecida nas medidas 

recomendadas por diferentes marcas brasileiras de Whey Protein

Análisis de la cantidad de proteína suministrada en las proporciones recomendadas por diferentes marcas brasileñas de Whey Protein

 

*Nutricionista Esportivo e Educador Físico. Docente dos cursos de Pós-graduação

da Universidade Gama Filho, Centro Universitário FMU, Universidade Estácio de Sá

e Faculdades Integradas de Santo André (Fefisa)

**Nutricionista, Mestre em Saúde Pública pela Faculdade Saúde Pública da USP

Doutora em Medicina Preventiva pela Faculdade de Medicina da USP

Docente dos Cursos de Nutrição do Centro Universitário São Camilo

e da Universidade Presbiteriana Mackenzie

***Graduação em Nutrição, Centro Universitário São Camilo, São Paulo

Rogério Eduardo Tavares Frade*

Renata Furlan Viebig**

Barbara Sartori Ciffone***

Roberta Gargiulo Pacca***

rogeriofrade@ig.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: Atualmente, considera-se que os jovens brasileiros fisicamente ativos, freqüentadores de academias, são os usuários mais freqüentes de suplementos alimentares ergogênicos. Com o crescente avanço na área da suplementação esportiva, podemos destacar o exacerbado uso do Whey Protein, Este tipo de suplemento é utilizado com maior freqüência pelos praticantes de treinamento de força, isso se deve muito ao seu efeito anabólico. Objetivo: Avaliar como estes produtos, compostos por Whey Protein, estão sendo apresentados no mercado brasileiro e se atendem recomendações éticas e científicas quando sugerem a forma de utilização pelo consumidor. Metodologia: O levantamento de informações científicas foi realizado através de pesquisas em bases de dados. E a coleta dos rótulos de produtos contendo Whey Protein foi realizada em lojas físicas e sites de lojas virtuais. Resultados: De acordo com o levantamento dos rótulos de produtos de marcas nacionais, foram encontradas nove marcas nacionais do suplemento investigado. Em nosso estudo, observamos que houve muita discrepância entre as diferentes marcas brasileiras produtoras de Whey Protein, tanto a quantidade recomendada de produto, quanto à quantidade de proteína existente. Conclusão: Concluímos que o uso Whey Protein deve ser recomendado para atletas e para indivíduos, com níveis de treinamento compatível ao de atletas. A discrepância entre as diferentes recomendações conforme a marca do produto confunde o consumidor quanto a sua escolha. Referente à quantidade ideal para uso, o nutricionista deve estar atento e verificando a quantidade de proteína presente de acordo com as necessidades individuais de cada pessoa.

          Unitermos: Praticantes de atividade física. Suplemento alimentar. Whey Protein.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 191, Abril de 2014. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    A academia de ginástica é um dos principais locais para a prática de exercícios físicos por indivíduos sem vínculos profissionais com o esporte. Atualmente, considera-se que os jovens fisicamente ativos brasileiros, frequentadores de academias, são os usuários mais frequentes de suplementos alimentares ergogênicos (HIRSCHBRUCH, FISBERG, MOCHIZUKI, 2008). Estudos realizados no país também demonstram que a maior parcela dos usuários de suplementação é do sexo masculino (PEREIRA et al, 2003; ALENCAR et al, 2010).

    A sociedade, a mídia e o ambiente das academias têm influencia sobre os padrões estéticos estereotipados apresentados à população atualmente. A falta de tempo para realizar exercícios rotineiramente, aliada à dificuldade em modificar a dieta e à impaciência em atingir os resultados esperados, tornam as pessoas propensas a consumir qualquer tipo de produto que se apresente como “atalho” para atingir o padrão de beleza imposto, e socialmente associado ao sucesso, já que a estética é um dos principais motivos da prática esportiva (SOARES, 2010).

    Este cenário faz com que estes jovens estejam demasiadamente preocupados com a aparência física e com o peso corporal e este fato os torna mais vulneráveis ao apelo da mídia e à orientação de colegas e treinadores, os quais estão despreparados para prescrever suplementos. Considera-se que os profissionais habilitados para a prescrição de suplementos nutricionais são os nutricionistas e os médicos especialistas em atividade física e esportes (HIRSCHBRUCH, FISBERG, MOCHIZUKI, 2008).

    Por outro lado, o mercado de suplementos nutricionais voltados para o esporte e a atividade física tem crescido exponencialmente. Em 2001, segundo Alves e Lima (2009), a indústria investiu bilhões em propagandas de suplementos alimentares a fim de atrair os consumidores.

    Nos EUA, o mercado de suplementos para praticantes de atividade física já ultrapassou o faturamento anual de 6,5 bilhões de dólares (KURTZWEIL, 1998). Segundo a Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva (SBME), no Brasil a realidade não é muito diferente, uma vez que tem sido observado um uso abusivo de suplementos alimentares entre atletas e praticantes de atividade física (SBME, 2009; SBME, 2003).

    Segundo Carvalho (2003), ainda hoje o comércio de suplementos na maioria das vezes é ilegal, ocorrendo dentro das próprias academias de ginástica e sem o controle da vigilância sanitária, o que facilita o acesso e favorece o consumo dos suplementos alimentares pelo público desportista. Muitos, erroneamente, pensam que uma alimentação de qualidade e equilibrada segundo as necessidades nutricionais do indivíduo não atende às demandas dos que praticam atividade física lançando mão, muitas vezes de forma indiscriminada, do uso desses recursos ergogênicos sem considerar os riscos à saúde.

    Devido a estas características do mercado e do consumidor, a indústria de suplementos, cada vez mais, apresenta uma gama enorme de produtos voltados ao esporte e à atividade física, está patrocinando vários atletas de variadas modalidades para divulgação da marca e vem ganhando espaço no mercado, pois muitos médicos e nutricionistas estão tendo a oportunidade de fazer uso da prescrição destes suplementos para seus clientes, quando a mesma for apropriada e necessária (HARAGUCHI, ABREU, PAULA, 2006).

    Já no que se refere ao controle sanitário dos suplementos nutricionais, visando a proteção à saúde da população e fixando a identidade, rotulagem e as características mínimas de qualidade a que deverão obedecer, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), estabeleceu exigências que devem ser cumpridas pelos fabricantes destes produtos, enfatizando que os mesmos devem ser utilizados por atletas (ANVISA, 1995).

    Neste contexto do avanço na área da suplementação esportiva, podemos destacar o exacerbado uso do Whey Protein, que é o suplemento que consiste da proteína isolada do soro do leite. As proteínas do soro do leite são extraídas durante o processo de extração do queijo e são empregadas na fabricação de outros produtos, como os suplementos para atletas. Estas proteínas possuem alto valor nutricional, contendo alto teor de aminoácidos essenciais, especialmente os de cadeia ramificada. Este tipo de suplemento é utilizado com maior frequência pelos praticantes de treinamento de força, isso se deve muito ao seu efeito anabólico, pois um dos principais objetivos dos praticantes é a hipertrofia muscular (DELAI E SANTOS, 2011).

    Um estudo realizado por Goston (2008), em Belo Horizonte no qual se avaliou a prevalência do uso de suplementos nutricionais, demonstrou que a maioria dos consumidores (71%) de suplementos possuíam menos de 30 anos. Inacio et al. (2008), realizado em Espírito Santo do Pinhal, mostraram que a maior parte dos indivíduos que fazem o uso de suplementos alimentares (71,42%) tem idade entre 15 e 25 anos.

    No estudo de Delai e Santos (2011), em Curitiba observou-se que a grande parte (35,71%) dos consumidores de suplementação protéica se encontrava na faixa etária entre 25 e 28 anos, sendo que 76% dos consumidores possuem menos de 30 anos. Além disso, 42,85% dos indivíduos alegaram que a orientação para o consumo de Whey Protein foi por conta própria através de pesquisas na internet, revistas e livros da área. Já 21,42% dos participantes responderam que a orientação dada para a suplementação partiu do Instrutor da academia, 19,04% receberam orientação de um Nutricionista, 11,90% receberam influencia de amigos, 2,38% foram conduzidos por vendedores de lojas de suplemento e 2,38% receberam orientação médica para o consumo de Whey Protein.

    Assim, torna-se interessante avaliar como estes produtos, compostos por Whey Protein, estão sendo apresentados no mercado brasileiro e se atendem recomendações éticas e científicas quando sugerem a forma de utilização pelo consumidor.

Metodologia

    O levantamento de informações científicas foi realizado no período de setembro a novembro de 2012, através de pesquisas nas bases de dados Pubmed, Scielo e Lilacs, referindo-se principalmente às publicações realizadas nos últimos 5 anos. A coleta de rótulos dos produtos contendo Whey Protein foi realizada em lojas físicas especializadas na venda de suplementos esportivos da cidade de São Paulo e também em sites de lojas virtuais destes produtos.

    Foram analisados os rótulos de marcas nacionais de Whey Protein quanto recomendações para uso (dosagem) e à quantidade de proteína fornecida pelas medidas recomendadas por cada marca.

Resultados

    De acordo com o levantamento dos rótulos de produtos de marcas nacionais, foram encontradas nove marcas nacionais do suplemento investigado, sendo que as nove (100%) produziam Whey Protein isolado (Tabela 1) e sete (77,8%) das nove, produziam também Whey Protein concentrado (Tabela 2).

    Todas apresentavam rótulos contendo a quantidade recomendada em termos do utensílio de medida-padrão contido no produto e o equivalente em gramas desta medida, juntamente com a quantidade de proteína contida nesta quantidade de produto sugerida.

    Assim, dentre as marcas encontradas, foram observados a porção recomendada do produto pelo fabricante, de acordo com o rótulo nutricional, e a quantidade correspondente de proteína no pó para a porção sugerida.

Tabela 1. Medidas sugeridas para o uso de Whey Protein isolado pelas marcas nacionais pesquisadas e sua respectiva concentração de proteína

    Dentre os produtos pesquisados, a medida-padrão usada pelo fabricante foi bastante discrepante, ou seja, são fornecidos diferentes tipos de utensílios-padrão nas diferentes marcas analisadas. Entretanto, embora os utensílios fossem diferentes, a gramatura sugerida foi padrão para sete marcas. Em duas das marcas a sugestão de uso foi a metade da porção recomendada pelos outros fabricantes.

Tabela 2. Medidas sugeridas para o uso de Whey Protein concentrado pelas marcas nacionais pesquisadas e sua respectiva concentração de proteína

    Entre a marca que sugeria a menor quantidade protéica para a que sugeria a maior quantidade houve uma diferença de 33%, o que representava 10g de produto. O fabricante que apresentava maior recomendação em termos de número de medidas pelo seu utensílio-padrão sugeria 4 medidas e, coincidentemente, este fabricante era o que apresentava menor concentração de proteína (g) por medida-padrão.

Discussão

    A indústria de suplementos alimentares está cada vez mais ganhando espaço no mercado e na população em geral, mas é importante compreender o porquê do uso e as relações estabelecidas entre os consumidores. O Whey Protein é o suplemento mais consumido pelos brasileiros significativamente ativos, com o objetivo de reparar o músculo e construção de massa magra (DELAI E SANTOS, 2011).

    A constatação da falta de conhecimento de uma alimentação balanceada e de qualidade, além do uso indiscriminado de suplementos alimentares que, muitas vezes superaram a ingestão diária recomendada de diversos nutrientes e substâncias, tornou necessária a criação de recomendações específicas para a veiculação de informações correta sobre alimentação e nutrição como a segunda versão da Diretriz da SBME, sobre a alimentação de atletas, publicada em 2009. Esta diretriz preconiza que a alimentação saudável, adequada ao exercício e a modificação favorável da composição corporal, aperfeiçoam o desempenho esportivo do atleta. Entretanto, neste documento, fica claro que praticantes de atividade física que não tenham intuito competitivo, ou então, treinamentos compatíveis com os de atletas, não devem fazer uso de qualquer suplemento alimentar.

    No Brasil, de acordo com o Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região, a prescrição de suplementos nutricionais deve ser indicada somente para aqueles indivíduos que não conseguem suprir as necessidades nutricionais, mas com caráter de suplementar o plano alimentar e não de substituir.

    Em nosso estudo, observamos que houve muita discrepância entre as diferentes marcas brasileiras produtoras de Whey Protein, tanto a quantidade recomendada de produto, quanto a quantidade de proteína existente.

    Outro ponto levantado no estudo foi que, a falta dessa padronização (diferentes números de medidas e os diferentes utensílios utilizados por cada marca) ao desperdício e a um maior gasto com estes produtos, podendo estes utilizar quantidades maiores ou menores do produto, e assim prejudicar o resultado esperado, assim como apontado por Vitalle (2007). Portanto, o profissional nutricionista deve estar atento aos rótulos nutricionais das diferentes empresas nacionais para recomendar a quantidade ideal para o atleta.

    O fator mais relevante em nosso estudo foi a diferença na medida-padrão usada por cada fabricante. Um estudo realizado no Hospital Sociedade Portuguesa de Beneficência de Pelotas, sobre padronização de medidas caseiras, diz que estes são instrumentos destinados a medir quantidades de determinados alimentos, e é importante para proporcionar a quantidade ideal, pois os alimentos ou suplementos possuem quantidades distintas de carboidratos, lipídios, proteínas, minerais, vitaminas, fibras e água.

    O organismo depende de uma nutrição adequada, com a ingestão equilibrada, e ideal de todos os macronutrientes e micronutrientes (carboidratos, lipídios, proteínas, minerais e vitaminas). Com esse aumento abusivo do consumo de suplementos alimentares pelos praticantes de atividade física, com a finalidade muitas vezes exagerada e ilusória de melhorar a forma física, estão deixando de se alimentar corretamente para usar os suplementos alimentares de uso indevido (ALBINO, CAMPOS E MARTINS, 2009).

    Segundo a SBME (2009), as necessidades de proteína aumentam com o tipo de exercício praticado, sua intensidade, duração e frequência. Para os exercícios físicos que têm por objetivo aumento de massa muscular, sugere-se a ingestão de 1,6 a 1,7 gramas por quilo de peso, por dia. Para os esportes em que o predomínio é a resistência, calculando-se ser de 1,2 a 1,6 g/kg de peso a necessidade de seu consumo diário. Os atletas devem ser conscientizados de que o aumento do consumo protéico na dieta além dos níveis recomendados não leva aumento adicional da massa magra. A ingestão protéica combinada com a ingestão de carboidratos após os exercícios de hipertrofia favorece o aumento da massa muscular. A recomendação é de 10 g de proteínas e 20 g de carboidratos (SBME, 2009).

    Assim, a recomendação para a ingestão diária de Whey Protein deve ser feita para atletas e indivíduos com treinamento intenso, e irá variar de acordo com o tipo de atividade física realizada, sua intensidade e duracao, bem como atender as demandas relativas ao peso corporal do atleta (CEZAR et al., 2012).

    A SBME (2009) preconiza que haja, no máximo, um consumo de 1,8 g/kg/dia para atletas de força, visando à hipertrofia muscular. Para um homem médio de 70 Kg, este consumo máximo representaria cerca de 126g de proteína/dia, valor que poderia ser contemplado perfeitamente em uma alimentação equilibrada, salvo em situações especiais.

    Em nosso estudo, a maior parte das marcas de Whey Protein Isolado recomendava que fosse consumida uma porção-padrão do produto em torno 48,2 g, o que já representaria uma ingestão de 0,68 g/Kg/dia para este mesmo indivíduo de 70 Kg, o que significaria cerca de 38% da sua necessidade diária, caso fosse um atleta de força.

    O consumo excessivo de proteína, diferente do que pensam, não leva a um aumento adicional de massa magra, e pode ser prejudicial à saúde, levando a desconfortos gástricos e tabém podendo acarretar em riscos metabólicos tanto para as funções hepáticas quanto para as funções renais (Sakzenian et al., 2009; SBME, 2009).

Conclusão

    Concluímos que o uso Whey Protein deve ser recomendado para atletas e para indivíduos, que mesmo nao tendo intuito competitivo, apresentem níveis de treinamento compatível ao de atletas. Isto deve ser feito de forma individualizada, de acordo com as suas necessidades nutricionais e características da atividade física, e principalmente, esta prescrição deve ser realizada por profissionais nutricionistas ou médicos que estejam devidamente preparados e atualizados nesta temática. Assim, o consumo desse produto não deve seguir uma recomendação geral, como mostram os rótulos dos suplementos pesquisados.

    A discrepância entre as diferentes recomendações conforme a marca do produto confunde o consumidor quanto a sua escolha. Referente a quantidade ideal para uso, o nutricionista deve estar atento ao recomendar esse tipo de produto, verificando a quantidade de proteína presente de acordo com as necessidades individuais de cada pessoa.

    Finalmente, é ideal que os atletas e praticantes de atividade física busquem os profissionais habilitados para prescrever suas dietas, ou seja, os nutricionistas, para que não tenham prejuízos a saúde e econômicos desnecessários.

Referências bibliográficas

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 191 | Buenos Aires, Abril de 2014
© 1997-2014 Derechos reservados