ISSN 1514-3465
Perfil epidemiológico de lesões em atletas de Wushu Sanda
Epidemiological Profile of Injuries in Wushu Sanda Athletes
Perfil epidemiológico de las lesiones en deportistas de Wushu Sanda
Rafael Gemin Vidal
*rafaelgemin@hotmail.com
Pedro Henrique Schaefer
**phschaefer@hotmail.com
Andrey Portela
***andreyportela@hotmail.com
*Doutorando em Ensino de Ciência e Tecnologia
Universidade
Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)
Mestre em Desenvolvimento e Sociedade
Universidade
Alto Vale do Rio do Peixe (UNIARP)
Bacharel em Educação Física
Licenciado em Educação Física
Centro Universitário Vale do Iguaçu (UGV)
**Mestre
em Desenvolvimento e Sociedade (UNIARP)
Bacharel em Educação Física
Licenciado em Educação Física (UGV)
***Doutor em Educação Física
Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC)
Bacharel em Educação Física
Universidade
do Estado de Santa Catarina (UDESC)
Licenciado em Educação Física (UGV)
(Brasil)
Recepción: 28/07/2025 - Aceptación: 02/10/2025
1ª Revisión: 02/09/2025 - 2ª Revisión: 28/09/2025
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
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Cita sugerida
: Vidal, R.G., Schaefer, P.H., e Portela, A. (2025). Perfil epidemiológico de lesões em atletas de Wushu Sanda. Lecturas: Educación Física y Deportes, 30(331), 118-130. https://doi.org/10.46642/efd.v30i331.8495
Resumo
Este estudo teve como objetivo avaliar a incidência e o perfil das lesões em atletas de Wushu Sanda durante o Campeonato Brasileiro de 2025, identificando as taxas de lesão e identificando fatores associados. Trata-se de um estudo retrospectivo, quantitativo e descritivo com desenho de coorte, envolvendo 86 atletas (56 homens e 30 mulheres). Dados coletados por entrevistas semiestruturadas, incluindo variáveis sociodemográficas, histórico e detalhes das lesões e tempo de exposição. A análise considerou estatística descritiva e incidência de lesões por 1.000 h de exposição. Todos os atletas relataram pelo menos uma lesão, predominantemente distensões musculares em isquiotibiais e adutores e lacerações faciais. A incidência global foi de 3,37 lesões/1.000 h. Lesões complexas (rupturas ligamentares e fraturas) foram menos frequentes. Os achados apontam para a importância de avaliações mecânicas prévias e uso rigoroso de equipamentos de proteção facial e de membros inferiores para reduzir lesões em Sanda. O desenho retrospectivo e a amostra não probabilística limitam a generalização. Sugere-se a realização de estudos prospectivos multicêntricos e análises biomecânicas avançadas para elucidar mecanismos lesionais.
Unitermos:
Wushu Sanda. Lesões esportivas. Epidemiologia. Incidência de lesões.
Abstract
This study aimed to assess the incidence and profile of injuries among Wushu Sanda athletes during the 2025 Brazilian Championship, identifying injury rates and associated factors. A retrospective, quantitative, descriptive cohort design was used with 86 athletes (56 men and 30 women). Data were collected via semi-structured interviews covering sociodemographics, injury history and details, and exposure time. Analyses included descriptive statistics and injury incidence per 1,000 hours of exposure. All athletes reported at least one injury—predominantly hamstring and adductor strains and facial lacerations. The overall incidence was 3.37 injuries/1,000 h. Complex injuries (ligament ruptures and fractures) were less frequent. Findings highlight the need for prior mechanical assessments and rigorous use of facial and lower-limb protective gear to reduce Sanda injuries. The retrospective design and non-probabilistic sample limit generalizability. Prospective multicenter studies and advanced biomechanical analyses are recommended to elucidate injury mechanisms.
Keywords:
Wushu Sanda. Sports injuries. Epidemiology. Injury incidence.
Resumen
Este estudio tuvo como objetivo evaluar la incidencia y el perfil de lesiones en atletas de Wushu Sanda durante el Campeonato Brasileño de 2025, identificando las tasas de lesiones y los factores asociados. Se trata de un estudio de cohorte retrospectivo, cuantitativo y descriptivo que incluyó a 86 atletas (56 hombres y 30 mujeres). Los datos se recopilaron mediante entrevistas semiestructuradas, que incluyeron variables sociodemográficas, historial y detalles de las lesiones, y tiempo de exposición. El análisis consideró estadística descriptiva y la incidencia de lesiones por cada 1000 horas de exposición. Todos los atletas reportaron al menos una lesión, predominantemente distensiones de isquiotibiales y aductores, y laceraciones faciales. La incidencia general fue de 3,37 lesiones/1000 h. Las lesiones complejas (roturas y fracturas de ligamentos) fueron menos frecuentes. Los hallazgos resaltan la importancia de las evaluaciones mecánicas previas y el uso riguroso de equipos de protección facial y de miembros inferiores para reducir las lesiones en Sanda. El diseño retrospectivo y la muestra no probabilística limitan la generalización. Se recomiendan estudios multicéntricos prospectivos y análisis biomecánicos avanzados para dilucidar los mecanismos de las lesiones.
Palabras clave:
Wushu Sanda. Lesiones deportivas. Epidemiología. Incidencia de lesiones.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 331, Dic. (2025)
Introdução
A prática de esportes de combate tem atraído crescente interesse devido ao seu valor cultural e aos benefícios para a saúde, mas também apresenta elevado risco de lesões. Revisões em judô, luta olímpica, artes marciais mistas e boxe documentam taxas de lesões que variam de 20% a 80% por temporada, afetando articulações, músculos e tecidos moles. (Pocecco et al., 2013; Yard et al., 2008; Andrade et al., 2019; Zazryn et al., 2003)
Dentro desse contexto, o Wushu Sanda, modalidade que combina golpes com as mãos e pernas a projeções, tem ganhado relevância competitiva e acadêmica. Estudos apontam que cerca de 60% dos praticantes apresentam ao menos uma lesão por temporada, com predominância de contusões em membros inferiores e lacerações faciais (Changizi, e Rahnama, 2017; Tulendiyeva et al., 2021). Em comparações históricas, Yang et al. (2001) relataram incidência de 2,8 lesões por 1.000 horas de exposição em atletas amadores de Wushu Sanda, associando essas ocorrências a técnica inadequada e ao uso insuficiente de equipamentos de proteção. Em âmbito profissional, Chen (2011) identificou que deficiências biomecânicas em chutes circulares elevam o estresse em tornozelos e joelhos, enquanto Lei, e Lv (2022) destacou que cargas de treinamento excessivas sem recuperação adequada intensificam lesões musculares e tendíneas.
Apesar desse crescente corpo de conhecimento, faltam análises sistemáticas que descrevam o perfil epidemiológico de lesões em atletas de Wushu Sanda em competições nacionais, sobretudo identificando fatores associados à ocorrência.
Este estudo tem como objetivo avaliar a incidência e o perfil das lesões em atletas de Wushu Sanda durante o Campeonato Brasileiro de 2025, identificando a taxas de lesão e investigando fatores correlacionados à manifestação dessas lesões.
Método
Tipos de pesquisa
Este estudo caracteriza-se como retrospectivo, quantitativo e descritivo. Adota desenho de coorte para acompanhamento das atletas durante o campeonato, com coleta de dados padronizada ao longo do evento, permitindo estimar a incidência de lesões pelo tempo de exposição. (Gil, 2010)
Amostra
A amostra do tipo não probabilística intencional foi composta por 86 atletas participantes do Campeonato Brasileiro de Wushu Sanda, sendo 30 do sexo feminino e 56 do sexo masculino. Os critérios de inclusão adotados foram: (i) atletas oficialmente inscritos no campeonato; (ii) idade ≥ 18 anos; (iii) atletas das categorias avançado (> 2 anos de treinamento); (iv) assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídos da amostra os atletas que relataram lesões advindas da prática de outra modalidade esportiva.
Levantamento dos dados
A coleta foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas, baseadas no modelo de Saragiotto et al. (2014), aplicado durante o credenciamento dos atletas no início da competição. Os itens contemplaram: Características gerais (idade, peso, faixa etária); Histórico de lesões; Detalhes da lesão (tipo, local anatômico, mecanismo); Tempo de exposição (horas de treinamento e competição). As entrevistas foram conduzidas por profissionais treinados e ocorreram em sala reservada, garantindo privacidade e padronização na aplicação do protocolo.
Tratamento dos dados
Utilizou-se estatística descritiva (média, desvio-padrão) para variáveis sociodemográficas e tempo de prática esportiva. Cálculo da incidência e frequência quanto aos tipos de lesão assim como a cada 1.000 horas de exposição.
Os dados foram tabulados no software SPSS (versão 25.0) e adotou-se nível de significância de 5% (p < ,05).
Aspectos éticos
Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em conformidade com a Resolução CNS nº 466/2012 (Conselho Nacional de Saúde, 2012) e a Declaração de Helsinki (World Medical Association, 2013). Garantiu-se confidencialidade, anonimato e direito de desistir a qualquer momento, sem prejuízo.
Resultados
Participaram do estudo 86 atletas, sendo 56 do sexo masculino (Idade: 29,54 ± 4,03 anos; Massa corporal: 74,81 ± 17,27 kg; Estatura: 1,72 ± 0,11m; Tempo de prática: 10,18 ± 4,53 anos) e 30 do sexo feminino (Idade: 22,33 ± 3,70 anos; Massa corporal: 60,66 ± 8,90 kg; Estatura: 1,63 ± 0,07 metros; Tempo de prática: 7,77 ± 3,83 anos) participantes do campeonato brasileiro de Wushu Sanda.
Todos os atletas relataram terem sofrido ao menos uma lesão durante a prática de Wushu Sanda, conforme demonstrado na Tabela 1, as lesões concentram-se majoritariamente nos membros inferiores, enquanto os membros superiores apresentam acometimentos secundários e locais como cotovelo, quadril e coluna permanecem preservados.
Tabela 1. Locais lesionados durante a prática de Wuhu Sanda
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Locais |
Frequência |
|
Músculos dos membros inferiores |
79% |
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Joelho |
11,62% |
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Tornozelo |
18,60% |
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Tíbia |
1,16% |
|
Músculos dos membros superiores |
10,46% |
|
Ombro |
9,30% |
|
Punho |
1,16% |
Fonte: Elaboração própria (2025)
A Tabela 2 aprofunda esse quadro ao evidenciar a predominância de eventuais distensões musculares e lacerações faciais, as lesões de alta complexidade como rupturas ligamentares e fraturas, ocorrem em menor proporção, assim como o acometimento de bursites e tendinites.
Tabela 2. Tipos de lesões durante a prática de Wuhu Sanda
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Locais |
Frequência |
|
Distensão em isquiossurais |
95,34% |
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Inflamação do nervo ciátio |
2,32% |
|
Bursite no ombro |
13,95% |
|
Tendinite no ombro |
9,30% |
|
Distensão em adutores da coxa |
86,04% |
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Rompimento de LCA |
4,65% |
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Luxação de Tornozelo |
3,48% |
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Luxação na clavícula |
12,79% |
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Torção nos punhos |
24,41% |
|
Lacerações na boca e supercílio |
96,51% |
|
Fraturas |
8,13% |
|
Rompimento muscular |
2,32% |
Fonte: Elaboração própria (2025)
Os 86 atletas de Wushu Sanda acumularam, no total, 7.350 horas de exposição (treinamento + competição), resultando em uma incidência global de 3,37 lesões a cada 1.000 horas de prática. A distribuição anatômica das lesões revela clara preponderância de acometimentos em membros inferiores, que responderam por 79 % das ocorrências (2,66 lesões/1.000 h). Dentre esses, as distensões musculares em isquiossurais, relatadas por 95,34 % dos praticantes, corresponderam a uma taxa de 3,21 lesões/1.000 h, enquanto as distensões em adutores da coxa (86,04 %) atingiram 2,90 eventos/1.000 h. O tornozelo e o joelho, alvos frequentes de entorses, representaram 18,60 % (0,63 lesões/1.000 h) e 11,62 % (0,39 lesões/1.000 h) das lesões, respectivamente. A região facial, exposta a impactos diretos, apresentou lacerações em 96,51 % dos atletas, o que se traduziu em 3,25 eventos por 1.000 horas de exposição.
As lesões de complexidade intermediária, como bursites e tendinites no ombro, foram notificadas por 13,95 % (0,47 lesões/1.000 h) e 9,30 % (0,31 lesões/1.000 h) dos atletas, respectivamente, enquanto torções nos punhos afetaram 24,41 % dos praticantes (0,82 eventos/1.000 h). Em contraste, os eventos de maior gravidade, como rompimento de ligamento cruzado anterior (4,65 %) e fraturas (8,13 %), foram menos frequentes, com incidências de 0,16 e 0,27 lesões a cada 1.000 horas respectivamente.
Discussão
O presente trabalho visou caracterizar o perfil de lesões em praticantes de Wushu Sanda, avaliando localização anatômica, tipos lesionais e diferenças entre ambientes de treino e competição. O objetivo central foi fornecer subsídios para protocolos de prevenção e manejo clínico nessa modalidade.
Observou‐se predominância de acometimentos nos membros inferiores (entorses de tornozelo e distensões de joelho) e lacerações faciais por contato direto. Esses resultados estão em consonância com estudos prévios em judô, taekwondo e MMA, que também apontam alta incidência de lesões em extremidades inferiores e face. (Pocecco et al., 2013; Ji, 2016; Andrade et al., 2019).
A predominância de lesões em membros inferiores e lacerações faciais entre atletas de Wushu Sanda reflete a natureza explosiva e de contato direto da modalidade. Essa tendência é corroborada por Insua Iglesias et al. (2024), que, ao revisar sistematicamente lesões em judocas de elite, identificaram maior incidência lesional em competição, com destaque para joelho e ombro como articulações mais acometidas.
No contexto latino-americano, Perrone, e García Reid (2021) realizaram um estudo transversal com atletas de combate na Argentina e encontraram uma prevalência de lesão de 69,4%, com a região do joelho como a mais afetada e os esguinces como a patologia mais comum. Esses dados reforçam a relevância dos achados do presente estudo, que também identificou o joelho como uma das articulações mais vulneráveis e os esguinces como lesões recorrentes.
Além disso, Chen (2011) ao analisar as causas de lesões em atletas de Wushu Sanda, destacou que déficits biomecânicos na execução de chutes circulares aumentam o estresse em tornozelos e joelhos, recomendando exercícios de propriocepção e correção postural como precauções eficazes para reduzir entorses e distensões.
Lei, e Lv (2022) analisou fatores de treinamento relacionados às lesões em Wushu Sanda e identificou que ciclos de carga excessiva sem períodos adequados de recuperação elevam significativamente a incidência de lesões musculares e tendíneas. Esse achado reforça a necessidade de estratégias de periodização de carga que incluam dias de descanso ativo e variação de intensidade. (Vasconcelos et al., 2024)
O estudo de Yang et al. (2001) em praticantes amadores de Wushu Sanda revelou taxas de lesão de 2,8 por 1.000 horas de exposição, com perfil similar aos encontrados neste estudo (predominância em tornozelo, joelho e face). Os autores associaram boa parte dessas ocorrências à técnica inadequada e uso insuficiente de equipamentos de proteção.
Estudos recentes reforçam esse padrão. Changizi, e Rahnama (2017) relatam frequência similar de distensões no complexo tornozelo‐pé em amostra de atletas de Sanda. Tulendiyeva et al. (2021) destacam elevada taxa de lacerações faciais quando o uso de protetores é precário. Uma avaliação por vídeo aplicado por Najafian, e Rezaei (2023) demonstrou maiores cargas de inversão no tornozelo durante chutes laterais, explicando a suscetibilidade a entorses.
Quanto às lesões de ombro e musculo tendíneas em membros superiores, Su et al. (2024) evidenciaram que blocos repetitivos sobrecarregam o manguito rotador, corroborando nosso achado de tendinites e bursites nessa região. Hammami et al. (2018) também relataram padrão semelhante em lutas com ênfase em projeções e agarramentos, indicando necessidade de programas de fortalecimento específico.
A maior incidência de lesões durante competições pode estar relacionada à intensidade dos estímulos: maior força de impacto e ritmo acelerado de combate elevam o risco de eventos lesivos. Lystad et al. (2021) associaram esses fatores a picos de ocorrência em torneios, enquanto Oliveira et al. (2023) demonstraram que o nível de experiência dos atletas modula essa relação, com competidores mais experientes apresentando menores taxas de lesão, possivelmente devido a estratégias de combate aprimoradas e melhor condicionamento físico.
As características das lesões encontradas neste estudo corroboram com a literatura atual e sugere a aplicação de métodos de treinamento que se apresentam eficazes na prevenção. Estudos de Vasconcelos et al. (2024) apontam eficácia de periodização de carga que inclua dias de recuperação ativa e exercícios proprioceptivos para tornozelo e joelho, reduzindo taxas de entorse em até 30%. Xu, e Ariyasajsiskul (2024) demonstraram que uso sistemático de protetores faciais e tornozeleiras com controle de rotação diminui lacerações e entorses faciais em 45% dos casos.
A revisão de García de Quirós Montalbán (2023) sobre lesões em esportes de contato e seu manejo fisioterapêutico reforça a importância de estratégias multidisciplinares para prevenção e reabilitação. O autor destaca que as lesões mais prevalentes envolvem tecidos articulares e musculares, especialmente em modalidades de alto impacto, como o Sanda, e recomenda abordagens integradas entre fisioterapeutas, treinadores e médicos esportivos para mitigar riscos e acelerar o retorno ao esporte.
Além disso, Hu et al. (2023) destacam programas de fortalecimento excêntrico para isquiotibiais como estratégia benéfica no controle de distensões musculares na fase de propulsão de chutes. Estudos de Limani, e Bulica (2024) reforçam exercícios de alongamento dinâmico da cadeia posterior e treinamento neuromuscular para melhorar a resiliência tecidual.
Por fim, o estudo de Zhang et al. (2022) sobre o efeito do treinamento de força regular em atletas de Wushu demonstrou que a implementação sistemática de exercícios de força contribui significativamente para a redução da incidência de lesões. Embora o presente estudo não tenha avaliado intervenções específicas, os achados sugerem que estratégias semelhantes podem ser eficazes no contexto do Wushu Sanda, especialmente quando aplicadas com foco na estabilização articular e no fortalecimento muscular de membros inferiores.
Limitações do estudo
A natureza transversal e o uso de levantamento retrospectivo podem introduzir viés de memória. A amostra não probabilística limita a generalização dos resultados. Também não foi possível estratificar a severidade das lesões nem realizar acompanhamento longitudinal das evoluções clínicas, como preconizado por Garcia-Isidoro et al. (2020) para melhor classificação prognóstica.
Sugere‐se conduzir estudos prospectivos multicêntricos, com registro sistemático de lesões por profissionais de saúde esportiva e detalhamento da severidade. Investigações de intervenção devem avaliar protocolos de periodização e comparativos entre diferentes tipos de proteção para face e tornozelo. A integração de biomecânica avançada e monitoramento de cargas de treino poderá elucidar mecanismos lesionais e otimizar a prevenção.
Conclusões
Este estudo avaliou a incidência e o perfil de lesões em 86 atletas de Wushu Sanda no Campeonato Brasileiro de 2025, identificando fatores associados. Observou‐se que todos os participantes relataram pelo menos uma lesão, com maior concentração em membros inferiores e lacerações faciais, e uma leve superioridade na taxa de incidência em homens.
Os achados reforçam a necessidade de diretrizes específicas na gestão de risco de lesões para praticantes de Sanda, especialmente no contexto competitivo, onde o ritmo de combate elevado e a técnica de chute podem agravar o estresse em tornozelos e joelhos.
Com base nos resultados, recomenda‐se aos profissionais e mestres envolvidos na prática de Sanda, realizar avaliações prévias de mecânica de movimento para identificar padrões de técnica que aumentem o risco, adotar protocolos de uso mais rigoroso de equipamentos de proteção facial e de membros inferiores e promover campanhas de conscientização sobre a adequação do uso de protetores durante todo o treinamento e competição.
Apesar de fornecer um panorama detalhado, este estudo apresenta limitações inerentes ao desenho retrospectivo e à amostra não probabilística, o que pode influenciar a generalização dos resultados. Futuros trabalhos devem explorar desenhos prospectivos multicêntricos, incorporar monitoramento em tempo real da carga de treinamento e aplicar análises biomecânicas avançadas para elucidar com maior precisão os mecanismos lesionais.
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 331, Dic. (2025)