efdeportes.com

Avaliação do ângulo Q e incidência de dor em 

praticantes de spinning em academias na Cidade de Ubá, MG

Evaluación del ángulo Q y la incidencia del dolor en practicantes de spinning en gimnasios de la Ciudad de Ubá, MG

Evaluation of the Q angle and the incidence of pain on who practice spinning in gyms from Uba City, MG

 

*Acadêmica do 8° período de Fisioterapia

na Universidade Presidente Antônio Carlos, UNIPAC, Ubá, MG

**Professora de anatomia humana da UFSJ

Mestre em Neurociências pela UFSJ

Doutoranda em Biologia Celular pela UFV

Mayara da Silveira Marangon*

mayara.marangon@hotmail.com

Laila Cristina Moreira Damázio**

lailadamazio@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O joelho é a articulação que exerce maior trabalho durante a pedalada e as cargas impostas a essa articulação durante o exercício pode conduzir a uma degeneração precoce. Além disso, há evidências de que as alterações cinesiológicas nos joelhos dos praticantes de spinning como: fraqueza dos vastos, alterações estruturais e de posicionamento da patela, ângulo Q aumentado, entre outros; favorecem para o aparecimento de lesões. Objetivo: Avaliar o ângulo Q e a incidência de dor em praticantes de spinning em academias na cidade de Ubá – MG. Materiais e métodos: Foram selecionadas 16 mulheres, divididas em 2 grupos: as que praticavam há menos de três meses e há mais de três meses. Foi aplicado um questionário e realizado a avaliação do ângulo Q e força muscular. Resultados: Os resultados obtidos não demonstraram evidências significantes de dor e alterações no ângulo Q, sendo que, as praticantes menos de três meses apresentaram maiores graus neste ângulo. Conclusão: Conclui-se que as praticantes de spinning não apresentaram alterações do ângulo Q e incidência de dor nos joelhos.

          Unitermos: Joelho. Fisioterapia. Síndrome da dor patelofemoral.

 

Abstract

          The knee is the joint that does the hardest work during spinning activity and the imposed loads to this joint during the exercise can take to a premature degeneration. Furthermore, there are evidences that the movement’s amendments in the knees of who practice spinning like: weakness of the vast, patella’s position and structural amendments, raised angle Q, between others favor to the appearing of lesions. Objective: Evaluate the angle Q and the incidence of pain on who practice spinning in gyms from Uba city. Materials and methods: There was selected 16 women , divided in two groups: who practiced at less than three months and more than three months. A questionnaire was applied and carried out the assessment of the angle Q and Muscle strength. Results: The obtained results have not demonstrated relevant evidences of pain and amendments on angle Q, being that , who practice at less than three months presented bigger degrees in this angle. Conclusion: It is concluded that who practice spinning no changes in the Q angle and incidence of knee pain.

          Keywords: Knee. Physiotherapy. Patella and femur’s pain syndrome.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 152, Enero de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A articulação do joelho é classificada como sinovial em dobradiça atípica e é a maior e mais complexa articulação do corpo.1,2 Ela suporta o peso do corpo e transmite as forças provenientes do solo ao mesmo tempo em que permite uma grande quantidade de movimento entre o fêmur e a tíbia.3,4

    Existem três articulações no joelho: a articulação tibiofemoral, tibiofibular superior e a articulação femoropatelar.4 As duas primeiras são os locais onde os côndilos femorais medial e lateral fazem contato através da cartilagem articular interposta com a face articular superior da tíbia. Já a articulação femoropatelar é composta pela face articular da patela e face patelar do fêmur.2

    A patela é um osso sesamóide com forma triangular encapsulado pelos tendões dos músculos do quadríceps femoral.4 Ela tem a função de proteger essa articulação e aumentar a vantagem mecânica do músculo quadríceps,1,2,4 que é responsável por controlar a posição da patela em relação a face patelar do fêmur.5

    O quadríceps femoral é constituído pelos músculos retofemoral e vastos: intermédio, lateral e medial. Estes músculos se inserem no tendão patelar, porém eles se diferem em suas origens. O retofemoral é o único biarticular, sendo a sua origem na espinha ilíaca ântero-inferior do quadril. O vasto intermédio (VI) origina-se do fêmur anterior e lateral. Já os vastos medial (VM) e vasto lateral (VL), originam-se a partir da linha áspera do fêmur.1,2,4 O controle da posição da patela em relação as forças exercidas sobre ela, ocorre por meio dessas duas porções musculares.5

    O músculo VM é divido em duas porções: o vasto medial longo (VML), que se insere num ângulo de 15 graus em relação ao eixo longitudinal do fêmur, exercendo pouca ou nenhuma tração para o adequado posicionamento da patela; e o vasto medial oblíquo (VMO), que se insere principalmente em um ângulo de 50-55 graus no eixo longitudinal do fêmur, sendo considerado o estabilizador dinâmico medial da articulação femoropatelar.4,5 Assim como o VM, o músculo VL também é dividido em duas porções: o vasto lateral longo (VLL), em que as fibras proximais originam-se no fêmur e se inserem no terço medial do tendão do quadríceps femoral; e o vasto lateral oblíquo (VLO) em que as fibras póstero-laterais originam-se no tracto iliotibial, sendo mais obliquas em sua direção, e se inserem na base e na borda lateral da patela.4,5 Considerando as origens e inserções desses músculos, observa-se as suas ações contrárias e suas importantes funções de equilíbrio dinâmico para a estabilidade da patela.4,5,6,7,8

    O VL é o maior e mais forte músculo do quadríceps femoral4 contribuindo para o vetor de força lateral da patela. Já o VMO, promove um vetor de força contrário ao VL, equilibrando a força gerada pelo mesmo.4,5 Essa relação entre o VMO e VL deve ser de 1:1 em sujeitos clinicamente normais.6 Um desequilíbrio entre esses estabilizadores dinâmico da patela pode gerar um desalinhamento.5,6,7 O deslocamento e mau alinhamento patelar é o fator etiológico mais aceito para a síndrome da dor femoropatelar(SDFP),4,6,9 que é definida como uma dor resultante de alterações físicas e biomecânicas na articulação femoropatelar.10 O mau alinhamento da patela e alinhamento do membro inferior no plano frontal é determinado medindo o ângulo quadricipital(Q).4,5

    O ângulo Q é o ângulo formado entre o músculo quadríceps e o tendão da patela.1 Ele é mensurado desenhando duas linhas imaginárias; uma das linhas é formada da espinha ilíaca ântero-superior até o ponto médio patelar; e a outra linha, que cruza a primeira, descendo do meio da patela até a tuberosidade da tíbia.1,3,4,5,10,11 O ângulo Q mais eficiente para a função do quadríceps é aquele próximo de 10 graus.4 Porém, nas mulheres, é necessário que o fêmur desvie medialmente em um ângulo maior para tornar a extremidade distal dos côndilos paralelos ao solo, pois as mulheres tem a pelve mais larga.4,12 O valor ideal do ângulo Q para os homens são 13 graus, variando entre 10 a 14 graus, e para as mulheres são 18 graus, variando entre 15 a 17 graus.1,4,5,10,11,13

    A articulação do joelho está envolvida em aproximadamente 50% das lesões musculoesqueléticas;5,11 sendo que a SDFP é a alteração mais comum5,6,11 representando 25% dos diagnósticos ortopédicos.5,7,9,11,14 Essa síndrome ocorre mais frequentemente em indivíduos jovens do gênero feminino,5,6,9,11,15 e afeta comumente atletas, constituindo 5% de todas as lesões esportivas.5,6,9,11

    Existem vários fatores envolvidos na SDFP: os fatores intrínsecos que estão relacionados com as características psicológicas, e com as características físicas individuais16 e os fatores extrínsecos, que estão relacionados com aspectos não ligados ao corpo, como: tipo de atividade esportiva, a maneira com que o esporte é praticado, condições ambientais e o equipamento utilizado.16

    Devido à grande incapacidade que a instabilidade da articulação femoropatelar provoca no paciente, seja para o desenvolvimento da prática esportiva e mesmo em suas atividades de vida diária, o tratamento dessa patologia é motivo de grande interesse.17 Vários estudos da medicina esportiva tem demonstrado uma grande incidência de lesões nos joelhos dos praticantes de ciclismo Indoor.18,19 Dentre os diferentes programas de treinamento do ciclismo Indoor, está o spinning, que tem como filosofia trabalhar corpo e mente.20 Esse tipo de treinamento tornou-se uma atividade física muito concorrida entre os freqüentadores de academias de ginástica. Isto se deu pelo seu alto poder de treinabilidade, por não exigir de seus praticantes nenhuma habilidade especifica, e ainda, por ser uma atividade coletiva muito dinâmica e motivadadora.20,21,22

    Nesta modalidade de exercício, são simulados os movimentos do ciclismo através de um programa de treinamento desportivo continuo ou intervalado, visando à manutenção e a melhora do nível do condicionamento físico.22 São propostos diferentes percursos, tornando a atividade mais atrativa, que por vezes, é aliado as músicas, que determinam através das batidas, a cadência do movimento, fazendo como se fosse uma coreografia, envolvendo e chamando o praticante para seguir o caminho proposto pelo profissional, a cada sessão de treinamento.23

    Muitos são os benefícios do spinning. Ele oferece vantagens como: ajuda a queimar calorias e a reduzir o peso,20,24 melhora o estado cardiorrespiratório,20,24,25 fortalece o sistema musculoesquelético,20 diminui os níveis de ansiedade e estresse,20,21 é de fácil execução e permite o controle ao individuo da resistência aplicada.25

    O joelho é a articulação que exerce maior trabalho durante a pedalada; e as cargas impostas a essa articulação durante o exercício podem conduzir a um desgaste precoce e a degeneração. Além disso, há evidência de que alterações cinesiológicas nos joelhos dos praticantes de spinning favorecem o aparecimento de lesões, como: fraqueza dos vastos, alterações estruturais e de posicionamento da patela, ângulo Q aumentado, entre outros.19

    A fisioterapia é fundamental para o tratamento e a prevenção de lesões musculoesqueléticas, motivando em identificar a incidência de dor e alterações no ângulo Q dos praticantes de spinning.

    O assunto foi escolhido por ser pouco divulgado em estudos científicos e pelo aumento do número de praticantes dessa modalidade esportiva. Os resultados obtidos fundamentarão a intervenção na prática dessa atividade a partir do conhecimento das possíveis alterações fisiológicas que essa atividade possa causar, beneficiando assim a comunidade científica e os próprios praticantes de spinning.

    Os objetivos deste estudo são investigar alterações no ângulo Q e a incidência de dor em praticantes de spinning em academias na cidade de Ubá - MG; avaliar a incidência de dor nos joelhos dos praticantes de spinning e correlacionar o tempo e a frequência da prática do spinning com a incidência de dor nos joelhos dos praticantes.

Materiais e métodos

Tipo do estudo

    O estudo é original com delineamento transversal realizado em 4 (quatro) academias na cidade de Ubá – MG, no período de setembro a outubro de 2010.

Características da amostra

    Foram selecionados 16 indivíduos do gênero feminino, com idade entre 20 e 50 anos. As participantes foram dividas em dois grupos: G1 – praticantes de spinning há menos de 3 meses; G2 – praticantes de spinning há mais de 3 meses. Os critérios de inclusão foram: ser praticante de spinning com freqüência de no mínimo 2 sessões por semana. Foram excluídas do trabalho mulheres no período menstrual, que apresentavam problemas reumáticos e/ou ortopédicos nos joelhos, que já haviam realizado alguma cirurgia nos joelhos e que realizam outra modalidade esportiva.

Cenário do estudo

    O estudo foi realizado em 4 (quatro) academias da cidade de Ubá – MG, onde existe a modalidade de spinning. A avaliação dos praticantes foi realizada na sala de avaliação das academias, pois era um ambiente calmo e não expunha o paciente as observações de outros indivíduos.

Instrumentos

    Os indivíduos foram identificados através de uma ficha de avaliação, contendo perguntas relativas à: idade, profissão, tempo de prática do esporte, freqüência, posicionamento da bicicleta, orientações dadas pelo profissional de educação física durante a prática da atividade, dores nos joelhos e a relação das dores com a prática do spinning.

    Foi utilizado um goniômetro da marca CARCI de 35 cm, com dois braços móveis para a medida do ângulo Q, e um pincel para quadro branco da marca Jocar Office para demarcar os pontos anatômicos. Também foi utilizado a Escala Visual Analógica (EVA) para análise da incidência de dor entre as avaliadas, sendo que 0 significa ausência de dor e 10 o nível de dor máxima suportável pelo paciente.26

    Para a avaliação clínica da força do músculo quadríceps, foi utilizado o teste manual de força muscular. Esse teste se baseia em cinco graus para classificar o tipo de força muscular que foi desenvolvida. Onde, no grau 0 não há nenhuma evidência de contração pela visão ou palpação; grau 1 observa-se uma ligeira contração sem nenhum movimento; o grau 2 o movimento é realizado através da amplitude completa com a gravidade eliminada; no grau 3, o paciente consegue realizar o movimento através da amplitude completa contra a gravidade; no grau 4 capaz de realizar o movimento através de uma amplitude completa contra a gravidade e capaz de vencer uma resistência moderada e no grau 5, além de vencer a gravidade, o paciente consegue realizar o movimento contra uma resistência máxima.27 Este teste foi realizado sempre pelo mesmo examinador.

    A avaliação da SDFP foi realizada através do teste de contração do quadríceps.28 Se o individuo não conseguisse realizar o teste ou relatasse dor durante o mesmo, era considerado sugestivo o diagnóstico de SDFP.

    Também foi realizada a avaliação visual dos joelhos, caracterizado em joelho valgo, que consiste na aproximação dos joelhos e afastamento dos pés, e joelho varo, o que caracteriza o afastamento dos joelhos e aproximação dos maléolos.29

    Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre Formal e Esclarecido segundo as Diretrizes e Normas Regulamentadoras do Conselho Nacional de Saúde N° 196/96.

Procedimentos

    Após a avaliação geral, os indivíduos foram submetidos à avaliação da articulação femoropatelar. O ângulo Q pode ser avaliado de varias formas, mas de acordo com Belchior et al 11, o método de mensuração clínica mostra-se confiável para essa análise. O paciente foi posicionado em decúbito dorsal, com os pés posicionados perpendicularmente a maca, o mesmo era orientado a ficar com o segundo dedo do pé apontado para o teto, e com o músculo quadríceps femoral relaxado.30,31,32,33 Foram demarcados os pontos anatômicos com o pincel, na espinha ilíaca ântero-superior (EIAS) e na tuberosidade anterior da tíbia (TAT); a partir dessa marcação, o goniômetro foi posicionado no centro da patela, com um braço em direção a EIAS e o outro, na direção da TAT avaliando o ângulo formado. Com o paciente ainda nesta posição, foi realizado o teste de contração de quadríceps, colocando uma resistência manual na borda superior da patela e pedindo contração do quadríceps para avaliar a síndrome de dor femoropatelar. Em seguida foi aplicada a EVA, de forma que, o paciente foi abordado e perguntado sobre o grau de dor de 0 a 10 na articulação do joelho.

    Para avaliar a capacidade do músculo quadríceps, foi utilizado o teste de força muscular. Após a explicação sobre a finalidade do teste ao paciente, o mesmo foi posicionado sentado, com as pernas para fora da maca, em seguida, foi estabilizado o seguimento proximal do paciente (a coxa), e realizado passivamente o movimento de extensão do joelho para a explicação do teste. Após, o membro foi colocado na posição inicial e pedido ao paciente que realizasse o movimento contra a gravidade; se o paciente conseguisse, era realizado uma resistência manual na perna do paciente pedindo para que ele realizasse o movimento através da sua amplitude disponível para vencer a resistência imposta.

    Foi pedido á participante a ficar em posição ortostática sendo orientada a unir os maléolos mediais e realizado a avaliação visual dos joelhos como descrito por Ferreira et al.29.

Análise estatística dos dados

    Os cálculos estatísticos foram realizados através do teste de análise de variância (ANOVA) e o teste t-student com nível de significância de 5%.

Resultados

    A idade média das mulheres avaliadas foi de 30,5±8,58 anos. A maioria das mulheres, 37%(n=6), realizam o spinning 3 vezes/semana(Gráfico 1).

Gráfico 1. Freqüência da prática de spinning

    Todas as mulheres(n=16), relataram serem orientadas sobre sua postura durante o spinning, e terem o selim de suas bicicletas ajustado antes da prática do exercício, sendo que, 68,75%(n=11) delas relataram que o professor regula a bicicleta.(Gráfico 2).

Gráfico 2. Pergunta sobre quem o regula o selim

    Quando questionado sobre dores nos joelhos, 100%(n=16) das participantes relataram não sentir nenhum desconforto nessa região do corpo, nem mesmo durante a prática do spinning.

    Além dos joelhos, foi questionado sobre dores em outras regiões do corpo durante o exercício, e 25%(n=4) de todas as mulheres relataram que sente dor em regiões como: abdômen(n=1), coluna(n=2) e coxa(n=1).

    Na avaliação física, todas as participantes apresentaram grau de força 5 para a função do quadríceps. Na avaliação visual dos joelhos, 50%(n=8), apresentaram o joelho varo, sendo que destas, 4 mulheres estão distribuídas entre o G1 e 4 mulheres no G2.

Gráfico 3. Tipo de joelhos

    As mulheres que praticam o spinning há mais de três meses, apresentaram os valores dos ângulo Q menor em relação as que praticam spinning há menos de três meses. (Tabela 1)

Tabela 1. Ângulo Q direito e esquerdo e tempo de spinning

Ângulo Q direito

Ângulo Q esquerdo

Tempo de spnning

10

11

> 3 MESES

11

10

10

11

11

11

11

11

11

10

10

11

9

11

13

14

< 3MESES

12

14

13

10

13

13

14

14

13

13

15

14

10

12

    Quando comparados os valores do ângulo Q direito das mulheres do G1 (12,88±0,5154) e G2 (10,38±0,2631), não foi evidenciado pelo teste t-student (p=0,0968), diferenças estatisticamente significativas. Porém, quando comparado os valores do ângulo Q esquerdo do G1 (13,00±0,5000) e G2 (10,75±0,1637), foi evidenciado diferença estatisticamente significativa (p=0,0086). (Gráfico 4 e 5)

Gráfico 4. Comparação entre o ângulo Q 

direito em diferentes tempos de atividade.

Gráfico 5. Comparação entre o ângulo Q 

esquerdo em diferentes tempos de atividade.

Discussão

    Segundo Lippert1, Hamill et al 4, Belchior et al 5, Haupenthal et al 10, Sakihama et al 11 e Marques13, o valor ideal do ângulo Q para mulheres é 18 graus, variando entre 15 a 17 graus. Hamill et al 4 afirma que o ângulo Q mais eficiente para função do quadríceps é aquele próximo de 10 graus. O presente estudo não encontrou entre as mulheres avaliadas ângulos maiores do que o ideal (Tabela 1). Porém, ao avaliar o ângulo Q entre as praticantes de spinning, foram observados características comuns entre as que praticavam menos de três meses e mais de três meses, sendo que, as que praticavam o exercício há mais de três meses, demonstraram um ângulo menor em relação as que praticavam há menos de três meses, como demonstrado na Tabela 1.

    Dentre as mulheres avaliadas, a maioria praticam o spinning no mínimo 3 vezes por semana(Gráfico 1), o que é indicado em um programa de atividade física para fortalecimento muscular e condicionamento físico.34 Alguns autores como Jacobé20 afirmam que o programa de atividade física como spinning promove fortalecimento do sistema musculoesquelético.

    Todas as mulheres avaliadas são orientadas sobre a sua postura durante o spinning, e de acordo com o gráfico 2, grande parte delas apresentam a regulagem do selim pelo professor, o que garante a prevenção de possíveis alterações posturais, já que, de acordo com Silva e Oliveira35, a maioria dos problemas nos joelhos de praticantes de bicicleta estão relacionados a ajustes incorretos do selim, influenciando diretamente na aplicação de grandes forças. Isso pode estar relacionado com a ausência de dor nos joelhos nas praticantes de spinning.

    Dentre as avaliadas, metade apresenta os joelhos varo. Esse alto índice de joelhos varo pode ser justificado pelo fato de que as mulheres avaliadas apresentaram o ângulo Q pequeno, menor que 17 graus, promovendo uma deformidade em genu varum, como afirmam os autores Hamill et al 4 e Marques13, criando as chamadas “pernas arqueadas”. Isso contradiz os estudos que afirmam que as mulheres apresentam uma tendência a terem joelhos valgo já que o quadril é mais largo em relação aos homens, e um ângulo Q maior.4,12,32

    Por outro lado, o trabalho demonstrou que a presença de joelhos valgo não é indicativo de aumento no valor do ângulo Q, concordando com Jensen e Cabral31 que avaliaram 30 mulheres sedentárias que apresentavam os joelhos valgo. Eles avaliaram o ângulo Q em decúbito dorsal e em pé, com o músculo quadríceps relaxado e contraído. Os autores justificam este fator pela interferência da rotação tibial e a posição da patela.

    Apesar das médias do ângulo Q do joelho direito do G1 serem maiores do que o G2, não foi observado diferenças estatisticamente significantes entre os grupos. Já as diferenças entre as médias do ângulo Q do joelho esquerdo do G1 e G2 demonstraram diferenças estatisticamente significativa. Esses dados sugerem que existe uma assimetria postural, induzida pela dominância de um dos lados.

    Na analise do efeito do tempo sobre G1 x G2, provavelmente os resultados refletem o fortalecimento do quadríceps no G2 quando comparado ao G1, promovendo a correção do mau alinhamento patelar e hipertrofia do quadríceps, como sugere Hamill et al 4, Belchior et al 5, Santos et al 6, e Bevilaqua-Grossi et al 7, sendo que Hamill et al 4, Santos et al 6, Bevilaqua-Grossi et al 7 e Simões et al 9 afirmam que o mau alinhamento da patela e a fraqueza do quadríceps são fatores etiológicos para a SDFP, embora não encontramos SDFP em G1.

    Com a finalidade de recuperar a função dos músculos do joelho e restituir a estabilidade dessa articulação em pacientes com SDFP, alguns autores como Cabral et al 30e Fehr et al 36, tem empregado programas de reabilitação com exercícios de fortalecimento, seja em cadeia cinética aberta ou fechada. Um dos recursos utilizados para a realização desses exercícios é a bicicleta estacionária37, principal instrumento do spinning. Nesse estudo acredita-se que a pratica do spinning tenha favorecido a um alinhamento da articulação do joelho, diminuindo o valor do ângulo Q. Sokhangooei et al 32, realizaram um estudo com 34 mulheres com SDFP. Os autores dividiram os participantes em 2 grupos: um grupo realizando exercícios em CCA de extensão do joelho com o paciente sentado e uma tornozeleira de 1Kg na perna e o outro grupo realizando exercícios em CCF com o agachamento e um peso de 1Kg em cada mão. Vale ressaltar que o estudo utilizou o mesmo procedimento de avaliação do ângulo Q. Os resultados demostraram uma diminuição do ângulo Q e diminuição da dor em ambos os grupos tratados. Sendo assim, pode-se inferir que os resultados encontrados em G2, sugerem que o spinning é capaz de promover o fortalecimento do quadríceps, interferindo positivamente no alinhamento patelar e ângulo Q. Também evidencia-se pelos resultados que possíveis alterações cinesiológicas nos joelhos dos iniciantes de spinning (alterações do ângulo Q e fraqueza de quadríceps) podem ser corrigidas ao longo do tempo com a prática desta modalidade. O estudo não demonstrou uma incidência de dor e alterações no ângulo Q nas mulheres avaliadas.

Conclusão

    Conclui-se que as praticantes de spinning não apresentaram alterações do ângulo Q e incidência de dor nos joelhos. O presente estudo sugere a realização de um trabalho prospectivo e longitudinal com as mesmas mulheres desde o início do programa de spinning até 6 meses de treinamento visando avaliar a progressão do ângulo Q e a incidência de dor após o fortalecimento de quadríceps.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 152 | Buenos Aires, Enero de 2011
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