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Jiu-jitsu: qual sua motivação?

El jiu-jitsu. ¿Cuál es su motivación?

 

*Graduado em Educação Física

Fundação Presidente Antonio Carlos (FUPAC)

**Mestrando em Ciência da Saúde (UFU)

***Mestrando Ciência dos Esportes (UFTM)

****Mestrando em Ciência da Saúde (UFU)

(Brasil)

Flander Diego de Souza*

Thiago Montes Fidale**

Fernando Nazário de Rezende***

Robson da Silva Medeiros****

flander_souza@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo da presente pesquisa foi comparar os fatores motivacionais dos praticantes de Jiu-Jitsu da cidade de Uberlândia (MG). O estudo foi composto por 40 voluntários do sexo masculino praticantes de Jiu-Jitsu da cidade Uberlândia-MG com média de idade de 24,8 ± 5,7 anos. Para obtenção dos resultados foi utilizado Inventário de Gaya e Cardoso (1998), composto por 19 questões subdivididas em três categorias: competência desportiva, saúde e amizade/lazer. Resultados demonstram que a maior motivação é para saúde. Conclui-se que apesar das lutas evidenciarem sempre uma característica competitiva, os achados contrapõem relatando a promoção de saúde como principal fator motivacional.

          Unitermos: Motivação. Competência esportiva. Brazilian Jiu-Jitsu.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 165, Febrero de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Para Carlos Gracie, a modalidade estimula o instinto de sobrevivência do homem, de quem o processo de evolução não tirou o espírito de guerreiro e que jamais deixou de associar masculinidade e virilidade de uma capacidade de auto-proteção.

    Conforme Pacheco (2010), O Jiu-Jitsu assim como as demais artes marciais faz parte um grupo que buscam um conceito atual de qualidade de vida e saúde.

    Na fidelização de pessoas na prática de atividades físicas um artifício utilizado é o aspecto motivacional, que é a tendência de escolha do objetivo e metas traçada para o alcance da mesma, sendo classificada como estados motivacionais (BALBINOTTI; BARBOSA, 2009).

    A motivação pode ser dividida em extrínsecos e intrínsecos. O estado motivacional extrínseco consiste no comportamento motivado pela expectativa de ganhos e ou resultados inerentes na própria atividade (FONTANA, 2009). O estado motivacional intrínseco é dado como propensão interna e inata do indivíduo para desenvolver habilidades e competências, buscando o interesse em diferentes atividades (FONTANA, 2009).

    O seguinte trabalho tem como meta evidenciar, os principais fatores motivacionais pela prática do Jiu-Jitsu através de um Inventário de Motivação para a prática Desportiva de Gaya & Cardoso (1998) de praticantes da cidade de Uberlândia-MG.

Inventário de Motivação para Prática Desportiva Gaya e Cardoso (1998)

Motivação

    Becker (1996) descreve que a motivação é um fator muito importante na busca de qualquer objetivo. Esse fenômeno passa ser muito importante segundo treinadores em competições e treinamento.

    Motivo ou motivação, de acordo com Davidoff (2001), refere-se a um estado interno que consiste em uma necessidade pessoal que estimula um comportamento para o cumprimento da necessidade ativa.

    A motivação segundo Samulski (2002) é caracterizada como um processo visando o alcance de uma meta ou objetivo, que estará ligado em dois fatores pessoais (intrínsecos) e ambientais (extrínsecos). O ser humano é movido através de desafios pessoais e superação de limites, como tal a fatores que influência diretamente para o sucesso dessa meta.

História do Jiu-Jitsu

    Segundo Gurgel (2002) citado por Andreato (2010), a mais de 2.500 anos atrás se inicia a origem do Brazilian Jiu-Jitsu, na Índia, como uma forma de autodefesa criada pelos monges budistas, os quais eram alvos constantes de saqueadores de tribos mongóis durantes as peregrinações que realizavam para disseminar o budismo. A técnica não tem característica de ataque, mas de bloquear as ações dos adversários, para não interferir na filosofia religiosa que busca uma vida pacifica (BEHRING, 2004).

    Aproximadamente dois séculos após Buda reinou Osaka. Osaka expandiu o Budismo criando milhares de monastérios dentro e fora da Índia, e juntamente com o Budismo, o Vajramashti atingem o sudeste da Ásia (ROBBE, 2006).

    Foram os monges que se moravam na china que treinaram essas técnicas de luta para se protegerem de saqueadores (GUIMARÃES, 2008). Um dos monge chinês que migrou para o Japão ensinou alguns golpes da modalidade aprendida na China (GUIMARÃES, 2008).

    A arma de fogo e a ocidentalização japonesa ocorrida durante a Restauração do novo império, o Jiu-jitsu passar a ser menos útil e professores não conseguem acompanhar as mudanças então passa a ser marginalizado (SOUZA e SOUZA, 2005).

    Após o período de dificuldades do Jiu-Jitsu surge Jigoro Kano. Kano após ensinar o estilo Kano de Jiu-Jitsu pelo Japão, envia seus discípulos para difundir o Judô pelo mundo (KUZO, 1972). Mitisuyo Maeda uma figura importante na disseminação do judô pelo mundo.

    No dia 14 de novembro de 1914 Mitsuyo Maeda chegou ao Brasil, em Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Recife, São Luís, Belém e Manaus, residindo até a sua morte em Belém. Maeda queria criar uma colônia japonesa em Belém então lá recebe ajuda de Gastão Gracie, homem com influência política (Robbe, 2006; Souza e Souza, 2005). Pelo apoio recebido de Gastão, Maeda ensina as técnicas que dominava a Carlos Gracie filho de Gastão Gracie (GRACIE e GRACIE, 2000; GRACIE e GRACIE, 2001).

    Hélio Gracie irmão Carlos que Gracie saiu da escola aos 14 anos, ocupava seu tempo assistindo às aulas que seu irmão ministrava, e após um ano e meio assistindo as aulas tinha capacidade de reproduzir explicar todas as técnicas (ROBBE, 2006). Devido ao suposto atraso do irmão Hélio ministrou a aula no seu lugar.

    Com muita autonomia Hélio modifica técnicas tradicionais para adaptar a seu corpo franzino, desde então se conceitua o Brazilian Jiu-Jitsu.

Metodologia

Modelo de estudo

    Essa pesquisa é de cunho descritivo, pois se trata de um estudo de status, que permite que os problemas sejam solucionados por intermédio da observação, análise e descrição objetivas e completas do fenômeno (THOMAS e NELSON, 2002).

População e amostra

    A população do seguinte estudo foi composta por 40 voluntários do sexo masculino praticantes de Jiu-Jitsu de diferentes academias de Uberlândia (MG), com média de idade de 24,8 ± 5,7 anos para requisito foi estabelecido que os mesmo devessem ter no mínimo três meses de prática.

Etapas da coleta de dados

    Primeiramente foi repassado aos responsáveis o termo de consentimento livre e esclarecido. Após a assinatura do mesmo, os integrantes da amostra responderam ao Inventário de Gaya e Cardoso (1998) Em seguida os questionários foi recolhido, para posteriormente, os dados serem analisados.

Instrumentos

    O questionário utilizado para a avaliação foi o Inventário de Gaya e Cardoso (1998), composto por 19 questões subdivididas em três categorias: competência desportiva, saúde e amizade/lazer.

Resultados e discussões

    Para análise dos motivos para a prática de desportos, estes foram classificados em três categorias, de acordo com Gaya & Cardoso (1998). As categorias foram as seguintes: a) competência desportiva (CD) que inclui os motivos: para vencer; para ser o (a) melhor no esporte; porque gosto; para competir; para ser um atleta; para desenvolver habilidades; para aprender novos esportes e para ser jogador quando crescer, b) saúde (S) que inclui os motivos para exercitar-se; para manter a saúde; para desenvolver a musculatura; para manter o corpo em forma e para emagrecer e c) amizade e lazer (AL) que inclui os motivos para brincar; para encontrar os amigos; para divertir-me; para fazer novos amigos e para não ficar em casa. Cada motivo possuí três níveis de importância, ou seja Muito Importante (MI), Pouco Importante (PI) e Nada Importante (NI). Para facilitar a análise, foram considerados os três níveis no objetivo geral e apenas o nível de importância MI nos objetivos específicos, detalhando por grupos.

Tabela 1. Percentual do grau de importância dos motivos que levam os praticantes de Jiu-Jitsu da cidade de Uberlândia MG

    Observa-se na tabela 1 que os motivos principais que leva a prática do Jiu-Jitsu em primeiro é para saúde e logo depois com a margem de porcentagem muito próxima vem competência desportiva e amizade e lazer.

Gráfico 1. Resultados gerais níveis motivacionais dos praticantes de Jiu-Jitsu

    No gráfico 1 temos resultados gerais dos níveis motivacionais expresso em porcentagem. No maior índice de importância (Muito Importante) a categoria Saúde teve uma porcentagem de 73,7%, Competência Esportiva 54,4% e Amizade e Lazer 54,1%.

    Pacheco (2010), declara que a saúde foi a maior dimensão que obteve mais escore dentre as outras. O que vai ao encontro com a presente pesquisa levando em consideração que a saúde vem sendo um dos maiores aspectos encontrado para prática de Jiu-Jitsu e outras artes marciais, retirando totalmente o senso comum que lutas é só voltada para o rendimento esportivo.

    De acordo com Pergher (2008), a dimensão saúde contínua sendo motivada externamente no período da adolescência, sendo interiorizada com o decorrer do tempo, manifestando cada vez mais automaticamente.

    Segundo Deci e Ryan (2000), a ligação da saúde decorre devido a melhora das capacidades físicas e de formação de uma mente sadia, como a maioria das artes marciais orientais, transmitem um pensamento filosófico com intuito de melhora do corpo e da mente. A modalidade analisada o Jiu-Jitsu tem um alta capacidade de se trabalhar as valências físicas como força,resistência e flexibilidade podendo contribuir diretamente em uma melhora dos padrões motores e qualidade de vida.

    Para De Rose Jr. e Tricoli (2005), competir é estar bem para suportar os desafios com autonomia da situação, promovendo maior esforço possível para alcançar melhor resultado. Demonstra que na pesquisa cerda de 54,4% esteve relacionado a competência desportiva, que realmente engloba a capacidade de tolerar treinos intensivos e situações que exige alto controle para não desencadear uma gama de fatores que afetam negativamente o desempenho.

    Quando várias pessoas freqüentam o mesmo lugar acabam se interagindo e criando uma afinidade pessoal (AMORIM, 2010). Para Pacheco (2010) os atletas de Jiu-Jitsu não têm nível alto e nem uma boa capacidade socialização. Dois fatores que podem explicar isso são: o caráter competitivo, mesmo em treinos, e também o fator de ser um esporte individual onde muitas vezes o praticante procura as modalidades justamente para não querer conviver com muitas pessoas. No estudo foi verificado que o ultimo item de preferência foi amizade e lazer indo de encontro com as pesquisa e hipótese apresentada.

    Dentre de todo o universo da motivação humana, destaca-se na pesquisa que, o que mais motiva para prática do Jiu-Jitsu foi a preferência da melhora da saúde, isso trazendo conosco e com os profissionais da área que o maior enfoque nem sempre é o rendimento mais sim a busca da qualidade de vida.

Conclusão

    O Brazilian Jiu-Jitsu vem crescendo mundialmente com acréscimo do MMA na mídia mundial, onde esse esporte de várias artes marciais mistas o jiu-jitsu se destaca, somando durante o combate grande parte das imobilizações de solo.

    A pesquisa teve como objetivo indagar os principais fatores motivacionais da pratica do jiu-jitsu, a partir dos resultados encontrados onde a maior porcentagem evidenciou que o motivo da prática é para a saúde. Com os resultados encontrados iram contribuir diretamente com profissionais da área, auxiliando diretamente na perspectiva dos treinos e no convívio diário facilitando para desenvolver um trabalho voltado para saúde e qualidade de vida, extinguindo um pouco aspecto competitivo.

    Dentre as várias dimensões da motivação, apesar do aspecto competitivo e rendimento ter ficado em segundo plano, salienta-se que, a competitividade é uma qualidade intrínseca nas modalidades de lutas, tornando os resultados da pesquisa diretamente diferente do provável resultado que envolveria o rendimento como a causa primária para sua prática.

    Os fatores sociais não influenciaram diretamente o estudo, pois o esporte de característica individual não tem uma afetividade considerada entre os praticantes dificultando esse convívio junto ao outro.

Referência

  • AMORIM, Diogo Perito. 2010. Motivação à prática de musculação por adultos jovens do sexo masculino na faixa etária de 18 a 30 anos. Porto Alegre: UFRGS, 2010.

  • ANDREATO et al. 2010. A história do brazilian jiu-jitsu. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 14 - Nº 142 - Marzo de 2010. http://www.efdeportes.com/efd142/a-historia-do-brazilian-jiu-jitsu.htm

  • BARBOSA, M. L. L, 2005. Propriedades métricas do Inventário de Motivação à prática regular de atividade física (IMPRAF-126). Porto Alegre: UFRGS, 2005.

  • BALBINOTTI, Marcos Alencar Abaide, Barbosa, Marcus Levi Lopes e Juchem, Luciano, 2009. Aspectos motivacionais do ensino dos tenista: prazer versus competitividade. Porto Alegre: Artmed, 2009.

  • BALBINOTTI, Marcos A. A., Balbinotti, Carlos e Barbosa, Marcus Levi Lopes 2009. A teoria da significação motivacional da perspectiva futura e suas aplicações no contexto do tênis infanto-juvenil. Porto Alegre: Artmed, 2009.

  • BECKER JR, B. El efecto de técnicas de imaginación sobre patrones electroencefalográficos, frecuencia cardiaca y en el rendimiento de practicantes de baloncesto con puntuaciones altas y bajas en el tiro libre. Tesis (Doctoral) – Faculdade Psicologia, Universidade de Barcelona, 1996.

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  • DAVIDOFF, L. L. Introdução a Psicologia. São Paulo, Makron Books, 2001.

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  • KUDO, K. O Judô em Ação. Editora Copyright, 1ªed., 1972.

  • PACHECO, M.C. Saliência de papel, valores de trabalhos e tarefas de desenvolvimento de carreiras. Tese de Doutorado, Porto Alegre (RS) 2010.

  • PERGHER, Tomé Kuchartz. 2008. Motivação à prática regular das atividades esportivas: um estudo com praticante de basquetebol escolar (13 a 16) anos. Porto Alegre UFRGS, 2008.

  • ROBBE, M. Brazilian Jiu-Jítsu: a arte suave. Editora On Line, n.05, 2006.

  • SAMULSKY, D. Psicologia do Esporte: Barueri/SP. Editora Manole – 2002.

  • SCALON, R. M. A Psicologia do Esporte e a Criança. Porto Alegre, EDIPUCRS, 2004.

  • SOUZA, I.; SOUZA I. Guia Prático de Defesa Pessoal: Jiu-Jítsu. Editora Escala, n. 08, 2005.

  • THOMAS, J. R. e NELSON, J. K. Métodos de pesquisa em atividade física. Porto Alegre: Artmed, 2002.

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