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Dimensões motivacionais de praticantes de atividade física com lesão medular, cadeirantes: um estudo comparativo entre atletas e não atletas

Dimensiones motivacionales de practicantes de actividad física con lesión medular, 

en silla de ruedas: un estudio comparativo entre deportistas y no deportista

Dimensions motivational of practitioners of physical activity with spinal cord 

injury, wheelchair: a comparative study between athletes and non-athletes

 

*Graduado em Psicologia pela FACCAT

Especialista em Psicologia do Esporte pela Universidade Feevale

**Graduado em Psicologia pela PUC-RS

Graduado em Educação Física pelo IPA

Especialista em Ciências do Esporte pela UFRGS

Mestre em Ciências do Movimento Humano pela UFRGS

Doutor em Esporte e Rendimento pela Universidade de Cadiz

***Graduada em Psicologia pela PUCRS

Mestre em Psicologia Clínica pela PUCRS

Doutora em Psicologia pela PUCRS

****Graduado em Psicologia pela Unisinos

Mestre em Ciências do Movimento Humano pela UFRGS

Doutor em Ciências do Movimento Humano pela UFRGS

Psic. Gabriel Feiten*

Dr. Márcio Geller Marques**

Profa. Dra. Geraldine Alves dos Santos***

Dr. Marcus Levi Lopes Barbosa****

marcus_barbosa@yahoo.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo buscou diferenciar quais são os fatores que motivam cadeirantes com lesão medular atletas e não atletas a praticar ou se manter fazendo atividade física, participaram do estudo 10 indivíduos, sendo cinco atletas e cinco não atletas. O instrumento utilizado foi o Inventário de Motivação à Prática Regular de Atividade Física - IMPRAF - 54 (Balbinotti e Barbosa, 2006). Este instrumento visa conhecer as motivações que levam a pessoa a realizar (ou se manter realizando) atividades físicas. O IMPRAF-54 avalia seis dimensões da motivação para a prática de atividades físicas, que são: Controle do Stress, Saúde, Sociabilidade, Competitividade, Estética e Prazer. Os resultados mostram que a dimensão competitividade apresenta níveis significativamente (p < 0,05) maiores no grupo de atletas. Mais ainda, as dimensões Sociabilidade seguidos de Prazer e Estética parecem ter papel importante na motivação de ambos os grupos de participantes.

          Unitermos: Motivação. Lesão medular. Esporte.

 

Abstract

          This study sought to differentiate what are the factors that motivate wheelchair athletes with spinal cord injury and non-athletes to practice or keep doing physical activity, participated in the study 10 subjects, five of five athletes and nonathletes. The instrument used was the Survey of Motivation to Practice Regular Physical Activity - IMPRAF - 54 (Balbinotti and Barbosa, 2006). This instrument aims to understand the motivations that lead a person to make (or keep doing) physical activities. The IMPRAF-54 assesses six dimensions of motivation for physical activity, which are: Control Stress, health, sociability, competitiveness, and Aesthetic Pleasure. The results show that the dimension competitiveness shows levels significantly (p < 0.05) higher in the group of athletes. Moreover, the dimensions of Sociability followed of Pleasure and Esthetics seem to play a role in the motivation of both groups of participants.

          Keywords: Motivation. Spinal cord injury. Sport.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 173, Octubre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A cada dia aumenta mais o número de pessoas portadoras de deficiência no Brasil. De acordo com o Censo 2000 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), cujos dados foram divulgados no início de 2003, aproximadamente, 24,6 milhões de pessoas ou 14,5 % da população total brasileira apresentam algum tipo de incapacidade ou deficiência. 14 entre 100 brasileiros possuem alguma dificuldade de ouvir, locomover-se, enxergar ou ainda alguma deficiência física ou mental (RODRIGUES, 2007). Os dados do Censo mostram também que, no total de casos declarados portadores das deficiências, 8,3% possuem deficiência mental, 4,1% deficiência física, 22,9% deficiência motora, 48,1% visual e 16,6% auditiva. Quando a questão da deficiência foi investigada pela última vez, o Brasil tinha cerca de 1,5 milhão de deficientes físicos, destes, mais de 930 mil usuários de cadeiras de rodas (INSTITUTO ETHOS, 2002).

    O número de propostas e alternativas para inclusão dessas pessoas vem sendo considerado importante, para que deem segmento a uma vida funcional ativa. Infelizmente esses projetos não são criados ou postos em prática na mesma velocidade que aumenta o número de deficiente, o Brasil nem ao menos conta com uma infraestrutura suficiente para atendê-las, o que por muitas vezes ocasiona no isolamento e incapacitação das mesmas (INSTITUTO ETHOS, 2002).

    A atuação do psicólogo pode influenciar no comportamento dessas pessoas através de terapias e técnicas que contribuam para a inclusão social. Uma alternativa para psicólogos e outros profissionais é o envolvimento e desenvolvimento social por meio da prática esportiva, utilizando trabalhos adaptados de acordo com os objetivos do praticante, sejam eles competitivos de lazer, de auto superação ou de busca por qualidade de vida com fins educacionais ou de reabilitação (BRANDT, 2008).

    Boa parte dos usuários de cadeira de rodas tem dificuldade de encontrar atividades destinadas e adaptadas as suas limitações, o que diminui sua rede social e automaticamente suas habilidades de se socializar. Principalmente quando adquire uma deficiência neste caso a Lesão Medular, pois toda sua rotina de vida muda e acaba passando por deveras readaptações. O esporte pode ser utilizado como fonte de liberação de sentimentos como raiva, medo, frustração e agressividade, assim também proporciona aos cadeirantes sentimento de auto realização, satisfação, alegria, autoconfiança e motivação, estes influenciarão na visão de si mesmo e dos outros.

    Seguindo esta linha de pensamento, surgem os questionamentos de o quanto o esporte pode motivar seus praticantes a realiza-lo e se existe diferença entre a motivação do esportista de alto rendimento para o que realiza somente por lazer. Atentando assim a importância do esporte como fonte de interação social para pessoas portadoras de deficiência.

    Segundo Labronici, Cunha, Oliveira e Gabbai (2000) utilizar o esporte como fonte de socialização ajuda o deficiente físico na sua reintegração a sociedade. Dados retirados de sua pesquisa mostram que, nos dois anos de vivência com esses indivíduos portadores de limitação física, as mudanças foram mensuráveis nos aspectos sociais. Tanto no basquetebol, como na natação ocorreram importantes mudanças. O grupo que pratica basquetebol 59,9% teve melhora no trabalho, 66,6% conseguiu conversar melhor com uma pessoa, praticar as atividades domésticas e melhorou o relacionamento com amigos, 73,2% aumentou a comunicação com outras pessoas e 80% obteve melhora nas atividades sociais, de lazer e relacionamento com companheiro. Já o grupo da natação 66,6% teve melhora no trabalho, 73,3% melhorou sua habilidade com problemas familiares; 79,9% conseguiu conversar melhor com uma pessoa 80% teve melhora na conversa com mais pessoas, 93,3% melhorou nas atividades domésticas e no relacionamento com companheiro e 100% obteve melhora nas atividades sociais, de lazer e relacionamento com amigos.

    Como se vê, o esporte parece ser capaz de integrar novamente, e de forma importante, o deficiente físico com as pessoas que ele se relaciona, gerando uma maior identificação sua com a sociedade. Labronici, Cunha, Oliveira e Gabbai (2000) consideram que o esporte é fundamental na reabilitação de um indivíduo, lembrando que todos os indivíduos apresentam potencial residual, só precisa ser estimulado, o que proporciona uma vida mais saudável e digna.

    Estas reflexões nos levam a questão central deste trabalho: que fatores que motivam atletas cadeirantes com Lesão Medular a praticar e se manter praticando uma atividade física ou esporte? Leva-nos, também a uma questão secundária: há diferenças significativas nos fatores que motivam atletas cadeirantes com Lesão Medular a praticar e se manter praticando uma atividade física quando se compara atletas e não atletas? Investigar estes fatores e estas diferenças, a fim de responder estas questões é o objetivo deste estudo.

    Para bem responder estas questões e alcançar o objetivo do estudo, tomou-se como base a Teoria da Autodeterminação (RYAN & DECI, 2000). Esta teoria afirma que há três tipos de motivação que variam de acordo com o nível de autonomia: Motivação Intrínseca, Extrínseca e Amotivação. A Teoria da Autodeterminação está organizada na forma de uma meta-teoria, desta maneira, estes níveis de autodeterminação são explicados por cinco subteorias: “Teoria da Avaliação Cognitiva”, “Teoria da Integração Orgânica”, “Teoria da Orientação Causal”, “Teoria das Necessidades Básicas”, e “Teoria de Orientação de Metas”. Este estudo baseou-se nos pressupostos desta última subteoria.

    A Teoria de Orientação de Metas pressupõe que a orientação das metas pessoais em uma atividade explica os níveis de autodeterminação. Sendo assim, cada meta (por exemplo, “vencer”) se traduz em um motivo para praticar a atividade física ou esportiva (por exemplo, “vencer os adversários”) que dão origem as dimensões motivacionais (por exemplo, “competitividade”). O modelo de avaliação dos motivos adotado neste estudo foi elaborado por Balbinotti (2006) ele pressupõe que seis dimensões motivacionais (Controle do Stress, Saúde, Sociabilidade, Competitividade, Estética e Prazer) são suficientes para avaliar os motivos à prática de atividades físicas e/ou esportivas. Este modelo foi utilizado em diversos estudos na área do esporte (BALBINOTTI e al., 2007; BARBOSA, BALBINOTTI, BALBINOTTI, SALDANHA, 2010; OLIVEIRA, MARQUES & BARBOSA, 2012) e exercício (BALBINOTTI & BARBOSA, 2008; BALBINOTTI, BARBOSA, BALBINOTTI & SALDANHA, 2011; BALBINOTTI, et al., 2012; BARBOSA, 2006), bem como em pessoas com deficiência (CARDOZO, PALMA & ZANELLA, 2010). Sendo assim, se pode considerar que este modelo é adequado para avaliar o grupo em questão.

Método

    A pesquisa é de cunho quantitativo com delineamento comparativo, que visa verificar os fatores que motivam cadeirantes na pratica esportiva e se existe diferença significativa nos índices relacionados nas motivações em comparação aos cadeirantes que praticam esportes de alto rendimento para o grupo que pratica esporte por lazer e diversão.

Amostra

    Participaram do estudo 10 indivíduos com lesão medular, 5 são atletas e 5 são praticantes de atividades físicas.A amostra foi composta por sujeitos de ambos os sexos, faixa etária entre 18 a 50 anos, a média de idade dos participantes que praticam atividade física foi de aproximadamente 29,8 anos e do grupo de atletas foi de 29,4 não foi encontrada diferença significativa entre as idades nos dois grupos. Em relação à escolaridade do total da amostra 7 participantes tem ensino médio completo e 3 tem ensino superior incompleto. Em relação a gênero foram avaliados 8 homens e 2 mulheres. Parte do grupo, 05 deles são atletas que praticam regularmente atividades físicas e participam de competições a mais de um ano, já os outros 05 praticam atividade físicas regulares, porem sem caráter competitivo somente por lazer. A maioria dos não atletas não trabalha. Da amostra total somente 2% tem um trabalho convencional, já o subgrupo atletas considera a atividade esportiva como profissão.

Procedimentos

    As aplicações dos testes se realizaram em uma sala disponível na instituição, a sala foi organizada de uma maneira para receber um participante por vez, foi aplicado cada teste individualmente, após todas as orientações necessárias para responder os testes, foi verificado se existia alguma dúvida, logo após foi iniciado o teste, cada respondente assinava o termo de consentimento e respondia o IMPRAF-54.

    Já em relação aos atletas foi feito contato individualmente durante uma competição em São Paulo. Todos os participantes receberam informações sobre a pesquisa, anonimato, utilização dos dados e concordaram em colaborar assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Como nas competições não havia uma sala reservada onde poderia se aplicar os testes com silêncio e sigilo adequado, optou-se levar cada atleta para responder o teste em uma sala reservada do Hotel em que se encontravam hospedados cada um separadamente receberia as instruções necessárias para responder o IMPRAF-54 e logo após se dava inicio aos questionários.

Instrumentos

    Para a avaliação da Motivação dos participantes do estudo, foi utilizado o Inventário de Motivação à Prática Regular de Atividade Física IMPRAF-54 (BARBOSA, 2006). Este instrumento avalia seis dimensões da motivação para a prática de atividades físicas que são: Controle do Stress, Saúde, Sociabilidade, Competitividade, Estética e Prazer. A validade fatorial (exploratória e confirmatória), bem como a consistência interna foi avaliada (α > 0,80) e os resultados obtidos, indicam tratar-se de instrumento válido e fidedigno (BARBOSA, 2006).

    Para a análise e interpretação dos resultados (escores brutos) foi utilizada a folha de análise e interpretação das respostas IMPRAF-54, na análise e interpretação dos resultados (escores percentílicos), foram utilizadas as Tabelas Normativas IMPRAF-54, que transformam os escores brutos em percentis e contextualizar os resultados de acordo com o grupo correspondente, permitindo verificar em uma escala de 0% a 100%, o quanto este indivíduo está motivado para determinada dimensão. A avaliação e análise de dados deste Inventário aconteceram de acordo com as instruções contidas no Manual Técnico de Aplicação de Barbosa (2006).

Resultados e discussões

    Para a análise e interpretação dos resultados foi utilizada a folha de análise e interpretação das respostas IMPRAF-54. Esta análise deixou em destaque as dimensões que mais motivam os respondentes de cada grupo para a prática regular de atividades físicas. Foram transformados os escores brutos em percentis e contextualizado os resultados de acordo com o grupo correspondente, permitindo verificar em uma escala de 0% a 100%, o quanto este indivíduo está motivado para determinada dimensão Controle do Stress (CE), Saúde (SA), Sociabilidade (SO), Competitividade (CO), Estética (ES) e Prazer (PR). A avaliação e análise de dados deste Inventário aconteceram de acordo com as instruções contidas no Manual Técnico de Aplicação (Barbosa, 2006).

    O gráfico abaixo ilustra há comparação descritiva das dimensões da motivação entre do grupo de atletas com o grupo de não atletas.

Gráfico 01. Dimensões comparativas da motivação entre cada grupo

Grupo de não atletas

    De acordo com a média de pontuações obtidas no Inventário de Motivação a Pratica Regular de Atividade Física dos não atletas, três dimensões de motivação foram destacadas: o principal motivo foi a Sociabilidade. Este resultado está em linha com o encontrado em estudo que avaliou cadeirantes do sexo masculino praticantes de handebol adaptado em projeto de extensão universitária (CARDOZO, PALMA & ZANELLA, 2010), no qual a Sociabilidade também apareceu como a principal dimensão motivacional. A Sociabilidade é considerada um dos mais importantes fatores motivacionais para a prática de atividades físicas, por oportunizar o convívio com amigos e favorecer a obtenção de novas redes de amizade, esta convivência entre amigos proporciona a aceitação e o aumento da autoestima, bem como a necessidade de afiliação, necessidades associadas à motivação intrínseca (BARBOSA, 2006, BARBOSA, 2011). Com um escore bruto de 35 pontos, essa pontuação quando lançada nas tabelas normativas para amostra geral e transformada em percentil, evidenciaram que o grupo de Não Atletas encontra-se entre os 80% mais motivados.

    Em segundo lugar aparece o Prazer. Também este resultado está em linha com o encontrado em estudo que avaliou cadeirantes do sexo masculino praticantes de handebol adaptado (CARDOZO, PALMA & ZANELLA, 2010), no qual a Prazer também apareceu como a segunda dimensão motivacional para os praticantes de atividade física. O Prazer é apontado como um dos responsáveis pela manutenção da pratica de atividade física, esta manutenção beneficia ganhos físicos e psicológicos fundamentais na criação de hábito pela pratica da atividade (BARBOSA, 2006). Com um escore bruto de 36 pontos, a pontuação obtida nas tabelas normativas foi de 75% motivados por esta dimensão de acordo com amostra geral.

    Em terceiro lugar apareceu a Estética. Neste caso, o resultado obtido foi diferente do obtido por Cardozo, Palma e Zanella (2010), no qual a Saúde apareceu como a terceira dimensão motivacional. A Estética é considerada uma das principais causadora de aderência a pratica regular de exercício físico. Trata-se de um aspecto extremamente valorizado na nossa sociedade, incluindo motivos relacionados à obtenção do corpo idealizado nos contextos culturais (BARBOSA, 2006). Com um escore bruto de 32 pontos, que lançado nas tabelas normativas, demonstra que este fator motiva 60% da vontade desta população.

Grupo de atletas

    Através da análise do IMPRAF-54 dos atletas, obtiveram-se três principais dimensões de sua motivação. A primeira foi a Competitividade. É interessante observar que, independente de ser um esporte adaptado, estes atletas são altamente competitivos e diferenciam-se de seus pares (não atletas), justamente por esta característica (ser fortemente motivado pela Competitividade).

    A Competitividade tem sido comumente relacionada a aspectos da personalidade de pessoas envolvidas com situações competitivas, que gostam de competir e tem desejo por vitória e sucesso (BARBOSA, 2006). A competitividade das pessoas pode ser orientada por comparações interpessoais e na vitória da competição ou o objetivo de sucesso no desempenho pessoal (BALBINOTTI, BARBOSA, SALDANHA & BALBINOTTI, 2011), esta orientação vai, de acordo com a Teoria de Orientação de Metas, explicar se a motivação deste sujeito é mais intrínseca ou mais extrínseca (RYAN & DECI, 2000). Com escore bruto de 37 pontos, este fator atingiu o percentil, 95% evidenciando ser um aspecto altamente motivador para esse grupo.

    Como ocorreu no grupo de não atletas, a segunda dimensão que mais motiva os atletas foi é Prazer. A dimensão motivacional Prazer tem sido descrito como o protótipo da Motivação Intrínseca. A Motivação Intrínseca possui três facetas: para “aprender”, para “experimentar” e para “realizar”. Para praticar um esporte adaptado estes sujeitos precisam aprender a lidar com a sua nova condição, bem como aprender uma serie de novas habilidades, experimentar seus corpos em novas situações e realizar estas novas habilidades em competições, de forma que, para estes atletas, competir pode ser importante fonte de motivação intrínseca (BARBOSA, 2011). O escore bruto foi de 37 pontos, transformado em percentil, nos demonstra que os atletas estão 80% mais motivados pelo Prazer.

    E a Sociabilidade é a terceira dimensão obtida, que mostra que mesmo dentro de um cenário competitivo os atletas buscam fazer novas amizades e se manter inserido dentro de um grupo de amigos. Com escore bruto de 32 pontos, nos demonstra após a transformação em percentil, a sociabilidade representa 70% dos fatores motivacionais dos atletas.

Análises comparativas entre atletas e não atletas

    Para comparação dos fatores que motivam os dois grupos e por se tratar de amostra pequena (n < 30), utilizou-se o teste Mann-whitney U para avaliar se as diferenças entre as médias dos dois grupos avaliados (praticantes de atividades físicas e atletas) são estatisticamente significativas (p < 0,05). Os resultados (Ver Tabela 1) mostram que há diferença significativa entre as médias dos grupos especificamente na dimensão Competitividade.

Tabela 1. Comparação de médias entre os grupos de praticantes de atividades físicas e atletas para cada dimensão avaliada

    A Competitividade foi à dimensão que se diferenciou significativamente (p < 0,05) os grupos de atletas e não atletas. Aparentemente o fato de o esporte ser considerado uma profissão pelo alto nível competitivo, pode ter influenciado nos resultados obtidos. As competições criam uma adaptação fisiológica e emocional especializada. As competições se tornam uma das formas mais importantes para a preparação de um programa esportivo (GOMES, 2002).

    Na medida em que houve uma evolução do esporte e os atletas passaram a receber dinheiro para jogar, aumentou a cobrança de rendimento e resultados expressivos para que os mesmos consigam patrocínio e salários dignos. E essa busca de resultados importantes atinge todos os atletas das mais variadas modalidades, bem como atletas com deficiência física, que, além de sofrerem das mesmas dificuldades encontradas por atletas sem deficiência física, ainda são vítimas da discriminação social e das dificuldades impostas pela própria deficiência (BRANT, 2008).

    A busca por rendimento no esporte sujeita o atleta a um alto nível de competitividade para alcançar um desempenho máximo (BENTO 1989). O esporte competitivo faz com que o atleta deficiente transforme seu corpo num instrumento de apresentação e rendimento. Segundo Samulski (1995), as vantagens do esporte de alto rendimento para deficientes consistem justamente no desenvolvimento de disposições positivas da personalidade, sobretudo no âmbito social, como desenvolvimento da autonomia, autoconfiança, prazer, orgulho, comprometimento e capacidade de comunicação.

    Como as competições são metas para os participantes, a dimensão Competitividade se eleva automaticamente e fica evidenciada pelos participantes como destaque na motivação. Outros motivos que norteiam a motivação dos atletas e não atletas são o Prazer e Sociabilidade, sem diferença estatística significativa, quando os grupos são comparados.

    Em relação da Sociabilidade dimensão citada pelos não atletas, é considerada como uma oportunidade da prática esportiva. São raros os programas e atividades que oferecem vagas para pessoas com deficiência, devido a isso a pratica de atividade física se torna uma porta para socialização entre esses indivíduos. Devido sociabilidade ser considerada um dos mais importantes fatores motivacionais para a prática de atividades físicas, o estabelecimento de metas pessoais como à busca de estar integrados dentro de um determinado grupo, pode influenciar diretamente na motivação dos participantes (WEINBERG e GOULD, 2001). Pessoas com deficiência sofrem um afastamento do convívio com a sociedade, reduzindo assim seus amigos e interações sociais, diminuindo efetivamente suas possibilidades e de oportunidades.

    As atividades esportivas beneficiam melhorias nas capacidades físicas, mas também em seus aspectos psicossociais, melhora da autoestima e autoconfiança além de proporcionar a integração dessas pessoas com a sociedade. Devido a estes fatos sociabilidade também é considerada um fator muito forte de motivação dos atletas, para tanto que foi a terceira dimensão apontada por esse grupo, além de buscarem resultados positivos no esporte, à prática do mesmo, faz com que surjam novas amizades, que ocorra uma integração social maior, o que automaticamente cria uma maior rede social.

    A dimensão do Prazer é entendida como um dos principais fatores relacionados à motivação dos sujeitos, o que destaca ser a segunda dimensão mais motivadora de ambos os grupo, podemos inferir que eles praticam atividade física visando a satisfação própria e seu bem estar como forma de auto realização. Segundo pesquisas a investigação entre a auto realização e atividade física sugerem que praticantes de atividade física comparado aos sedentários mostram autoconceito e autoestima mais elevada, a força muscular e gordura corporal sofrem alterações com a pratica da atividade física influenciando na melhora do autoconceito (ILKIV, 2005). Assim o praticante de atividade física busca atingir seus objetivos e ideais através de experiências que lhes promovem melhorias em seus aspectos físicos, psíquicos e sociais.

    Entendemos que tal dimensão está intimamente ligada à qualidade de vida. A qualidade é entendida como bem-estar completo. Contudo, esse bem-estar e o prazer dependem de como o individuo entende e o define para si mesmo. A atividade física vem ao encontro com esse bem-estar, beneficiando os aspectos fisiológicos e psicossociais, De forma que os portadores de deficiência física obtenham os efeitos positivos para a saúde física, mental e social pela pratica regular de atividades de lazer ou desportivas adaptadas, tenham estas finalidades competitivas ou não.

    Concluirmos que, a partir dos resultados foi possível entender que o lesado medular busca no esporte maneiras de adquirir qualidade de vida, realizações esportivas e prazer, porem a competitividade foi o fator determinante e com significância estatística na motivação de atletas do alto rendimento na pratica e manutenção de uma atividade esportiva.

Conclusão

    Quando pensamos na prática de atividades físicas e no esporte logo vem ao pensamento os inúmeros benefícios que ele traz a nossa saúde física e mental. Embora estes benefícios se estendam a população de sujeitos com necessidades especiais há relativamente poucos estudos com esta população. Com o propósito de contribuir para sanar esta falta este estudo avaliou um grupo de lesados medulares a fim de conhecer quais dimensões motivam estes sujeitos em sua prática.

    A primeira conclusão que se pode extrair dos resultados obtidos é que atletas e não atletas apresentam diferenças em suas motivações, e que, em consequência disto, apresentam metas diferentes em sua prática. Os sujeitos atletas levam o esporte de alto rendimento com muita seriedade o que faz ser tão alto o índice de Competitividade como dimensão motivacional. Este foco na competitividade não está isolado, ele é acompanhado pela busca por prazer e interação social, mesmo que não com a mesma intensidade, também compõe a motivação destes sujeitos à prática. Já no que diz respeito aos sujeitos não atleta, a principal dimensão motivadora foi a Sociabilidade, indicando que a meta destes sujeitos em sua prática está fortemente associada à busca de um grupo com o qual posam estabelecer um a relação de pertença. Há, também, semelhanças entre os dois grupos estudados. A Sociabilidade e o Prazer são os principais fatores comuns nestes dois grupos.

    Por fim, cabe destacar que este estudo contribuiu para melhor se conhecer os motivos que levam lesados medulares atletas e não atletas a realizar e permanecer nas práticas de atividades esportivas. Com estes resultados é possível qualificar e aprimorar o desenvolvimento de programas que busquem cada vez mais se adequar e se tornar atrativo para realidade do portador de necessidade especial.

Referências

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