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Prevalência dos fatores de risco cardiovasculares em motoristas de táxi

Predominio de los factores de riesgo cardiovasculares en conductores de taxi

Prevalence of cardiovascular risk factors in the taxi drivers

 

*Fisioterapeutas, Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública

**Mestre e Doutoranda em Medicina e Saúde Humana pela Escola Bahiana

de Medicina e Saúde Pública. Docente da Universidade Federal da Bahia

e da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Salvador (BA)

(Brasil)

Márgara Thaíse da Silva Alves*

Danilo Muniz Pinto*

Helena França Correia dos Reis**

margarafisio@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: As doenças cardiovasculares (DCV) são um importante problema de saúde pública. A atividade ocupacional está intimamente relacionada com o desenvolvimento das DCV e a profissão de taxista é uma das mais propensas a riscos à saúde. O objetivo do estudo foi determinar a prevalência de fatores de risco cardiovasculares em motoristas de táxi e verificar se existe associação entre as variáveis relacionadas ao exercício da profissão e os principais fatores de risco cardiovasculares. Métodos: Estudo de corte transversal, no qual motoristas de táxi responderam a um questionário com dados demográficos, clínicos, hábitos de vida, e aspectos da profissão. Foi mensurada a pressão arterial e dados antropométricos. Foi adotado um nível de significância de 5%. Resultados: Foram incluídos 92 indivíduos e os fatores de risco mais relevantes foram: sedentarismo (84,8%), hereditariedade (88%), risco muito aumentado (44,6%), sobrepeso (43,5%) além de 47,8% apresentarem valores alterados de pressão arterial. Verificou-se associação estatisticamente significante entre pernoite (horas) e obesidade, tempo de profissão (anos) e tabagismo e entre pernoite (horas) e tabagismo. Conclusão: Há uma alta prevalência de fatores de risco cardiovasculares, com ênfase na inatividade física, obesidade, além de hábitos de vida inadequados, como a ingesta alimentar inapropriada e horas de sono insuficientes.

          Unitermos: Fatores de risco. Doenças cardiovasculares. Saúde do trabalhador.

 

Abstract

          Introduction: Cardiovascular disease (CVD) is an important problem public health. The occupational activity is closely related with the development of CVD and the profession of taxi driver is one of the most prone to health risks. The study objective was to determine the prevalence of cardiovascular risk factors in taxi drivers and to investigate the association between variables related to the profession and major cardiovascular risk factors. Methods: Cross-sectional study in which taxi drivers answered a questionnaire with demographic, clinical, habits of life, and aspects of the profession. Blood pressure was measured and anthropometric data. It was adopted a significance level of 5%. Results: We included 92 individuals and risk factors relevant were: exercise (84.8%), heredity (88%), risk greatly increased (44.6%); overweight (43.5%) while 47.8% presented altered values of blood pressure. An association statistically significant between overnight (hours) and obesity, time occupation (years) and between smoking and overnight (pm) and smoking. Conclusion: There is a high prevalence of cardiovascular risk factors, with emphasis on physical inactivity, obesity, and lifestyle inadequate food intake as inappropriate and hours of sleep insufficient.

          Keywords: Risk factors. Cardiovascular diseases. Health of worker

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 170 - Julio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    As doenças cardiovasculares (DCV) são consideradas um grande problema de saúde pública no Brasil. A preocupação com estas afecções teve início após a II Guerra Mundial e desde então houve inúmeras modificações nos hábitos de vida do ser humano: menor tempo para a realização de atividade física, estilo de vida mais competitivo e ingestão de alimentos industrializados com alto teor de carboidratos e gorduras.¹ Segundo dados do Ministério da Saúde, as doenças do aparelho circulatório foram a primeira causa de óbito no Brasil, sendo responsáveis por 29,4% de óbitos em 2008 enquanto que no Nordeste, elas representam cerca de 29,7% dos óbitos.2,3

    Dentre as doenças cardiovasculares, destacam-se o infarto agudo do miocárdio (IAM), o acidente vascular encefálico (AVE) e a insuficiência cardíaca congestiva (ICC). Estas afecções apresentam um caráter multifatorial e estudos epidemiológicos vêm demonstrando uma relação entre determinados fatores de risco e o desenvolvimento destas.4 Segundo alguns autores, estes fatores podem ser distribuídos em não-susceptíveis à modificação (idade, sexo, hereditariedade, raça) e os passíveis de modificação (hipertensão arterial, tabagismo, etilismo, obesidade, dislipidemias, diabetes mellito, sedentarismo, dieta).2

    Estudos mostram que as atividades ligadas ao setor de transporte são de elevado risco à saúde física e mental do trabalhador.4,5,6 Logo, a atividade ocupacional desempenhada pelo indivíduo pode estar intimamente relacionada com o desenvolvimento das DCV. Condições de vida como origem, assistência médica, grau de instrução, moradia, alimentação e de trabalho são fatores determinantes nas diversas situações de vida dos trabalhadores e logo podem influenciar a saúde de forma negativa.7

    Deste modo, os motoristas de táxi podem sofrer comprometimentos na saúde em decorrência do exercício da sua atividade profissional, ou seja, as diversas situações “estressoras” relativas ao trânsito associada aos instrumentos e as condições de trabalho (adequação e conforto) amplamente deficientes podem predispor as DCV.7 Para isto, se faz necessário a identificação destes fatores, quais os mais prevalentes além da sua distribuição na população para que se possa traçar estratégias de intervenção nos três níveis de atenção à saúde quanto as doenças cardiovasculares.

    Este estudo objetiva determinar a prevalência dos fatores de risco cardiovasculares em motoristas de táxi além de verificar se existe associação entre as variáveis relacionadas ao exercício da profissão e os principais fatores de risco cardiovasculares.

Métodos

    Trata-se de um estudo de delineamento observacional de corte transversal. A população do estudo foi composta por motoristas de táxi ativos na profissão do sexo masculino, com idade entre 18 e 60 anos, que circularam por um posto de abastecimento de referência, pertencentes ou não a Associação Metropolitana dos Taxistas (AMT) e/ou aqueles que participaram do 7º Campeonato de Futebol dos Taxistas no SEST/SENAI em Simões Filho. A coleta foi realizada no período de novembro de 2009 a abril de 2010. Para cálculo do tamanho amostral, utilizou-se ± 10% de precisão e alfa de 5%, em se considerando uma prevalência estimada de 25%. Logo, foram necessários 73 participantes.

    O questionário caracterizou os motoristas das seguintes maneiras: características sócio-demográficas como cor da pele (auto-referida), religião, estado civil, idade, classificação econômica (conforme os critérios da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa/ABEP)8, escolaridade e horas de sono.

    Variáveis relacionadas ao exercício da profissão tais como: jornada diária de trabalho (número de horas em que efetivamente dirigem de forma ininterrupta), tempo de repouso diário (horas durante cada jornada de trabalho, considerando o tempo necessário para higienização e alimentação), tipo de trabalho (regular, sazonal ou temporal) de forma auto-referida, outra ocupação além de motorista de táxi, tempo de profissão (anos), pernoite (em horas) e se o participante era proprietário do carro.

    Para as variáveis antecedentes familiares, os motoristas de táxi foram questionados as seguintes afecções: hipertensão arterial (HAS), diabetes mellitus (DM), infarto agudo do miocárdio (IAM), angina no peito, obesidade, doença coronariana precoce, dislipidemias, tabagismo e inatividade física sendo solicitado o grau de parentesco. Foram questionados também sobre os antecedentes pessoais para HAS, DM, dislipidemias, outro problema de saúde, além do uso de medicamento para tais, questionados ainda sobre como consideram a sua saúde (excelente, muito boa, boa, regular e ruim). Portanto, todas estas variáveis foram auto-referidas.

    Em relação aos hábitos alimentares foi questionado se o participante considera seu hábito alimentar saudável e o motivo. Em relação ao hábito do tabagismo, o motorista de táxi foi questionado se possuía o hábito de fumar regularmente, se havia parado de fumar (sendo considerado como ex-tabagista aqueles motoristas que referiram ter parado de fumar há 1 mês) ou se nunca tinha fumado.9 Em relação ao hábito de ingestão de bebidas alcoólicas, foi perguntado ao motorista quanto a freqüência e ao tipo de bebida mais ingerida. Foram ainda questionados se freqüentam academia e qual a freqüência durante a semana além do uso de medicamento ou suplemento para aumentar massa muscular. Para a variável inatividade física, foi aplicado o Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) na forma curta.10

    Posteriormente foram coletados os dados antropométricos dos participantes. O peso (em quilogramas) foi determinado através de uma balança mecânica portátil - Sunrise®, com precisão de 100 gramas e capacidade máxima de 130 kg. Já para a medida da estatura, foi utilizada uma trena métrica 3m - Global Plus® e a partir destas duas variáveis foi determinado o Índice de Massa Corporal (IMC). A classificação utilizada foi abaixo do peso (<20 kg/m2), peso normal (20 - 24,9 kg/m2), sobrepeso (25 – 29,9 kg/m2), obesidade (30 – 39,9 kg/m2) e obesidade mórbida (>40 kg/m2).11

    Para a variável circunferência abdominal foi utilizada uma fita métrica não distensível com intervalos de 0,1 cm e extensão de 150 cm da marca Corrente®, sendo a mesma aferida no ponto médio entre o último arco costal e a crista ilíaca ou cintura natural com o indivíduo na posição ortostática.12 Os indivíduos que apresentarem valores < 94 cm foram considerados com circunferência abdominal normal, valores entre 94 e 101 cm foram considerados com risco aumentado e aqueles que apresentaram medidas ≥ 102 cm para homens foram considerados com risco muito aumentado (valores de acordo com o sexo masculino).13

    Foi mensurada a pressão arterial três vezes com intervalo de um minuto entre cada aferição, utilizando medidor de pressão arterial semi-automático - G-Tech®. Para isso, os participantes estavam sentados, relaxados, com as costas apoiadas, pés pousados no chão e com o braço apoiado sobre uma mesa e à altura do precórdio, padronizando-se o braço direito para a mensuração.11 Os valores de referência para pressão arterial foram: Normal (<130 x 85 mmHg), Limítrofe (130-139 x 85-89 mmHg) e Alterado (>140 x 90 mmHg).14

    O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública sob o número 135/09. Antes de iniciar a coleta de dados, os participantes foram informados sobre os objetivos do estudo e sobre a coleta de dados, sendo assegurado o direito de participar ou não. Após isso, aqueles que concordaram em participar, assinaram o consentimento.

    A variável dependente deste estudo foi a presença ou não de um ou mais fatores de risco cardiovasculares clássicos (obesidade, tabagismo, inatividade física, hipertensão arterial, diabetes mellitus e dislipidemias). As variáveis independentes foram jornada diária de trabalho, tempo de profissão, pernoite e horas de pernoite.

    As variáveis categóricas (cor da pele, classificação econômica, escolaridade, estado civil, religião, outra ocupação, pernoite, proprietário do veículo, antecedentes pessoais, antecedentes familiares, condição de saúde, tabagismo, etilismo, inatividade física, freqüentar academia, hábito alimentar saudável, sono, IMC categorizado e circunferência abdominal categorizado) foram expressas em freqüências absoluta (n) e relativa (%). Para as variáveis numéricas (idade, tempo de profissão, jornada diária de trabalho, tempo de descanso diário, horas de sono e pernoite em horas) foram utilizados média e desvio padrão, e quando necessário, foram expressos ainda os valores mínimo e máximo.

    O teste qui-quadrado foi utilizado para comparação das variáveis categóricas, que seriam os principais fatores de risco cardiovasculares (Diabetes Mellitus, Dislipidemias, Hipertensão Arterial, tabagismo, inatividade física e obesidade) entre os indivíduos que realizaram pernoite e os que não realizaram. Quando inadequado, foi utilizado o teste exato de Fisher. O teste t de Student para estabelecer a significância estatística da diferença entre as médias dos grupos, com um nível de significância de 5%. Para a análise estatística foi utilizado o “Statistical Package for Social Sciences” (SPSS) versão 15.

Resultados

    O estudo contou com uma amostra de 92 motoristas de táxi. Através da Tabela 1 observa-se que os motoristas de táxi estudados eram em sua maioria não brancos (78,3%), casados (59,8%), católicos (66,3%) e pertencentes às classes “A e B” (64,2%) e “C” (35,9%).

Tabela 1. Características biossociais dos motoristas de táxi de Salvador- BA, 2009. (n=92)

    Vale ressaltar que nenhum dos taxistas pertenceu às classes “D” e “E”. A maior parte deles tinha o ensino médio completo (59,8%), não tinham outra ocupação (85,9%), eram proprietários do veículo (78,3%) e não faziam pernoite (65,2%).

    Os motoristas de táxi possuíam uma média de idade de 44,5±8,5 anos, variando entre 24 a 59 anos e com tempo médio de profissão de 14,3±8,4 anos.

    Permaneciam dirigindo diariamente uma média de 12,1±2,2 horas e com tempo médio de descanso entre a jornada diária de trabalho de 1,8±1,3 horas. A maioria dormia menos de oito horas (60,9%) com uma média de 6,9±1,2 horas de sono Dos 32 taxistas que realizam pernoite, estes referiram trabalhar 7,8±3,4. Quanto ao tipo de trabalho, 96,9% dos participantes classificaram como regular. (Tabela 2).

Tabela 2. Características da idade e profissão dos motoristas de táxi em relação à média, desvio padrão, mínimo e máximo. Salvador-BA, 2009

    A partir da Tabela 3, observa-se que um número expressivo (88%) dos motoristas de táxi referiu possuir antecedentes familiares para: hipertensão arterial, diabetes mellitus, infarto agudo do miocárdio, angina no peito, tabagismo, história de doença coronariana, obesidade, dislipidemias e inatividade física. Em relação aos antecedentes pessoais, nota-se que 28,3%, 10,9% e 7,6% referiram possuir hipertensão arterial, dislipidemias e diabetes mellitus, respectivamente.

Tabela 3. Características dos antecedentes familiares, pessoais e saúde dos motoristas de táxi em Salvador – BA, 2009. (n=92)

    Além disso, aproximadamente metade (52,2%) dos participantes considerou sua saúde como boa.

    Verifica-se pela Tabela 4, que apenas 9,8% referiram fumar e 42,4% têm o hábito de raramente ingerir bebida alcoólica.

Tabela 4. Características dos hábitos de vida dos motoristas de táxi em Salvador – BA, 2009. (n=92)

    Quanto à prática de atividade física, segundo o IPAQ, a grande maioria (84,8%) foi classificada como inativo, além de 78,3% não freqüentarem academia. Observa-se que mais da metade 60,9% e 63% dos participantes referem hábito alimentar saudável e acordam descansados, respectivamente.

    Nas variáveis da Tabela 5, em relação ao Índice de Massa Corpórea, a maioria expressiva (75%) apresentava-se com taxas acima dos valores considerados saudáveis, sendo que quase a metade (43,5%) estava com sobrepeso e um pouco menos de um terço (31,5%) com obesidade.

Tabela 5. Características dos dados antropométricos e valores pressóricos dos motoristas de táxi em Salvador – BA, 2009. (n=92)

    Verificou-se que mais da metade (77%) apresentava circunferência abdominal acima do considerado adequado. Destes, 29,3% na faixa de risco aumentado e 44,6% na faixa de risco muito aumentado. Quanto a variável pressão arterial, um pouco mais da metade (62%) apresentou valores acima do considerado normal, sendo que 47,8% atingiu valores pressóricos alterados no momento da coleta.

    Pelos dados da Tabela 6, verifica-se que houve associação estatisticamente significante (p<0,05) entre horas de pernoite e obesidade, ou seja, os indivíduos obesos apresentam um média de horas de pernoite maior que os indivíduos com valores abaixo do peso o normal. Ainda foi visto que o hábito de fumar se associou com a prática do pernoite e com o tempo de profissão em anos.

Tabela 6. Distribuição dos motoristas de táxi de Salvador-BA, segundo os principais fatores de risco cardiovasculares segundo 

a média e o desvio padrão em relação à jornada diária de trabalho, tempo de profissão e pernoite. Salvador-BA, 2009

    Quanto a análise para comparação dos principais fatores de risco cardiovasculares com a realização ou não de pernoite, pôde-se observar que não houve associação estatisticamente significante entre a realização do pernoite e os principais fatores de risco cardiovasculares (Figura 1).

Figura 1. Distribuição dos motoristas de táxi de Salvador-BA de acordo com a realização do 

pernoite e os principais fatores de risco cardiovasculares. Salvador-BA, 2009. (n =92)

    Entretanto, é valido ressaltar que existiram diferenças relevantes entre os indivíduos que fazem e os que não fazem pernoite em relação a inatividade física e obesidade. Quanto aos demais fatores de risco, as prevalências foram semelhantes. No entanto, as diferenças não foram estatisticamente significantes (p<0,05).

Discussão

    A partir dos resultados obtidos nesse estudo, observa-se que alguns dos fatores de risco modificáveis para o desenvolvimento das doenças cardiovasculares foram prevalentes. Dentre eles, a inatividade física foi um fator relevante e identificado também em outras investigações. 2,15 Este fator de risco tem efeito nocivo na resistência a insulina, hiperglicemia e dislipidemias, além de agravar a morbimortalidade em indivíduos com excesso de peso.² Este resultado pode ser justificado pelo cansaço físico gerado pelas extensas jornadas diárias de trabalho ou falta de conhecimento quanto aos benefícios da atividade física na prevenção das DCV.16

    A obesidade e o risco aumentado de desenvolvimento das DCV demonstraram-se fatores muito prevalentes, de acordo com o IMC e a circunferência abdominal, o que se relaciona com altos níveis de sedentarismo e a ingesta alimentar rica em gorduras e açucares provenientes da escolha de refeições rápidas em meio a profissão. 17 Um estudo com o objetivo de avaliar a composição corporal e a relação com o nível de atividade física, de taxistas e carteiros em João Pessoa em uma amostra de 105 indivíduos, encontrou no grupo dos taxistas um status nutricional precário, fruto de um perfil sedentário e insuficientemente ativo, característico da sua profissão.18

    A amostra estudada esteve em sua maioria na faixa dos 40 anos. De acordo com a análise da literatura, com o avançar da idade o individuo se torna vulnerável ao acúmulo de fatores de risco cardiovasculares além da influência de questões psicossociais e hereditárias.14,19 O caráter hereditário apresentou-se prevalente neste estudo, indo de acordo com estudos que mostram uma forte relação dos fatores genéticos com o desenvolvimento de DCV. 20,21

    No presente estudo, o tabagismo não obteve altas taxas de prevalência. Em um estudo com o objetivo de investigar fatores de risco cardiovascular em motoristas e cobradores de ônibus, observaram uma prevalência de 9,5%, semelhante à encontrada neste estudo.11 Uma possível justificativa para isso, seria o aumento significativo das campanhas publicitárias anti-fumo que colaboraram para a diminuição no consumo do tabaco.17

    Quanto aos antecedentes pessoais para hipertensão arterial, diabetes mellitus e dislipidemias, estes não apresentaram índices prevalentes, o que pode ser explicado pela auto-referência dos dados, sugerindo uma não fidedignidade dos resultados, visto que neste estudo, 66 indivíduos referiram não apresentar diagnóstico médico de HAS. Entretanto, no momento da aferição dos níveis pressóricos, 36 destes indivíduos, apresentaram valores considerados como limítrofes ou alterados. Contudo, acredita-se que estes valores sofram influência de hábitos de vida e/ou aspectos psicológicos relacionados ao dia anterior no momento da aferição da pressão arterial.14,21

    Foi observada a associação estatisticamente significante entre obesidade e pernoite em horas. Estudos já revelam que indivíduos que tem insônia ou trocam o dia pela noite estão mais propensos a se tornarem obesos. Diversos estudos indicam que os indivíduos que dormem menos têm uma maior possibilidade de se tornarem obesos, e que o encurtamento do sono aumenta a razão grelina/leptina, gerando o aumento do apetite e da fome. Isto pode estar associado à maior ingestão calórica e ao desencadeamento da obesidade.17,22,23

    Outro dado relevante neste estudo foi a associação significante entre o hábito de fumar e o tempo de profissão. Logo, uma explicação para isso, seria a conscientização junto a precaução quanto aos malefícios do tabagismo que os indivíduos com mais idade tem em relação aos mais jovens, que por sua vez querem se inserir em grupo social ou demonstrar auto-suficiência em determinado meio.

    A nicotina possui efeito estimulante sobre o sistema nervoso central além de promover um rápido, mas pequeno aumento do estado de alerta, melhorando a atenção, a concentração e a memória. Entretanto, foi observado neste estudo que os motoristas que fumam trabalham menos horas de pernoite do que aqueles que não fumam.24

    Uma das limitações encontradas foi a existência de poucos estudos na literatura que verificam a presença dos fatores de risco cardiovasculares nesta população.

    No entanto, os resultados do presente estudo podem fornecer informações pertinentes para o controle do desenvolvimento destas afecções na população estudada. Sugere-se, a implantação de ações de promoção da saúde nesta classe de trabalhadores.

    Portanto, conclui-se que entre os motoristas de táxi, há uma alta prevalência de fatores de risco cardiovasculares, com ênfase na inatividade física e obesidade. Além da presença hábitos de vida inadequados, a exemplo da ingestão alimentar irregular e inapropriada e horas de sono insuficientes.

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