efdeportes.com
A psicologia do esporte aplicada a atletas portadores de
necessidades especiais: reflexões epistemológicas,
filosóficas e práticas

   
Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício - LAPE.
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDSC.
Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos - CEFID.
(Brasil)
 
 
Dr. Alexandro Andrade  
Ricardo Brandt
ricardobra@brturbo.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
     Considerando o atual nível do esporte adaptado, se faz necessário utilizar a psicologia do esporte também para atletas portadores de necessidades especiais (APNE). No entanto, precisa-se de uma revisão nos atuais conceitos da psicologia do esporte, haja vista suas bases epistemológicas, filosóficas e práticas estejam voltadas para atletas normais. Contudo não se faz necessário criar uma psicologia específica para APNE, porem criar uma ramificação estendendo a psicologia esportiva preocupando-se com as peculiaridades destes atletas.
    Unitermos: Psicologia do esporte. Atletas portadores de necessidades especiais. Competição.
 
Abstract
     Considering the current level of the adapted sport, it is done necessary to use the psychology of the sport also for physical handicap. However needs a revision in the current concepts of the psychology of the sport, have seen their bases epistemological, philosophical and practices are gone back to normal athletes. However it is not done necessary to create a specific psychology for handicapped, they put to create a ramification extending the sporting psychology worrying about the peculiarities of the handicapped.
    Keywords: Psychology of the sport. Handicapped. Competition.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 121 - Junio de 2008

1 / 1

Introdução

    A psicologia do esporte estuda o comportamento dos indivíduos em situações de pratica desportiva e também os efeitos que a participação em atividades físicas, competitivas e recreativas pode ter em seus praticantes e outros fenômenos que a ela pode-se associar. Assim como Alves, Lourenço e Cid (2002), também acreditam que a psicologia seja um ramo independente da psicologia, utilizado para melhorar as condições psicológicas do atleta.

    No esporte brasileiro em geral não há uma valorização do trabalho psicológico e emocional ao contrario no fator técnico, tático e físico. Talvez por existir uma carência de profissionais e estudos que se ocupem na psicologia do esporte e que é ainda mais grave tratando-se do esporte para pessoas portadoras de necessidades especiais. Os profissionais comportam-se como especialistas, com olhos apenas para seu pequeno mundo, onde se consideram deuses, e esquecem que o atleta passa por várias dificuldades e uma delas que citamos aqui é a financeira. O atleta brasileiro tem em sérias dificuldades financeiras e a minoria que consegue ser reconhecido, até então sem auto-estima e prestígio, quando passa a receber vultosa quantia de dinheiro, lhe é cobrados rendimento e resultado sem que haja a valorização do atleta em sua totalidade. A questão financeira hoje é algo que deve ser muito discutido e repensado, segundo o Altas do Esporte (2004) o PIB do esporte no Brasil corresponde a 1,7% do valor do PIB nacional e muito próximo ao PIB do esporte de paises de primeiro mundo. Esse crescimento dos valores provenientes do esporte pode ter parcela na culpa deste desleixo com o atleta. Essa busca por resultados, faz com que o lado humano do atleta seja deixado de lado, transformando-os em maquinas de vitórias. E essa busca de resultados expressivos, atinge todos os atletas das mais variadas modalidades, bem como atletas portadores de necessidades especiais (APNE), que se incluem no esporte de rendimento, da mesma forma que os normais são exigido resultado importantes para conseguir patrocínio e salários dignos.

    Entretanto os APNE, devido a sua condição normalmente têm uma auto-estima e autoconhecimento baixo, e não podemos somente preocupar com resultados e a preparação física e tática destes atletas. Toda parte psicológica desta pessoa é desfavorecida e não podem ser deixados de lado. Além das mesmas dificuldades encontradas por atletas normais e somando a isso, são vitimas da discriminação social, sem contar a limitações impostas pela própria deficiência. Necessitando muitas vezes de acompanhamento psicológico por serem diferentes em uma sociedade que ainda separa o que é certo do errado, sendo que na visão de muitos o portador de necessidades especiais é a porção "errada" da sociedade.

    No entanto nota-se que o esporte esta caminhando a passos largos ao encontro da inclusão, da diminuição das diferenças, deixando atletas deficientes em uma situação digna que todos merecem. O esporte proporcionará outros benefícios para o atleta deficiente físico, pois possibilita a integração social, independência nas atividades propostas, competitividade, grupos de atividades, atividades individuais, concentração, coordenação e regras. (LABRONCI et. al. 2000).

    As competições são muita bem vindas para os deficientes, organizadas para que os atletas disputem entre si de igual pra igual, em se tratando de suas limitações físicas, pois no momento da pratica esportiva ou da competição têm-se atletas com as mesmas deficiências disputando um jogo, fazendo com que o momento da competição seja vivido por pessoas iguais beneficiando socialmente os deficientes. E neste momento entra o sentido do preparo psicológico desses atletas porque, tendo o atleta melhor equilíbrio emocional, pode ter vantagens competitivas em relação ao seu adversário. Por isso o acompanhamento de um psicólogo do esporte pode beneficiar ou melhorar seu desempenho, com o controle ou diminuição de stress e ansiedade, etc. Considerando as colocações acima, o objetivo deste estudo é verificar na literatura como a psicologia do esporte pode contribuir para a melhoria do rendimento do atleta deficiente físico, trazendo reflexões sem metodologias ou estatísticas e sim algumas percepções da realidade da psicologia do esporte.


Psicologia do Esporte

    Definição habitual de psicologia é "ciência do comportamento", mas segundo Serbena e Raffaelli, (2003) necessitam de uma revisão de seus pressupostos básicos. Pois essa definição representa o predomínio histórico das correntes neopositivistas e materialistas no campo psicológico a qual se contrapõe a etimologia da palavra psicologia que significa estudo da alma. A psicologia do esporte é de conhecimento recente, que abrange pressupostos psicológicos e da motricidade, e com a expansão e divulgação dos esportes tem ganhado espaço e corre atrás de definir sua identidade dentro da psicologia. Faz parte de um conjunto de ações que visam preparar o atleta para disputas e competições, não somente restrita ao esporte de alto nível, podendo ser estendida a esportes educativos, recreativos e ao lazer, também pode ser utilizada por atletas, amadores, profissionais, normais e com deficiência física. Mas pelas características de sua delimitação restringe-se ao alto rendimento (GAERTNER, 2002).

    Psicologia do Esporte reúne profissionais e pesquisadores de diferentes campos como: Psicologia, Educação Física, Sociologia, Antropologia, Psicanálise, Fisioterapia, Filosofia, Administração e Economia. Campo que pode ser clivado em dois ramos distintos de atuação: num deles estaria a Psicologia do Esporte acadêmica, que tem seu interesse primordial voltado para a ciência e o ensino; no segundo se encontraria a Psicologia do Esporte aplicada ou prática (psicodiagnóstico, intervenções, etc.). Apesar disso, só recentemente passou a integrar as grades curriculares de poucos cursos de graduação em Psicologia, mesmo assim como disciplina optativa, ao passo que faz parte das grades curriculares dos cursos de Educação Física como disciplina obrigatória há mais de duas décadas (FREITAS, 2003). Demonstrando o bom preparo dos Educadores Físicos para trabalhar nesta área..

    A psicologia esportiva é uma ciência aplicada aos estudos dos processos psicológicos e a conduta do atleta durante a pratica da atividade física. Busca conhecer e aperfeiçoar as condições internas do atleta, com o intuito de aumentar a capacidade física, técnica e táticos adquiridos no processo de preparação (CARBALLIDO, 2001)

    Na busca de saber em que implicaria a utilização da psicologia para atletas Serenini e Samulski (1997) citam que para se obter desempenho mais adequado o treinamento esportivo deve ser direcionado não só aos fatores motores, físicos e técnicos, mas também aos aspectos psicológicos e cognitivos. Sendo assim uma porta para melhorar o desempenho do atleta. Baseado nisso, ressaltamos a importância de se construir atletas por completo e se a psicologia do esporte pode aumentar o desempenho, porque deixar o lado humano do atleta de lado. Sabendo que o desempenho pode ser melhorado, o que acontece que alguns professores ainda deixam de lado aspectos psicológicos? Falta de informação, pouco material de impacto publicados nessa área talvez seja uma das possíveis respostas. Existem vários pesquisadores na área da psicologia esportiva, com artigos, livros e pesquisas de impacto, no entanto na psicologia esportiva para portadores de deficiência, não se pode dizer o mesmo.

    O que ocorre é o uso de resultados de pesquisas feitos com atletas normais para atletas com deficientes.Gaertner (2002), mostra que a psicologia do esporte atua em duas áreas básicas, sendo aspectos psicológicos afetam o desempenho esportivo e como a atividade física afeta os estados psicológicos. Dentro disso encontra-se algumas subáreas predominantes sendo: características psicológicas do atleta, aspectos cognitivos, sociais, motivacionais, técnicas para trabalhar com esportistas, a prática esportiva no ciclo da vida, as relações entre esporte e saúde, psicometria, socialização, informação, atenção, liderança, torcida, ética entre outros.

    Talvez a psicologia esportiva necessite de uma nova subárea ou especialidade a psicologia esportiva para atletas deficientes físicos, as diferenças já sabidas entre os atletas seriam um fator a estudar mais especificamente decorrendo em uma série de adaptações na psicologia do esporte. Por exemplo, se tratarmos somente do stress do atleta deficiente físico, o tipo de questionário feito deveria ser diferente do tradicional? Muitos fatores podem interferir no desempenho do atleta. Denominam-se esses fatores como sendo estressores, e o ambiente competitivo apresenta inúmeros fatores estressantes para o atleta (Figueiredo apud GAERTNER 2002). E quanto a atletas deficientes físicos, a quantidade desses estressores não deve ser diferente, sabendo todas as dificuldades impostas pela deficiência física.

    Por estarmos falando de atletas deficientes físicos e a psicologia esportiva que estamos falando é a tradicional utilizada por atletas normais. Não estaríamos caindo em contradição, num olhar dialético com todas as diferenças que encontramos nesses dois grupos de atletas "normais" "deficientes" fazer a utilização da mesma técnica. "A contradição é destruidora, mas também criadora já que se obriga à superação..." (CURY p.30 1986). Os contrários lutando procuram a superação da contradição superando a si próprios, buscando o novo daquilo que ainda não é, mas pode ser. O que transforma a contradição em dois lados distintos. O ruim é poucas pessoas conseguem visualizarem a diferença e poucos que conseguem ver não fazem nada para mudar. No entanto quem encontra a diferença, tenta mudar para melhor a realidade encontrada.

    A psicologia do esporte pretende entender que comportamentos interagem a partir do desenvolvimento do individuo dentro de um determinado grupo ou atividade. Porem não somente com isso, mas também que tipo de aprendizagem é relevante, que desenvolvimento físico e de treinamento de habilidades é levado a efeito nos diferentes esportes que se pratica. (MOSQUERA, 1984) Sendo assim seria necessária a utilização de uma psicologia diferente para deficientes, no entanto, o conhecimento da psicologia esportiva que temos hoje é insuficiente (FEIJO, 1998) ou com muitas áreas com pouca produção cientifica o que sinalizaria talvez que novas subáreas da psicologia esportiva, podem e devem surgir.

    Entre esses conceitos e subáreas da psicologia a serem criadas, poderíamos destacar a questão metodológica de testes (MOSQUEIRA, 1984). A qual nota-se uma falta de testes e a metodologia específica para portadores de deficiência física. Feijó (1998) destaca que as pessoas que estão trabalhando com a psicologia esportiva, têm preparos mecanicistas, preocupados somente com o ideal de formar campeão. Embora hoje o tanto no esporte convencional quanto no esporte para deficientes o já citado intuído de forjarem campeões persistam. Para Weinberg e Gould (2001) os psicólogos do esporte devem ajudar atletas fisicamente incapacitados a alcançar um desempenho máximo, satisfação pessoal e desenvolvimento por meio da participação. Deve se preocupar com a totalidade do ser humano, que pode ser o diferencial imprescindível para a formação do campeão. Essa visão holística no esporte deve se recusar a trabalhar somente o biomecânico, e sim valores culturais e sua personalidade inteira. Nos princípios do humanismo, bom é tudo que promove o desenvolvimento e o bem estar do ser humano.

    Conseguir esse desenvolvimento e o bem estar com os atletas seria o sucesso total da psicologia esportiva. Por isso a psicologia esportiva para portadores de deficiência física deve se preocupar com o conjunto da obra: corpo, movimento e esporte. Exatamente como deve ser a psicologia para atletas normais. Então não se faz necessário a utilização de uma psicologia esportiva diferente para atletas deficientes físicos justificando a necessidade da criação de uma sub-área ou especialidade em psicologia esportiva para portadores de deficiência física. Eles pensam da mesma forma que atletas sem a deficiência mas tem outros problemas, configurando de maneiras diferentes quais precisam ser levados em conta.

    A questão é trabalhar a psicologia como ele em sua essência. Alem de troféus e medalhas acima de tudo estamos trabalhando com sentimentos, emoções e com a deficiência.

    E como fica a realidade do atleta portador de necessidades especiais, inclusos em uma sociedade discriminatória. Até no esporte são alvos da luta onde só sobrevive o mais forte. Não fazemos apologias de que deficientes são inferiores e não estão aptos a competições. O que buscamos é quebrar esse conceitualismo da hegemonia dos vitoriosos. É chegada à hora da retomada cognitiva de uma psicologia voltada ao desenvolvimento do caráter e do espírito se sobrepor. Como lutamos pela igualdade das classes, certamente a criação da especialidade em psicologia esportiva para atletas portadores de deficiência física, proporcionará resultados com maior significância nas pesquisas. Conseqüentemente, encontraremos na literatura uma melhor forma de ajudar eles a melhorar resultados no esporte de alto nível. De outra forma continuaremos usando materiais mal adaptados não condizentes com a realidade dos portadores de necessidades especiais.


Reflexões sobre atletas e suas necessidades especiais

    Desde os primórdios da estrutura da sociedade, os portadores de necessidades especiais, são marginalizados, privados de liberdade, respeito, entendimento e de direitos, são a longa data, alvos de atitudes preconceituosas e ações impiedosas (MACIEL 2000). Essa situação que se relaciona ao modo de produção dominante, em nosso caso o capitalismo. E essas classes dominantes, que necessita permanentemente reproduzir as condições que possibilitem suas formas de dominação (CURY, 1986). Fazendo um paralelo com o esporte para APNE, esse modo dominante que tratamos, nada mais seria do que a hegemonia que se tem para com o esporte de atletas normais, onde hoje tudo no esporte volta-se a eles que vai de capital investido a produção cientifica.

    Essas diferenças entre atletas normais e APNE vão mais alem. A diferença ou especificamente, o ser diferente, em uma sociedade permeada pelos padrões e referencias do que significa ser "normal", remete imediatamente ao incômodo causado diante do não compreensível e não aceitável. Esse ser diferente é fácil de ser percebida pelo olhar de que nossa sociedade não foi feita para o diferente. Tudo isso faz com que essas pessoas estejam fora dos padrões impostos pela sociedade (VASH, 1988).

    Na filosofia em que se fundamentam os direitos humanos é evidente que todos devem ter as mesmas oportunidades de aprender e desenvolver suas capacidades, alcançando sua dependência social e econômica e também se integrar à vida social.

    Acessibilidade e oportunidade são responsáveis pela diminuta participação de pessoas deficientes na sociedade. Essas dificuldades ficam claras quando observamos que tudo é elaborado para os ditos "normais". Como exemplo, um simples degrau ou uma porta com largura inferior ao de uma cadeira de roda, em um banheiro, pode impossibilitar a passagem. Estas dificuldades resultantes da pouca estrutura para os deficientes físicos, acabam excluindo-os da vida socializada, afinal o portador de deficiência tem as mesmas necessidades de qualquer outro individuo, ou seja, necessita ser valorizado e participar do grupo familiar e social.

    Entretanto nos últimos anos tenha-se registrado progressos sensíveis na diminuição desses transtornos (BARBANTI 2002). Como por exemplo, o esporte adaptado, foi idealizado pela motivação da inclusão social, conseguindo algumas leis que dão direitos aos deficientes físicos. No entanto também, constata-se uma imensa dificuldade da sociedade para efetivar suas proposições verificando a necessidade de uma constante revisão de suas práticas inclusivas, que em alguns casos o efeito é contrario, excluindo e descriminando. Quintão (2005) diz que o principio da exclusão esta imbuída nas relações. Por mais que revoluções se proponham a superar a questão da desigualdade, na verdade aparecem formas diferentes de poder e não chegam a eliminá-lo (DEMO, 1991). Isso pode ser observado atualmente, ao constatar que houve mudanças e que já se consegue amenizar essa discrepância entre "diferente" e "normal", embora ainda seja uma área que se encontra carente de mudanças. A literatura clássica e a história do homem refletem o pensar discriminatório, pois é mais fácil prestar atenção aos impedimentos e ás aparências do que aos potenciais e capacidades de tais pessoas (MACIEL 2000).

    Com base no materialismo dialético buscamos explicações coerentes, lógicas e racionais para esse fenômeno da sociedade (TRIVIÑOS, 1987) e certamente vemos alguns avanços na direção da inclusão com relação ao portador de necessidades especiais, na medida em que tem sido promovido espaço para debates. Entretanto o problema são as fraturas de idéias, cujas boas intenções ainda se fundamentam em situações na compaixão e na benfeitoria, herdeiras das idéias filantrópico/iluministas (QUINTÃO, 2005). O deficiente em si, ainda é visto pela sociedade de uma forma parecida com os idosos. Tratados como seres de outro mundo, que não podem ser contrariados, o sentimento de pena que passamos por atos indevidos e não pensados, os coitadinhos como comumente são chamados somente piora a situação. E pensa-se estar fazendo o certo, no entanto eles não precisam de pena, de compaixão e sim de condições para viver dignamente, afinal são pessoas como todas as outras.


Esporte para atletas portadores de necessidades especiais

    Como é sabido o deficiente tem limitado seu potencial devido a uma deficiência, expressa principalmente pela dificuldade em realizar movimentos. Assim, o movimento toma contornos de uma importância fundamental na vida do deficiente (BARBANTI 2002). Sendo assim a pratica esportiva é fator incontestável no processo de reabilitação e inclusão social, e com o tempo, essa pratica toma novos rumos. O simples ato de praticar atividades físicas começa ter outro sentido. Começa a se aventurar nas primeiras competições sem pretensões ousadas de vitórias, porem com o passar do tempo e muito treinamento os bons resultados começam a aparecer, a motivação pela pratica esportiva aumenta e a expressão atleta surge. Aos poucos esse atleta deficiente físico se inclui no esporte de rendimento. Esporte esse que Barbanti (2002) defende que deve seguir as mesmas regras e normas do esporte em geral. No entanto, diz que podemos estar incorrendo em um erro, pois evidenciamos as diferenças as quais não queremos que existam. Por isso o esporte para deficientes físicos segue uma classificação mundial conhecida como classificação médico-desportiva. Essa classificação separa as deficiências pela sua natureza e é utilizada, por exemplo, nos jogos para-olímpicos que são considerados o segundo maior acontecimento esportivo mundial.

    Esses jogos ou competições selecionam os melhores e colocar em prova o nível técnico dos atletas (FEIJÓ, 1998). Para atletas deficientes físicos isso vai mais além. Eles são tão competitivos, quanto, atletas normais ou mais, querendo mostrar toda sua superação do resultado e também da deficiência. Sendo assim, a competição para portadores de deficiência física, faz com que as diferenças desapareçam. No momento da prática todos os atletas têm a mesma deficiência fazendo com que sejam todos iguais e não se sintam diminuídos ou em desvantagem. No mundo têm-se várias competições para atletas portadores de deficiência física. Para atletas normais a mais importante competição mundial é a Olimpíada e temos também a Para-Olimpíada, competição essa que somente competem atletas portadores de deficiência. O Brasil vem aumentando significativamente sua participação na Para-Olimpíada, segundo o Comitê Paraolímpico Brasileiro (2005). Um dos benefícios que são conseqüência desses eventos é a possibilidade de avaliar esses atletas como na pesquisa realizada por Labronci et al. (2000) que teve como objetivo avaliar o esporte como método de reabilitação e analisar os aspectos físicos, psicológicos e sociais dos portadores de limitação física, Os resultados obtidos estão relacionados com altos índices de desempenho esportivo e o alto vigor não tem correlação com o tempo de limitação física ou com o tipo da limitação. Parecendo para eles uma característica individual, o que faz procurarem alternativas que o permita ultrapassar barreiras instransponíveis.

"As mudanças vivenciadas por estes grupos acordou, dentro de cada deficiente físico envolvido no programa esportivo, um sentimento e vontade de melhorar o seu mundo, provando para si mesmo e para a sociedade que são capazes de terem soluções para suas maiores dificuldades ou barreiras. Eles passaram a cobrar, especialmente de si mesmos, soluções para as suas maiores dificuldades. Assim a integração que o esporte trouxe para esses portadores de limitação física foi de muita importância para eles próprios e para as pessoas que se relacionavam com eles, permitindo-lhes melhor identidade na sociedade". (LABRONCI et. al. p., 1999)

    Com a inclusão do deficiente físico no esporte nota-se uma integração que poderia ser favorecida, por meio de atividades que resgatassem nos portadores de deficiência física sentimentos positivos de dignidade e amor próprio. Desta forma a pratica da atividade física constitui um momento privilegiado de estimulação e percepção das potencialidades do ser humano portador de deficiência (SOUZA et all 2005).

    Sendo a pratica esportiva um diferencial grande no processo de reabilitação, as atividades físicas e esportivas, competitivas ou não devem ser orientadas e estimuladas, com o intuito de possibilitar ao portador de deficiência física, mesmo durante seu programa de reabilitação, os benefícios que estas atividades oferecem (LÓPEZ e MELO, 2002). Esse é mais um motivo para preocupar-se com o atleta em sua totalidade, e podemos dizer que o esporte é responsável por grande parte dessas mudanças e melhorias da qualidade de vida do atleta deficiente físico (STEINBERG e BITTAR 1993). Sendo assim acreditamos que o esporte deveria ser parte da reabilitação de um individuo, podendo, contribuir para uma série de benefícios para este que esta em busca de uma vida mais saudável. Porem, a incansável busca do esporte pela performance pode ser algo que destoará esse benefício gerando problemas a saúde, mental e física dessas pessoas.


Considerações finais

    Na medida em que o houve a evolução do esporte, diminuiu-se a importância do atleta como pessoa e valendo apenas o resultado que ele pode alcançar e seguindo o mesmo ritmo até mesmo para conseguir manter-se atrativo para a mídia o esporte para atletas portadores de deficiência segue o mesmo caminho errôneo. No entanto o problema é mais grave ao tratar das competições para atletas deficientes físicos, como estimular somente o físico e o tático sem o psicológico buscando somente resultados. Se para atletas normais na busca do rendimento o ideal é trabalhar o atleta como todo, para portadores de deficiência física esquecer ou simplesmente ignorar o psicológico é algo fora de cogitação, mutilando o sentido da subjetividade humana.

    O inicio da contradição talvez esteja na formação dos profissionais que irão trabalhar com esse publico. Nossas instituições de ensino superior têm um corpo dicente que ainda preza muito mais o físico do que o psicológico. Emocional, afetivo, cognitivo, são palavras fora do vocabulário e do interesse, muito embora haja exceções . Também se precisa de profissionais capacitados para trabalhar com deficientes físicos, que talvez seja ainda mais critica a situação devido a falta de oportunidades e até mesmo interesse pela especialização dos professores, técnicos enfim todos que trabalham com deficientes físicos. Certamente a forma correta de se trabalhar o esporte com portadores de deficiência física é vitima de uma cegueira de seus pressupostos epistemológicos, necessitando urgentemente reverem seus conceitos e atitudes em prol do desenvolvimento de atletas e do esporte .

    Um ponto que podemos salientar as qualidades são as competições para atletas deficientes físicos, quando se organizam atividades para deficientes, já se preocupa com fatores como acessibilidade por exemplo, proporcionando ao deficiente uma situação de conforto e sentimento de inclusão que há tanto tempo esta em moda e que no entanto falta muito para conseguir alcançar a famosa inclusão social. O esporte hoje é um dos grandes responsáveis pela inclusão social, no entanto será que nos preocupamos como é feita essa inclusão do deficiente físico. Não estaríamos incluindo ele apenas por estar nos proporcionando uma medalha nas olimpíadas? A caso o atleta não ganhe a medalha de ouro, seria tratado da mesma maneira? E ele estaria se sentindo incluído na sociedade ou apenas estaríamos mascarando o problema. A sociedade estaria recuperando o deficiente, criando o atleta e discriminando quando não estiver mais produtivo, e o problema reinicia porem em um ponto onde será difícil conseguir resolver o problema.

    Certamente os fatores psicológicos do atleta ficarão abalados por isso a importância da psicologia do esporte para atletas portadores de deficiência física. Esses atletas seriam preparados tanto para melhorar seus desempenhos em competições como para posteriormente conseguir levar uma vida mais tranqüila, sabendo como conviver com sua diferença perante uma sociedade permeada pelos iguais.

    No entanto não podemos utilizar a mesma psicologia do esporte de atletas normais para atletas deficientes, com todas as diferenças que citamos. Não podemos continuar adaptando testes, metodologias entre outros, precisa-se pesquisar, estudar e criar padrões para esses atletas. Criar uma subárea ou especialidade dentro da psicologia do esporte que trabalhe de forma específica e com certeza os resultados obtidos tanto na busca pela melhoria de resultados e na qualidade humana do atleta que estamos almejando serão quanti e qualitativamente melhor.


Referências bibliográficas

  • AMIRALIAM M.L.T et al. Conceituando Deficiência. Revista de Saúde Pública, vol.34 nº1 Fevereiro 2000 - USP Faculdade de Saúde Pública.

  • BARBANTI, VALDIR, J. et al. Esporte e Atividade Física: Interação entre rendimento e saúde. 1 º. Ed. 2002, Manole -São Paulo

  • BARRETO, JOÃO ALBERTO. Psicologia do esporte para o atleta de alto rendimento. Rio de Janeiro: Shape Ed.2003

  • CURY, CARLOS ROBERTO JAMIL. Educação e contradição. São Paulo: Cortez 1986 p.30

  • DEMO, PEDRO. Introdução à metodologia da ciência. São Paulo: 2ºed. Atlas, 1987

  • FREITAS, MARCEL DE ALMEIDA. De comportamental à social: novos caminhos da psicologia do esporte no Brasil. http://www.efdeportes.com/ Revista Digital: EF y Deportes - Buenos Aires - Ano 9 - N° 65 - Outubro de 2003 - visualizado em 20/08/2005

  • GAERTNER, GILBERTO. A psicologia somática aplicada ao esporte de alto rendimento. 2002. Dissertação (Engenharia de Produção) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,2002

  • CARBALLIDO, LUIS GUSTAVO GONZÁLEZ. Uma aproximación prática a la psicologia del deporte. 2001 Lecturas: Educación Física y Deportes, Ano 7 Nº 35

  • Comitê Paraolímpico Brasileiro. http://www.cpb.org.br - visualizado em 20/08/2005

  • LABRONCI, RITA H.D.R; CUNHA, MARCIA C.B; OLIVEIRA, ACARY S.B.; GABBAI, ALBERTO ALAIN. Esporte como fator de integração do deficiente físico na sociedade. Arq. Neuropsiquiatria 2000;58 (4):1092-1099.

  • DA COSTA, LAMARTINE. Altas do esporte no Brasil. São Paulo, Ed. Shape, 2004.

  • LÓPEZ, RAMÓN. F.A; MELO, ANA CLAUDIA, R. O esporte adaptado. 2002 Lecturas: Educación Física y Deportes, Ano 8 Nº 51

  • MACIEL, MARIA REGINA GAZZANIGA. Portadores de deficiência a questão da inclusão social. São Paulo em Perspectiva - N°14, 2000: São Paulo

  • MOSQUERA, MOURIÑO. Psicologia do desporto. Porto Alegre, Ed. Da Universidade , UFRGs,1984.

  • QUINTÃO, DENISE T. DA ROSA. Algumas reflexões sobre a pessoa portadora de deficiência e sua relação com o social. Psicologia & Sociedade Nº17 jan/abr.2005

  • SERBENA, CARLOS AUGUSTO; RAFFAELLI, RAFAEL. Psicologia como disciplina cientifica e discurso sobre a alam: Problemas epistemológicos e ideológicos. Psicologia em Estudo, Maringá, V.8 Nº1 p.31-37, jan./jun. 2003

  • SERENINI, A.L.P; SAMULSKI, D. Análise dos efeitos de um programa de treinamento mental no desempenho do saque em atletas de voleibol de alto nível no Brasil. In: Greco, P.J et all. Temas atuais em educação física e esportes 2. Belo Horizonte: Health, 1997.

  • SOUZA, MAURICIO TEODORO DE; et all. Comparação da percepção da auto-imagem de pessoas portadoras de deficiência física praticantes de natação. 2005 Lecturas: Educación Física y Deportes Ano 10 - N° 89

  • STEINBER L.L, BITTAR A. Esporte e o portador de deficiência. In Departamento de Ortopedia e Traumatologia. Manual de medicina física e reabilitação. São Paulo. EPM 1993

  • TREVINOS, AUGUSTO N.S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação - São Paulo: Atlas, 1987

  • WEINBERG, ROBERT S; GOULD, DANIEL. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. 2ed. - Porto Alegre: Artmed Editora 2001

  • VASH, CAROLYN L. Enfrentando a deficiência. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo,1988.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Google
Web EFDeportes.com

revista digital · Año 13 · N° 121 | Buenos Aires, Junio 2008  
© 1997-2008 Derechos reservados