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O profissional de Educação Física como agente de saúde. 

Seu papel na questão dos transtornos alimentares

El profesional de la Educación Física como agente de salud. Su rol en la cuestión de los trastornos alimentarios

Physical Education professional as health agent. The role in question of eating disorders

 

Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES)

Faculdade de Educação Física (FEFIS) – Santos, SP

(Brasil)

Priscilla Abrahão Foroni

Luiz Felipe dos Santos

Juliane Jellmayer Fechio

jfechio@terra.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Os Transtornos Alimentares têm sido cada vez mais o foco dos profissionais da saúde pelos seus significativos graus de morbidade e mortalidade. O objetivo deste estudo foi analisar por meio de revisão da literatura a importância do conhecimento dos profissionais de Educação Física em relação aos transtornos alimentares e enfatizar sua atuação como agente de saúde, na prevenção e detecção desta psicopatologia. Através do levantamento da literatura, pôde-se observar que é importante que os profissionais da área da Educação Física consigam reconhecer e lidar com os transtornos alimentares, ajudando a prevenir ou, pelo menos, reduzir a probabilidade de ocorrência dos mesmos. Para isso, é necessária a preparação destes profissionais a fim de estarem prontos para lidar com o problema que acomete jovens e adultos, principalmente mulheres e atletas. Aprofundar as pesquisas nessa área é uma importante medida, uma vez que os resultados dos estudos poderão contribuir de maneira significativa na qualificação do profissional de Educação Física como agente de saúde. Desta forma, pode-se concluir que é de suma importância que educadores físicos saibam reconhecer os sinais e sintomas e lidar com todos os aspectos dos transtornos alimentares, ajudando a prevenir ou reduzir a probabilidade de ocorrência dos mesmos e a tratá-los da melhor forma, encaminhado ao profissional adequado.

          Unitermos: Transtornos alimentares. Agentes de saúde. Profissional da Educação Física.

 

Abstract

          Eating disorders have been increasingly the focus of health professionals by their significant degrees of morbidity and mortality. The goal of this study was to verify through literature review the importance of knowledge of physical education professionals in relation to eating disorders and emphasize his acting as an agent of health, prevention and detection of this psychopathology. Through the survey of the literature, it might be observed that it is important that the professionals of physical education can recognize and deal with eating disorders, helping to prevent or at least reduce the probability of occurrence. This will require the preparation of these professionals in order to be ready to deal with the problem that usually affects young people and adults, mostly women and athletes. To deepen the research in this area is an important measure, since the results of these studies may contribute significantly in vocational education qualification as physical health agent. This way, it can be concluded that it is of the utmost importance that physical educators know how to recognize the signs, symptoms and deal with all aspects of eating disorders, helping to prevent or reduce the likelihood of occurrence of controllers and to treat it as forwarded to the appropriate professional.

          Keywords: Eating disorders. Agent of health. Physical Education professionals.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 155, Abril de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Os transtornos alimentares (anorexia nervosa, bulimia nervosa e suas variantes) são quadros psiquiátricos que afetam principalmente adolescentes e adultos jovens do sexo feminino, levando a grandes prejuízos biopsicossociais com elevada morbidade e mortalidade (ABREU e CANGELLI FILHO, 2004).

    Causados por diversos fatores predisponentes e caracterizados pela extrema valorização do corpo magro, os Transtornos Alimentares têm crescido nos últimos anos (principalmente entre as mulheres jovens e atletas) e têm levado seus pacientes a realizarem dietas extremamente restritivas ou a utilizarem métodos inapropriados como o exercício físico excessivo, para alcançarem o corpo idealizado.

    Segundo Andrade e Bosi (2003), nas sociedades ocidentais contemporâneas, o culto à magreza está diretamente associado à imagem de poder, beleza e mobilidade social, gerando um quadro contraditório, tendo em vista que, através da mídia escrita e televisiva, a indústria de alimentos vende gordura, com o apelo aos alimentos hipercalóricos, enquanto a sociedade cobra magreza.

    Muitas publicações recentes apontam os benefícios da prática da atividade física para a saúde no contexto físico e psicológico, porém para os acometidos pelos Transtornos Alimentares, o exercício físico é realizado de forma exaustiva e prejudicial uma vez que esses não se alimentam ou descansam adequadamente.

    Outro fator a ser observado é que uma expressiva parcela desses pacientes envolve-se nos esportes competitivos e na realização de atividades físicas, antes mesmo de apresentarem as alterações no hábito alimentar o que pode apontar que a atividade física competitiva pode estar intimamente relacionada ao desenvolvimento dos transtornos. Na verdade, há um grande número de evidências que co-relacionam atividade física e conduta alimentar irregular (ALMEIDA, 2003).

    O Ministério da Saúde, no ano de 1997, baixou uma resolução que apontou a Educação Física como profissão de nível superior da área da saúde, junto com outras profissões (SANTOS, 2008).

    Estudos recentes citam a influência que os treinadores exercem sobre seus atletas, principalmente por meio de comentários relativos às suas formas corporais e como os educadores físicos se encontram em uma posição privilegiada na detecção da patologia pela proximidade com seus alunos (WEINBERG e GOULD, 2008).

    Por ter, o profissional da Educação Física, sido inserido há pouco tempo na área da saúde no Brasil (MELLO, VAISBERG e FERREIRA, 2010), ainda há algumas dúvidas sobre o processo de formação profissional dos educadores físicos para esta atuação.

    Desta forma, o objetivo deste estudo foi analisar por meio de revisão da literatura a importância do conhecimento dos profissionais de Educação Física em relação aos transtornos alimentares e enfatizar sua atuação como agente de saúde, na prevenção e detecção desta psicopatologia.

Transtornos alimentares

    Os transtornos alimentares são síndromes comportamentais cujos critérios diagnósticos têm sido amplamente estudados nos últimos 30 anos. São descritos como transtornos e não como doenças por ainda não se conhecer bem sua etiopatogenia (CLAUDINO e BORGES, 2002).

    Definidos como alterações do comportamento alimentar e da regulação do peso (PHILIPPI e ALVARENGA, 2004), são caracterizados por um padrão de comportamento alimentar gravemente perturbado, pelo controle patológico do peso corporal e distúrbios da percepção do formato corporal (SAIKALI et al., 2004), têm sido relacionados com uma "epidemia de culto ao corpo" que  se multiplica em uma população patologicamente preocupada com a estética corporal e afetada por alterações psíquicas relacionadas ao esquema corporal.

    Segundo Fuks et al. (2006), esses comportamentos produzem, após um período prolongado, efeitos no estado nutricional do paciente, levando a uma preocupação pela sobrevivência do mesmo, nos casos mais extremos. Essa patologia tem sido cada vez mais foco da atenção dos profissionais da área da saúde por apresentarem significativos graus de morbidade e mortalidade (PINZON e NOGUEIRA, 2004). Associados a conseqüências clínicas e psicológicas devastadoras, os transtornos alimentares incluem o retardo no crescimento e desenvolvimento, infertilidade, osteoporose e morte (ANDRADE, VIANA e SILVEIRA, 2006).

    Entre os fatores predisponentes, destacam-se a história de transtorno alimentar e (ou) transtorno do humor na família, os padrões de interações presentes no ambiente familiar, o contexto sociocultural, caracterizado pela extrema valorização do corpo magro, disfunções no metabolismo das monoaminas centrais e traços de personalidade (MORGAN, VECCHIATTI e NEGRÃO, 2002). Além disso, perdas, separações, mudanças, doença orgânica ou outro acontecimento estressante podem também ser considerados fatores desencadeantes do quadro patológico (VIEIRA et al., 2006).

    Dentre as características psicológicas importantes, podem ser destacadas: transtorno na imagem corporal, na percepção ou interpretação dos estímulos corporais (por exemplo, o reconhecimento da fome), sentimentos de impotência (sensação paralisante que invade o pensamento e as atividades) e falta de autonomia (dificuldade para pensar por si só) (FUKS et al., 2006). Há tendência ao isolamento, problemas de relacionamento, preocupação e vergonha com o corpo, distorção da auto-imagem, aumento do apetite, dietas constantes, etc (DIXE, 2007).

    Tem-se verificado um crescimento importante na incidência dos Transtornos Alimentares, principalmente nos países ocidentais desenvolvidos. Aproximadamente 90% a 95% dos acometidos são do sexo feminino, e a faixa etária de maior risco situa-se entre os 15 e os 25 anos de idade (OLIVA e FAGUNDES, 2001).

    De acordo com Vilela et al. (2004), a anorexia e a bulimia nervosas são os transtornos alimentares mais freqüentes e crônicos, associados com um alto índice de comorbidade, sendo a bulimia ainda mais freqüente que a anorexia. Embora classificados separadamente (Claudino e Borges, 2002), os dois transtornos acham-se intimamente relacionados por apresentarem psicopatologia comum: uma idéia prevalente envolvendo a preocupação excessiva com o peso e a forma corporal (medo de engordar), que leva os pacientes a se engajarem em dietas extremamente restritivas ou a utilizarem métodos inapropriados para alcançarem o corpo idealizado.

    É importante mencionar que segundo Lungwtz (2009) os transtornos alimentares são caracterizados por distúrbios fisiológicos e psicológicos do apetite e da ingestão. Nesta caracterização estão a anorexia nervosa; bulimia nervosa; obesidade; falta de apetite conseqüente a doenças físicas e transtornos emocionais; síndrome do gourmet (preocupação com a preparação, apresentação, ingestão de pratos especiais, diferentes e/ou exóticos); transtorno alimentar noturnos; PICA (ingestão de substância e objetos não comestíveis); Síndrome de Prader-Willy (congênito associado à deficiência mental – come constantemente involuntariamente) e o transtorno do comer compulsivo.

    Os critérios diagnósticos para a Anorexia nervosa envolvem: recusa em manter o peso corporal em um nível igual ou acima do mínimo normal adequado à idade e à altura; medo intenso de ganhar peso ou de engordar, mesmo estando com o peso abaixo do normal; perturbação no modo de vivenciar o peso ou a forma do corpo, influência indevida do peso ou da forma do corpo sobre a auto-avaliação, ou negação do baixo peso corporal atual e nas mulheres pós-menarca, amenorréia (MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍTICO DE TRANSTORNOS ALIMENTARES – DSM-IV-TR, 2008).

    No caso de bulimia nervosa, o diagnóstico envolve: crises bulímicas recorrentes (uma crise é caracterizada por ambos os seguintes aspectos: 1- ingestão, em um período limitado de tempo de uma quantidade de alimentos maior do que a maioria das pessoas consumiria durante um período similar; 2- um sentimento de falta de controle sobre o comportamento alimentar durante o episódio); comportamento compensatório e recorrente (como indução de vômito, uso de laxantes, entre outros); a crise bulímica e os comportamentos compensatórios ocorrem pelo menos duas vezes por semana, por três meses; a auto-imagem é indevidamente influenciada pela forma e pelo peso do corpo e o distúrbio não ocorre exclusivamente durante episódios de Anorexia Nervosa (DSM-IV-TR, 2008).

Transtornos alimentares e atividade física

    Os benefícios da prática da atividade física regular para o bom funcionamento do corpo humano e para a melhoria da qualidade de vida têm sido amplamente apontados pela maioria dos pesquisadores (FECHIO e MALERBI, 2001).

    No entanto, indivíduos com transtornos alimentares nem sempre se beneficiam, na medida em que podem utilizá-la como estratégia para perder peso de forma inadequada e por vezes de forma compulsiva (TEIXEIRA et al., 2009). Alguns estudos têm identificado a prática excessiva de exercício físico em pessoas com transtornos alimentares, sendo a hiperatividade uma considerável evidência clínica presente em muitos pacientes com essas patologias (ROSA, MELLO e FORMIGONI, 2004).

    Não só pessoas sedentárias apresentam casos de transtornos alimentares, há um grande índice de atletas e freqüentadores assíduos de academias que na busca por bons resultados acabam ultrapassando o limite natural de seu organismo causando às vezes danos irreparáveis (BAPTISTA e PANDINI, 2005).

    No contexto esportivo competitivo, principalmente em esportes em que o peso é um fator fundamental para se determinar uma categoria de competição, acaba sendo um ambiente propício para o desenvolvimento de determinados distúrbios de atitudes alimentares, bem como um auto-olhar patológico para o próprio corpo (VIEIRA et al, 2006).

    De acordo com Assunção, Cordás e Araújo (2002), muitos atletas podem desenvolver transtornos alimentares. Logo, deve-se estar atento para esta possibilidade quando da avaliação clínico-psiquiátrica desses indivíduos. A estreita relação entre imagem corporal e desempenho físico faz com que os atletas sejam um grupo particularmente vulnerável à instalação desses transtornos, tendo em vista a ênfase dada ao controle de peso (OLIVEIRA et al., 2003).

    Em alguns casos os atletas apesar de não sinalizarem a presença de anorexia ou bulimia nervosa, apresentam evidências da presença de preocupação com o peso corporal associada à leve distorção da imagem corporal e à prática de dietas restritivas. Essas práticas são denominadas síndromes parciais do Transtorno Alimentar e, quando associadas a exercícios físicos sistemáticos e extenuantes, são fatores de risco, cuja detecção precoce pode impedir a instalação futura dos quadros graves de Transtornos Alimentares (OLIVEIRA, et. al., 2003).

    Seixas, Fernandes e Fechio (2009) fizeram uma comparação em relação à presença de transtorno alimentar e distorção da imagem corporal entre 46 mulheres atletas de diversas modalidades esportivas e 39 não-atletas. As atletas apresentaram índices mais elevados, mas não houve diferença estatisticamente significativa. Além disso, as autoras puderam constatar que a imagem corporal gerou maior preocupação do que o hábito alimentar entre as atletas e também nas não atletas.

    Resultados de uma pesquisa realizada por Vieira et al. (2006) demonstraram que as atletas do sexo feminino apresentaram no geral pontuações mais elevadas tanto de distúrbios de atitudes alimentares quanto de distorção da auto-imagem corporal do que os atletas do sexo masculino, sendo essas diferenças estatisticamente significativas.

    Em atletas, embora a prevalência de anorexia nervosa e bulimia nervosa ainda não seja suficientemente conhecida, sobretudo no Brasil, pesquisas realizadas demonstraram freqüência aumentada (de 15 a 62%), sobretudo em certas modalidades desportivas.

    Em estudo relatado por Assunção, Cordás e Araújo (2002), pesquisadores observaram pacientes do sexo feminino com transtorno alimentar, notando que 78% realizavam exercícios excessivamente e ainda que 60% eram atletas antes de serem acometidas com o problema.

    Apesar dos estudos, Weinberg e Gould (2008) explicam que no esporte tem sido difícil fazer uma avaliação precisa de transtornos da alimentação devido ao risco que o atleta corre de ser retirado da equipe caso seu problema alimentar seja descoberto.

    É importante mencionar que no que diz respeito ao tratamento dos transtornos alimentares e a prática de atividades físicas e esportivas há algumas controvérsias. Para Weinberg e Gould (2008) a diminuição do exercício deve ser considerada no tratamento para pessoas com transtornos da alimentação que não fossem atletas. Já para Mello et al. (2005) o exercício físico provoca alterações fisiológicas, bioquímicas e psicológicas, devendo ser considerado uma intervenção não-medicamentosa para o tratamento de distúrbios relacionados aos aspectos psicobiológicos.

O profissional de Educação Física como agente de saúde: seu papel na questão dos transtornos alimentares

    Segundo Weinberg e Gould (2008), os transtornos da alimentação são problemas clínicos que requerem tratamento por especialistas, contudo os leigos devem aprender a detectar sinais dessas condições para poder encaminhá-las para o tratamento necessário.

    Resultados de pesquisas têm indicado que existe a necessidade de alertar e informar os profissionais e familiares sobre o perigo dessa psicopatologia para que sejam capazes de reconhecer e de lidar com os transtornos alimentares se identificados (SEIXAS, FERNANDES e FECHIO, 2009).

    Tendo em vista que os transtornos alimentares surgem com grande freqüência na infância e na adolescência, o diagnóstico precoce e uma abordagem terapêutica adequada dos transtornos alimentares são de fundamental importância. (APOLLINÁRIO e CLAUDINO, 2002). A detecção e intervenção precoces constituem medidas essenciais não somente para a manutenção do desempenho, mas do estado de saúde dos atletas (BOSI e OLIVEIRA, 2004).

    Caso fosse o problema do transtorno alimentar, pertinente apenas à área intelectual e cognitiva, bastaria o médico prescrever uma dieta balanceada, e toda a população estaria com este problema resolvido, porém, os transtornos alimentares constituem um cenário espetacular de linguagens desesperadas, constituintes em sintomas que designam o desamparo do ser contemporâneo diante de si próprio e do mundo, no aguardo de encontrar profissionais que possam transformar em palavras, a gramática especial do psicossomático (SANTOS, 2006).

    Segundo Almeida (2005), o diagnóstico diferencial dos transtornos alimentares é complicado pela negação dos sintomas por parte do paciente, pelo segredo envolvendo seus rituais alimentares bizarros e sua resistência a buscar tratamento. Portanto, pode ser difícil identificar o mecanismo de perda de peso e os pensamentos ruminativos associados, envolvendo distorções da imagem corporal.

    Dentro da conceituação sobre o que constitui trabalhos suficientemente bons, que satisfaçam as necessidades clínicas que emanam do paciente com transtorno alimentar, uma reflexão se impõe como parte dessas exigências: o cuidado à equipe multidisciplinar, tendo este, caráter absolutamente indispensável que visa alicerçar melhor, os profissionais envolvidos nesta tarefa (SANTOS, 2006).

    Uma vez que a Educação Física foi inserida há pouco tempo no Brasil como profissão de nível superior da área da saúde (MELLO, VAISBERG e FERREIRA, 2010), ainda há algumas dúvidas sobre o processo de formação profissional para a atuação nessa área, uma vez que a maioria dos cursos de graduação é voltada para a área pedagógica e/ou prática desportiva.

    Segundo Souto e Bucher (2006), os profissionais da área de saúde deveriam ser preparados para orientar seus pacientes em direção a uma prática alimentar saudável sendo preciso, para isso, uma humanização dos cursos e um trabalho integrado entre os profissionais envolvidos na assistência ao paciente com transtorno alimentar.

    Diante da necessidade de profissionais com adequada formação para atuar neste âmbito, observa-se nos últimos anos a criação de cursos de Educação Física que contemplam em seus currículos a discussão de conceitos como saúde, doença, risco, prevenção de doenças e promoção de saúde, objetivando um novo perfil para o profissional desta área (MELLO, VAISBERG e FERREIRA, 2010).

    Campos (1999) afirma que a principal função dos profissionais seria a de elaborar e aplicar o projeto terapêutico individual. E um projeto terapêutico implica em certo diagnóstico, depende de uma aproximação entre cliente, família e profissionais de referência, e implica na instituição de práticas individuais, de grupo ou mais coletivas.

    Para Weinberg e Gould (2008), como profissional da área de Educação Física, ao identificar alguém que demonstre sintomas de Transtornos Alimentares, haverá a necessidade de solicitar especialistas familiarizados na patologia. É um erro pensar que o problema se corrigirá por si só.

    A comunicação entre os membros da equipe no tratamento e detecção dos transtornos deve ser intensa para que as abordagens sejam coerentes e consistentes, facilitando assim que o jovem e sua família consigam beneficiar-se de todos os esforços a eles destinados (FLEITLICH, 2000).

    Esta integração na equipe multidisciplinar é de fundamental importância não só para atuar de forma conjunta como também para interferir nos hábitos do indivíduo como um todo, empregando uma visão global e não segmentada (MELLO, VAISBERG e FERREIRA, 2010).

    Um professor de Educação Física, por exemplo, se incluiria no trabalho interdisciplinar em saúde mental, oferecendo um cardápio de atividades que poderiam ser incluídas no projeto terapêutico, seria como referência e uma oficina para reabilitação ocupacional (CAMPOS, 1999).

    Para Weinberg e Gould (2008), os profissionais da Educação Física devem estar preparados para lidar com as questões dos transtornos alimentares e serem capazes de identificar os sinais físicos e psicológicos desta patologia. Precisam ser informados e treinados para a identificação e o trabalho integrado necessário ao manejo da patologia (BOSI e OLIVEIRA, 2004).

    Estudos recentes citam a influência exercida pelos treinadores, patrocinadores e familiares, por meio de seus comentários relativos ao peso e à forma das atletas, como um poderoso elemento de instalação de comportamentos alimentares anormais. Esta foi uma primeira iniciativa de uma linha de pesquisa multidisciplinar que se iniciou na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), cujos desdobramentos já estão envolvendo várias modalidades desportivas e grupos populacionais, visando contribuir para o direcionamento e a compreensão de um tema cuja complexidade envolve aspectos biopsíquicos, epidemiológicos, antropológicos, sociológicos, econômicos, históricos exigindo, portanto, um olhar interdisciplinar que integre essas diferentes dimensões (OLIVEIRA et al., 2003).

    Sempre que possível, profissionais da Educação Física devem observar os padrões alimentares de alunos e atletas e caso estes demonstrem sintomas, solicitar a ajuda de um especialista familiarizado em transtornos da alimentação (WEINBERG e GOULD, 2008). Para isso, os profissionais necessitam de conhecimentos específicos.

    Thompson (1987) apud Weinberg e Gould (2008) defende que os profissionais da Educação Física estão em excelente posição para identificar indivíduos com transtornos da alimentação. É fundamental, também, que consigam reconhecer e lidar com os transtornos da alimentação, ajudando a prevenir ou, pelo menos, reduzir a probabilidade de ocorrência desses transtornos.

    Além disso, é importante que estes profissionais promovam e incentivem práticas nutricionais adequadas, focalizam-se no condicionamento físico e não no peso corporal, sejam sensíveis com as questões do peso para que seja desviado o foco da obsessão em relação à gordura corporal e incentivem o controle saudável do peso (WEINBERG e GOULD, 2008). 

    Não se deve esquecer que muitos estudos têm investigado os efeitos do exercício físico sobre a saúde mental e têm encontrado resultados satisfatórios (MELLO, VAISBERG e FERREIRA, 2010). No ano de 2002, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu como tema prioritário a construção de políticas públicas que coloquem em relevância a importância da prática de exercício físico devidamente orientado e a prática cotidiana de atividade física para se atingir uma vida mais saudável (SANTOS, 2008). Essas são observações importantes quando falamos de transtornos alimentares e da importância do professor de Educação Física neste contexto.

    Teixeira et al. (2009) defende que o exercício praticado regularmente pode contribuir com o tratamento de pacientes com transtornos alimentares, atuando principalmente nos aspectos psicológicos tendo o profissional de Educação Física, o objetivo de promover saúde por meio da educação e da prática regular de exercícios, enfatizar o cuidado com a saúde, com a imagem corporal e a autoestima, colaborar com a recuperação de peso, promovendo principalmente o ganho de massa magra e diminuindo o tecido adiposo, incentivar a prática de exercícios como uma alternativa de atividade social e desmistificar crenças e mitos referentes à prática excessiva e inadequada.

    Recomenda-se que as escolas e academias destinem espaço a um profissional que desenvolva atividades profiláticas voltadas para a conscientização da percepção pessoal e social do aluno, (CONTI, FRUTUOSO e GAMBARDELLA, 2005) bem como das pressões a que está compelido.

    Aprofundar as pesquisas nessa área é importante na medida em que os resultados dos estudos poderão contribuir de maneira significativa na qualificação do profissional de Educação Física para aconselhar a população sobre como usufruir os benefícios da prática de atividade física estruturada (TEIXEIRA et al., 2009).

    Assim, a interação entre profissionais de diferentes formações torna-se de fundamental importância para a maximização de todo o planejamento a ser realizado com o ser humano, especialmente em relação à saúde (MELLO, VAISBERG e FERREIRA, 2010).

Considerações finais

    Por meio da revisão de literatura pode-se concluir que os autores enfatizam a importância de uma equipe multidisciplinar no tratamento dos Transtornos Alimentares mostrando ser necessário o envolvimento de psicólogos e outros profissionais, tais como nutricionistas, médicos, e profissionais da Educação Física como agentes de saúde. O envolvimento da família no tratamento também pode colaborar, facilitando mudanças.

    Nota-se uma relação entre a prática de atividade física e os Transtornos Alimentares, uma vez que muitos atletas desenvolvem a patologia devido às motivações e os incentivos à prática de dietas de emagrecimento por parte dos técnicos e professores e comentários a respeito da forma física de seus alunos. Isso indica que os profissionais da área de saúde deveriam ser preparados para orientar seus pacientes em direção a uma prática alimentar saudável.

    Dentre esses profissionais de saúde, está o profissional da Educação Física, que foi inserido recentemente nessa área e necessita aprofundar seu conhecimento quanto aos Transtornos Alimentares, isto porque ele está, na maioria das vezes, em uma posição privilegiada para perceber comportamentos característicos. A inserção da disciplina de Psicologia do Esporte na graduação de Educação Física torna-se fundamental neste sentido.

    Há, portanto, a necessidade de um trabalho integrado entre os profissionais envolvidos na assistência ao paciente com transtorno alimentar, entre eles o profissional de Educação Física.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 155 | Buenos Aires, Abril de 2011
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