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Perfil nutricional de taxistas da zona central de São Paulo

Perfil nutricional de taxistas del centro de Sao Paulo

 

*Graduandos do Curso de Nutrição da Universidade Presbiteriana Mackenzie

**Professora do Curso de Nutrição da Universidade Presbiteriana Mackenzie

e do Centro Universitário São Camilo

(Brasil)

Daniel Ferreira Barros*

Laís Morais Nobre Scarance*

Michele Ayumi Saito Noguchi*

Tauane Angélica da Silva Cassimiro*

Prof. Dra. Marcia Nacif**

marcia.nacif@mackenzie.br

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste trabalho foi verificar o perfil nutricional de taxistas da zona central de São Paulo. O perfil nutricional foi avaliado pela mensuração do peso e circunferência da cintura. Avaliou-se a alimentação e a prática de atividade física por meio da aplicação de um questionário. Participaram da pesquisa 50 taxistas com media de idade de 51,04 anos, sendo que 70% (n=35) eram adultos e 30% (n=15) idosos. Observou-se que 48% (n=24) dos participantes do estudo praticavam atividade física, 26% (n=13) eram tabagistas, 62% consumiam bebidas alcoólicas com freqüência e 44% consumiam bebidas energéticas. Verificou-se que 72% (n=36) dos indivíduos apresentaram sobrepeso e obesidade e 76% (n=38) risco de desenvolverem doenças cardiovasculares. Em relação aos hábitos alimentares, pôde-se verificar que os taxistas possuíam alimentação relativamente adequada. Desta forma, sugere-se que estes taxistas recebam orientação nutricional, visando à qualidade de vida e a prevenção de doenças.

          Unitermos: Taxistas. Alimentação. Estado nutricional.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 184, Septiembre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O serviço de táxi é conhecido por unir características de veículos privados e dos ônibus urbanos, porém sem uma rota regular e contínua. Por ser um transporte individual e com tarifas relativamente altas se comparado aos transportes de massa, não é acessível ao público em geral, que tem rotas pré-estabelecidas, horários fixos, tarifas publicadas e economicamente viáveis a todos (JUNIOR et al, 2011; SENA et al, 2008).

    A cidade de São Paulo agrega o maior número de táxis do país, com aproximadamente trinta e três mil, dos quais cerca de quatro mil são táxis de frotas, que são de propriedades de empresas. Na maior parte do mundo, os taxistas trabalham por meio de licenças emitidas pelo Poder Público (HRVALL; BERGLUND; VESSBY, 2000; CONDARINN et al, 2010).

    O trabalho do motorista de transporte urbano, inclusive taxistas, está diretamente relacionado ao ambiente no qual o mesmo é realizado. Diferentemente das outras profissões que tem seu ambiente de trabalho situado em ambientes fechados como lojas ou salas que algumas vezes são climatizadas e relativamente confortáveis, esse profissional desempenha suas atividades em um ambiente público: o trânsito. Portanto, estes profissionais não possuem um local restrito e bem definido para realizar suas tarefas, ao contrário, trabalham fora dos portões da empresa, estando sujeitos a intempéries como o clima, as condições de tráfego e do trajeto das vias urbanas (BATISTON; CRUZ; HOFFMAN, 2006).

    A rotina desses profissionais é bastante desgastante devido ao estresse do trânsito, jornada de trabalho excessiva, locais e horários inadequados para refeições, trocas de turnos, necessidade de cumprir as voltas no tempo determinado e ao sedentarismo da função. Nas grandes metrópoles, de cada dez taxistas, seis relatam jornada de trabalho maior ou igual a doze horas diárias (GANY et al, 2012; MORAES; FAYH, 2011).

    Devido aos horários irregulares de trabalho, os hábitos adotados majoritariamente pelos motoristas de taxi contribuem de maneira significativa para alterações no consumo alimentar e conseqüentemente na sua composição corporal (LOPES; TOIMIL, 2011).

    Dentro deste contexto, este estudo teve como objetivo verificar o perfil nutricional de taxistas que trabalham na zona central de São Paulo.

Metodologia

    Trata-se de um estudo do tipo transversal, realizado com 50 taxistas da zona central do Município de São Paulo, durante os meses de fevereiro à junho de 2013. Este estudo foi aprovado pela Comissão Interna de Ética em Pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie e todos os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.

    Para a avaliação do estado nutricional foram aferidas as medidas de peso e circunferência de abdômen. A estatura, devido à impossibilidade de avaliá-la em via pública, foi auto referida pelos participantes do estudo.

    O peso foi aferido com o auxilio de uma balança de marca Techline® com capacidade de 130 kg e sensibilidade de 100g; a circunferência de abdômen foi medida com o auxilio de uma fita métrica inextensível na altura da cicatriz umbilical. Com os dados antropométricos de peso e altura foi calculado o Índice de Massa Corporal (IMC) que foi classificado de acordo com a Organização Mundial da Saúde (2004).

    O risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares a partir da circunferência abdominal foi avaliado de acordo com as referências propostas pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (2007).

    Para a avaliação da alimentação dos taxistas foi utilizado um questionário baseado nos estudos realizados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (2004), Sales et al (2006) e Penteado et al (2008). O questionário comtemplou questões referentes aos dados sócio demográficos, hábitos alimentares e atividade física.

    Os dados foram tabulados e analisados utilizando-se o software Microsoft Excel 2010. Os valores foram expressos em média, desvio padrão e porcentagem.

Resultados e discussão

    Participaram do estudo 50 motoristas de taxi do sexo masculino. Destes, 70% (n=35) eram adultos e 30% (n=15) eram idosos, sendo 12 horas a média de trabalho diária. A tabela 1 expressa às características quanto ao estilo de vida dos taxistas.

Tabela 1. Características dos taxistas segundo estilo de vida. São Paulo, 2013

    Dos indivíduos avaliados, 13 eram tabagistas e destes, 11 apresentaram IMC entre sobrepeso e obesidade. Um estudo realizado por Holanda et al (2010) que avaliou o excesso de peso e adiposidade em adultos, verificou resultados semelhantes ao presente trabalho, havendo uma forte associação entre o hábito de fumar e o excesso de peso dos indivíduos.

    Em relação ao consumo de bebidas alcoólicas pelos taxistas, 62% (n=31) dos indivíduos possuíam este hábito, assim como em estudo realizado por Alquimim et al (2012), que avaliou motoristas de transporte urbano. Estes resultados tornam-se preocupantes, uma vez que esta categoria de trabalhadores exige uma grande atenção ao trânsito.

    O consumo de alimentos e bebidas energéticas foi citado por 44% (n=22) dos indivíduos pesquisados. Penteado et al (2008), ao avaliar a saúde de motoristas de caminhão, mostrou que 19,5 % consumiam estes produtos.

    O tempo médio de atividade física praticado pelos taxistas foi de apenas 31,2 minutos por 1,5 dia/semana. Em inúmeras pesquisas, alguns autores têm demonstrado que o estilo de vida adotado pelos indivíduos tem se tornado um dos mais importantes fatores determinantes de sua saúde. Segundo a Organização Mundial de Saúde, atualmente a sociedade tem incorporado um novo padrão de vida que é conseqüência de eventos como a industrialização, urbanização, desenvolvimento econômico e globalização (JUNIOR et al, 2011).

    Ao longo dos anos, em decorrência da demanda deste novo padrão social, o uso de transportes automatizados tem crescido, predispondo esses indivíduos ao sedentarismo, que pode provocar o comprometimento da saúde (CODARIN et al, 2010).

    Na ausência de atividade física, o corpo humano torna-se depósito de tensões acumuladas, prejudicando conseqüentemente a musculatura desses indivíduos que ficam enfraquecidas e tensionadas (CAVAGIONI; PIERIN, 2010).

    Outras pesquisas mostram que atividades profissionais ligadas ao setor de transportes apresentam elevado risco de comprometimento da saúde física e mental do trabalhador, sendo os motoristas de taxi uma categoria que se enquadra nesses riscos (ALVES; PINTO; REIS, 2012).

    O sedentarismo provocado pelas peculiaridades desta profissão tais como trabalhar estaticamente dentro de um carro a maior parte do tempo pode associar-se ao acúmulo de gordura total e localizada e este evento pode levar ao desencadeamento de doenças crônicas não transmissíveis (SENA et al, 2008).

    Além desses fatores físicos, esses indivíduos são diariamente expostos ao estresse advindo do trânsito caótico que se torna um agravante e diminui a qualidade de vida desses profissionais (CHEN et al, 2005).

    Em relação à classificação do IMC pôde-se verificar que 8% (n=4) dos taxistas apresentaram desnutrição, 20% (n=10) eram eutróficos, 38% (n=19) tinham sobrepeso e 34% (n=14) dos participantes apresentaram obesidade.

    Verificou-se um IMC médio de 28,68 kg/m2 (±4,81) semelhante ao encontrado no estudo de Sena et al (2008) que avaliou taxistas de João Pessoa e encontrou IMC médio de 28,73 kg/m2 (± 4,94).

    A tabela 2 apresenta à média e o desvio padrão das variáveis antropométricas dos taxistas.

Tabela 2. Média e desvio padrão da idade e variáveis antropométricas dos taxistas. São Paulo, 2013

    Observou-se valor médio de CA de 99,71cm (±10,81). Tal dado é semelhante ao encontrado no estudo de Rezende (2006) que verificou o Índice de Massa Corporal e a circunferência abdominal de adultos de Viçosa, Minas Gerais e observou média de CA de 89,21cm (± 12,51).

    A tabela 3 mostra a relação entre o IMC e a circunferência abdominal dos taxistas.

Tabela 3. Classificação do IMC e circunferência de abdômen dos taxistas. São Paulo, 2013

    Verificou-se que entre os taxistas classificados como obesos, 12% (n=6) tinham risco elevado e 22% (n=11) risco muito elevado de desenvolverem doenças cardiovasculares. Entre os indivíduos eutróficos, embora estejam adequados em relação ao IMC, 5 indivíduos (10%) apresentaram valores de circunferência abdominal acima dos parâmetros considerados normais. Na tabela 4 pode-se verificar os hábitos alimentares dos taxistas pesquisados.

Tabela 4. Freqüência de consumo de alimentos pelos taxistas. São Paulo, 2013

    Os hábitos referidos pelos taxistas foram de uma alimentação relativamente equilibrada. No entanto, tais hábitos não condizem com a jornada de trabalho desses indivíduos, pela falta de tempo e disponibilidade para a aquisição de alimentos, e também pelos dados antropométricos encontrados.

    A adição de sal no alimento já pronto foi relatada por 13 (26%) indivíduos. Estudo feito por Condarin et al (2010), verificou o perfil alimentar de motoristas de caminhão, mostrando que 32 (60,4%) indivíduos adicionavam sal nas preparações já prontas; tal divergência entre os estudos pode-se se dar pela diferença entre a categoria de trabalho e a omissão no relato dos indivíduos pesquisados.

    Além disto, o consumo alimentar dos motoristas de transporte urbano é alterado devido aos horários irregulares de pausas para realização de refeições, hábito de beliscar, consumo de bebidas cafeinadas, alcoólicas, alimentos não saudáveis com alto teor calórico e ausência de opções de alimentos saudáveis, este estilo de vida e ocupação trazem grandes riscos para doenças coronarianas (CODARIN et al, 2010; FRENCH; HARNACK; HANNAN, 2007; COSTA et al, 2011; KUROSAKA et al, 2000).

    A profissão de motorista de transporte coletivo possui situações específicas de trabalho, as quais modificam o estado nutricional, a freqüência alimentar e aumentam a exposição à problemas de saúde, como as doen­ças cardiovasculares (DCV). Entre as doenças identificadas no estudo de Moraes e Fayh (2011), foi observado o estresse psicológico, obesidade, dislipidemias, síndrome metabólica, doenças gastrointestinais e, principalmente as DCVs, como a hipertensão arterial sistêmica, aterosclerose e infarto agudo do miocárdio.

Conclusão

    A partir dos dados obtidos neste estudo pode-se concluir que:

    Desta forma, medidas de prevenção devem ser tomadas para evitar agravos à saúde dos taxistas. Destaca-se a necessidade de acompanhamento com uma equipe multiprofissional composta por médicos, nutricionistas, psicólogos entre outros profissionais para promover a saúde e a qualidade de vida para estes indivíduos.

Referências bibliográficas

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