ISSN 1514-3465
Relação entre ansiedade pré-competitiva, idade
e experiência em atletas de nado artístico
Relationship between Pre-Competitive Anxiety,
Age and Experience in artistic Swimming Athletes
Relación entre la ansiedad precompetitiva, la edad
y la experiencia en deportistas de natación artística
Loane Ady Chiaretto Tigrinho
*loanetig@gmail.com
Juliana Pazini
**pazini.juli@gmail.com
Karini Borges dos Santos
***karinisantos@utfpr.edu.br
*Graduada em Educação Física
pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Atualmente é atleta de nado artístico do Santa Mônica Clube de Campo
**Graduada e mestranda em Educação Física
pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)
***Graduada em Educação Física (Licenciatura e Bacharelado)
pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Especialista em Atividades Aquáticas
Mestrado e Doutorado em Esporte e Exercício pela UFPR
com período de intercambio
na Manchester Metropolitan University (UK)
Professora adjunta da UTFPR
credenciada no Programa de Pós-Graduação em Educação Física
na mesma instituição com principal temática de pesquisa
na área de Atividades Aquáticas
(Brasil)
Recepción: 18/04/2025 - Aceptación: 08/09/2025
1ª Revisión: 14/08/2025 - 2ª Revisión: 05/09/2025
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
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Este trabalho está sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0) https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt |
Cita sugerida
: Tigrinho, L.A.C., Pazini, J., e Santos, K.B. dos (2025). Relação entre ansiedade pré-competitiva, idade e experiência em atletas de nado artístico. Lecturas: Educación Física y Deportes, 30(330), 129-142. https://doi.org/10.46642/efd.v30i330.8353
Resumo
Introdução: O nado artístico é um esporte aquático que combina habilidades de natação com elementos de dança e ginástica, sendo assim, uma modalidade desafiadora e artisticamente exigente. Em função disso, muitos atletas sofrem de ansiedade no momento que antecede a sua prova, conhecida como ansiedade pré-competitiva. Objetivo: Analisar o nível de ansiedade pré competitiva em atletas do nado artístico. Metodologia: Participaram da pesquisa 26 atletas de nado artístico de ambos os sexos (17 ± 4,92 anos e experiência competitiva de 7 ± 5,17 anos). Para a mensuração do nível de ansiedade, foi aplicado o questionário Competitive State Anxiety Inventory, traduzido e validado para o português, instantes antes da participação em um campeonato Paranaense (outubro de 2023) ou no Campeonato Brasileiro (junho de 2024). O instrumento é composto por 16 questões, com respostas que variam de 1 a 4, e janela de retorno para a ansiedade cognitiva e autoconfiança de 5 a 20, e de 6 a 24 para a ansiedade somática. Resultados: A média da pontuação para ansiedade cognitiva foi de 14,08 (±3,58); ansiedade somática 14,81 (±4,56); e autoconfiança 13,31 (±3,32). Assim, os resultados demonstram que os atletas reportaram níveis um pouco acima da média para ansiedade cognitiva e autoconfiança, e próximos da média para a ansiedade somática. Conclusão: O conhecimento dessas informações é essencial como subsídio para a promoção de estratégias a fim de gerir a ansiedade cognitiva e somática, bem como para fomentar níveis ideais de autoconfiança para a otimização do desempenho no nado artístico.
Unitermos
: Ansiedade. Atleta. Esporte aquático. Desempenho esportivo.
Abstract
Introduction: Artistic swimming is an aquatic sport that combines swimming skills with elements of dance and gymnastics, making it a challenging artistically demanding sport. As a result, many athletes suffer from anxiety in the moments leading up to their competition, known as pre-competitive anxiety. Objective: To analyze the level of pre-competitive anxiety in artistic swimming competitions. Methods: Twenty-six artistic swimming athletes of both sexes (17 ± 4.92 years old and 7 ± 5.17 years of competitive experience) participated in the study. To measure the level of anxiety, the Competitive State Anxiety Inventory questionnaire, translated and validated into Portuguese, was applied just before participating in a Paraná championship (October 2023) or the Brazilian Championship (June 2024). The instrument consists of 16 questions, with answers ranging from 1 to 4 and a return window for cognitive anxiety and self-confidence of 5 to 20, and 6 to 24 for somatic anxiety. Results: The mean score for cognitive anxiety was 14.08 (±3.58); somatic anxiety 14.81 (±4.56) and self-confidence 13.31 (±3.32). Thus, the results demonstrate that the athletes reported levels slightly above average for cognitive anxiety and self-confidence and close to average for somatic anxiety. Conclusion: Knowledge of this information is essential as a subsidy in the promotion of strategies to manage cognitive and somatic anxiety, as well as the promotion of ideal levels of self-confidence to optimize the performance of the artistic swim.
Keywords
: Anxiety. Athlete. Water sports. Sports performance.
Resumen
Introducción: La natación artística es un deporte acuático que combina habilidades de natación con elementos de danza y gimnasia, lo que la convierte en un deporte desafiante y artísticamente exigente. Como resultado, muchos atletas sufren de ansiedad en el período previo a su competencia, conocida como ansiedad precompetitiva. Objetivo: Analizar el nivel de ansiedad precompetitiva en atletas de natación artística. Metodología: Veintiséis atletas de natación artística de ambos sexos (17 ± 4,92 años y 7 ± 5,17 años de experiencia competitiva) participaron en el estudio. Para medir los niveles de ansiedad, se administró el cuestionario Competitive State Anxiety Inventory, traducido y validado al portugués, justo antes de participar en un Campeonato Estatal de Paraná (octubre de 2023) o un Campeonato Brasileño (junio de 2024). El instrumento consta de 16 preguntas, con respuestas que van del 1 al 4, y una ventana de respuesta de 5 a 20 para la ansiedad cognitiva y la autoconfianza, y de 6 a 24 para la ansiedad somática. Resultados: La puntuación media de ansiedad cognitiva fue de 14,08 (±3,58); ansiedad somática, de 14,81 (±4,56); y autoconfianza, de 13,31 (±3,32). Por lo tanto, los resultados demuestran que los atletas reportaron niveles ligeramente superiores a la media de ansiedad cognitiva y autoconfianza, y cercanos a la media de ansiedad somática. Conclusión: El conocimiento de esta información es esencial para apoyar la promoción de estrategias de manejo de la ansiedad cognitiva y somática, así como para fomentar niveles óptimos de autoconfianza para optimizar el rendimiento en natación artística.
Palabras clave
: Ansiedad. Deportista. Deporte acuático. Rendimiento deportivo.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 330, Nov. (2025)
Introdução
O nado artístico caracteriza-se como uma modalidade de elevada exigência, a qual garante a qualidade e a sincronização dos movimentos, a fluidez na composição das figuras e a representação de ideias, imagens ou expressões. Para atender tais demandas, os atletas precisam submeter-se a intensas cargas de treinamento e demonstrar domínio pleno do meio aquático, o que pressupõe habilidades de natação, controle respiratório, ritmo e desenvolvimento das capacidades físicas de coordenação, resistência e força muscular. Esse conjunto de competências torna-se essencial para a apresentação de coreografias sincronizadas na água, compostas por movimentos complexos em consonância com o acompanhamento musical. (Laski et al., 2024)
Todavia, a precisão na execução dos movimentos pode ser influenciada por uma série de variáveis psicológicas. Assim, o nível de exigência da prática esportiva pode criar elevados níveis de ansiedade em muitos atletas, quer no desporto de iniciação, quer no alto rendimento. De fato, se para alguns, um campeonato é uma atividade agradável e desafiadora, para outros pode constituir uma situação ameaçadora e de pânico (Ford et al., 2017). No entanto, é notável a falta de pesquisas dedicadas a esta modalidade esportiva, revelando uma lacuna no conhecimento sobre como esses fatores psicológicos afetam o desempenho dos atletas. (Santos et al., 2013).
Segundo a American Psychiatric Association (2022), a ansiedade é uma reação emocional provocada pela percepção de um agente estressor, podendo este ser perigoso, potencialmente nocivo ou frustrante. A ansiedade desempenha um papel fundamental ao preparar o indivíduo para situações de ameaça e perigo. Juntamente com o medo, ambos envolvem diversos aspectos cognitivos, comportamentais, emocionais, fisiológicos e neurológicos, que influenciam a percepção do ambiente e desencadeiam respostas específicas (Desousa et al., 2013). Se o atleta identifica a ansiedade como um desafio a ser superado ou como uma meta a ser alcançada, ela pode se tornar um elemento facilitador para seu rendimento. No entanto, se a interpreta de forma negativa, isso pode resultar em sintomas de medo, nervosismo, insegurança e preocupação frente à competição, e esses sentimentos podem atuar como fatores prejudiciais para o desempenho do atleta e seus resultados. (Kaplánová, 2024)
Antes da competição, é mencionado que o atleta experimenta um estado de elevada carga emocional, conhecido como “estado pré-competitivo” (Ren et al., 2022). Esse estado se caracteriza pela antecipação das oportunidades, dos riscos e das consequências do jogo ou da competição. Nesta fase, surgem não apenas medos e tremores que se manifestam nos processos cognitivos, mas também podem desencadear respostas vegetativas, motoras e emocionais (Zhao et al., 2024). Diversos fatores contribuem para o aumento dos níveis de ansiedade em situações pré-competitivas, tais como o medo do fracasso, o medo do sucesso, a preocupação com o seu desempenho, as pressões sociais e até mesmo o sarcasmo por parte dos familiares (Kaplánová, 2024). Assim, a maioria dos atletas pode alterar fisiologicamente seu comportamento ao se deparar com uma situação competitiva (Fu et al., 2024; Zhang et al., 2025). De acordo com Beenen (2025), acredita-se que o grau de ansiedade é relativamente variável, podendo aumentar ou diminuir numa competição de acordo com a exigência da tarefa a que o indivíduo está sujeito.
Martens et al. (1990) desenvolveram a teoria multidimensional do estado de ansiedade, como um meio de explicar as formas independentes de influência da ansiedade somática, ansiedade cognitiva e autoconfiança no desempenho esportivo. A ansiedade cognitiva refere-se ao desenvolvimento de expectativas negativas em relação ao desempenho, ao passo que a ansiedade somática diz respeito a alterações fisiológicas manifestadas pelo aumento da frequência cardíaca, sudorese, dilatação da pupila e entre outros. A autoconfiança, por sua vez, é definida como o oposto do estado de ansiedade cognitiva, a qual represente a convicção do indivíduo em suas próprias habilidades para alcançar um desempenho positivo. (Paludo, 2016)
Atletas mais experientes tendem a interpretar os sinais de ansiedade e autoconfiança como fatores que facilitam o desempenho, enquanto atletas menos experientes tendem a interpretar esses sinais como obstáculos que dificultam o desempenho (Fernandes et al., 2014). Embora exista um estudo anterior que relacionou a ansiedade de traço pré-competitiva e o nado artístico (Santos et al., 2013), há escassez de estudos que avaliem a ansiedade e o nado artístico na área da psicologia esportiva no que diz respeito a idade e o tempo de prática esportiva. Desta forma, este estudo objetiva verificar o nível de ansiedade pré-competitiva em atletas da modalidade nado artístico e relacioná-lo com a idade e tempo de experiência dos atletas.
Metodologia
Participantes
Participaram deste estudo 26 atletas de nado artístico do sexo feminino e masculino, com idade entre 9 e 26 anos, que competiram no Campeonato Paranaense de Nado Artístico (outubro de 2023) ou no Campeonato Brasileiro Júnior e Sênior de Nado Artístico (junho de 2024). Os critérios de inclusão estabelecidos foram: idade igual ou superior a 9 anos; praticante de nado artístico há pelo menos 1 ano; experiência competitiva em um Campeonato Brasileiro; enquanto os critérios de exclusão compreenderam a entrega de questionários inconclusivos.
Após a seleção dos participantes, Termo de Consentimento foi entregue aos maiores de idade e aos pais ou responsáveis dos atletas menores de idade, os quais foram orientados sobre a pesquisa e a assinatura. Adicionalmente, os menores assinaram o termo de assentimento.
Instrumentos e procedimento
Instrumentos
Para mensurar a ansiedade pré-competitiva foi aplicado o Inventário de Estado de Ansiedade Competitiva Revisado (Revised Competitive State Anxiety Inventory - 2 [CSAI - 2R]), desenvolvido por Fernandes et al. (2003), com 16 itens, como forma reduzida do questionário original Competitive State Anxiety Inventory (CSAI-2), com 27 itens, proposto por Martens, Vealey, e Burton (1990). O CSAI-2R foi validado para a língua portuguesa por Nascimento et al. (2012), os quais incluíram a adição das dimensões de respostas de direção e de frequência. Ademais, o instrumento foi validado também com atletas pré-adolescentes e indicou compreensão dos itens e confiabilidade nas respostas. (Reid, e DeBeliso, 2019)
O questionário possui 16 itens, sendo 1, 4, 6, 8 e 12 relacionados à ansiedade cognitiva; 2, 5, 9, 11, 13 e 15 à ansiedade somática; e 3, 7, 10, 14 e 16 à autoconfiança. Cada item é composto por opções de resposta que variam de 1 a 4, com janela de retorno para a ansiedade cognitiva e autoconfiança de 5 a 20, e de 6 a 24 para a ansiedade somática.
Procedimentos
A coleta dos dados foi realizada nos dois dias do Campeonato Paranaense de Nado Artístico (outubro/2023) e nos cinco dias do Campeonato Brasileiro Júnior e Sênior de Nado Artístico (junho/2024). O questionário foi aplicado 15 minutos antes de os atletas competirem e foi realizado uma única vez.
Análise de dados
A normalidade dos dados foi confirmada pelo teste de Shapiro-Wilk. O coeficiente de correlação de Pearson foi calculado para verificar a relação entre as variáveis examinadas, com nível de significância estatística estabelecido em p < 0,05. Para a análise de correlação dos resultados, foram adotados os seguintes valores: correlação fraca, r < 0,3; moderada, r ≥ 0,3 e ≤ 0,7; e forte, > 0,7 (Rumsey, 2016). O nível de significância adotado para todos os procedimentos estatísticos foi de 0,05. O software Statistica, versão 7, foi utilizado.
Resultados
Participaram da amostra 26 atletas de nado artístico, sendo 3 meninos e 23 meninas, com média de idade de 17 anos (± 4,92). As características da amostra são apresentadas na Tabela 1. A pontuação das subescalas do questionário é obtida pela somatória das respostas, variando de 5 a 20 para a ansiedade cognitiva e de 6 a 24 para a ansiedade somática e a autoconfiança. A Tabela 2 apresenta os valores médios gerais, assim como os valores máximos e mínimos obtidos pelos atletas.
Tabela 1. Média e desvio padrão da idade, estatura, peso e experiência competitiva
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Média |
Desvio padrão |
|
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Idade (anos) |
17,04 |
4,92 |
|
Estatura (m) |
1,61 |
0,1 |
|
Peso (kg) |
55,08 |
11,69 |
|
Experiência competitiva (anos) |
7,36 |
5,17 |
Fonte: Elaboração própria
Tabela 2. Média, desvio padrão, máximo e mínimo da ansiedade cognitiva, somática e autoconfiança
|
Média |
Desvio padrão |
Máximo |
Mínimo |
|
|
Ansiedade cognitiva |
14,08 |
3,58 |
19 |
7 |
|
Ansiedade somática |
14,81 |
4,56 |
22 |
7 |
|
Autoconfiança |
13,31 |
3,32 |
20 |
8 |
Fonte: Elaboração própria
A Figura 1 dispõe as relações entre idade versus ansiedade cognitiva e entre idade e ansiedade somática. Ambas foram inversas (quanto maior a idade, menor a ansiedade), porém não significativas (r = -0,2 e r = -0,31, respectivamente; p > 0,05), ou seja, não podemos afirmar que existe relação entre essas variáveis. Por outro lado, houve uma correlação moderada entre idade e autoconfiança (r = 0,39; p < 0,05; r2 = 0,15), ou seja, quanto maior a idade, maior a autoconfiança.
Figura 1. Correlação idade e ansiedade (cognitiva, somática e autoconfiança)
Fonte: Elaboração própria
A experiência competitiva demonstrou correlação inversa, moderada, porém não significativa com a ansiedade cognitiva, isto é, quanto maior a experiência competitiva, menor a ansiedade cognitiva (r = 0,38; p > 0,05; r2 = 0,14). O mesmo ocorre na relação entre os anos de experiência e a ansiedade somática, com o acréscimo de que, neste caso, a correlação foi significativa (r = -0,51; p < 0,05; r2 = 0,26). Adicionalmente, a correlação entre a experiência competitiva e a autoconfiança foi de r = 0,36 (r2 = 0,13), o que indica uma relação direta, moderada, porém não significativa (p > 0,05). A Figura 2 apresenta tais relações.
Figura 2. Correlação experiência competitiva e ansiedade (cognitiva, somática e autoconfiança)
Fonte: Elaboração própria
Discussão
O objetivo desse estudo foi verificar o nível de ansiedade pré-competitiva em atletas da modalidade nado artístico e como este se relaciona com a idade e o tempo de experiência dos atletas. Os resultados apresentados na Tabela 1, indicaram uma média de ansiedade cognitiva de 14,08 (± 3,58), de ansiedade somática de 14,81 (± 4,56) e autoconfiança de 13,31 (± 3,32). As pontuações mínimas e máximas variaram de 7 a 22, dentro de uma janela de respostas de 5 a 20 para ansiedade cognitiva e autoconfiança, e de 6 a 24 para ansiedade somática. Neste sentido, observou-se que a ansiedade cognitiva e a autoconfiança estavam ligeiramente acima da média, enquanto para a ansiedade somática apresentou valores próximos da média.
No estudo de Fortes et al. (2017), foi investigada a influência da ansiedade pré-competitiva sobre a variabilidade da frequência cardíaca (VFC) em nadadores juvenis participantes da prova de 400 metros do Campeonato Brasileiro de Natação. Os resultados indicaram que 36% da VFC esteve associada à ansiedade cognitiva e somática, o que evidencia maior distúrbio no funcionamento do sistema nervoso autônomo. Em consonância, Woodman, e Hardy (2001) realizaram uma revisão sobre ansiedade no esporte e propuseram que a ansiedade cognitiva e a somática afetaram o desempenho de maneira complexa, enquanto a autoconfiança foi considerada como um fator modulador importante.
A autoconfiança acima da média pode ajudar a melhorar o desempenho, mesmo quando a ansiedade cognitiva é elevada. Em consonância com esses achados, Craft et al. (2003) conduziram uma meta-análise sobre a relação entre a ansiedade pré-competitiva e desempenho esportivo, utilizando o instrumento CSAI-2, e encontraram resultados semelhantes ao do presente estudo, ou seja, os atletas avaliados apresentaram autoconfiança levemente acima da média, ansiedade somática próxima da média e ansiedade cognitiva relativamente elevada.
A média de idade dos participantes da pesquisa foi de 17 anos (± 4,92). A influência da idade no desempenho esportivo é um fator relevante, especialmente em modalidades que requerem uma combinação de força, flexibilidade, resistência e coordenação, como o nado artístico. Essas capacidades físicas tendem a se desenvolver durante a adolescência e início da vida adulta, mas também começam a declinar em etapas posteriores da carreira esportiva. (Westerståhl et al., 2018)
Grossbard et al. (2009) analisaram a ansiedade pré-competitiva em jovens atletas e concluíram que os mais jovens tendem a relatar níveis mais elevados de ansiedade, principalmente em termos de preocupação e desconcentração. Os autores destacam que, com o avanço da idade, os atletas geralmente desenvolvem habilidades psicológicas que contribuem para a redução da ansiedade pré-competitiva. No presente estudo, verificou-se que quanto maior a idade, maior a autoconfiança dos atletas (correlação moderada).
A média de experiência competitiva foi de (± 5,17). Liu, e Fu (2024) apontam que a experiência competitiva é um fator essencial para a excelência em esportes complexos, uma vez que atletas experientes tendem a lidar melhor com a pressão das competições. Essa constatação é reforçada por Baker, e Côté (2003), os quais observaram que atletas mais experientes cometem menos erros devido ao repertório técnico acumulado ao longo do tempo.
Diversos estudos indicam que quanto maior a experiência competitiva, menores tendem a ser os níveis de ansiedade (Aliberti et al., 2024; Barreto, 2003; Samulski, 2002). De acordo com Hanton et al. (2008), atletas com elevada experiência competitiva geralmente interpretam seus sintomas de ansiedade e autoconfiança como fatores que favorecem o desempenho, além de apresentarem menor frequência de pensamentos associados à ansiedade. De fato, os resultados desse estudo reforçam a relação inversa (moderada) entre ansiedade e anos de experiência, sugerindo que uma maior vivência em competições contribui para a redução dos níveis de ansiedade. Todos os participantes do estudo já haviam competido anteriormente, o que pode ter influenciado a forma como os participantes interpretaram as exigências da competição, favorecendo para o controle da ansiedade.
Com relação à autoconfiança, observou-se uma tendência de relação moderada com a experiência competitiva, embora sem significância estatística. Segundo Bernardt (2017), atletas que possuem autoconfiança elevada tendem a se sentir mais confortáveis em situações competitivas e conseguem manter o foco em seus objetivos e tarefas, o que contribui para melhores desempenhos.
Compreender a relação entre experiência competitiva, ansiedade e autoconfiança permite que profissionais da área desenvolvam estratégias mais eficazes de apoio psicológico aos atletas. Um nível ótimo de confiança (ou autoconfiança) é essencial para o bom desempenho. Quando a confiança é muito baixa, o atleta pode duvidar de suas habilidades, o que aumenta a incidência de erros e leva a um desempenho abaixo do esperado. Por outro lado, a confiança excessiva pode resultar em negligência, subestimação dos oponentes e preparação inadequada (Weinberg, e Gould, 2016). A partir dos dados obtidos neste estudo, treinadores e equipes técnicas podem criar intervenções personalizadas que promovam um ambiente competitivo saudável, com impactos positivos tanto no desempenho quanto no bem-estar psicológico dos atletas.
Ressalta-se, por fim, que este estudo apresentou como limitação a composição predominantemente feminina da amostra, pois ainda são poucos os homens praticantes do nado artístico no Brasil, o que inviabilizou a análise por sexo. Adicionalmente, a pressão vivenciada pelo atleta conforme o nível do campeonato (estadual e nacional) não foi controlada, o que pode compreender uma variável de confusão na inferência dos resultados, assim como a indisponibilidade de estudos na modalidade para tecer comparações. Por fim, a heterogeneidade do grupo e níveis de correlações verificados (baixo/moderado), sugerem cautela em assumir inferências definitivas. Recomenda-se, em pesquisas futuras, que se investigue a associação entre ansiedade pré-competitiva e o desempenho obtido em competições, com base na pontuação final, a fim de avaliar quantitativamente a influência da ansiedade nos resultados esportivos.
Conclusão
Em conclusão, os atletas reportaram níveis um pouco acima da média de ansiedade cognitiva e autoconfiança, e níveis próximos da média para a ansiedade somática, ao considerar a janela de pontuação do instrumento utilizado. Esses resultados sugerem que os atletas tendem, por um lado, a manifestar preocupações com o seu desempenho e, por outro lado, a demonstrar uma autoconfiança relativamente elevada com suas habilidades. Além disso, foi possível concluir que a autoconfiança aumentou com a idade dos atletas, enquanto a ansiedade somática diminuiu com um maior tempo de experiência esportiva. Tais achados podem ser atribuídos à vivência acumulada em competições, a qual é capaz de promover maior segurança diante das exigências dos campeonatos.
Portanto, os dados reforçam a importância de considerar fatores como idade e experiência no desenvolvimento de intervenções psicológicas voltadas para a melhora do desempenho esportivo. Estratégias para gerir a ansiedade cognitiva e somática, bem como a promoção de níveis ideais de autoconfiança, são essenciais no âmbito do desempenho do nado artístico.
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 330, Nov. (2025)