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A contribuição da dança para o desenvolvimento

integral dos alunos do grupo de dança da APAE-AP

El aporte de la danza al desarrollo integral de los alumnos del grupo de danza del APAE-AP

 

*Graduada em Educação Física, CEAP

Pós-graduanda em Metodologia do Ensino da Educação Física

**Graduada em Educação Física, UEPA

Mestre em Ciência da Motricidade Humana, UCB

(Brasil)

Luciana Jardim de Lima

lujlima@yahoo.com.br

Ronédia Monteiro Bosque

ronediab@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: O objetivo deste estudo foi verificar o auxilio oferecido pela dança no desenvolvimento integral do indivíduo com Síndrome de Down (SD), focalizando seus aspectos cognitivos, sócio-afetivos e motores (equilíbrio e coordenação motora global). Procedimentos Metodológicos: o estudo caracteriza-se como um estudo de caso, sendo uma pesquisa de campo do tipo qualitativa, quantitativa descritiva, de corte transversal. Na coleta de dados, foram utilizadas provas de equilíbrio e motricidade global da bateria de testes de Rosa Neto (2002), além de questionários contendo questões fechadas e abertas respondidos pelos pais e professores da amostra. A pesquisa teve como universo amostral 04 alunos SD que participam do grupo de dança da escola APAE-AP com idades entre 21 e 27 anos, sendo, 02 (duas) meninas e 02 (dois) meninos. Resultados: A partir dos questionários analisados observou-se que após a iniciação na dança, os pais e professores dos alunos SD observaram mudanças positivas quantos aos aspectos sócio-afetivos bem como os cognitivos. Entretanto, os testes de equilíbrio não obtiveram resultados positivos, uma vez que não conseguiram ser executados. Já os testes de motricidade global apresentaram resultados melhores, pois apenas os exercícios 2 e 6 não conseguiram ser executados. Conclusão: Através destes dados é possível afirmar que a dança trouxe mudanças significativas no aspecto cognitivo, afetivo e social dos SD.

          Unitermos: Dança. Síndrome de Down. Desenvolvimento integral.

 

 
http://www.efdeportes.com/ EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 149, Octubre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A maneira mais segura e eficaz de obter uma exata compreensão dos dados relevantes trazidos pela dança é estabelecer um roteiro que terá como diretriz o contexto histórico percorrido e seu desenvolvimento até os dias atuais. Sendo assim, faz-se necessário a compreensão de acontecimentos sociais de uma época distante relacionados à sua história.

    Desde a época pré-histórica, a prática da dança exprimia duas principais finalidades: dançar o profano e o religioso (CAMINADA, 1999) sendo retratada em pinturas encontradas em cavernas. Com o decorrer do tempo a dança foi obtendo diferentes objetivos, com tipos e estilos diversificados, sendo inserida na educação desde a Antiguidade pelos filósofos gregos a qual permanece até os dias de hoje (RANGEL, 2002).

    De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2000): O trabalho de Educação Física nas séries iniciais do ensino fundamental é importante, pois possibilita aos alunos terem, desde cedo, a oportunidade de desenvolver habilidades corporais e de participarem de atividades culturais, como jogos, esportes, lutas, ginásticas e danças, com finalidades de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções.

    Dentre as produções dessa cultura corporal, algumas foram incorporadas pela Educação Física: o jogo, o esporte, a dança, a ginástica e a luta. Estes têm em comum a representação corporal, com características lúdicas, de diversas culturas humanas; todos eles ressignificam a cultura corporal humana e o fazem utilizando uma atitude lúdica. Trata-se, então, de localizar em cada uma dessas manifestações, seus benefícios fisiológicos e psicológicos e suas possibilidades de utilização como instrumentos de comunicação, expressão, lazer e cultura, e formular a partir daí as propostas para a Educação Física escolar (BRASIL, 2000, s/p).

    Percebe-se atualmente que o sistema tradicional pedagógico vem sofrendo transformações já há alguns anos, mais especificamente na prática da Educação Física. Ressalte-se que, com essa pluralidade de ações pedagógicas, resultaram em abordagens metodológicas diferenciadas, contribuindo para o enriquecimento político, cultual, científico e filosófico do sistema educacional.

    O conhecimento tratado na escola é colocado dentro de um quadro de referências filosóficas, científicas, políticas e culturais. A essa construção teórica dá-se o nome de paradigma. De diferentes paradigmas, portanto, resultarão diferentes práticas pedagógicas (COLETIVO DE AUTORES, 1993).

    Uma vez oferecida às mudanças na disciplina Educação Física, gerou-se a possibilidade de contribuir para a diversificação do conteúdo e sua aplicabilidade. Tais ações instigaram a dinâmica do profissional da área que buscou pesquisar e estudar a cultura corporal, suas possibilidades, limitações, bem como, novas formas de ensinar, estimulando-o a buscar informações em diferentes áreas do conhecimento humano.

    De modo geral, identificou-se na escola através da disciplina Educação Física, uma maneira de ampliar o conhecimento por intermédio da expressão corporal. É o caso, por exemplo, das manifestações corporais de nossa cultura que nos permite aprender e se relacionar com os demais.

    Neste sentido, a Educação Física, como componente curricular da educação básica e totalmente integrada à proposta pedagógica das unidades escolares, compartilha do mesmo ideal devendo contribuir de forma significativa para o alcance destes objetivos educacionais mais amplos.

    Em particular a dança, esta contempla múltiplos conhecimentos produzidos e usufruídos pela sociedade a respeito do corpo e do movimento e deve dar oportunidades a todos os alunos para que desenvolvam suas potencialidades, de forma democrática e não seletiva, visando seu aprimoramento como seres humanos.

    Diante do exposto, ressalve-se a possibilidade da dança contribuir para o desenvolvimento hipótese da dança ser aplicada a síndrome de down. A efetivação da inclusão escolar ampliou as buscas por respostas, pois nas últimas décadas, evidenciou-se um potencial cognitivo a desenvolver. Deixamos claro aqui que não estamos negando a constatação de lesões em função de alterações genéticas, mas a possibilidade de minimizá-las.

    No que se refere à síndrome de down, contudo, um ponto se destaca: suas dificuldades cognitivas, sendo estas conseqüências de um erro na distribuição dos cromossomos das células. A SD apresenta um cromossomo extra no par 21 (na grande maioria dos casos), que provoca um desequilíbrio da função reguladora que os genes exercem sobre a síntese de proteína, perda de harmonia no desenvolvimento e nas funções das células. Esse excesso de carga genética está presente desde o desenvolvimento intra-uterino e caracterizará o indivíduo ao longo de sua vida. É evidente que as características se divergem de pessoa para pessoa (MUSTACCHI & ROZONE, apud. SILVA & KLEINHANS, 2008).

    O sistema nervoso da criança com SD fica comprometido apresentando anormalidades estruturais e funcionais. Normalmente apresenta um comportamento elétrico peculiar do desenvolvimento cognitivo, acarretando em um rebaixamento nas habilidades de análise, síntese e a fala comprometida. Apresenta, ainda, dificuldades em selecionar e direcionar um estímulo pela fadiga das conexões. Essas anomalias resultam em disfunções neurológicas, variando quanto à manifestação e intensidade.

    Flórez & Troncoso (1997), destacam de maneira particular, a influência que essas alterações podem exercer sobre o desenvolvimento inicial nos circuitos cerebrais, afetando a instalação e as consolidações das conexões de redes nervosas necessárias para estabelecer os mecanismos da atenção, memória, a capacidade de correlação e análise, o pensamento abstrato, entre outros. Ainda, que o cérebro da pessoa com SD, em seu conjunto, tem um volume menor que o das pessoas ditas normais.

    Ainda, para os mesmos autores, quanto às limitações da criança com síndrome de down, ela pode apresentar: hipoplasia nos lóbulos frontais e occipitais, redução no lóbulo temporal em até 50% dos casos, que pode ser unilateral ou bilateral. Em alguns cérebros, observa-se diminuição do corpo caloso, da comissura anterior e do hipocampo. Limitação na transmissão e comunicação de muitos dos sistemas neurais; dificuldade para fixar o olhar devido à lentidão e seu baixo tono muscular; dificuldade de percepção e distinção auditiva; (TRONCOSO; CERRO, 1999) dificuldades no desenvolvimento cognitivo e lingüístico; (BISSOTO, 2005) obesidade e envelhecimento precoce (GIMENEZ, 2005) entre outras disfunções.

    É o que evidencia Maia & Boff (2008),

    Quando falamos de SD, sempre se enfocam os limites do indivíduo e não aquilo que ele é capaz de fazer. Vários trabalhos realizados sugerem que a privação de uma fonte de informação sensorial pode implicar a utilização de outro meio para coleta de informações, ou seja, a restrição de certos movimentos faz com que esses indivíduos utilizem outra via para o envio de comandos musculares. Portanto, tanto os adultos quanto as crianças podem apresentar capacidades para lidar adequadamente com as suas restrições motoras, refletindo assim padrões de movimentos diferenciados indicando que esses indivíduos dispõem de recursos para lidar com as suas tarefas motoras.

    Ensinar a dança para pessoas cujo corpo apresenta uma deficiência é importante. Todavia, é preciso ressaltar que a palavra ensino tem que ser colocada como a ação do professor em despertar e orientar o aluno para o movimento, deixando-o livre para desenvolver qual o gesto adequado para expressar como o aluno percebeu e percebe aquilo que lhe é proposto. Não aquele ensino, que vem do comando do que deve ser feito, que imprime um modelo, que se antecipa autoritariamente, definindo qual gesto é harmonioso, para a justeza do movimento.

    Uma maneira bem eficiente de se trabalhar a dança com os portadores de SD é utilizá-la de forma educacional recreativa, sendo uma excelente forma de estabelecer a saúde, aptidão física, autoconfiança, equilíbrio emocional, integração social, entre outros benefícios por ser um método que não se preocupa com a técnica, e sim, propõe que as pessoas adaptem os exercícios ao seu dia-a-dia, seu meio, proporcionando liberdade de movimentos.

    Segundo Zausmer (1998):

    O auxilio precoce a uma criança com SD, é essencial para desenvolver os interesses e habilidades necessários para a realização de uma variedade de atividades físicas e recreacionais, como dançar acompanhando ritmos com o movimento. A dança pode auxiliar em movimentos básicos para a criança como pular e saltitar, ou se colocados em formas mais competitivas, a dança pode enriquecer muito a vida desses indivíduos, assim tornando suas habilidades corporais o meio mais valioso de competição.

    A dificuldade que um indivíduo com SD tem de se tornar independente, está relacionado a um bom tratamento, visando à melhora em longo prazo, acredita-se que com a prática da dança em indivíduos com síndrome de down poderá ocorrer melhorias em aspectos motores melhorando sua auto-estima e independência funcional, deste modo, este estudo tem por objetivo verificar o auxilio oferecido pela dança no desenvolvimento integral do indivíduo com SD, focalizando seus aspectos cognitivos, sócio-afetivos e motores (equilíbrio e coordenação motora global).

Procedimentos metodológicos

    O presente trabalho refere-se a um estudo de caso, uma vez que segundo Triviños (1990), este determina características que são dadas por duas circunstâncias, tendo como objeto uma unidade analisada aprofundadamente. Possui ainda como característica uma pesquisa de campo do tipo qualitativa, quantitativa descritiva, de corte transversal.

    Marconi et al (2003), afirma que a pesquisa de campo é aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações e/ou conhecimento acerca de um problema. Para Teixeira (2008), na pesquisa qualitativa o pesquisador procura reduzir a distância entre a teoria e os dados, entre o contexto e a ação, usando a lógica da analise.

    O Grupo de Dança da APAE conta com 08 alunos com idade entre 22 e 27 anos com SD. Para escopo deste estudo, utilizou-se uma amostra de 4 alunos de ambos os sexos (sendo 02 meninas e 02 meninos), todos freqüentadores da Escola APAE - Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, a qual pertence à rede estadual de ensino do Amapá, localizada no bairro do pacoval no município de Macapá. O grupo de dança da APAE mantém suas funções desde fevereiro de 2008.

    Considerou-se como critério de exclusão, os alunos que não possuíam uma freqüência regular nas aulas do grupo de dança, bem como aqueles que não apresentaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelos pais.

    Os instrumentos de coletas de dados utilizados foram às provas de equilíbrio e motricidade global da bateria de testes de Rosa Neto (2002), alem de questionários respondidos pelos pais e professores da amostra. Os testes aplicados foram classificados como testes motores e envolveram uma série de movimentos visando extrair destes alunos suas capacidades motoras a partir de suas vivências com a dança.

    Os testes de equilíbrio utilizados da bateria de Rosa Neto, foram selecionados a partir da prova de 5 anos prosseguindo até a de 11 anos, totalizando 7 exercícios. O de motricidade global foi selecionada a partir de 5 anos prosseguindo até o de 10 anos, totalizando 6 exercícios.

    Com o intuito de minimizar erros metodológicos foram feitas análises da logística do local onde foram feitos os testes motores, considerando espaço físico, segurança, adequação de instrumentos como cones, medidas com fitas elásticas e a repetição prévia pela equipe executora. Fizeram parte da coleta um professor de Educação Física e a Pesquisadora do estudo.

    Todos os testes foram aplicados individualmente no mês de maio, pelo turno da manhã, no horário de ensaio do grupo, com início as 08h15min e termino às 10h20min, 30 minutos para cada indivíduo, divididos em 15 minutos para os testes de equilíbrio e 15 minutos para os testes de motricidade global, todos com acompanhamento da professora de dança. Utilizou-se como material dois cones de 20 cm, dois cones de 40 cm, fita elástica, uma caixa de fósforos e um cronômetro de relógio digital de marca mormaii. O espaço utilizado para coleta de dados foi a dependências da Escola APAE-AP. Para facilitar a aplicabilidade e entendimento a cerca da execução do teste, utilizou-se a instrução verbal e em seguida a demonstração do teste pela própria pesquisadora.

    Para coleta de informações qualitativas, foram utilizados três tipos de questionários: um específico para os pais contendo sete questões fechadas e uma aberta, um especifico para a professora de dança contendo quatro questões fechadas e uma aberta, um especifico para a professora de sala contendo cinco questões fechadas e uma aberta. Estes questionários tinham como objetivo analisar as possíveis contribuições que a dança possa ter vindo proporcionar as questões cognitivas e sócio-afetivas.

    Os dados quantitativos foram analisados através da estatística descritiva e inferencial, uma vez que a primeira coleta organiza e descrevem dados, enquanto a segunda analisa e interpreta os mesmos (CRESPO, 2002).

    Os dados qualitativos foram analisados através da percepção da pesquisadora em relação às respostas, uma vez que segundo Triviños (1990), a pesquisa qualitativa é analisada através de processo dialético indutivo-dedutivo.

Resultados e discussão

    O principal objetivo deste estudo era verificar o auxilio oferecido pela dança no desenvolvimento integral do indivíduo com SD, focalizando seus aspectos cognitivos, sócio-afetivos e motores (equilíbrio e coordenação motora global).

    Inicialmente analisaremos o questionário respondido pela professora de dança, o qual é demonstrado através de tabelas. Na tabela 1 são apresentados os resultados referentes às respostas da professora de dança da APAE-AP mediante o questionário.

Tabela 1. Resultado da respostas da professora de dança da APAE-AP em relação ao desempenho dos indivíduos com Síndrome de Down praticantes da dança

Amostra

Integração com colegas

Exposição de idéias e duvidas

Criação de movimentos

Principais

Características

S1

Excelente

Muito Bom

Muito Bom

Personalidade forte, criativa e responsável.

S2

Bom

Bom

Muito Bom

Doce, dedicado e esforçado.

S3

Excelente

Muito Bom

Muito Bom

Extrovertida, comunicativa e espontânea.

S4

Excelente

Muito Bom

Excelente

Independente, auto-estima elevada, carismático e confiante.

Fonte: Própria pesquisa

    Ao fazermos uma analise da tabela acima, percebemos que a integração/socialização dos alunos que fazem parte do grupo de dança da APAE, especificamente os que fizeram parte da pesquisa é caracterizada em sua maioria como excelente, com exceção do S2 o qual foi classificado como bom. Deve-se ressaltar que estes alunos já estão trabalhando juntos 1 ano e 6 meses, o qual podemos considerar como principal fator para esta integração. Marques (1997), afirma que a dança escolar por trabalhar em grupo, traz além da própria consciência corporal, o conhecimento e respeito do corpo e das idéias do outro, conseqüentemente o convívio social melhora uma vez que a aceitação das diferenças deve ser sempre trabalhada.

    Para Scarpato (2001), dançar é a melhor forma de expor nossos sentimentos, principalmente àqueles com os quais na maioria das vezes não encontraram palavras para definir. A autora afirma ainda que com o decorrer do tempo e optando por trabalhos devidamente planejados, a criança vai perdendo a vergonha de se expressar. Este pode ser um dos motivos para o resultado positivo encontrado para o item exposição de idéias e dúvidas, classificado em sua maioria como muito bom.

    Ao falarmos de dança educativa não podemos deixar de referendar Rudolf Von Laban, o qual se destacou por ser um estudioso do movimento. Este coreógrafo austro-húngaro priorizava em suas aulas a criação coreográfica, onde o aluno deveria ser capaz de pensar em colocar seu corpo em movimento. Segundo Strazzacappa (2001), seus trabalhos vão desde a educação através da dança, passando pela criação coreográfica até ao trabalho terapêutico. Ao adotar as idéias de Laban (ainda que inconscientemente), a professora de dança do grupo da APAE-AP esta trabalhando o cognitivo dos alunos, colocando-os para criarem movimentos regularmente e deixando-os livres para expressarem seus sentimentos. De acordo com a professora, quando ocorre esta liberdade para a criação, os alunos o fazem muito bem, uma vez que classificou como muito bom este aspecto.

    Ao analisarmos as principais características relacionadas aos alunos do grupo de dança, percebemos que todas, sem exceção, classificam positivamente os sujeitos da pesquisa. Estes aspectos positivos foram considerados pela professora de dança como resultados parciais da pratica da dança. Na tabela 2 serão apresentados os resultados alcançados com o segundo questionário direcionado aos professores de sala de aula.

Tabela 2. Resultado da respostas da professora de sala de aula da APAE-AP em relação ao desempenho dos indivíduos com Síndrome de Down praticantes da dança

Amostra

Integração com colegas

Exposição de idéias e dúvidas

Atividades em sala

Atividades extraclasse

Principais características

S1

Muito Bom

Bom

Muito Bom

Bom

Interativo, participativo.

S2

Muito Bom

Bom

Muito Bom

Muito Bom

 

Interativo, participativo

S3

Muito Bom

Muito Bom

Muito Bom

Bom

 

Interativo, participativo comunicativo

S4

Excelente

Bom

Bom

Bom

Extrovertido, participativo

Fonte: própria pesquisa

    A Integração com os colegas de classe foi definida em sua maioria como muito boa, fortalecendo a visão da professora de dança com relação ao mesmo aspecto. Este resultado é reforçado pela professora de classe ao afirmar que após a iniciação da dança, os alunos (em especial o S1) melhoraram significativamente seus aspectos sócio-afetivos. Conseqüentemente ocorre uma melhoria na qualidade de vida deles, como afirma Frug (2001), ao citar a importância de darmos possibilidade de troca com os outros seres, pois é por intermédio destas trocas que se dá a consciência corporal. Este trabalho, através da educação motora, estimula muito os indivíduos com síndrome de down, pois contribui significativamente para uma melhor qualidade de vida e movimentação.

    Autores como Alves et. al, (1999), acreditam que a dança é uma “atividade que pode desempenhar um papel relevante na formação de crianças e adolescentes, pois contribui para a melhoria das capacidades motoras, afetivas e relacionais e, ao mesmo tempo, amplia as possibilidades de assimilação e produção cultural”. Este afirmação comprova os bons resultados encontrados com relação as atividades pedagógicas produzidas em classe bem como as extraclasses.

    Em geral, as características mais destacadas dos alunos pela professora de classe foram de interação e participação, deixando claro que estes são bastantes extrovertidos e desinibidos. Para Furlan et. al (2008), a dança utiliza diferentes faculdades do ser humano, pois desenvolve as relações sociais através do trabalho em grupo, permite grande desenvolvimento da expressão corporal, da criatividade, da desinibição e do autoconhecimento, e ainda possibilita a experimentação dos mais variados movimentos corporais.

    Na tabela 3, serão apresentados os dados referentes ao questionário direcionado aos pais dos alunos, em relação aos aspectos cognitivos e sócio-afetivo dos indivíduos com síndrome de down praticantes da dança.

Tabela 3: Resultado da aplicação do questionário aos pais dos alunos da APAE-AP em relação aos 

aspectos cognitivos e sócio-afetivo dos indivíduos com Síndrome de Down praticantes da dança

Amostra

Mudanças no desempenho escolar

Aumento do ciclo de amizades

Mudanças no comportamento

S1

Em partes

Sim

Antes Tímido

Depois Extrovertido

S2

Em partes

Sim

Manteve-se regular.

S3

Em partes

Sim

Manteve-se extrovertido.

S4

Em partes

Sim

Manteve-se extrovertido.

Fonte: Própria pesquisa

    O desempenho escolar relatados pelos pais dos alunos foi considerado como positivo, pois todos afirmaram que houve mudanças em partes, sendo destacada principalmente a responsabilidade que eles adquirem com o decorrer do tempo. Esta responsabilidade é adquirida através da grande disciplina que a dança proporciona para seus praticantes, como afirma Nanni (2003), ao relatar que “o ensino da dança trabalha a organização, disciplinando e dando responsabilidades para o individuo”.

    Quanto ao ciclo de amizades, todos os pais afirmaram ter aumentado consideravelmente, entretanto as mudanças no comportamento não foram significativas para os pais, com exceção de uma aluna que tornou-se bem mais extrovertida, sendo, anteriormente as aulas de dança, considerada como tímida.

    Todos os pais relataram mudanças comportamentais após as aulas de dança, onde a mãe do S1 afirmou que:

    “A S1 sempre gostou de dançar, mas a partir do momento que a Escola APAE inseriu a dança nas atividades escolares a sua auto-estima se elevou passando a se considerar uma estrela da escola”.

    Já a mãe de S2, relatou que:

    “meu filho aumentou sua auto-estima, passou a se comunicar melhor e participar mais das atividades”

    Ao analisarmos o relato da mãe do aluno S3, também foi percebido mudanças positivas como afirma no depoimento abaixo:

    “Minha filha ficou mais extrovertida ao ponto de quando escuta musicas que logo sair dançando. Ela também ficou mais vaidosa”.

    O relato da mãe do aluno (S4) foi o seguinte:

    “ele se “acha” se sente importante e bonito. Se considera bom no que faz (a dança) e quando entra no palco brilha”.

    Abordaremos neste momento o aspecto motor de nossa pesquisa, onde se adotou os exercícios de equilíbrio e motricidade global da bateria de teste da Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) de Rosa Neto. Ressaltamos que não foi utilizado o protocolo de testes, e sim apenas os exercícios da EDM, a partir da idade de 5 anos prolongando-se até os 11 anos.

    O equilíbrio segundo Bosque et al (2010), é uma das habilidades motoras essenciais na vida do ser humano que serve de requisito para o desenvolvimento de outras, tanto em tarefas que exijam contrações musculares estáticas como as dinâmicas. Segundo Bankoff et al (2007), manter o corpo em equilíbrio consiste em uma difícil tarefa pelo fato de vários segmentos corporais estarem alinhados entre si sobre uma pequena base de apoio corpórea, além de fatores fisiológicos como respiração, batimentos cardíacos e o retorno venoso que influenciam na posição ortostática (OLIVEIRA et al, 2002). Os autores afirmam ainda que para os portadores de necessidades especiais, esta tarefa de manter-se em equilíbrio, torna-se ainda mais complicada, uma vez que alguns mecanismos como o sistema vestibular e/ou proprioceptivo não se desenvolvem satisfatoriamente, tendo como uma das conseqüências o déficit de equilíbrio. No estudo de Gimenez (2007), reforça a importância de se trabalhar as habilidades motoras nos primeiros anos de vida dos portadores de síndrome de down, com o intuito de pelo menos minimizar as deficiências que os indivíduos portadores desta síndrome são acometidos.

    Dentro dos dados encontrados em nossa pesquisa, podemos concluir que esta habilidade motora é totalmente deficitária dentro do grupo de dança da APAE, uma vez que nenhum aluno de nossa amostra conseguiu realizar nenhum dos exercícios propostos pela EDM de Rosa Neto. Devemos ressaltar que a professora de dança afirmou que ela não faz trabalhos técnicos com seus alunos, apenas ensaia coreografias focalizando os aspectos sócio-afetivos. Entretanto para Go Tani (1988), é fundamental que o professor possua como objetivo principal o trabalho motor do aluno, pois por existir uma seqüência nos processos de crescimento, desenvolvimento e de aprendizagem motora, as crianças devem ser orientadas de acordo com estas características, pois somente desta forma as reais necessidades e expectativas serão alcançadas.

    Para a motricidade global encontramos algumas diferenças positivas nos resultados obtidos, uma vez que alguns dos exercícios eles obtiveram êxito como mostra o quadro abaixo:

Exercícios

Porcentagem

1

75 %

2

0%

3

50% (1/2)

4

25%

5

25%

6

0%

Fonte: Própria Pesquisa

    Estes resultados corroboram com os estudos de Maia & Boff (2008), que observaram melhoras na coordenação motora de adolescentes com síndrome de down após a inserção da dança na rotina deles. Santos & Coutinho (2008), relatam que pessoas com deficiências devem ser estimuladas nas primeiras etapas da vida, e através de seus estudos comprovaram através de pesquisa bibliográficas que a dança no geral proporciona benefícios em todos os aspectos da criança.

Considerações finais

    No decorrer deste trabalho, verificamos que a ação da dança em conjunto com as aulas de Educação Física não é restrita, possuindo características educacionais e sociais. Os movimentos não apresentam um fim em si mesmo e, através deles, a criança conhece seu corpo e busca desenvolver sua capacidade cognitiva, afetiva, motora e social, explorando e vivenciando suas possibilidades e potencialidades ao máximo.

    Na oportunidade, é importante dizermos que a dança agregada as atividades de Educação Física adquire um papel imprescindível na formação dos indivíduos na medida em que pode estruturar um ambiente facilitador e adequado, oferecendo experiências que vão resultar não somente como um grande auxiliar de seu desenvolvimento motor e cognitivo, como também contribuir para a inclusão social ao passo que estimula o aumento em sua auto-estima, tornando-o confiante impulsionando-o a busca por novas experiências.

    Deste modo, podemos considerar que os objetivos da dança com o síndrome de down são vários. Estimular o crescimento e o desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo, tais como: a descoberta dos próprios movimentos, alegria e motivação, sem esquecer a formação para a vida social dentro e fora do alcance dos muros escolares.

    Em contrapartida, o presente estudo fixou-se na observação de indivíduos com síndrome de down do grupo de dança da APAE/AP, sendo este nosso foco de pesquisa. Onde através dos dados obtidos, constatou-se que as crianças alcançaram resultados positivos nos questionários respondidos pelos pais, professores de sala de aula e a professora de dança. Além disso, esses resultados indicaram que a aplicação do programa de dança proposto pela APAE/AP trouxe uma melhora significativa no desenvolvimento cognitivo, afetivo e social dos sujeitos.

    Entretanto os aspectos motores não foram significativos, em especial o equilíbrio que nenhum aluno conseguiu êxito em nenhum exercício proposto. Um resultado melhor foi observado na motricidade global. Estes resultados podem ser conseqüências do tipo de trabalho proposto pela professora de dança que prioriza as atividades criativas dos alunos, desconsiderando o aspecto motor.

    Não há dúvida que a dança é uma maneira prazerosa de utilizar o corpo para conhecer sentimentos, sensações e emoções, expressar e transmitir o estado de espírito dos sujeitos, especialmente o individuo com síndrome de down. Podendo ser de grande importância para o desenvolvimento motor do indivíduo portador de alguma deficiência ou não, pois o contato com a dança possibilita os mais variados estímulos para a experimentação de movimentos, enriquecendo e auxiliando o desenvolvimento corporal do síndrome de down.

    De nada adiantará, o presente estudo científico que tem como foco o indivíduo com síndrome de down que já possui a prática da Dança, se não deixarmos claro que a mesma é necessária ao contexto escolar, não somente como forma de expressar e evidenciar datas comemorativas do calendário letivo, mas como forma de aprendizado e conhecimento técnico de suas capacidades e limitações cognitivas, afetivas, motoras e sociais, contribuindo assim, para o aprimoramento e desenvolvimento de suas potencialidades individuais, como: a expressão corporal, a criatividade, a desinibição, a auto-estima e o autoconhecimento.

    A dança para indivíduos com síndrome de down trabalha movimento, espaço e tempo ao mesmo tempo, explorando a capacidade de cada um na sua particularidade, tanto físicas, cognitivas, e afetivas.

    Espera-se que este estudo possa orientar políticas públicas no sentido de melhorar as condições de acompanhamento e desenvolvimento de ações em prol da melhoria de qualidade de vida das pessoas com síndrome de down, bem como auxiliar profissionais que almejam trabalhar com estes indivíduos. Recomenda-se mais estudos nesta área, utilizando um numero maior de amostra pesquisada, bem como atividades voltadas para o aspecto motor.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 149 | Buenos Aires, Octubre de 2010
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