ISSN 1514-3465
Ventilação não invasiva no treinamento aeróbio
de pacientes com insuficiência cardíaca
Noninvasive Ventilation in Aerobic Training of Patients with Heart Failure
Ventilación no invasiva en el entrenamiento aeróbico de pacientes con insuficiencia cardíaca
Maiara Fuhrmann
*maiarabriviof@gmail.com
Guilherme Enrique Fagundes Bruning
**guilhermebruning10@gmail.com
Édina Steffens
***edina.steffens@sou.unijui.edu.br
Brenda da Silva+
brenda.s@unijui.edu.br
Adriane Cristina Bernat Kolankiewicz
++adriane.bernat@unijui.edu.br
Eliane Roseli Winkelmann
+++elianew@unijui.edu.br
*Fisioterapeuta pela Universidade Regional
do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI)
**Acadêmico do curso de Graduação em Fisioterapia pela UNIJUI
Bolsista de Iniciação Científica.
Membro do Grupo de Pesquisa
em Estudos Epidemiológicos e Clínicos - GPEEC (UNIJUI)
***Fisioterapeuta. Mestranda do Programa
de Pós Graduação Stricto Sensu Mestrado e
Doutorado Associado (UNICRUZ/URI-Erechim/UNIJUÍ)
em Atenção Integral à Saúde (PPGAIS)
Membro do Grupo de Pesquisa em Estudos Epidemiológicos e Clínicos (GPEEC)
+Biomédica. Mestre pelo Programa de Pós Graduação
em Atenção Integral à Saúde (PPGAIS - UNICRUZ/URI/UNIJUÍ)
Doutora em Farmacologia
pela Universidade Federal de Santa Maria
Docente do Núcleo dos Cursos da Saúde da UNIJUI
Membro do Grupo de Pesquisa
em Estudos Epidemiológicos e Clínicos (GPEEC)
++Doutora em Ciências, Líder do Grupo de Pesquisa Cuidado, Gestão
e Educação em Enfermagem
Docente do Programa de Mestrado/Doutorado Associado
(UNICRUZ/URIErechim/UNIJUÍ)
em Atenção Integral à Saúde (PPGAIS)
Bolsista Produtividade do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ)
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ)
+++Doutora em Cardiologia e Ciências Cardiovasculares
Pós Doutorado em Fisioterapia
Líder do Grupo de Pesquisa em Estudos Epidemiológicos e Clínicos (GPEEC)
Docente do Programa de Mestrado/Doutorado Associado
(UNICRUZ/URI-Erechim/UNIJUÍ) em Atenção Integral à Saúde (PPGAIS)
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ)
(Brasil)
Recepción: 25/06/2025 - Aceptación: 23/08/2025
1ª Revisión: 20/07/2025 - 2ª Revisión: 20/08/2025
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
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Cita sugerida
: Fuhrmann, M., Bruning, GEF, Steffens, È., Silva, B., Kolankiewicz, ACB, e Winkelmann, ER (2025). Ventilação não invasiva no treinamento aeróbio de pacientes com insuficiência cardíaca. Lecturas: Educación Física y Deportes, 30(329), 110-124. https://doi.org/10.46642/efd.v30i329.8453
Resumo
Introdução: A insuficiência cardíaca provoca dispneia e fadiga, sendo a reabilitação cardíaca uma das alternativas para melhorar a funcionalidade. O treinamento aeróbio é uma opção terapêutica eficaz e a ventilação não invasiva também demonstra bons resultados. Objetivo: Analisar o efeito de um treinamento aeróbio associado ao uso da ventilação não invasiva na capacidade funcional de pacientes com insuficiência cardíaca. Método: Trata-se de um estudo analítico de intervenção do tipo antes e depois. A intervenção consistiu na associação de treinamento aeróbio com ventilação contínua nas vias aéreas, duas vezes por semana, ao longo de 12 semanas. As variáveis desfechos avaliadas foram a distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos (TC6min) e o número de repetições no teste de sentar e levantar em um minuto (TSL1min). Resultados: Encontra-se uma amostra predominantemente masculina (n=4/80%), com média de idade de 59,29±16,97 anos. A distância percorrida no TC6 aumentou, não significativamente, de 363±172,61 metros para 487,25±102,01 metros após a reabilitação (p=0,068). Já no TSL1min apresentou um aumento, passando de 16,20±4,97 repetições para 22±1,58 repetições após a reabilitação (p=0,043). Conclusão: A reabilitação cardíaca, envolvendo treinamento aeróbio associado ao uso de ventilação não invasiva, promoveu melhorias na capacidade funcional de pacientes com insuficiência cardíaca.
Unitermos:
Estado funcional. Insuficiência cardíaca. Reabilitação cardíaca. Treino aeróbico. Ventilação não invasiva.
Abstract
Introduction: Heart failure causes dyspnea and fatigue, and cardiac rehabilitation is one of the alternatives to improve functionality. Aerobic training is an effective therapeutic option, and noninvasive ventilation also demonstrates good results. Objective: To analyze the effect of aerobic training combined with noninvasive ventilation on the functional capacity of patients with heart failure. Method: This is a before-and-after analytical intervention study. The intervention consisted of combining aerobic training with continuous airway ventilation twice a week for 12 weeks. The outcome variables evaluated were the distance covered in the six-minute walk test (6MWT) and the number of repetitions in the one-minute sit-to-stand test (1MST). Results: The sample was predominantly male (n=4/80%), with a mean age of 59.29±16.97 years. The distance covered in the 6MWT increased, non-significantly, from 363±172.61 meters to 487.25±102.01 meters after rehabilitation (p=0.068). The 1min SRT increased from 16.20±4.97 repetitions to 22±1.58 repetitions after rehabilitation (p=0.043). Conclusion: Cardiac rehabilitation, involving aerobic training combined with the use of non-invasive ventilation, promoted improvements in the functional capacity of patients with heart failure.
Keywords
: Functional status. Heart failure. Cardiac rehabilitation. Aerobic training. Noninvasive ventilation.
Resumen
Introducción: La insuficiencia cardíaca causa disnea y fatiga, y la rehabilitación cardíaca es una de las alternativas para mejorar la funcionalidad. El entrenamiento aeróbico es una opción terapéutica eficaz, y la ventilación no invasiva también muestra buenos resultados. Objetivo: Analizar el efecto del entrenamiento aeróbico combinado con ventilación no invasiva sobre la capacidad funcional de pacientes con insuficiencia cardíaca. Método: Se trata de un estudio de intervención analítica antes y después. La intervención consistió en combinar entrenamiento aeróbico con ventilación continua de la vía aérea dos veces por semana durante 12 semanas. Las variables de resultado evaluadas fueron la distancia recorrida en la prueba de marcha de seis minutos (6MWT) y el número de repeticiones en la prueba de bipedestación de un minuto (1MST). Resultados: La muestra fue predominantemente masculina (n = 4/80%), con una edad media de 59,29 ± 16,97 años. La distancia recorrida en la prueba 6MWT aumentó, de forma no significativa, de 363 ± 172,61 metros a 487,25 ± 102,01 metros tras la rehabilitación (p = 0,068). El tiempo de recuperación de 1 minuto (SRT) aumentó de 16,20 ± 4,97 repeticiones a 22 ± 1,58 repeticiones tras la rehabilitación (p = 0,043). Conclusión: La rehabilitación cardíaca, que incluye entrenamiento aeróbico combinado con ventilación no invasiva, promovió mejoras en la capacidad funcional de los pacientes con insuficiencia cardíaca.
Palabras clave
: Estado funcional. Insuficiencia cardíaca. Rehabilitación cardíaca. Entrenamiento aeróbico. Ventilación no invasiva.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 329, Oct. (2025)
Introdução
A insuficiência cardíaca (IC) representa um relevante problema de saúde pública e, apesar dos avanços significativos em seu tratamento, permanece como uma síndrome grave, associada a altas taxas de mortalidade e internações (Savarese, e Lund, 2017). Estima-se que mais de 23 milhões de pessoas em todo o mundo são afetadas pela condição (Barbosa et al., 2022). No Brasil, entre 2019 e 2023, foram registradas 941.576 internações por IC. O ano de 2023 apresentou as maiores taxas de incidência, atingindo 101,83 casos por 100.000 habitantes. (Soares et al., 2024)
A reabilitação cardíaca oferece benefícios significativos para indivíduos com IC, sendo classificada como recomendação Classe 1A nas diretrizes de manejo prático da condição, sendo reconhecida como uma intervenção eficiente e valiosa (Bozkurt et al., 2021). Seu propósito central é aprimorar os diferentes componentes da aptidão física, abrangendo tanto aspectos aeróbios quanto não aeróbios, como força muscular, potência, flexibilidade e equilíbrio. (Carvalho et al., 2020)
Porém, indivíduos com IC frequentemente relatam um desconforto respiratório significativo, e ao otimizar a ventilação, por meio da ventilação não invasiva (VNI), observa-se uma redução marcante desse desconforto (Souza, e Veneziano, 2023). A VNI tem se mostrado uma abordagem eficaz e segura para pacientes com IC, especialmente no contexto de reabilitação cardiorrespiratória. Este método, viável em ambientes ambulatoriais, é utilizado para melhorar a tolerância ao exercício em pacientes com IC. (Bittencourt et al., 2017)
Além disso, a VNI otimiza a oferta e a saturação de oxigênio, resultando em uma melhor perfusão dos tecidos periféricos e contribuindo para a redução tanto da frequência cardíaca quanto da frequência respiratória. Esses efeitos estão associados a uma menor sobrecarga cardíaca e maior eficiência da ventilação durante o esforço físico (Reis et al., 2014; Souza, Veneziano, 2023). Assim, a VNI não apenas melhora a funcionalidade física, mas também pode impactar positivamente a qualidade de vida de pacientes com IC. (Dibben et al., 2023)
De acordo com Menadue, e Piper (2019), a VNI durante o exercício pode proporcionar maior tolerância ao esforço físico e resultados superiores em relação aos métodos convencionais. Contudo, há necessidade de compreender melhor os protocolos de uso da VNI no contexto da reabilitação cardíaca, especialmente em pacientes com IC. Ainda há uma lacuna de evidências científicas sólidas que definem diretrizes claras para a aplicação da VNI como parte integrante e personalizada do treinamento físico. Portanto, o objetivo do estudo foi analisar o efeito de um treinamento aeróbio associado ao uso da VNI na capacidade funcional de pacientes com IC.
Métodos
Este é um estudo analítico de intervenção, do tipo antes e depois. A pesquisa integra o projeto institucional intitulado “Ventilação não invasiva associada ao treinamento aeróbio em pacientes com insuficiência cardíaca na fase ambulatorial da reabilitação cardíaca: um estudo clínico randomizado”, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul- UNIJUÍ, sob o parecer nº 6.257.266/2023 e CAAE 30597920.0.0000.5350. O termo de consentimento livre e esclarecido foi assinado por todos os pacientes participantes da pesquisa
A investigação foi conduzida no Serviço de Fisioterapia Cardiopulmonar da Clínica de Fisioterapia, vinculada a uma universidade comunitária localizada no interior do Estado do Rio Grande do Sul.
O estudo incluiu participantes de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos, diagnosticados com IC e fração de ejeção igual ou inferior a 40%. Foram excluídos os indivíduos que não concluíram o protocolo de pesquisa, seja por não realizarem a reavaliação, falta de adesão ao protocolo de reabilitação, como ausências frequentes ou não cumprimento das exigências do protocolo.
O perfil da amostra foi definido a partir da análise dos prontuários dos pacientes, contemplando variáveis como idade, sexo, peso, escolaridade, comorbidades associadas, medicamentos em uso, fração de ejeção ventricular e índice de massa corporal (IMC). O IMC foi categorizado em quatro níveis: sobrepeso (25 e 29,9kg/m²), classe I (30 e 34,9 kg/m²), classe II (35 e 39,9 kg/m²), e classe III (≥ 40 kg/m²). (OMS, 2000)
A avaliação inicial foi realizada antes da intervenção fisioterapêutica, por meio do teste de caminhada de seis minutos (TC6min) (ATS, 2002) e do teste de sentar e levantar em um minuto (TSL1min). (Strassmann et al., 2013)
O TC6min foi realizado em um corredor de 30 metros, durante seis minutos. A caminhada ocorreu de forma rápida, mas sem corrida, com o objetivo de avaliar a tolerância ao esforço físico. Ao longo do teste, os pacientes receberam estímulos verbais a cada minuto para percorrer a maior distância possível (ATS, 2002).
O TSL1min foi realizado de acordo com as diretrizes de Strassmann et al. (2013), utilizando uma cadeira padrão de 45 cm, sem apoio de braços. Os indivíduos foram orientados a se posicionar próximos ao assento, com os pés apoiados no chão, e a realizar movimentos completos de levantar-se até a extensão total de joelhos e quadris, sentando-se novamente, mantendo os membros superiores cruzados sobre o peito. Após o posicionamento, os participantes executaram a manobra o mais rápido possível durante um minuto. Ao final do tempo, o avaliador interrompeu o teste e registrou o número total de repetições completadas.
Após essa etapa os pacientes realizaram a intervenção fisioterapêutica que ocorreu duas vezes na semana ao longo de doze semanas. A sessão iniciava com alongamentos de membros superiores e membros inferiores, em seguida, o paciente era instruído a usar a bicicleta ergométrica horizontal a uma velocidade média de 60 ciclos/minuto, monitorando a sensação de esforço percebido que deveria variar entre 4 (um pouco difícil) e 5 (difícil) na escala de Borg. (Borg, 1982)
O protocolo inicial consistiu em 20 minutos de exercício na bicicleta ergométrica horizontal, com acréscimo de 5 minutos por semana até completar 45 minutos. Essa abordagem foi associada ao uso de VNI, utilizando uma máscara oronasal ventilada da marca ResMed®, no modo ventilação contínua nas vias aéreas (CPAP) ajustado em 8cmH₂O, operando por meio de um gerador de fluxo do mesmo fabricante, ResMed®. Ao final das doze semanas, os pacientes foram submetidos novamente às avaliações com TC6min e TSL1min, permitindo a análise da evolução obtida com a intervenção.
A análise foi realizada através do software estatístico do programa Statistical Package for the Social Sciences, SPSS 23.0®. Onde se empregou o teste de normalidade de Kolmogorov Smirnov para avaliar a distribuição dos dados e a partir disso foi utilizado o teste de amostras pareadas de Wilcoxon, considerando significância quando p<0,05.
Resultados
Os pacientes incluídos no estudo foram encaminhados por médicos cardiologistas. Inicialmente, foram identificados 8 pacientes elegíveis. No entanto, um paciente foi excluído devido à instabilidade hemodinâmica, enquanto outros dois devido a inclusão em outro protocolo de reabilitação. Desta forma, a amostra total foi de cinco pacientes (Figura 1).
Figura 1. Fluxograma do estudo
Fonte: Dados de pesquisa
A Tabela 1 apresenta o perfil da amostra antes da intervenção, composta predominantemente por participantes do sexo masculino (n=4/80%), com média de idade de 59,29±16,97 anos, peso médio de 93,50±14,17 Kg, IMC médio de 32,62±6,46 Kg/m². Quanto à classificação do IMC, dois participantes apresentaram sobrepeso (33,3%), três apresentaram obesidade grau I (50,0%) e um apresentou obesidade grau III (16,7%). A fração de ejeção (FE) em média foi de 36±2,64 %. Quanto aos fatores de risco e comorbidades associadas, todos os pacientes (n=5/100%) tinham hipertensão arterial sistêmica (HAS), dois (40%) apresentavam diabetes mellitus (DM), apenas um relatou histórico de infarto agudo do miocárdio (IAM) prévio.
Tabela 1. Características sociodemográficas e clínicas de pacientes
que realizaram um programa de reabilitação cardíaca
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Variáveis |
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Idade, anos (média ± DP) |
59,29 ± 16,97 |
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Peso, Kg (média ± DP) |
93,50 ± 14,17 |
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Índice de massa corporal, kg/m2 (média ± DP) |
32,62 ± 6,46 |
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Fração de ejeção (%) (média ± DP) |
36 ± 2,64 |
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Sexo |
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Masculino (n/%) |
4/80 |
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Feminino (n/%) |
1/20 |
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Escolaridade |
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Ensino médio incompleto (n/%) |
1/20 |
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Ensino médio completo (n/%) |
2/40 |
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Ensino superior completo (n/%) |
2/40 |
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Fatores de risco e comorbidades |
|
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Hipertensão arterial sistêmica (n/%) |
5/100 |
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Diabetes mellitus (n/%) |
2/40 |
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Infarto agudo do miocárdio prévio (n/%) |
1/20 |
Variáveis coletadas antes da intervenção. Dados apresentados em média ±
desvio padrão (DP) e frequências absolutas (n) e relativas (%). Fonte: Autoras
A Tabela 2 apresenta os resultados do TC6min e do TSL1min realizados antes e depois da reabilitação cardíaca. Observa-se que a distância percorrida no TC6min aumentou, não significativamente, de 363,00±172,61 metros para 487,25±102,01 metros após a reabilitação (p=0,068). Já no TSL1min, o número de repetições apresentou um aumento significativo, passando de 16,20 ± 4,97 antes da intervenção para 22,00±1,58 após a reabilitação (p=0,043).
Tabela 2. Resultados do TC6min e TSL1min antes e depois da reabilitação cardíaca
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Variáveis |
Antes da Intervenção |
Depois da Intervenção |
|
P-valor |
|
Distância Percorrida no TC6min (m) (média ± DP) |
363,00 ± 172,61 |
487,25 ± 102,01 |
124,25/ 34,23 |
0,068 |
|
Número de repetições no TSL1min (média ± DP) |
16,20 ± 4,97 |
22,00 ± 1,58 |
5,80/ 35,80 |
0,043* |
DP: desvio padrão. TC6: Teste de caminhada de 6 minutos; TSL1min: Teste de senta e levanta em 1 minuto.
:
diferença entre antes e depois.
: percentual da diferença
entre antes e depois. Fonte: Autoras
Figura 2. Figura resumo
Fonte: Autoras
Discussão
A IC continua sendo altamente prevalente e progressiva, principalmente devido ao envelhecimento populacional (Oliveira et al., 2024). Ressalta-se ainda, que a incidência de IC aumenta consideravelmente entre homens a partir dos 44 anos, bem como na população com idade entre 60 e 69 anos (Fonseca et al. 2023; Lans et al., 2020; Oliveira et al., 2024). Em consonância com esses achados, o presente estudo contou com uma amostra majoritariamente composta por homens, com média de idade de 59,29±16,97 anos.
Os dados do presente estudo, apesar do número limitado de participantes, apontam que a reabilitação cardíaca contribuiu positivamente para a melhora da capacidade funcional dos envolvidos. Observou-se uma melhora interessante de 34,23% na distância percorrida durante o TC6min, embora não tenha atingido significância estatística (p=0,068). Em contrapartida, o TSL1min mostrou uma melhora significativa (p=0,043), evidenciando a eficácia do programa de reabilitação no aprimoramento da força e resistência muscular dos membros inferiores.
A intolerância ao exercício, a fadiga crônica e a incapacidade de realizar atividades são características essenciais da IC e estão diretamente relacionadas à baixa qualidade de vida (Bozkurt et al., 2021; Del Buono et al., 2019; Guazzi et al., 2017). De acordo com Fonseca et al. (2023), a capacidade de exercício em pacientes com IC é influenciada por fatores fisiopatológicos e psicológicos, como motivação e atividades diárias. A reabilitação cardíaca é amplamente indicada (Mehra et al., 2020; Visseren et al., 2022) e pode oferecer benefícios significativos para indivíduos com doenças cardiovasculares (Dibben et al., 2021) e tem se mostrado eficaz para melhorar a funcionalidade física, especialmente na força muscular, impactando positivamente a qualidade de vida. (Chen et al., 2018; Dibben et al., 2023)
De acordo com Chen et al. (2018) a melhora na qualidade de vida está intimamente associada ao aumento da tolerância ao exercício. Álvarez-Martínez et al. (2022) afirmam que todas as modalidades de exercícios terapêuticos são eficazes na reabilitação cardíaca, com destaque para os programas combinados, que promovem melhorias significativas na tolerância ao exercício, nos parâmetros cardiovasculares, na antropometria e na qualidade de vida. De forma complementar, Bano et al. (2023) ressaltam a relevância da força muscular periférica para a capacidade funcional e o desempenho nas atividades diárias.
Araújo-Filho et al. (2017) relataram que pacientes submetidos a um protocolo de fisioterapia associado à VNI após substituição de válvula cardíaca apresentaram desempenho significativamente superior no TC6min em comparação ao grupo controle. De forma semelhante, Windmoller et al. (2020) evidenciaram que a combinação de exercícios em cicloergômetro e VNI no modo CPAP oferece benefícios adicionais aos pacientes em pós operatório de cirurgia de revascularização do miocárdio, reforçando a eficácia da VNI como estratégia complementar em programas de reabilitação cardíaca.
Nesse contexto, a VNI em pacientes cardiopatas reduz o gasto energético e a frequência respiratória, promovendo melhor aptidão cardiopulmonar e funcionalidade diária (Araújo-Filho et al., 2017), sendo este o principal desfecho da presente pesquisa. Já Pantoni et al. (2021), observaram que o uso de VNI em pacientes pós-revascularização do miocárdio melhora o padrão respiratório na alta hospitalar, aumenta a tolerância ao exercício e otimiza a função ventilatória durante a atividade física.
Bano et al. (2023) mostraram que a combinação de exercícios em cicloergômetro com VNI no modo CPAP em pacientes pós-revascularização do miocárdio melhorou significativamente a distância percorrida no TC6min, além de reduzir o tempo de internação na UTI e no hospital. O protocolo também aumentou a força e a resistência muscular dos membros inferiores, destacando os benefícios do uso integrado da VNI com cicloergômetro na recuperação funcional, assim como no presente estudo.
Os estudos citados anteriormente indicam que a associação do exercício aeróbio com o uso de VNI no ambiente hospitalar é uma prática segura e eficaz. Essa abordagem tem demonstrado benefícios na redução do desconforto respiratório, alívio da dispneia e aumento da tolerância ao exercício em pacientes cardiopatas. (Araújo-Filho et al., 2017; Bano et al., 2023; Pantoni et al., 2021; Windmoller et al., 2020)
Com base nessa segurança e eficácia, torna-se pertinente discutir e explorar a implementação da VNI em ambientes clínicos e ambulatoriais. Essa expansão pode proporcionar vantagens adicionais, promovendo melhor adesão ao tratamento, maior funcionalidade física e qualidade de vida aos pacientes, especialmente durante as sessões de reabilitação. Esses são dados muito importantes e podem ser explorados em pesquisas futuras.
O estudo apresenta limitações metodológicas e contextuais, como a predominância de participantes masculinos, o que limita a generalização dos resultados, especialmente para mulheres. O tamanho reduzido da amostra, que pode comprometer a diversidade das respostas e o poder estatístico, especialmente em variáveis como o TC6min. A ausência de um grupo controle também impede comparações diretas, dificultando a atribuição exclusiva dos benefícios à intervenção. Diante disso, recomenda-se que pesquisas futuras utilizem amostras maiores, mais diversas, com inclusão do grupo controle, que avaliem variáveis de longo prazo e controlem fatores intervenientes para fortalecer a validade dos resultados.
Conclusão
O estudo revelou que a reabilitação cardíaca com treinamento aeróbico e ventilação não invasiva melhora a capacidade funcional de pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida.
Referências
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 329, Oct. (2025)