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Motivação para a prática desportiva no Programa 

Segundo Tempo na cidade de Florianópolis, SC

La motivación para la práctica deportiva em el Programa Segundo Tiempo de la ciudad de Florianópolis, SC

 

*Graduada em Educação Física. Centro de Ciências da Saúde e do Esporte

Universidade do Estado de Santa Catarina, UDESC

**Doutoranda em Educação Física. Núcleo de Pesquisa em Pedagogia do Esporte

Centro de Desportos, Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC

(Brasil)

Agnes Marina Ferreira dos Santos*

agnesmarina1971@hotmail.com

Alexandra Folle**

afolle_12@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do presente estudo foi analisar a motivação para a prática desportiva dos alunos do Programa Segundo Tempo (PST). Participaram do estudo 58 alunos de dois Núcleos do PST da cidade de Florianopolis (SC). Na coleta de dados, utilizou-se os seguintes instrumentos: Critério de classificação econômica Brasil (ABEP, 2010) e Inventário de motivação para a prática desportiva (GAYA; CARDOSO, 1998). O tratamento estatístico dos dados foi realizado por meio da análise descritiva (frequência e percentual), no software SPSS versão 17.0 Os resultados revelaram que a saúde é o principal fator de motivação para a prática desportiva dos alunos do Programa Segundo Tempo da cidade de Florianópolis/SC, com destaque para o sexo masculino, a faixa etária de 12 a 14 e a Classe B.

          Unitermos: Motivação. Prática desportiva. Programa Segundo Tempo.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Na área educacional, a motivação apresenta características dinâmicas e pessoais, uma vez que as pessoas sentem, relacionam-se, expressam-se e vivem de forma pessoal o processo pedagógico, na medida em que são satisfeitas suas necessidades, motivos e interesses, oscilando seu dinamismo pessoal (aparece, se desenvolve, desaparece, renasce) durante toda a vida escolar (LÓPEZ; GONZÁLEZ, 2002). Segundo Tresca e De Rose Jr (2002), é a motivação que leva as pessoas a uma ação ou a inércia perante as atividades, sendo ela um exame das razões pelas quais se escolhe realizá-las, por um longo período de tempo, ou ainda com um desempenho mais eficaz. Desta forma, a motivação se revela como um fator psicológico ralacionado com a atividade física, tanto no processo de aprendizagem quanto no desempenho.

    No esporte, os fatores motivacionais constituem um dos principais elementos que impulsionam o sujeito à ação. Para tanto, o estudo dos fatores motivacionais que levam crianças e adolescentes a se envolverem na prática esportiva, destaca-se no contexto do processo de ensinoaprendizagem, já que a aprendizagem e a motivação são processos interdependentes no homem (INTERDONATO et al., 2008). A motivação constitui, assim, um campo muito fecundo de investigação na área da Educação Física e Esportes. Contudo, apesar de o esporte ser altamente salutar e empolgante em todos os aspectos, algumas pessoas acabam perdendo a motivação e o interesse em sua prática (TEIXEIRA; VEIGA, 2007).

    O Programa Segundo Tempo, organizado e implementado pelo Ministério do Esporte, procura proporcionar às crianças e aos jovens, em situação de risco social, à prática do esporte educacional. Este objetivo requer ações e condições especialmente preparadas, de modo a garantir o seu alcance efetivo e eficiente. Nesta perspectiva, a motivação para tal prática constitui fator primordial para essa concretização, o que merece ser tema atual de investigação, uma vez que se trata de possíveis indicadores que deverão contribuir com o futuro do programa (OLIVEIRA et al., 2010). Neste sentido, compreendendo a importância dos programas públicos de acesso à prática desportiva no contexto nacional, este estudo buscou analisar a motivação para a prática desportiva, considerando o sexo, a idade e o nível socioeconômico de alunos do Programa Segundo Tempo (PST) na cidade de Florianópolis/SC.

Procedimentos metodológicos

    A população participante deste estudo foi composta por 80 alunos, na faixa etária de 10 a 15 anos e que frequentam as atividades desportivas em dois Núcleos do PST, vinculados ao Instituto Contato, da cidade de Florianópolis (SC). Fizeram parte da amostra 58 alunos (que concordarem em participar do estudo e que os responsáveis assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido), sendo 38 (65,5%) do sexo masculino e 20 (34,5%) do sexo feminino. Além disso, destaca-se que 31 (53,4%) dos alunos possuiam de 10 a 11 anos e 27 (46,6%) de 12 a 14 anos; 41 (70,7%) pertenciam as classes C e D e 17 (29,3%) a classe D.

    Na coleta de dados foram utilizados os seguintes instrumentos:

    Critério de classificação econômica Brasil (ABEP, 2010): estima o poder de compra das pessoas e famílias urbanas, abandonando a pretensão de classificar a população em termos de ‘classes sociais’. Este instrumento realiza o sistema de pontos por meio da posse de itens que os indivíduos possuem em suas casas e pelo grau de instrução do chefe da família, classificando-os nas seguintes classes econômicas: A1, A2, B1, B2, C1, C2, D e E.

    Inventário de Motivação para a Prática Desportiva (GAYA; CARDOSO, 1998): composto por 19 perguntas objetivas, subdivididas em três categorias: competência desportiva (questões 1, 4, 6, 8, 9, 15, 16 e 17); amizade e lazer (questões 3, 7, 12, 13 e 19); saúde (questões 2, 5 10, 11 14 e 18). Cada motivo possui três níveis de resposta: Muito Importante (MI), Pouco Importante (PI) e Nada Importante (NI).

    Primeiramente, foi encaminhado um ofício ao Instituto Contato, solicitando o número de núcleos do PST existentes na cidade de Florianópolis/SC e a autorização para a realização do estudo. Após autorização da instituição, o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), sob o parecer 02/2011.

    Após aprovação do projeto, os Termos de Consentimento Livre e Esclarecidos (TCLE) foram entregues aos alunos com o auxílio dos Coordenadores e Monitores de núcleo. Os alunos que concordaram em participar do estudo, após assinatura do TCLE pelos responsáveis, responderam aos questionários com o auxílio do pesquisador, em dias previamente agendados com os Coordenadores de núcleos, durante os intervalos das atividades esportivas realizadas nos mesmos.

    O tratamento estatístico dos dados foi realizado por meio da análise descritiva (frequência e percentual), no software SPSS versão 17.0.

Resultados e discussão

    O PST, projeto social, do Ministério dos Esportes, implantado em Santa Catarina no ano de 2003 (SANTOS, 2007), foi proposto com o objetivo de promover um acesso mais democrático à prática da atividade esportiva dentro da escola e ao conhecimento sobre a cultura de várias modalidades desportivas. Além disso, foi recomendado para promover a saúde, auxiliar na educação, no sentido mais amplo da palavra, diminuindo a distância de crianças e jovens de um ambiente onde esta prática é orientada por um profissional capacitado (MINISTÉRIO DO ESPORTE, 2010a,b).

    Os níveis de motivação para a prática desportiva de crianças e adolescentes participantes do PST na cidade de Florianópolis/SC podem ser visualizados na tabela 1. Neste sentido, destaca-se que os fatores relacionados à dimensão saúde (89,7%) são considerados os mais importantes pelos alunos que frequentam estas atividades nos núcleos do programa.

Tabela 1. Motivação para a prática desportiva de alunos participantes do PST na cidade de Florianópolis/SC

    Apesar da dimensão saúde ser a mais destacada, as demais dimensões (competência desportiva e amizade e lazer) também foram consideradas de grande relevância (82,8%) para o ingresso e permanência dos alunos nas atividades propostas nos núcleos.

    Na avaliação geral das três dimensões, os resultados do presente estudo se diferenciam dos apresentados por Paim e Pereira (2004) e por Interdonato et al. (2008). As investigações com praticantes de capoeira e atletas de várias modalidades (basquete, futebol, ginástica ritmíca, judô, natação e voleibol) revelaram percentuais mais baixos para as indicações de muito importante e mais elevados para as indicações de nada importante em comparação a este estudo. No entanto, quando observou-se as dimensões individualmente, os resultados se assemelham, uma vez que a dimensão saúde prevaleceu sobre a amizade e lazer e a competência desportiva, as quais se assemelharam.

    Em estudo realizado com atletas de basquetebol infanto-juvenil, Balbinotti, Saldanha e Balbinotti (2009) constataram que sentir prazer pela prática esportiva, pela competitividade e pela saúde foram os agentes mais motivadores para esta prática. Por sua vez, Wankel e Kreisel (1985), em esudo com atletas de futebol, beisebol e hóquei, verificaram que adquirir e melhorar as habilidades, bem como estar com os amigos destacaram-se como os principais fatores de motivação para a prática daqueles esportes. Cardoso (1998) em investigação com crianças e jovens de duas cidades do Rio Grande do Sul, identificou que aquelas que praticavam desporto em escolinhas e participavam de competições valorizavam mais a competência desportiva, enquanto as crianças e os adolescentes praticantes do desporto apenas nas aulas de Educação Física valorizavam mais os motivos relacionados com os aspectos relativos à saúde e à amizade e lazer.

    Nesta perspectiva, destaca-se que os dados encontrados no presente estudo traduzem as características e também as percepções em relação à prática desportiva dos alunos que frequentam os núcleos do PST, as quais vão de encontro com a proposta de tal projeto. As atividades desportivas nos núcleos do PST tratam o esporte em uma perspectiva educacional direcionada, fundamentalmente, ao incremento da qualidade de vida, à manutenção e à melhoria da saúde, bem como ao favorecimento do bem estar físico, social e psicológico das crianças e adolescentes. Além disso, possui o objetivo de democratizar o acesso à prática e à cultura esportiva como instrumento educacional, que valorize e promova o esporte com ênfase nos seus aspectos educacionais e culturais, não somente a preparação de futuros atletas (MINISTÉRIO DO ESPORTE, 2010a,b).

    A tabela 2 apresenta a motivação para a prática desportiva no PST, considerando o sexo dos alunos. Os resultados encontrados apontam que ambos os grupos, consideram tanto a dimensão competência desportiva quanto às dimensões amizade e lazer e saúde muito importantes para esta prática.

Tabela 2. Motivação para a prática desportiva no PST, considerando o sexo dos alunos

    A dimensão saúde considerada a mais importante para os meninos está ligada a prática de exercícios, à manutenção da saúde e do corpo em forma, o emagrecimento e o desenvolvimento da musculatura (GAYA; CARDOSO, 1998; NUÑEZ et al., 2008; BRAGA, 2010). Esta ênfase dada pelo sexo masculino a dimensão competência desportiva foi expressivamente mais elevada do que a dada pelo sexo feminino. Neste sentido, destaca-se a baixa importância atribuída peelas meninas a esta dimensão (30% a consideram pouco importante e 10% nada importante) em comparação ao grupo masulino. Estas evidências também foram encontradas no estudo de Paim (2001b), no qual verificou-se que os adolescentes apontaram como fator motivacional dominante a competência desportiva, enquanto as adolescentes manifestaram menor preferência por estes fatores.

    Por outro lado, o elevado percentual de meninos que atribui alta importância para a competência desportiva pode ser explicado pela busca do desenvolvimento de habilidades, de tornar-se um atleta e de vencer (NUÑEZ et al., 2008). Como relata Myotin (1995), a prática desportiva está relacionada à melhoria das habilidades, sendo motivo de grande importância para os jovens, principalmente para os do sexo masculino que são bastante motivados por questões relacionadas à realização pessoal. Braga (2010) acrescenta a conscientização dos benfícios da prática desportiva para a saúde e, principalmente, a busca do ‘corpo perfeito’. Segundo o autor, estes dados podem estar relacionados à questão do corpo físico associado à masculinidade, uma vez que a sociedade de hoje se preocupa com a imagem corporal do homem, existindo uma ‘cobrança’ pelo corpo ideal.

    Oliveira et al. (2010) analisaram a motivação para a prática desportiva dos alunos do PST no estado do Paraná, verificando que os motivos mais relevantes apontados pelos sujeitos do sexo masculino estavam ligados ao trabalho em grupo, à aptidão física e ao divertimento.

    Na dimensão amizade e lazer, verificou-se índices semelhantes entre os sexos, apesar de esta ser a única dimensão que as meninas consideraram mais importante que os meninos. Este resultado assemelha-se ao encontrado por Paim (2001b), no qual se averiguou relevante preferência pela amizade/lazer dos grupos femininos sobre os grupos masculinos. De modo similar, alunas do PST investigadas por Oliveira et al. (2010) consideram a influência de amigos e o divertimento importantes motivos para a prática do desporto.

    A motivação para a prática desportiva, de acordo com as faixas etárias dos alunos do PST é apresentada na tabela 3, não se observando diferenças elevadas entre os grupos no que se refere aos percentuais das três dimensões. Resultados similares foram encontrados nos estudos de Gaya e Cardoso (1998) e Cardoso (1998) com crianças e adolescentes das escolas da rede pública e privada de municípios do Rio Grande do Sul.

Tabela 3. Motivação para a prática desportiva no PST, considerando a faixa etária dos alunos

    Em relação às dimensões competência desportiva e saúde, os resultados demonstraram que o grupo de 12 a 14 anos apresentou percentuais mais elevados do que o grupo de 10 a 11 anos, principalmente à dimensão saúde (96,3%). Resultados diferenciados foram divulgados no estudo de Teixeira e Veiga (2007) realizado na cidade de Porto Alegre, com atletas de futebol e futsal do sexo masculinos com idade entre 10 e 15 anos, no qual se observou que quanto maior a idade menor a motivação relacionada à saúde.

    Os dados encontrados revelaram ainda que, apesar da similaridade no nível de motivação em torno da dimensão amizade e lazer, os alunos na faixa etária de 10 e 11 anos consideram esta dimensão mais importante que os da faixa etária de 12 a 14 anos. Neste sentido, enfatiza-se que nesta dimensão os alunos demonstraram que quanto menor a faixa etária, maior é a revelância dada para as brincadeira, o divertimento, para estar com e fazer novos amigos e não ficar em casa (CARDOSO, 1998). Contrariamente a esta constatação as informações disponibilizadas no estudo de Gaya e Cardoso (1998) apontam que os níveis motivacionais relacionados à amizade diminuem com a idade.

    Por sua vez, ao analisar a relação entre a motivação para a prática desportiva e a idade dos atletas de futebol, Paim (2001a) identificou que os principais fatores motivacionais para os adolescentes de menor idade relacionam-se com o desenvolvimento de habilidades e o gosto pela competição, seguido do interesse em estar com os amigos e gostar do trabalho em equipe. No entanto, os grupos de maior faixa etária dão importância mais elevada para o desenvolvimento de habilidades e a aptidão física.

    Na tabela 4 são apresentados os resultados da motivação para a prática desportiva no PST, considerando o nível socioeconômico dos alunos, na qual identifica-se que os alunos da classe B consideram as três dimensões mais importantes que os alunos das classes C e D.

Tabela 4. Motivação para a prática desportiva no PST, considerando o nível socioeconômico dos alunos

    Os resultados apresentados, na relação nível socioeconômico e motivação para a prática desportiva, apontaram que a classe B considera os aspectos relacionados à saúde os mais importantes, obtendo 100% das respostas dos alunos pertencentes a esta classe social. Além disso, este grupo também enfatiza a importância da competência desportiva, seguida da amizade e lazer.

    Por sua vez, os alunos das classes C e D avaliam a saúde como a dimensão mais importante para à prática desportiva no PST, seguida da amizade e lazer e, por último da competência esportiva. Estes resultados demonstram que independente da classe socioeconômica, os aspectos relativos à manutenção da saúde são apresentados como os mais relevantes para os alunos do Segundo Tempo. Indicadores do interesse dos alunos pela prática desportiva como promotora de saúde e da amizade e cooperação entre os alunos podem orientar a organização do trabalho futuro nos núcleos do PST, uma vez que a motivação certamente exerce forte influência sobre a participação, a aprendizagem e a socialização destes (OLIVEIRA et al., 2010).

Conclusão

    Na comparação dos resultados das diferentes variáveis estudadas, pode-se concluir que a saúde é o principal fator de motivação para a prática desportiva dos alunos do Programa Segundo Tempo da cidade de Florianópolis/SC, com destaque para o sexo masculino, a faixa etária de 12 a 14 e a Classe B.

    No que se refere a relação entre a motivação para a prática desportiva e o sexo dos alunos, revelou-se que tanto as meninas quanto os meninos consideram a saúde, a competência desportiva e a amizade e o lazer muito importantes para levá-los a praticarem atividades desportivas nestes projetos sociais. Contudo, o sexo masculino atribuiu maior ênfase a saúde e a competência desportiva, enquanto o sexo feminino atribuiu maior importância à amizade e ao lazer.

    Com relação à motivação para a prática desportiva e a faixa etária dos alunos do PST, revelou-se que quanto maior a idade maior a importância atribuída para a saúde e a competência desportiva e que quanto menor a idade das crianças e adolescentes maior a importância atribuída à saúde e à amizade e lazer. Os resultados encontrados evidenciaram ainda que a classe B considera as três dimensões mais importantes que os alunos das classes C e D, principalmente os aspectos relacionados à saúde e à competência desportiva.

    As informações disponibilizadas neste estudo e a escassa literatura relacionada à motivação para a prática desportiva no Programa Segundo Tempo e, principalmente, com relação ao nível socioeconômico, o qual dificultou maior discussão dos resultados encontrados em torno desta variável, permitem a sugestão da ampliação destes estudos, os quais contribuirão para novas iniciativas que visem a aderência e a manutenção de crianças e adolescentes neste projeto educacional.

Referências

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