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A manutenção da submissão da Educação Física às instâncias superiores da sociedade: os interesses mercantis implícitos no cerne das abordagens pedagógicas construtivista-interacionista e desenvolvimentista

La sustento del sometimiento de la Educación Física a las instancias superiores de la sociedad: los intereses 

mercantiles implícitos en el núcleo de los abordajes pedagógicos constructivista-interaccionista y desarrollista

 

Licenciado em Educação Física pela Universidade Nove de Julho

Pós-graduando em Ética, Valores e Cidadania na escola pela USP

Professor de Educação Física da Prefeitura Municipal de Santo André

Oriel de Oliveira e Silva

oriel-17@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A Educação Física historicamente esteve subordinada aos interesses políticos e econômicos daqueles que detinham o poder na sociedade. Prova disto são as influências das idéias da eugenia, do higienismo e do militarismo sobre as práticas dessa área, durante alguns momentos históricos pré-década de 80, a fim de favorecer aqueles que estavam no topo da pirâmide social. Diante disto, e considerando o surgimento de novas abordagens para a Educação Física na década de 80 do século passado, as quais propunham um novo papel para a área dentro da sociedade, entre as quais estavam, além de outras, a Construtivista-Interacionista e a Desenvolvimentista, este estudo se propôs a filosofar acerca dessas pedagogias (Construtivista-Interacionista e Desenvolvimentista) e identificar se, no cerne de sua composição, existem interesses das camadas sociais privilegiadas. Para tanto, adotou-se o método da pesquisa bibliográfica, em que foram consultados: artigos que tratam da temática das tendências pedagógicas da Educação Física ao longo da história; um clássico da literatura da área, escrito por Castellani Filho: Educação Física no Brasil – a história que não se conta; bem como um revelador estudo, feito por Rega (2000), que trata do processo de mercadorização da educação, no contexto do sistema econômico neoliberal. Concluiu-se que o aparecimento das abordagens Construtivista-Interacionista e Desenvolvimentista não representou a ruptura da histórica submissão da Educação Física aos interesses das camadas sociais “superiores”. Pelo contrário, considerando as intencionalidades implícitas no interior dessas concepções, pode-se dizer que ambas as abordagens reforçam a subordinação da Educação Física a interesses daqueles que detêm o poder na sociedade.

          Unitermos: História da Educação Física. Abordagens pedagógicas Construtivista-Interacionista e Desenvolvimentista. Interesses mercantis implícitos.

 

Resumen

          La Educación Física históricamente estuvo subordinada a los intereses políticos y económicos de aquellos que detenían el poder en la sociedad. Prueba de ello son las influencias de las ideas de la eugenesia, higienismo y del militarismo sobre las prácticas del área, durante algunos momentos históricos previos a los 80, buscando favorecer aquellos que estaban en la cumbre de la pirámide jerárquica social. Teniéndolo en cuenta, y considerando el surgimiento de nuevos abordajes pedagógicos para la Educación Física en la década 80 del siglo pasado, las cuales proponían un nuevo papel para el área dentro de la sociedad, entre las cuales estaban, además de otras, la Constructivista-Interaccionista y la Desarrollista, este estudio se propuso a filosofar acerca de estas pedagogías e identificar si, en el cerne de su composición, existen intereses de las camadas sociales privilegiadas. Para hacerlo, se ha utilizado el método de la pesquisa bibliográfica, en la que fueron consultados: artículos que tratan del tema de las pedagogías de la Educación Física a lo largo de historia; un clásico de la literatura del área, escrito por Castellani Filho, Educación Física en Brasil: la historia que no se cuenta; como también un revelador estudio, hecho por Rega (2000), que trata del proceso de mercadorización de la educación, en el contexto del sistema económico neoliberal. Se ha concluido que el surgimiento de los abordajes pedagógicos Constructivista-Interaccionista e Desarrollista no representó una ruptura de la histórica sumisión de la Educación Física a los intereses de las camadas sociales “superiores”. Por lo contrario, teniendo en cuenta las intencionalidades implícitas en el interior de estas concepciones, se puede decir que ambos abordajes refuerzan la subordinación de la Educación Física a intereses de aquellos que detienen el poder en la sociedad.

          Palabras clave: Historia de la Educación Física. Abordajes pedagógicos Constructivista-Interaccionista e Desarrollista. Intereses mercantiles implícitos.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 184, Septiembre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Um pouco de história...

    Sabe-se que, historicamente, a Educação Física, a fim de eternizar a dominação do povo pela burguesia, funcionou e esteve a serviço dos interesses políticos e econômicos daqueles que detinham o poder. Constituída e desenvolvida sob as ideologias da classe dominante, a Educação Física se colocou, em diferentes épocas, como instrumento de manipulação da população (CASTELLANI FILHO, 1998).

    Foi influenciada por essa subordinação, que a Educação Física se deixou levar pelas idéias do militarismo, do higienismo e do eugenismo Ao estudar a história da área, percebe-se, nitidamente, a relação estreita que há entre as instituições médicas e militares e a Educação Física (CASTELLANI FILHO, 1998).

    Isto sem citar, ainda, o processo de esportivização - estimulado pelo governo na ditadura militar - pelo qual passou a Educação Física. Naquele período, marcado pela repressão aos cidadãos com consciência política, a Educação Física foi usada como instrumento de alienação da população (CHAGAS; GARCIA, 2011).

    Em suma, é notória, nos diferentes momentos históricos, a submissão da Educação Física às instituições que gozam de poder político.

O surgimento das abordagens Construtivista Interacionista e Desenvolvimentista no contexto da década de 80

    Como vimos, tradicionalmente, a Educação Física, sem ela própria ser autônoma, ocupou, atendendo a interesses de instâncias superiores, um papel de formação de seres alienados e, portanto, incapazes de refletir, de questionar, de criticar, de intervir.

    Na década de oitenta do século passado, em meio a um cenário de discussões polêmicas no campo da Educação Física - e diante da necessidade de a área se autoafirmar perante a sociedade - surgiram novas abordagens pedagógicas. Nesse contexto de renovação, ganharam relevância algumas tendências recém formuladas. Entre elas, estavam a Desenvolvimentista e a Construtivista Interacionista (NETTO, 2006).

    Indiscutivelmente, ambas as pedagogias trazem em sua composição uma sistematização de conhecimentos importantes, oriundos, sobretudo, da Psicologia. No entanto, como veremos, insuficientes para promover a formação crítica do aluno.

    A abordagem Desenvolvimentista, cujo principal autor é Go Tani, a partir da caracterização das crianças por estágios de desenvolvimento motor - proposta por Gallahue - articula suas ações para promover o desenvolvimento motor dos sujeitos. Nessa perspectiva, o que importa é, seguindo uma tabela padrão, universal, promover, aos alunos, a aquisição de habilidades motoras básicas, para, posteriormente, propiciar o aprendizado de habilidades mais complexas (BENDRATH; BENDRATH, 2012).

    Portanto, baseando-se nessa proposta, os objetivos da Educação Física se restringem às dimensões física e motora.

    Sendo assim, concluí-se que, com o aparecimento dessa concepção nova, não houve avanço algum em relação às concepções eugenista, higienista, militarista e esportivista, as quais marcaram a história da área, no que se refere à formação humana e crítica dos sujeitos.

    A abordagem Construtivista Interacionista, cujo autor principal é João Batista Freire, tampouco traz avanços no que tange a esse tipo de formação no âmbito da Educação Física.

    Restrita à preparação dos alunos para resolver problemas por meio do jogo, e ao desenvolvimento de capacidades físicas e habilidades motoras, a fim de favorecer o desenvolvimento cognitivo e, conseqüentemente, otimizar o processo de alfabetização das crianças, essa nova abordagem pouco oferece no sentido de fomentar a formação crítica dos alunos.

    Pelo contrário, tal como ocorre com a Desenvolvimentista, a abordagem Construtivista Interacionista é alienante e visa, unicamente, ao desenvolvimento de competências necessárias para atender ao mercado capitalista, como por exemplo a de criatividade e de resolução de problema, ambas, segundo Cassiano e Andrade, (2011), valorizadas por esse sistema econômico.

    Temos, assim, a constatação de que a Educação Física, através dessas duas abordagens, continua servindo, como ocorreu ao longo de sua história, a interesses da classe dominante.

O processo de mercadorização da educação e suas implicações na composição das abordagens Construtivista-Interacionista e Desenvolvimentista

    As intenções que estão por detrás dessas duas pedagogias da área vão ao encontro das preconizações do processo de mercadorização da educação, citado por Rega (2000).

    De acordo com esse autor, com o neoliberalismo, a educação passou a funcionar de acordo com a lógica do mercado, e não mais segundo o ideal de formação crítica do cidadão. Em seu artigo, ele faz algumas colocações importantes sobre essa questão (p. 159):

    “Na reorganização do sistema educacional pretendida pelo neoliberalismo a educação passa a ser feita utilizando-se políticas econômicas e gerenciais em vez de políticas educacionais [...]”.

    “[...] A educação deixa de ser auto-referida e passa, assim, a ser dependente da economia de onde recebe seus novos construtos organizadores e delimitadores de sua missão e razão de ser”.

    “Até o papel do professor é radicalmente alterado uma vez que, para atender a demanda do mercado, ele deve despir-se do papel politizante da realização pedagógica e a escola acaba assumindo uma função burocrática e administrativa [...]”.

    “[...] E, por isso, o professor também acaba sendo excluído das decisões educacionais, pois nada tem a dizer e referenciar nas escolhas que devem agora ser tomadas á luz de princípios mercantis e não mais educacionais e formativos do cidadão como sujeito histórico concreto que necessita desenvolver uma visão crítica da realidade, mas que agora estará sendo apenas instrumentalizado como um “capital humano”, mercadoria de ensino e consumidor contratante dos serviços educacionais”.

    Na página 160, o autor coloca que: “Até a escolha das disciplinas e dos conteúdos sofre forte seletividade elegendo-se certas capacidades em detrimento de outras que capacitam o aluno como sujeito histórico construtor do seu cotidiano e participante de uma cidadania responsável [...]”. De acordo com ele, tais capacidades priorizadas são: “ler, escrever, competência na vivência do cotidiano atendendo às demandas de sobrevivência do mercado e na solução dos problemas do cotidiano, assim, a matemática e as ciências são valorizadas”.

    Essa última frase do autor corrobora aquela idéia de relação estreita entre a concepção Construtivista-Interacionista e os interesses do mercado, na medida em que tal abordagem se preocupa, basicamente, em, por meio do movimento, promover o desenvolvimento de capacidades cognitivas importantes, e, assim, contribuir para o processo de aquisição do raciocínio lógico-matemático e das competências do ler e escrever.

    Portanto, concluí-se que tanto a abordagem Construtivista Interacionista quanto a Desenvolvimentista representam uma falsa evolução no que tange à formação crítica no âmbito da Educação Física. Quer dizer, o surgimento de tais concepções não rompeu com o histórico de submissão da área a interesses de instituições que possuem maior autoridade na sociedade.

    Cabe, agora, investigar se as outras abordagens que surgiram também estão a favor da ideologia do mercado e funcionando de acordo com a sua lógica.

Referências bibliográficas

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