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O ciclismo indoor como prática possível para idosos com
idade entre 60 e 65 anos: uma indagação a partir da literatura

   
Universidade São Judas Tadeu - São Paulo.
(Brasil)
 
 
Lucas Moreira Gonçalves | Luiz Fernando Santoro Camões  
Sergio Cardoso Carvalho | Profª. Dra. Sheila Aparecida Pereira dos Santos Silva
sheila.silva@uol.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
     O presente estudo teve como objetivo verificar a existência na literatura situada no período de 2002 a 2006 de impactos relatados como conseqüência do treinamento em ciclismo indoor em idosos com idade entre 60 e 65 anos, buscando verificar alterações no VO2 máx, flexibilidade, força de membros inferiores, composição corporal e efeitos sobre o estado de humor e satisfação com a própria vida. As informações levantadas nos levam a acreditar que a prática do ciclismo indoor pode apresentar impacto positivo na aptidão física, composição corporal e aspectos psicológicos. As palavras-chaves da busca foram ciclismo indoor, atividade física para idosos, idosos, ciclismo indoor para idosos. As informações foram analisadas e apresentadas na forma de quadros-síntese, divididos em três grandes blocos: aptidão física, composição corporal, aspectos sociais e psicológicos. Como resultado, percebeu-se a ausência de informações específicas sobre o impacto do treinamento na população idosa, sendo que se nota a presença de estudos avançados sobre atividade física para idosos, mas não, especificamente, utilizando o ciclismo indoor. Os estudos encontrados restringiam-se a adultos jovens. Sendo assim, sugerimos a realização de estudos aplicados nos quais seja possível analisar e avaliar a viabilidade, riscos e benefícios decorrentes desta prática para idosos.
    Unitermos: Ciclismo Indoor, Idosos, Atividade Física.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 115 - Diciembre de 2007

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Introdução

    O crescimento da população idosa é fato que vem ocorrendo desde a década de 50 e, segundo projeções, deve crescer 16 vezes entre 1950 e 20203. Sabe-se que envelhecer é um processo que, do ponto de vista fisiológico, implica em alterações na funcionalidade dos sistemas14. É clara a redução progressiva das aptidões funcionais, alterações estas que interferem na qualidade de vida do idoso, limitando sua capacidade de realizar atividades cotidianas com vigor, deixando sua saúde mais vulnerável1.

    Como o crescimento da população idosa ocorre não só no Brasil, mas no mundo todo, a manutenção da integração dos indivíduos na sociedade. Além das já existentes campanhas de incentivo a prática de atividade física voltadas a este grupo através dos profissionais da área da saúde e da imprensa, são necessárias, também, ações comunitárias, educativas e governamentais que proporcionem possibilidades de organização de grupos e condições possíveis para ela12.

    Dados apontados por indicadores sociais demonstram uma baixa condição social da maioria da população idosa, onde o processo do envelhecimento amplia as desigualdades com relação a esta população, isto em função das transformações fisiológicas, psicológicas e sociais, exigindo ações mais efetivas de profissionais e da sociedade em geral. A população idosa tem problemas para se desprender de seus padrões tradicionais de comportamento, muitos deles, frutos de representações sociais de senso comum sobre o idoso, resistindo a novas orientações para solução de alguns problemas das mais diversas naturezas18.

    O envelhecimento pode ser compreendido como um processo múltiplo e complexo de contínuas mudanças ao longo dos anos, com alterações na visão, audição e da capacidade física, o que afeta fatores sociais e comportamentais. Uma idéia preconcebida sobre a velhice a caracteriza apenas pela decadência física e ausência de papéis sociais, desenhando a típica figura do velho esclerosado e inútil2.

    O sedentarismo do idoso provém, muitas vezes, de imposições sócio-culturais, mais do que de uma incapacidade funcional. Sabe-se, também, que boa parte das alterações fisiológicas e funcionais observadas nos idosos são resultantes da inexistência de estímulos e não apenas devidas ao processo natural de envelhecimento17.

    Estudos com o objetivo de aumentar o nível de atividade física mediante orientações com técnicas de mudança de comportamento se mostraram eficazes. Porém, poucos estudos de intervenção de mudança de comportamento alimentar e de atividade física têm sido realizados em populações idosas. Estes resultados demonstraram a importância de orientações simples, porém claras, no aumento do nível de atividade física3.

    A prática de exercício físico, além de combater o sedentarismo, contribui de maneira significativa para a manutenção da aptidão física do idoso, seja na sua vertente da saúde, como nas capacidades funcionais. Porém, os exercícios físicos podem apresentar algumas limitações para os idosos, como o uso de pesos livres em exercícios de força, falta de segurança de alguns aparelhos, atividade muito vigorosa em aulas de ginástica, devido às modificações fisiológicas impostas pelo processo de envelhecimento1.

    A participação regular de idosos em atividades físicas, realizando exercícios aeróbios e treinamento de força, promovem respostas orgânicas favoráveis que contribuirão para um envelhecimento mais saudável12.

    Os benefícios do programa aeróbio sobre o sistema cardiovascular podem incluir melhora na respiração, na circulação central, na função cardíaca, na circulação periférica, como também no metabolismo músculo esquelético e redução do percentual de gordura12.

    A atividade física pode ser um importante aliado para prevenção de doenças, promoção da saúde e da funcionalidade física dos idosos. Do ponto de vista psicológico pode-se afirmar que problemas relatados nesta faixa etária são ligados aos altos níveis de depressão e angústia, além de baixos níveis de satisfação de vida. As dificuldades dos idosos com as atividades do dia-a-dia devidas a problemas físicos ocasionam dificuldades nas relações sociais com outras pessoas e na manutenção da autonomia, trazendo prejuízos à saúde emocional2.

    O ciclismo indoor pode ser definido como uma atividade ministrada por um profissional para um grupo de indivíduos que variam em idade, sexo e aptidão física. É praticada em bicicleta estacionária, desenvolvendo treinamentos que promovem resistência aeróbia e anaeróbia, acompanhada ou não de um ritmo musical. Pode ser definido também como a prática do ciclismo em bicicletas estacionárias, realizado geralmente em academias de ginástica, com fins cardiovasculares9.

    O ciclismo indoor surgiu como uma nova alternativa de atividade aeróbica dentro das academias, por meio de um programa de treinamento contínuo ou intervalado, visando a manutenção e melhora do sistema cardiovascular15.

    É importante ressaltar que o Spinning, RPM, Cycle Reebok, Schwin, dentre outros, são diferentes programas de treinamento, cada qual com sua peculiaridade, mas com semelhanças nos componentes biomecânicos e fisiológicos, sempre com o intuito de satisfazer a demanda crescente por esta fatia de mercado, ou seja, a busca pelo ciclismo indoor em academias15.

    Quanto aos motivos que levam à sua procura, são divididos em internos e externos. Dentre os primeiros estão os fisiológicos, psicológicos e sociais, afiliação, poder e realização. Os demais se referem a incentivos, recompensas e dificuldades8.

    O ciclismo indoor pode ser uma atividade interessante para grupos especiais, praticada da maneira adequada e com orientações específicas.

    Não é possível afirmar que o ciclismo indoor seja uma atividade interessante para todos os indivíduos que freqüentam uma academia. Ela só se torna interessante para aqueles cujas características da atividade coincidam com suas necessidades específicas. Sendo assim, quem procura o ciclismo indoor geralmente demonstra um perfil ativo, que precisa de intenso movimento muscular e que exige grande desprendimento de energia física8.

    Feitas estas considerações, pergunta-se: a prática do ciclismo indoor é realmente eficaz para o idoso?

    Uma vez que se espera eficácia no desenvolvimento cardiorespiratório e cardiovascular, a prática seria eficaz também para outros aspectos, como composição corporal, aspectos sociais e psicológicos?

    O presente estudo teve, portanto, como objetivo verificar a existência na literatura situada no período de 2002 a 2006 de impactos relatados como conseqüência do treinamento em ciclismo indoor em idosos com idade entre 60 e 65 anos, buscando verificar alterações no VO2 máx, flexibilidade, força de membros inferiores, composição corporal e efeitos sobre o estado de humor e satisfação com a própria vida.


MÉTODO

    Tratou-se de uma pesquisa bibliográfica com base em artigos originais, periódicos e livros sobre o assunto. A literatura foi revisada a partir de 2002. Os idiomas incluídos foram: espanhol, português e inglês. As palavras-chaves da busca foram ciclismo indoor, atividade física para idosos, idosos, ciclismo indoor para idosos. As informações foram analisadas e apresentadas na forma de quadro síntese, divididos em três grandes blocos sendo eles: aptidão física, composição corporal e aspectos sociais e psicológicos, organizadas em ordem cronológica crescente por autor.


RESULTADOS E DISCUSSÃO

    Após o levantamento de dados bibliográficos, as informações coletadas na literatura disponível apresentam dados que, na sua grande maioria, convergem entre si, com pequenas divergências que abordaremos na seqüência.


Aptidão Física

    Uma informação comum encontrada nas referências é com relação ao benefício do programa de treinamento aeróbico sobre diversos aspectos da aptidão física. Ponto comum e quase abordado pela maioria dos autores consultados é a melhora nos sistemas cardiorespiratório e cardiovascular em função da prática da atividade de predominância aeróbia.

    Alguns autores especificam detalhadamente os itens que apresentam melhora, a exemplo de FIGUEROA (2002), que afirma que a atividade aeróbica provoca melhora na respiração, na circulação central, na função cardíaca, na circulação periférica e também no metabolismo músculo esquelético.

    Podemos complementar com os itens apontados por DENADAI (2005) que aponta influência nas respostas fisiológicas como a ventilação pulmonar, o quociente respiratório, a produção de gás carbônico, o recrutamento das fibras musculares e a concentração de lactato, onde parece que estes itens dependem também da cadência da pedalada e da intensidade escolhida para analisar esta influência.

    Ponto comum entre MELLO (2004), DOMINGUES FILHO (2005), FERREIRA (2005) é o fato de que o ciclismo indoor é uma forma de treinamento que pode ser aplicada a pessoas de diferentes faixas etárias e níveis de condicionamento físico, sendo necessário respeitar a individualidade biológica dos indivíduos praticantes. Porém MELLO (2004) afirma que a bicicleta atualmente utilizada no ciclismo indoor é ergonomicamente contra indicada para idosos, colocando em risco sua saúde.

    DOMINGUES FILHO (2005) ressalta a procura do ciclismo indoor por portadores de patologias como diabetes, hipertensão e obesidade, sendo que afirma que estes podem praticar e ter benefícios com o treinamento, desde que certas variáveis sejam controladas, como sintomas subjetivos nos obesos, freqüência cardíaca e PA nos hipertensos e nível de açúcar nos diabéticos.

    LÓPEZ (2004) complementa o âmbito da aptidão física ressaltando a necessidade de um cuidado especial com fatores primários de risco coronário entre os praticantes, além da possível divisão de turma por nível de aptidão física.

    FIGUEROA (2002) afirma que o aumento do VO2Máx do adulto idoso dependerá da intensidade do treinamento, caso contrário os benefícios cardiovasculares serão mínimos ou nulos. Não foram encontradas informações sobre o impacto do treinamento do ciclismo indoor sobre as variáveis flexibilidade e força de membros inferiores na literatura pesquisada.


Composição Corporal

    Poucos autores abordam claramente a influência do ciclismo indoor na composição corporal, porém uma informação comum entre MELLO (2004), DESCHAMPS (2005) E DOMINGUES FILHO (2005) é o impacto do treinamento de ciclismo indoor na redução do percentual de gordura corporal. Estes autores também abordam a influência do treinamento no controle do peso corporal e na melhora da estética. MELLO (2004) ressalta ainda o ganho de massa magra com a prática do ciclismo indoor.


Aspectos Psicológicos e Sociais

    DOMINGUES FILHO (2005) aponta que o treinamento de habilidades mentais pode ser associado à prática esportiva e à atividade física, trazendo importantes benefícios. Este tipo de treinamento está relacionado a habilidades mentais ou comportamentais como: concentração, ativação, confiança, motivação, entre outras.

    Há muitas informações sobre os aspectos psicológicos relacionados ao treinamento, algumas específicas sobre os idosos como DUARTE (2002) que afirma que eles têm uma concepção da atividade física relacionada à obtenção de benefícios físicos, psicológicos e sociais, ao prazer da participação ou ainda a necessidade de auto-eficácia.

    Podemos complementar com as informações de BORGES (2004), ressaltando que no envelhecimento o entusiasmo é menor, a motivação diminui e são necessários estímulos bem maiores para fazer com que o idoso se interesse por coisas novas. Relacionado ao ciclismo indoor, podemos ressaltar as informações de DESCHAMPS (2005) que aborda os motivos que levam homem e mulheres a praticar o ciclismo indoor, motivos estes que são: prazer na atividade física, procurar melhorar a estética, aquisição de um melhor condicionamento físico, desejo de melhora na qualidade de vida. Além de apontar os benefícios da prática do ciclismo indoor como a melhora da auto-estima. Os indivíduos relatam que o ciclismo indoor auxilia no combate ao stress e durante a prática ocorre um relaxamento mental.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Esta revisão bibliográfica nos leva a acreditar que a prática do ciclismo indoor pode apresentar impacto positivo nos três âmbitos estudados, ou seja, aptidão física, composição corporal e aspectos psicológicos.

    Porém, a literatura não apresentou informações específicas, sobre o impacto do treinamento na população idosa Há informações e estudos já bem avançados sobre atividade física para idosos, mas não especificamente sobre o ciclismo indoor para esta população, sendo restritas a população adulta, ou seja, adultos jovens.

    Sendo assim, julga-se necessário a realização de estudos de campo voltados à verificação do impacto de treinamento de ciclismo indoor na população idosa, analisando os pontos ressaltados no estudo realizado: aptidão física, composição corporal e aspectos sociais e psicológicos.


Referências bibliográficas

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  2. BORGES, S.S.; RAUCHBACH, R. Tendência a estados depressivos em idosos que não tem o hábito da prática da atividade física: Um estudo piloto no município de Curitiba.
    Revista Digital, Educación Física y Deportes, n.70, 2004. Disponível em www.efdeportes.com. Acesso em 25 mai. 2006.

  3. BRAGGION, G et al. Efeitos de um programa de orientação de atividade física e nutricional sobre o nível de atividade física de mulheres fisicamente ativas de 50 a.

  4. 72 anos de idade. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. v.11, n.3, 2005.

  5. BRANDÃO, M.R.F. et al. A relação entre a percepção de auto-eficácia física, o equilíbrio e o medo de quedas em idosos participantes do Projeto Sênior para a Vida Ativa-USJT. Revista Integração, São Paulo, n.42, p. 235-242, 2006.

  6. CAMPOS, J. et al. Efectos de um programa de ejercicio físico sobre el bienestar psicológico de mujeres mayores de 55 años. Revista de Psicologia Del Deporte, v. 12, n. 1, p 7-26, 2003.

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  8. DENADAI, B.S.; RUAS, V.D.A; FIGUEIRA, T.R. Efeito da cadência de pedalada sobre as respostas metabólicas e cardiovascular durante o exercício incremental e de carga constante em indivíduos ativos. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v.11, n.5, 2005.

  9. DESCHAMPS, S.R; DOMINGUES FILHO, L.A. Motivos e benefícios psicológicos que levam os indivíduos dos sexos masculino e feminino a praticarem o ciclismo indoor. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Santos, p.27-32, 2005.

  10. DOMINGUES FILHO, L.A. Ciclismo Indoor. Jundiaí: Fontoura, 2005.

  11. DUARTE, C. P; GONÇALVES, A. K; SANTOS, C.L. A concepção de pessoas de meia-idade sobre saúde, envelhecimento e atividade física como motivação para comportamentos ativos. Revista Brasileira de Ciência do Esporte, Campinas, v.23, n. 3, p.35-48, 2002.

  12. FERREIRA, A.C et al. Comparação das respostas hemodinâmicas entre o ciclismo indoor e aquático. Arquivos em Movimento, Rio de Janeiro, v.1, n.2, p.29-32, 2005.

  13. FRANK, A.A.; FIGUEROA, J.C.G. Nutrição e atividade física para a promoção de saúde no envelhecimento. Revista Digital, Educación Física y Deportes, n. 48, 2002.
    Disponível em www.efdeportes.com. Acesso em 25 mai 2006.

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    Disponível em www.efdeportes.com. Acesso em 15 mai 2006.

  15. MAIOR, A.S. Alterações e Adaptações no sistema cardiovascular em idosos submetidos ao treinamento de força. Revista Digital, Educación Física y Deportes, n.64, 2003.
    Disponível em www.efdeportes.com. Acesso em 20 mai 2006.

  16. MELLO, D. Ciclismo Indoor. Rio de Janeiro: Sprint, 2004.

  17. RIKLI R.E, JONES C.J.. Reliability, validility, and methodological issues in assessing physical activity in older adults. Res Q Exerc Sport 2000;71: S89-96.

  18. SAFONS, M. P. Qualidade de vida na terceira idade: uma proposta multidisciplinar. Relato de experiência. Revista Digital, Educación Física y Deportes, n. 64, 2003.
    Disponível em www.efdeportes.com. Acesso em 10 mai 2006.

  19. VARGAS, S. Metodologia de ensino-aprendizagem para pessoas idosas. Revista Digital, Educación Física y Deportes, n.39, 2001.
    Disponível em www.efdeportes.com. Acesso em 12 mai. 2006.

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