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ISSN 1514-3465

 

Termorregulação e estratégias para controle do estresse

térmico durante o exercício: uma revisão narrativa

Thermoregulation and Strategies for Controlling Heat Stress during Exercise: A Narrative Review

Termorregulación y estrategias para controlar el estrés térmico durante el ejercicio: una revisión narrativa

 

Bruno de Cassio Coelho*

bruno.ccoelho@hotmail.com

Rayane Siberia Souza Silva**

rayanesouzanutricionista@gmail.com

 

*Bacharel e Licenciado em Educação Física

pela Universidade Federal de Viçosa (UFV)

Mestre em Educação Física pela Universidade Federal do Maranhão

Doutorando em Educação Física pela(UFV

Atua como preparador físico e analista de desempenho

na CBF Academys. Bike Fitter

com foco na otimização da performance e prevenção de lesões em ciclistas

**Nutricionista Clínica

Universidade Federal de Viçosa (UFV)

na Clínica de Podologia

Leticia Maciel - Mariana, MG

(Brasil)

 

Recepción: 12/06/2025 - Aceptación: 26/09/2025

1ª Revisión: 20/09/2025 - 2ª Revisión: 23/09/2025

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Cita sugerida: Coelho, B. de C., e Silva, R.S.S. (2025). Termorregulação e estratégias para controle do estresse térmico durante o exercício: uma revisão narrativa. Lecturas: Educación Física y Deportes, 30(331), 184-196. https://doi.org/10.46642/efd.v30i331.8429

 

Resumo

    Introdução: O aumento das temperaturas globais impõe desafios ao desempenho esportivo em climas quentes, exigindo uma termorregulação eficiente. Durante o exercício, a dissipação de calor ocorre por condução, convecção, radiação e evaporação. No entanto, fatores como alta umidade e idade avançada podem comprometer esses mecanismos. Estratégias como aclimatação ao calor, hidratação e resfriamento tornam-se fundamentais, sobretudo para indivíduos de meia-idade. Objetivo: Revisar criticamente os mecanismos de termorregulação e as estratégias utilizadas para reduzir os efeitos do estresse térmico no desempenho físico. Métodos: Realizou-se uma revisão narrativa com base em estudos entre 2019 e 2024, selecionando artigos relevantes sobre estratégias de mitigação do estresse térmico em diferentes modalidades e faixas etárias. As buscas foram realizadas nas bases de dados PubMed e Google Acadêmico, sem restrição de idioma ou linguagem Resultados: Foram incluídos 18 estudos: 50% confirmaram eficácia da aclimatação, 33% destacaram a hidratação, 22% evidenciaram estratégias de resfriamento, 22% tecnologias promissoras e 28% relataram prejuízos do calor ao desempenho. A aclimatação ao calor melhora a sudorese, reduz a frequência cardíaca e eleva a tolerância térmica. Conclusão: A combinação de aclimatação, hidratação, resfriamento e tecnologia é eficaz na mitigação do estresse térmico, entretanto mais pesquisas são necessárias para diretrizes específicas e intervenções individualizadas.

    Unitermos: Desempenho esportivo. Estresse térmico. Termorregulação.

 

Abstract

    Introduction: The rise in global temperatures poses challenges to athletic performance in hot climates, requiring efficient thermoregulation. During exercise, heat dissipation occurs through conduction, convection, radiation, and evaporation. However, factors such as high humidity and advanced age may compromise these mechanisms. Strategies such as heat acclimation, hydration, and cooling therefore become essential, particularly for middle-aged individuals. Objective: To critically review thermoregulatory mechanisms and strategies used to mitigate the effects of heat stress on physical performance. Methods: A narrative review was conducted based on studies published between 2019 and 2024, selecting relevant articles addressing strategies for mitigating heat stress across different sports and age groups. Searches were carried out in the PubMed and Google Scholar databases, without language restrictions. Results: A total of 18 studies were included: 50% confirmed the effectiveness of heat acclimation, 33% highlighted hydration, 22% demonstrated cooling strategies, 22% reported promising technologies, and 28% described impairments caused by heat on performance. Heat acclimation improves sweating efficiency, reduces heart rate, and enhances thermal tolerance. Conclusion: The combination of acclimation, hydration, cooling, and technology is effective in mitigating heat stress; however, further research is needed to establish specific guidelines and individualized interventions.

    Keywords: Heat stress. Sports performance. Thermoregulation.

 

Resumen

    Introducción: El aumento de las temperaturas globales plantea desafíos para el rendimiento deportivo en climas cálidos, lo que requiere una termorregulación eficiente. Durante el ejercicio, la disipación de calor se produce por conducción, convección, radiación y evaporación. Sin embargo, factores como la alta humedad y la edad avanzada pueden comprometer estos mecanismos. Estrategias como la aclimatación al calor, la hidratación y el enfriamiento se vuelven esenciales, especialmente para personas de mediana edad. Objetivo: Revisar críticamente los mecanismos y estrategias de termorregulación utilizados para reducir los efectos del estrés térmico en el rendimiento físico. Métodos: Se realizó una revisión narrativa basada en estudios publicados entre 2019 y 2024, seleccionando artículos relevantes sobre estrategias de mitigación del estrés térmico en diferentes deportes y grupos de edad. Se realizaron búsquedas en las bases de datos PubMed y Google Scholar, sin restricciones de idioma. Resultados: Se incluyeron dieciocho estudios: el 50% confirmó la eficacia de la aclimatación, el 33% destacó la hidratación, el 22% destacó las estrategias de enfriamiento, el 22% demostró tecnologías prometedoras y el 28% informó sobre el impacto del calor en el rendimiento. La aclimatación al calor mejora la sudoración, reduce la frecuencia cardíaca y aumenta la tolerancia térmica. Conclusión: La combinación de aclimatación, hidratación, enfriamiento y tecnología es eficaz para mitigar el estrés térmico; sin embargo, se necesita más investigación para desarrollar pautas específicas e intervenciones individualizadas.

    Palabras clave: Rendimiento deportivo. Estrés térmico. Termorregulación.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 331, Dic. (2025)


 

Introdução 

 

    Nos últimos anos, o aumento das temperaturas globais tem se tornado um fator de preocupação em diversas áreas, incluindo a prática de atividades físicas ao ar livre. O aquecimento global tem contribuído para a elevação das temperaturas médias, impactando diretamente atletas e praticantes de atividades esportivas que se exercitam em ambientes externos sob condições de calor intenso. Estudos demonstram que eventos esportivos realizados em climas quentes, como os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, impõem desafios significativos ao desempenho dos atletas e aumentam o risco de estresse térmico. (Hanna, e Tait, 2015; De Korte et al., 2021)

 

    A termorregulação é um mecanismo fisiológico fundamental para a manutenção da homeostase térmica durante o exercício. Durante a prática de atividades físicas, a produção de calor metabólico aumenta significativamente, exigindo uma resposta eficiente do organismo para dissipação térmica, principalmente por meio da sudorese e do aumento do fluxo sanguíneo cutâneo (Ball, 2020). No entanto, fatores ambientais, como temperatura e umidade elevadas, podem comprometer esses mecanismos, dificultando a dissipação do calor corporal e levando a um aumento progressivo da temperatura central do corpo. (Vanos, e Grundstein, 2020; Andrade et al., 2023)

 

    A falha na dissipação térmica pode resultar em hipertermia, um quadro caracterizado pelo aumento excessivo da temperatura corporal, levando a sintomas como fadiga precoce, tontura, desidratação e até mesmo condições mais graves, como exaustão térmica e insolação (Racinais et al., 2015; Périard et al., 2021). O comprometimento do desempenho atlético em decorrência da hipertermia já foi amplamente documentado na literatura, sendo observado que a elevação da temperatura corporal pode reduzir a capacidade aeróbia, comprometer a função neuromuscular e afetar negativamente a tomada de decisões durante a prática esportiva. (Frantz, Velasco, e Amaral, 2020; Dambroz, Teoldo, e Prímola, 2021; Chaâri, e Frikha, 2022)

 

    Para mitigar os efeitos adversos do estresse térmico durante o exercício, diversas estratégias têm sido propostas, incluindo aclimatação ao calor, hidratação adequada, utilização de roupas térmicas específicas e estratégias de resfriamento corporal antes, durante e após o exercício (De Korte et al., 2021). A adoção dessas medidas pode contribuir significativamente para a manutenção do desempenho esportivo e para a prevenção de complicações relacionadas à exposição ao calor intenso. No entanto, é necessário investigar se essas estratégias são igualmente eficazes para diferentes faixas etárias, especialmente para indivíduos de meia-idade (40-59 anos), que podem apresentar alterações fisiológicas que influenciam na termorregulação. (Coull et al., 2020; Wu et al., 2022; Jung et al., 2023)

 

    Diante disso o presente estudo tem o objetivo de revisar criticamente os mecanismos de termorregulação e as estratégias utilizadas para reduzir os efeitos do estresse térmico no desempenho físico.

 

Metodologia 

 

    Este estudo caracteriza-se como uma revisão narrativa, escolhida por possibilitar a análise crítica, interpretativa e integrativa de evidências recentes sobre termorregulação e estratégias de mitigação do estresse térmico no exercício.

 

    As buscas foram realizadas em duas bases de dados eletrônicas: PubMed e Google Acadêmico, durante o período compreendido entre janeiro e fevereiro de 2025, contemplando artigos publicados entre 2019 e 2024. Para a pesquisa, foram utilizados os seguintes termos e descritores, combinados por operadores booleanos (AND, OR, NOT): thermoregulation, heat stress, exercise performance, hydration strategies, cooling strategies, heat acclimation, middle-aged athletes.

 

    Não houve restrição quanto ao idioma das publicações. Foram considerados elegíveis estudos que atenderam aos seguintes critérios: (i) amostra composta por seres humanos fisicamente ativos ou atletas; (ii) investigações envolvendo estratégias de mitigação do estresse térmico; (iii) estudos originais ou revisões relevantes publicadas no período delimitado. Foram excluídos artigos que envolviam modelos animais, revisões sem relação direta com termorregulação e publicações fora do recorte temporal definido.

 

    O processo de extração dos dados contemplou informações sobre a população avaliada, modalidade esportiva, estratégias de mitigação do estresse térmico (aclimatação, hidratação, resfriamento, tecnologias/vestimentas) e os principais achados relacionados ao desempenho físico e às respostas fisiológicas.

 

    No total, 18 estudos atenderam aos critérios de inclusão e foram analisados qualitativamente nesta revisão.

 

Resultados e discussão 

 

    Foram identificados 18 estudos que atenderam aos critérios de inclusão desta revisão narrativa. A análise revelou que 50% dos artigos comprovaram que a aclimatação ao calor melhora a eficiência da sudorese, reduz a frequência cardíaca e aumenta a tolerância térmica. Outros 33% reforçaram a importância da hidratação adequada como fator essencial para a homeostase térmica. Estratégias de resfriamento, como imersão em água fria e ingestão de líquidos gelados, foram eficazes em 22% dos estudos. Além disso, 22% destacaram o papel das tecnologias e vestimentas específicas como recursos promissores, enquanto 28% evidenciaram os impactos negativos do calor sobre o desempenho neuromuscular e cardiovascular.

 

Figura 1. Fluxograma do processo de identificação, triagem e inclusão dos estudos na revisão narrativa (PubMed + Google Acadêmico; N inicial = 65; estudos finais incluídos = 18). Mecanismos Fisiológicos da Termorregulação Durante o Exercício

Figura 1. Fluxograma do processo de identificação, triagem e inclusão dos estudos na revisão narrativa (PubMed + Google Acadêmico; N inicial = 65; estudos finais incluídos = 18). Mecanismos Fisiológicos da Termorregulação Durante o Exercício

Fonte: Dados de pesquisa

 

    A termorregulação é um processo essencial para manter a homeostase térmica durante o exercício. O equilíbrio entre a produção de calor metabólico e sua dissipação é mediado por quatro mecanismos principais: condução, convecção, radiação e evaporação (Périard et al., 2021). A sudorese é o meio mais eficiente para dissipação de calor, especialmente em ambientes quentes e secos, pois a evaporação do suor da pele promove resfriamento (Ball, 2020). Cada um desses mecanismos atua de maneira diferente dependendo das condições ambientais e do tipo de exercício.

  • Condução: Transferência de calor pelo contato direto com superfícies. Por exemplo, nadadores dissipam calor por condução quando imersos em água fria, enquanto ciclistas podem ganhar calor pelo contato com superfícies metálicas quentes, como guidão e quadro da bicicleta. (Périard et al., 2021)

  • Convecção: O calor é removido do corpo pelo movimento do ar ou da água. Corredores se beneficiam da dissipação térmica quando correm contra o vento, mas em ambientes sem ventilação, como academias, a eficiência desse mecanismo é reduzida. (Wickham et al., 2021)

  • Radiação: O calor é emitido na forma de ondas infravermelhas para o ambiente. Durante a noite, a radiação pode ser um mecanismo eficiente para perda de calor, enquanto atletas expostos ao sol sofrem com a absorção de calor radiante, o que pode aumentar a carga térmica corporal. (Dolson et al., 2022)

  • Evaporação: A evaporação do suor na superfície da pele é o mecanismo mais eficaz em ambientes quentes e secos. Em climas úmidos, no entanto, esse processo é prejudicado devido à saturação do ar com vapor de água, reduzindo a eficiência do resfriamento corporal. (Prímola et al., 2024)

    A influência do ambiente nesses mecanismos pode ser observada em diferentes esportes. Por exemplo, maratonistas dependem da evaporação para manter sua temperatura estável, enquanto nadadores enfrentam dificuldades em dissipar calor devido à menor eficácia da evaporação na água. Além disso, a escolha de vestimentas adequadas pode influenciar significativamente esses mecanismos, reduzindo a absorção de calor radiante e melhorando a dissipação térmica através da convecção. (Hermand, Chabert, e Hue, 2019; Gasparretto, e Nesseler, 2020)

 

    Estudos indicam que indivíduos de meia-idade apresentam uma menor eficiência da termorregulação devido à redução da sensibilidade das glândulas sudoríparas e menor redistribuição do fluxo sanguíneo cutâneo (Andrade et al., 2023). Isso pode comprometer a dissipação térmica e aumentar o risco de hipertermia, especialmente em condições de calor extremo.

 

Tabela 1. Comparação dos mecanismos de dissipação térmica em diferentes condições ambientais e esportes

Mecanismo

Eficiência em ambiente seco/quente

Eficiência em ambiente úmido/quente

Esportes onde é mais relevante

Condução

Baixa

Moderada (contato com água fria pode dissipar calor)

Natação, lutas, esportes de neve

Convecção

Alta (vento favorece a dissipação térmica)

Baixa (ar quente e úmido não favorece troca térmica)

Ciclismo, corrida ao ar livre

Radiação

Alta (perda térmica à noite)

Baixa (radiação solar pode aumentar o ganho de calor)

Esportes ao ar livre (corrida, futebol, tênis)

Evaporação

Alta (suor evapora rapidamente)

Baixa (ar saturado reduz eficiência da evaporação)

Maratonas, triatlos, futebol

Fonte: Autores

 

    A relação entre os mecanismos de dissipação térmica e as estratégias de mitigação do estresse térmico deve ser levada em conta para otimizar o desempenho e a segurança dos atletas. Métodos como a aclimatação ao calor, a escolha de vestimentas tecnológicas e o uso de sensores vestíveis podem auxiliar na adaptação do corpo ao estresse térmico e melhorar a eficiência dos processos termorregulatórios. (Racinais et al., 2015)

 

Estratégias de mitigação do estresse térmico 

 

    Para reduzir os efeitos negativos do estresse térmico, algumas estratégias são amplamente estudadas: Aclimatação ao calor é uma estratégia eficiente para minimizar a queda de desempenho em ambientes quentes, promovendo adaptações fisiológicas que melhoram a eficiência da sudorese, reduzem a frequência cardíaca e aumentam a resistência térmica (De Korte et al., 2021). Essas adaptações ocorrem a partir do quinto dia de exposição ao calor e se consolidam em cerca de duas semanas, resultando em melhorias na função cardiovascular e na dissipação de calor, além de reduzir a perda de sódio pela transpiração. No entanto, a aclimatação ao calor não restaura completamente o desempenho de resistência ao nível alcançado em condições temperadas. Indivíduos treinados apresentam maior tolerância ao calor devido a respostas fisiológicas mais eficientes, enquanto adultos mais velhos podem ser mais suscetíveis a lesões renais induzidas pelo estresse térmico. (Chapman et al., 2020)

 

    Quando a aclimatação natural ao ambiente da competição não é viável, o uso de câmaras ambientais simulando altas temperaturas pode ser uma alternativa eficaz, como demonstrado por estudos que indicam melhora da resposta cardiovascular e conforto térmico em atletas expostos a sessões controladas de treinamento em calor extremo. (Hermand, Chabert, e Hue, 2019)

  • Hidratação: A manutenção da hidratação adequada é essencial para regular a temperatura corporal e evitar a exaustão térmica (Périard et al., 2021). A desidratação compromete a dissipação de calor e pode levar a uma elevação da temperatura corporal, pois existem diferenças baseadas no sexo na tensão termorregulatória e cardíaca associada à desidratação induzida por exercício. (Lopez et al., 2021; Wickham et al., 2021)

  • Resfriamento: Estratégias como imersão em água fria, ingestão de bebidas geladas e o uso de coletes resfriados demonstram reduzir significativamente a temperatura corporal durante o exercício. (McCubbin et al., 2020; Tavares et al., 2020)

  • Vestimentas adequadas: O uso de tecidos tecnológicos que favorecem a evaporação do suor pode melhorar a dissipação térmica e reduzir o impacto do calor sobre o desempenho (Maunder et al., 2021; Lucia et al., 2024). A tecnologia de sensores vestíveis tem se mostrado uma alternativa promissora para a previsão da temperatura corporal central, permitindo monitoramento contínuo e intervenções precoces na prevenção de doenças relacionadas ao calor. A integração de algoritmos preditivos baseados em machine learning aumenta a precisão dessas estimativas, possibilitando um melhor gerenciamento da carga térmica em atletas, militares e trabalhadores expostos ao calor extremo. (Dolson et al., 2022)

    A literatura reforça que a hidratação adequada é essencial para a manutenção da homeostase térmica, especialmente em esportes de resistência. Estratégias como imersão em água fria e ingestão de líquidos gelados demonstram reduzir a temperatura corporal e melhorar o desempenho, enquanto o uso de vestimentas tecnológicas e sensores vestíveis surge como recurso promissor para o monitoramento térmico. (Périard et al., 2021; Lopez et al., 2021; Wickham et al., 2021; Dolson et al., 2022; Lucia et al., 2024)

 

Lacunas na literatura e direções futuras 

 

    Apesar dos avanços nas pesquisas sobre termorregulação e desempenho esportivo, ainda existem lacunas que precisam ser exploradas: impacto da idade na termorregulação. Estudos indicam que a capacidade de dissipação térmica diminui com o envelhecimento, mas há poucas pesquisas focadas em indivíduos de meia-idade. Diferenças entre sexos: Mulheres e homens apresentam respostas fisiológicas diferentes ao calor, o que pode exigir abordagens distintas de aclimatação e resfriamento. Esportes indoor vs. outdoor: estratégias específicas para diferentes tipos de prática esportiva ainda precisam ser melhor investigadas para otimizar a segurança e o desempenho dos praticantes.

 

    Dessa forma, futuras pesquisas devem aprofundar a compreensão sobre essas variáveis para fornecer diretrizes mais específicas para atletas e praticantes de atividade física, especialmente aqueles de meia-idade que enfrentam desafios termorregulatórios distintos.

 

Conclusões anteriores 

 

    Estudos prévios demonstram de forma consistente que a exposição ao calor impõe desafios significativos à termorregulação e ao desempenho físico, especialmente em esportes de resistência realizados em ambientes externos. Segundo Périard et al. (2021), a aclimatação ao calor promove adaptações fisiológicas importantes, como aumento da taxa de sudorese e redução da frequência cardíaca, favorecendo a tolerância térmica e o desempenho atlético.

 

    A hidratação adequada é outro fator amplamente reconhecido como essencial para a manutenção da homeostase térmica. Desidratação leve a moderada pode prejudicar a dissipação de calor, aumentar a temperatura corporal central e reduzir o rendimento físico, como demonstrado por Wickham et al. (2021) e McCubbin et al. (2020). Já as estratégias de resfriamento, como a imersão em água fria e o uso de coletes refrigerados, são eficazes na redução da carga térmica e na prevenção de hipertermia, segundo Tavares et al. (2020) e De Korte et al. (2021).

 

    Além disso, a integração de tecnologias vestíveis e tecidos inteligentes aparece como tendência emergente, permitindo monitoramento contínuo da temperatura corporal e ajustes em tempo real nas estratégias de mitigação térmica (Dolson et al., 2022). No entanto, lacunas ainda permanecem quanto à eficácia dessas estratégias em grupos específicos, como atletas de meia-idade, apontando a necessidade de estudos mais personalizados.

 

Limitações desse estudo 

 

    Este estudo apresenta algumas limitações que devem ser consideradas na interpretação dos resultados. Primeiramente, por se tratar de uma revisão narrativa, não foram seguidos protocolos sistemáticos, como o PRISMA, o que pode aumentar o risco de viés de seleção e interpretação. Além disso, a busca foi restrita às bases PubMed e Google Acadêmico, o que pode ter resultado na exclusão de estudos relevantes disponíveis em outras plataformas, como Scopus e Web of Science. Outro aspecto a ser considerado é o período de busca reduzido (2019-2024), que limitou a análise de evidências anteriores que poderiam complementar a discussão.

 

    A heterogeneidade dos estudos incluídos, envolvendo diferentes modalidades esportivas, populações (atletas de elite, recreativos e distintas faixas etárias) e delineamentos metodológicos, também dificultou comparações diretas e a generalização dos resultados. Ademais, por se tratar de uma revisão narrativa, não foi realizada meta-análise, impossibilitando a quantificação do efeito combinado das estratégias analisadas.

 

    Por fim, ainda que este estudo tenha buscado discutir a eficácia das estratégias de termorregulação em diferentes idades, a escassez de pesquisas específicas sobre indivíduos de meia-idade (40-59 anos) reduz a aplicabilidade direta dos achados para esse grupo populacional. Essas limitações reforçam a necessidade de futuras investigações com metodologias sistemáticas, amostras direcionadas a esse público e maior padronização dos protocolos experimentais.

 

Conclusão 

 

    Estratégias como aclimatação ao calor, hidratação, resfriamento e tecnologias avançadas são eficazes na mitigação dos efeitos do estresse térmico. No entanto, há necessidade de mais pesquisas para otimizar diretrizes específicas para diferentes grupos populacionais e esportes. A individualização das intervenções e o avanço na tecnologia de monitoramento térmico podem aprimorar a segurança e o desempenho dos atletas expostos a condições ambientais adversas.

 

Referências 

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 331, Dic. (2025)