efdeportes.com

Avaliação do consumo de suplementos alimentares por praticantes

de atividade física em uma academia do município de São Paulo

Estimación del consumo de suplementos alimenticios por practicantes de
actividad física en un gimnasio del municipio de San Pablo

 

*Alunas do Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo

**Nutricionista da academia Acqua Sport

***Nutricionista pela FSP/USP, especialista em Nutrição Hospitalar - HC –FMUSP

Mestre em Nutrição Humana Aplicada (USP)

Doutora em Saúde Pública (USP)

Professora dos Cursos de Nutrição do Centro Universitário São Camilo

e da Universidade Presbiteriana Mackenzie

(Brasil)

Camila Silva Soares*

Gabriela Botelho Forte Guedes de Andrade*

Marília Gabriela Viganó*

Rafael Veiga**

Marcia Nacif***

nutrigabrielafortedeandrade@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          A procura por suplementação nutricional nas academias de ginástica tem se tornado cada vez mais comum entre os praticantes de atividades físicas. Assim, este estudo teve como objetivo avaliar o consumo de suplementos alimentares por freqüentadores de uma academia no município de São Paulo. Foram avaliados 119 praticantes de atividade física, sendo 67 do sexo feminino e 52 do sexo masculino com idade média de 35,6 anos (± 10,9). Aplicou-se um questionário semi – estruturado com 13 perguntas referentes ao consumo de suplementos. Verificou-se que os suplementos mais consumidos foram os aminoácidos ou outros concentrados protéicos; 26,5% dos entrevistados usavam estes produtos por auto indicação e o gasto médio mensal foi de $50,00 à $100,00 com a compra de suplementos alimentares. Pôde-se concluir que o consumo de suplementos é freqüente entre os praticantes de atividade física em academias. Neste âmbito, destaca-se a importância da inserção de nutricionistas nas academias com intuito de orientar sobre o consumo dos suplementos nutricionais a esta população.

          Unitermos: Suplementos alimentares. Atividade física. Academias. Musculação

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 140 - Enero de 2010

1 / 1

Introdução

    A academia de ginástica é um dos principais locais para a prática de exercícios físicos por indivíduos sem vínculos profissionais com o esporte 1. A Associação Brasileira de Academias verificou que existiam em 2007, 7.000 academias em todo o país, onde 2,8 milhões de brasileiros realizam seus programas de exercício 2.

    O ambiente das academias favorece a disseminação de padrões estéticos estereotipados, como o corpo magro, com baixa quantidade de gordura ou com elevado volume e tônus muscular 1,3.

    Na busca incessante pelo corpo perfeito ou pela obtenção de melhoria na performance e desempenho nas atividades esportivas e fitness, no aumento da força e da massa muscular, os freqüentadores de academias mais especificamente os praticantes de musculação têm se submetido ao consumo de produtos, muitas vezes de forma abusiva, dentre os quais se destacam os recursos ergogênicos e os suplementos alimentares, com o intuito de atingir objetivos em curto prazo. Isso ocorre porque nem sempre se tem cautela e paciência para esperar a evolução natural resultante do treino e da dieta2, 4, 5.

    Entende-se por recursos ergogênicos todas as substâncias ou artifícios, processos ou procedimentos para a melhoria da performance. O suplemento alimentar é o produto constituído de pelo menos um desses ingredientes: vitaminas (A, C, complexo B, etc.); minerais (Fe, Ca, Zn, etc.); ervas e botânicos (ginseng, guaraná em pó); aminoácidos (BCAA, arginina, ornitina, glutamina); metabólitos (creatina, L-carnitina); extratos (levedura de cerveja); ou combinações dos ingredientes acima. Porém, seu uso não deve ser considerado como alimento convencional. 4, 6

    O uso de suplementos dietéticos pode influenciar o desempenho esportivo, porém, não são totalmente conhecidos os efeitos colaterais de algumas destas substâncias, sendo recomendadas mais pesquisas. O uso de suplementos nutricionais, sem uma correta prescrição, pode produzir efeitos prejudiciais à saúde do consumidor1, 2, 6.

    O uso indiscriminado destes suplementos é influenciado por instrutores, professores ou treinadores, atingindo 31% dos praticantes de exercícios físicos, não havendo, em muitos casos, a orientação por nutricionistas e médicos esportistas7, 8.

    A alimentação é uma importante ferramenta dentro da prática desportiva. As necessidades de energia e nutrientes de um esportista são diretamente proporcionais ao tipo, freqüência, intensidade e duração do treinamento 9, 10. Ao considerar a nutrição como um instrumento para a melhora na qualidade de vida e o desempenho esportivo, além do uso de suplementos alimentares por praticantes de atividade física, um fato preocupante atualmente, e todos os outros fatores expostos acima, o presente estudo teve como objetivo avaliar o consumo de suplementos nutricionais por freqüentadores de uma academia de ginástica no município de São Paulo.

Metodologia

    Trata-se de um estudo transversal, realizado com 119 freqüentadores de uma academia de ginástica localizada no município de São Paulo.

    Os freqüentadores foram abordados na entrada da academia nos períodos diurno e vespertino, por serem horários de grande movimento. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário São Camilo por meio do documento 047/05 e todos os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

    Para a coleta de dados, utilizou-se um questionário com questões abertas e fechadas, referentes ao consumo de suplementos, os tipos mais utilizados, a freqüência do consumo, o gasto mensal e os fatores psicológicos associados ao uso desses ergogênicos nutricionais. Consideraram-se como válidos para a amostra do estudo, todos os alunos que freqüentassem a academia e tivessem idade superior a 18 anos.

    A análise dos dados obtidos foi realizada por meio da construção de tabelas e cálculos de porcentagens. Para variáveis quantitativas foram calculados estatísticas descritivas, médias e desvio padrão, utilizando o programa Microsoft Excel.

Resultados e discussão

    Foram avaliados 119 indivíduos praticantes de atividade física de uma academia no município de São Paulo com idade média de 35,6 anos (± 10,9). Entre eles 56,3% (n= 67) eram do sexo feminino e 43,7% (n=52) do sexo masculino. O nível de escolaridade da amostra foi predominante para indivíduos que possuíam nível superior, sendo 54,6% (n=65) graduados e 32,8% (n=39) pós-graduados; apenas 12,6% (n=15) possuíam nível de escolaridade referente ao ensino médio completo.

    Na tabela 1, pode-se observar que 56,3% (n= 67) dos entrevistados praticavam um conjunto de atividades físicas no momento da pesquisa e 28,6% (n=34) praticavam apenas musculação.

Tabela 1. Distribuição do número e porcentagem das modalidades praticadas pelos participantes do estudo. São Paulo, 2009

Modalidades

N

%

Musculação

34

28,6

Atividades Aquáticas

10

8,4

Exercícios Aeróbicos

6

5,0

Pilates

2

1,7

Várias modalidades

67

56,3

Total

119

100

    Na Tabela 2, observa-se os principais objetivos dos entrevistados em relação a prática de atividades físicas.

Tabela 2. Objetivos da prática de atividade física dos freqüentadores da academia. São Paulo, 2009

Objetivos

N

%

Melhora na qualidade de vida

Perda de peso

Hipertrofia muscular

Perda de gordura corporal

23

10

9

7

19,3

8,4

7,6

6,0

Resistência física

6

5,0

Melhora na condição física/ psicológica

Vários objetivos

6

58

5,0

47,8

Total

119

100

    Em relação ao consumo de ergogênicos nutricionais, pôde-se observar neste estudo que 27,7% (n=33) dos participantes consumiam suplementos alimentares. Destes 15,1% (n=18) eram mulheres e 12,6% (n=15) eram homens. Na Tabela 3, verifica-se a distribuição dos suplementos nutricionais em relação aos seus principais nutrientes.

Tabela 3. Distribuição do número e porcentagem de suplementos alimentares mencionados pelos participantes do estudo. São Paulo, 2009.

Tipo de produto

N

%

Aminoácidos ou outros concentrados protéicos

16

48,5

Consumo de mais de um suplemento

8

24,2

Suplementos energéticos

5

15,1

Vitaminas ou complexos vitamínicos

2

6,1

Alimentos compensadores

2

6,1

Total

33

100

    Os suplementos nutricionais mais consumidos foram os aminoácidos ou outros concentrados protéicos. No entanto, pôde-se observar em nosso estudo que o consumo destes suplementos não foi utilizado com o objetivo de corrigir as possíveis falhas na alimentação e sim com o objetivo de aumento de massa muscular. Dados semelhantes foram verificados em diversos trabalhos sobre o consumo de suplementos alimentares por praticantes de atividade física 2, 3, 4, 8.

    Em relação as fontes de indicação/prescrição destes suplementos, verifica-se na Tabela 4, que a maioria dos praticantes consome tais produtos por auto indicação. Outros estudos demonstram que o personal trainer é o que mais prescreve suplementos alimentares. Sabe-se, no entanto, que somente médicos e nutricionistas são os profissionais legalmente habilitados para a prescrição de suplementos alimentares, sendo estes profissionais capacitados para instruir as pessoas em relação a dietas e suplementos alimentares 1, 11, 12.

Tabela 4. Fonte de indicação de suplementos alimentares. São Paulo, 2009

Fonte de indicação

N

%

Outros (auto-indicação e vendedor de loja de suplementos alimentares)

9

27,3

Nutricionista

7

21,2

Médico

6

18,2

Professor da academia

4

12,1

Mais de uma indicação

3

9,1

Amigos

2

6,1

Personal Trainer

1

3,0

Familiares

1

3,0

Total

33

100

    Foi observado que os consumidores de suplementos alimentares deste estudo relataram conhecer suas funções no corpo humano. No entanto, 24,2% (n=8) desconhecem seus possíveis efeitos colaterais.

    Também foi verificado que 97,0% (n=32) dos participantes relataram ter tido benefícios com o consumo de suplementos. Tal dado também foi observado no estudo de Lollo (2004)6, no qual, praticantes de exercícios atribuíram uma melhora no desempenho associado ao consumo de suplementos dietéticos 6.

    Ademais, 42,4% (n=14) dos consumidores, responderam que não pretendem suspender o consumo de suplementos quando atingirem o resultado desejado. Porém, a maioria (70,6%) dos desportistas relatou não sentir alterações comportamentais devido a falta do uso de suplementos nutricionais.

    Em relação ao gasto mensal com a aquisição de suplementos, 42,4% (n=14) disseram gastar $50,00 à $100,00. No estudo de Pereira et al. (2003)13 o gasto médio mensal foi $61,70, valor próximo ao encontrado em nossa pesquisa13.

Considerações finais

    Foi possível constatar que o uso de suplementos alimentares por praticantes de atividade física nesta academia é uma realidade.

    É importante salientar que a maior parte dos desportistas consome suplementos alimentares por auto-indicação e que neste âmbito é necessário inserir nutricionistas capacitados a dar suporte aos indivíduos que freqüentam academias. Assim, este profissional poderá corrigir hábitos alimentares errôneos e diminuir o consumo inadequado e indiscriminado de suplementos alimentares, visando obtenção e manutenção da saúde desta população.

Referências

  1. HIRSCHBRUCH, M. D.; FISBERG, M.; MOCHIZUKI, L. Consumo de suplementos por jovens frequentadores de academias de ginástica em São Paulo. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v.14, n.6, p.539-543, nov/dez, 2008.

  2. DOMINGUES, S. F.; MARINS, J. C. B. Utilização de recursos ergogênicos e suplementos alimentares por praticantes de musculação em Belo Horizonte – MG. Fit. Perf. J., v.6, n.4, p.218-226, jul/ago, 2007.

  3. OLIVEIRA, et al. Avaliação nutricional de praticantes de musculação com o objetivo de hipertrofia muscular do município de Cascavel – PR. Colloquium Vitae, v.1, n.1, p.44-52, 2009.

  4. JESUS, E. V.; SILVA, M. D. B. Suplemento alimentar como recurso ergogenico por praticantes de musculação em academia. ANAIS do III encontro de Educação Física e áreas afins, outubro, 2008.

  5. JUNIOR et al. Suplementação de creatina e treinamento de força máxima dinâmica e variáveis antropométricas em universitários submetidos a oito semanas de treinamento de força (hipertrofia). Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v.13, n.5, p.303-309, set/out. 2007.

  6. LOLLO, P. C. B.; TAVARES, M. G. C. F. Perfil dos consumidores de suplementos dietéticos nas academias de ginástica de Campinas, SP. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 10, n.76, set. 2004. http://www.efdeportes.com/efd76/acad.htm

  7. DURAN et al. Correlação entre consumo alimentar e nível de atividade física habitual de praticantes de exercícios físicos em academia. Revista Brasileira Cl. e Mov., Brasília, v.12, n.13, p.15-19, set. 2004.

  8. GOMES et al. Caracterização do consumo de suplementos nutricionais em praticantes de atividade física em academias. Medicina (Ribeirão Preto), v.41, n.3, p.327-331, 2008.

  9. SAPATA, K. B.; FAYH, A. T.; OLIVEIRA, A. R. Efeitos do consumo prévio de carboidratos sobre a resposta glicêmica e desempenho. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v.12, n.4, p.189-194, jul/ago, 2006.

  10. OLIVEIRA, G. T. D.; MONTE, C. A. S.; REZENDE, M. G. Avaliação do consumo de macronutrientes antes, durante e após a atividade física de frequentadores de uma academia em São Paulo, Relatório de conclusão de estágio, mar, 2009.

  11. INÁCIO, F. R.; COSTA, C. E. R.; GRANJEIRO, P. A. Levantamento do uso de anabolizantes e suplementos nutricionais em academias de musculação. Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, v.9, n.13, p.287-299, jul./dez, 2008.

  12. PIMENTA, M. G.; LOPES, A. C. Consumo de suplementos nutricionais por praticantes de atividade física de academia de ginástica de Cascavel – PR, Simpósio Celafiscs, 2005.

  13. PEREIRA, R. F.; LAJOLO, F. M.; HIRSCHBRUBH, M. D. Consumo de suplementos por alunos de ginástica em São Paulo, Revista Nutr. Campinas, v.16, n.3, p.265-272, jul/set, 2003.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/

revista digital · Año 14 · N° 140 | Buenos Aires, Enero de 2010  
© 1997-2010 Derechos reservados