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ISSN 1514-3465

 

Impactos da pandemia na regularidade da prática de

atividade física entre licenciandos em Educação Física

Impacts of the Pandemic on the Regularity of Physical Activity

among Undergraduate Students in Physical Education

Impactos de la pandemia en la regularidad de la práctica de actividad

física en estudiantes de licenciatura en Educación Física

 

Thalia Miranda Rufino*

thalia.rufino@ufv.br

Maria Luiza da Cruz Santos**

maria.l.cruz@ufv.br

Hellen Sirlea Barbosa Silva***

hellenbarbosa06@hotmail.com

Náyra Cristina Souza Mafra+

nayra.mafra@ufv.br

Ricardo Wagner de Mendonça Trigo++

ricardo.trigo@ufv.br

Osvaldo Costa Moreira+++

osvaldo.moreira@ufv.br

Cláudia Eliza Patrocínio de Oliveira++++

cpatrocinio@ufv.br

 

*Licenciada e Bacharela em Educação Física

pela Universidade Federal de Viçosa (UFV)

Atualmente é mestranda em Educação Física com área de atuação

em Exercício Físico Saúde da Mulher pela mesma instituição

Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisa em Exercício Físico e Saúde da Mulher

Atua como monitora no projeto de extensão em Cross Training

e compõe a comissão organizadora do Grupo de Estudos Cross UFV

Bolsista do Programa de Bolsas de Iniciação à Docência,

do Programa de Residência Pedagógica e monitora

do projeto "Iniciação Multi-esportiva com Bola"

**Licenciada em Educação Física pela UFV - Campus Florestal (2017-2021)

Bacharela em Educação Física pela UFV

Pós Graduada em Treinamento Desportivo

e Educação Física Escolar (Faculdade Iguaçu). Integrante do 

Laboratório de Análise da Morfofisiologia Humana (HUMAN LAB)

Atualmente é Mestranda em Educação Física pela UFV

***Licenciada em Educação Física

foi bolsista do Programa de Bolsas de Iniciação à Docência

e do Programa de Residência Pedagógica

+Graduanda do curso de Medicina pela UFV

Desenvolve atividades de iniciação científica, de forma voluntária,

com foco na saúde da mulher

Integra o Grupo de Estudos e Pesquisa em Exercício Físico

e Saúde da Mulher da mesma instituição.

++Professor Assistente II na UFV - Campus Florestal

Graduado em Educação Física pela UFJF

Especializado em Natação pela PUC-MG

Mestrado em Educação pela UEMG - FUNEDI

+++Professor Associado 1 da UFV - Campus Florestal

Líder do grupo de pesquisa em Estudo do Movimento Humano da UFV

Professor permanente dos programas de pós-graduação em:

Educação Física da Universidade Federal de Viçosa (Mestrado e Doutorado)

e em Educação Física da Universidade Federal de Lavras (Mestrado)

Editor Associado da Revista Brasileira de Futebol

Doutor em Ciências da Atividade Física e Esporte

pelo Instituto de Biomedicina (IBIOMED)

da Universidad de León (León/Espanha)

++++Docente Associada I, do Curso de Educação Física da UFV

Doutor em Ciências da Atividade Física e Esporte

pelo Instituto de Biomedicina (IBIOMED)

da Universidad de León (León/Espanha)

(Brasil)

 

Recepción: 15/04/2024 - Aceptación: 02/06/2025

1ª Revisión: 14/05/2025 - 2ª Revisión: 29/05/2025

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Cita sugerida: Rufino, TM, Santos, MLC, Silva, HSB, Mafra, NCS, Trigo, RWM, Moreira, OC, e Oliveira, CEP (2025). Impactos da pandemia na regularidade da prática de atividade física entre licenciandos em Educação Física. Lecturas: Educación Física y Deportes, 30(327), 138-152. https://doi.org/10.46642/efd.v30i327.8347

 

Resumo

    Durante a pandemia da COVID-19, as medidas de distanciamento social representaram um desafio à prática de atividade física, incluindo a suspensão das aulas presenciais e a adoção do ensino remoto pela Universidade Federal de Viçosa. Essas mudanças impactaram diretamente a rotina dos estudantes de Licenciatura em Educação Física, exigindo adaptações nas atividades acadêmicas e cotidianas. Este estudo teve como objetivo analisar os níveis de atividade física desses estudantes antes e durante o período pandêmico, bem como a frequência das práticas nesse intervalo. A amostra foi composta por 53 estudantes (27 mulheres e 26 homens) regularmente matriculados, e os dados foram coletados por meio do Questionário Global de Atividade Física (GPAQ). Os resultados indicaram uma redução geral nos níveis de atividade física durante o isolamento social, acompanhada por uma mudança no tipo de prática, com maior adesão a atividades individuais e ao ar livre.

    Unitermos: Pandemia. Atividade física. Estudantes. Educação Física.

 

Abstract

    During the COVID-19 pandemic, social distancing measures posed significant challenges to physical activity, including the suspension of in-person classes and the implementation of remote learning at the Federal University of Viçosa. These changes directly affected the routines of students enrolled in the Physical Education degree program, requiring adaptations in both academic and daily activities. This study aimed to analyze the physical activity levels of these students before and during the pandemic, as well as the frequency of their physical activity during this period. The sample consisted of 53 regularly enrolled students (27 women and 26 men), and data were collected using the Global Physical Activity Questionnaire (GPAQ). The results indicated a general reduction in physical activity levels during social isolation, along with a shift in the type of activities performed, with increased engagement in individual and outdoor practices.

    Keywords: Pandemic. Physical activity. Students. Physical Education.

 

Resumen

    Durante la pandemia de COVID-19, las medidas de distanciamiento social han representado un desafío para la práctica de la actividad física, incluyendo la suspensión de las clases presenciales y la adopción de la enseñanza a distancia por la Universidad Federal de Viçosa. Estos cambios han impactado directamente en la rutina de los estudiantes de pregrado de Educación Física, exigiendo adaptaciones en las actividades académicas y cotidianas. El objetivo de este estudio fue analizar los niveles de actividad física de estos estudiantes antes y durante el período de pandemia, así como la frecuencia de las prácticas durante este intervalo. La muestra consistió en 53 estudiantes matriculados regularmente (27 mujeres y 26 hombres), y los datos se recogieron mediante el Cuestionario Global de Actividad Física (GPAQ). Los resultados indicaron una reducción general de los niveles de actividad física durante el aislamiento social, acompañada de un cambio en el tipo de práctica, con una mayor adherencia a las actividades individuales y al aire libre.

    Palabras clave: Pandemia. Actividad física. Estudiantes. Educación Física.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 327, Ago. (2025)


 

Introdução 

 

    Em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o surto do coronavírus SARS-CoV-2 (COVID-19) havia se caracterizado como uma pandemia global (WHO, 2020). Em resposta, diversos países, incluindo o Brasil, adotaram medidas rigorosas de distanciamento social com o objetivo de conter a disseminação do vírus e reduzir o número de infecções e óbitos (SBMEE, 2020a). Entre essas medidas, destacaram-se o fechamento de escolas, universidades, empresas, comércios e, sobretudo, espaços destinados à prática de atividade física (AF), como academias, parques e centros esportivos. (Kissler et al., 2020; Roberts, 2020)

 

    Embora tais ações tenham sido fundamentais para o controle da crise sanitária, elas impactaram significativamente a rotina e o estilo de vida da população. A redução drástica da mobilidade urbana e a adoção do regime de trabalho remoto (home office) contribuíram para o aumento do comportamento sedentário. Nesse contexto, estudos apontaram uma diminuição expressiva nos níveis de AF, além de um aumento nos índices de sobrepeso e obesidade, fatores que agravam ainda mais os riscos associados à saúde física e mental. (Malta et al., 2020; Pitanga, Beck, e Pitanga, 2020)

 

    A população universitária foi uma das mais afetadas por essas mudanças. A suspensão das aulas presenciais, a migração para o ensino remoto emergencial e a limitação de espaços para práticas corporais impactaram diretamente a rotina dos estudantes, especialmente daqueles vinculados a cursos da área de Educação Física, cuja formação envolve não apenas o conteúdo teórico, mas também a vivência prática. A interrupção das AF regulares nesse público pode representar uma lacuna importante a ser investigada, tanto do ponto de vista formativo quanto em relação à saúde e ao bem-estar. (Teodoro, 2020; Silva Matos, 2020; Dumith, 2022)

 

    Considerando que a prática regular de AF é amplamente reconhecida por sua associação com a melhora da função imunológica e a prevenção de diversas doenças (SBMEE, 2020b), torna-se crucial compreender os efeitos do período pandêmico sobre os hábitos corporais de futuros profissionais da área, que terão um papel fundamental na promoção da AF em suas futuras atuações profissionais.

 

    Portanto, o presente estudo tem como objetivo analisar os níveis de AF de estudantes do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de Viçosa - Campus Florestal (UFV-CAF) durante o período pandêmico, comparando-os com os níveis observados antes da pandemia e investigando a frequência das práticas nesse intervalo de tempo.

 

Método 

 

Tipo de pesquisa 

 

    Metodologicamente, o presente estudo configura-se como uma pesquisa exploratória, transversal e descritiva. A escolha da abordagem exploratória justifica-se pela necessidade de obter uma visão geral e inicial sobre o tema investigado, especialmente considerando sua natureza potencialmente ampla, conforme orientam Lakatos, e Marconi (2021). Essa etapa exploratória é crucial para esclarecer e delimitar o foco da pesquisa. Adicionalmente, a natureza transversal do estudo implica a coleta de dados em um único momento específico no tempo, permitindo descrever o fenômeno em um determinado instante. Complementarmente, a pesquisa descritiva será utilizada com o objetivo de caracterizar a população investigada e identificar possíveis relações entre variáveis pertinentes. (Lakatos, e Marconi, 2021)

 

Amostra 

 

    A população alvo desta pesquisa foram os estudantes regularmente matriculados no curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de Viçosa - Campus Florestal, que satisfizeram os critérios de inclusão definidos para o estudo. A amostra final foi composta por todos os estudantes regulares do referido curso que cumpriram os seguintes requisitos: concordar em participar, manifestando seu consentimento através da assinatura do Termo de Compromisso Livre e Esclarecido (TCLE); e preencher o questionário disponibilizado remotamente na plataforma Google Forms dentro do período estipulado de dois meses. Assim, a participação no estudo foi restrita àqueles que responderam integralmente ao questionário virtual enviado por e-mail.

 

Instrumentos 

 

    Para a coleta de dados desta investigação, empregou-se o Questionário Global de Atividade Física (GPAQ), desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS, s.d.) e adaptado para o contexto específico deste estudo (Figura 1). O instrumento, composto por 34 questões, investigou a rotina dos participantes em dois momentos distintos: o período que antecedeu a pandemia de COVID-19 e o momento da coleta de dados durante o isolamento.

 

    Dessa forma, o questionário foi aplicado de forma duplicada, com 17 questões referentes à rotina atual dos estudantes e 17 questões retrospectivas, concernentes ao período pré-pandêmico. As questões abrangiam a avaliação da AF nos domínios do trabalho, deslocamento e atividades recreativas, bem como o comportamento sedentário dos participantes em ambos os períodos temporais analisados.

 

    Inicialmente, o link do questionário eletrônico foi encaminhado aos estudantes da Licenciatura em Educação Física do Campus Florestal, utilizando-se os e-mails institucionais como meio de contato. O convite incluiu informações detalhadas sobre os objetivos do estudo, bem como esclarecimentos acerca dos direitos dos participantes, destacando a garantia de confidencialidade e anonimato dos dados coletados, em conformidade com as normas éticas vigentes.

 

    Os questionários foram respondidos de forma remota, através do formulário citado anteriormente, sendo o envio das respostas feita de maneira automática pela própria plataforma, diretamente para o endereço de e-mail dos autores. O acesso ao questionário só foi permitido para os voluntários que concordaram com o TCLE.

 

Figura 1. Questionário GPAQ adaptado para o contexto específico deste estudo

Figura 1. Questionário GPAQ adaptado para o contexto específico deste estudo

Fonte: Desenvolvido pelos próprios autores

 

Procedimentos 

 

    Inicialmente foi feito o contato com o Coordenador do Curso de Licenciatura em Educação Física - UFV-CAF, para a autorização da pesquisa, e o envio dos e-mails institucionais dos estudantes.

 

    De posse da autorização de pesquisa e dos e-mails, foi enviado uma mensagem eletrônica aos estudantes, informando no corpo desta mensagem, a apresentação dos pesquisadores, os objetivos do estudo, informações gerais sobre o questionário, o tempo médio de 10 minutos estimado para resposta, e o link de acesso ao questionário na plataforma Google Forms.

 

    Na abertura do link do questionário, antes do acesso às perguntas, foi apresentado o TCLE, que depois de lido, os estudantes que concordaram em participar do estudo, clicaram no ícone “Concordo”, e somente após isso, eles tiveram acesso ao questionário. Os estudantes que não concordaram em participar do estudo, clicaram no ícone “Não concordo”, e foram enviados automaticamente para a seção de encerramento e agradecimento pela participação.

 

Análise dos dados 

 

    Após a coleta dos dados por meio dos questionários respondidos, procedeu-se à tabulação e organização das informações em um banco de dados. A análise inicial consistiu na estatística descritiva das variáveis coletadas, visando sumariar as características da amostra. Para as variáveis quantitativas, foram examinadas as distribuições de frequência, medidas de tendência central (média, mediana) e de dispersão (desvio padrão, variância), a fim de compreender a variabilidade dos dados. Posteriormente à descrição individual de todas as variáveis investigadas, os resultados foram categorizados e apresentados em tabelas elaboradas com o auxílio do software Microsoft Excel 2010. Essas tabelas sumarizam as respostas dos participantes em valor bruto e porcentagem, e são apresentadas na seção de “Resultados” deste estudo.

 

Cuidados éticos 

 

    Todos os cuidados éticos necessários para a execução desse estudo, atenderam aos requisitos éticos estabelecidos pela Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.

 

Resultados 

 

    Responderam ao questionário aplicado nessa pesquisa, 53 alunos regularmente matriculados no curso de Educação Física do Campus Florestal da Universidade Federal de Viçosa, dentre os quais 27 (50,9%) estudantes eram do sexo feminino e 26 (49,1%) do sexo masculino.

 

Tabela 1. Caracterização da amostra

Sexo

Número de estudantes

Percentual

Feminino

27

50,9%

Masculino

26

49,1%

Total

53

100%

Fonte: Autores

 

    Seguindo a estruturação do questionário, as respostas foram descritas de acordo com os domínios do trabalho, deslocamento e atividades recreativas, comportamento sedentário dos participantes em ambos os períodos temporais analisados. Assim, os resultados de cada variável podem ser verificados demonstrando a porcentagem de cada resposta baseado no número total de participantes da pesquisa.

 

Atividades físicas no trabalho 

 

    Quando perguntados sobre suas atividades laborais que envolviam esforço físico intenso, ou seja, atividades de intensidade vigorosa caracterizadas por um gasto energético superior a 6 Metabolic Equivalent of Task (METs), como correr, carregar peso e/ou trabalhar em ritmo acelerado (Ministério da Saúde, 2022), é possível verificar, na Tabela 2, que antes do isolamento social os entrevistados realizavam mais dessas atividades do que durante o período pandêmico.

 

Tabela 2. Dados sobre a presença de atividades de intensidade vigorosa no trabalho

 

Pré-pandemia

Durante a pandemia

Sim

52,8% (28)

26,4% (14)

Não

47,2% (25)

73,6% (39)

Fonte: Autores

 

    Quando perguntados sobre a frequência semanal das atividades laborais de intensidade vigorosas, foi possível observar na Tabela 3, que durante o período pandêmico, os entrevistados reduziram a frequência semanal de atividades vigorosas no trabalho.

 

Tabela 3. Dias por semana de atividade física vigorosa como parte do trabalho

 

Pré-pandemia

Durante a pandemia

Não se aplica

47,2% (25)

73,6% (39)

1 dia por semana

1,9% (1)

5,7% (3)

2 dias por semana

9,4% (5)

3,8% (2)

3 dias por semana

15,1% (8)

5,7% (3)

4 dias por semana ou mais

26,4% (14)

11,2% (6)

Fonte: Autores

 

    Em relação ao tempo diário de execução de suas atividades laborais de intensidade vigorosa, podemos verificar na Tabela 4 abaixo, que houve uma queda da frequência diária de atividades de intensidade vigorosa durante o isolamento social.

 

Tabela 4. Quantidade de tempo gasto em atividade vigorosa no trabalho em um dia “típico”

 

Pré-pandemia

Durante a pandemia

Não se aplica

47,2% (25)

73,6% (39)

10 a 20 minutos

3,8% (2)

-

20 a 30 minutos

5,7% (3)

9,4% (5)

30 a 60 minutos

20,8% (11)

5,7% (3)

1 a 2 horas

11,3% (6)

1,9% (1)

2 a 3 horas

5,7% (3)

7,5% (4)

Mais de 3 horas

5,7% (3)

1,9% (1)

Fonte: Autores

 

    No que concerne às atividades laborais de intensidade moderada, estas são definidas por um METs entre 3,0 e 6,0. Caracterizam-se por induzir pequenos aumentos na frequência respiratória e cardíaca, exemplificadas por caminhada rápida ou pelo transporte contínuo de cargas leves por um período mínimo de 10 minutos. (Ministério da Saúde, 2022)

 

    Em consonância com essa definição, a análise dos dados apresentados na Tabela 5 revela uma maior prevalência de atividades moderadas entre os participantes antes do período de isolamento social, em comparação com o contexto pandêmico.

 

Tabela 5. Resposta se o trabalho desenvolvido pelos voluntários envolvia atividade de intensidade moderada

 

Pré-pandemia

Durante a pandemia

Sim

73,6% (39)

45,3% (24)

Não

26,4% (14)

54,7% (29)

Fonte: Autores

 

    Sobre a frequência semanal das atividades laborais de intensidade moderada, observa-se que durante o período pandêmico, os entrevistados reduziram a frequência semanal de atividades moderadas no trabalho.

 

Tabela 6. Dias por semana realizando atividades moderadas como parte do trabalho

 

Pré-pandemia

Durante a pandemia

Não se aplica

26,4% (14)

54,7% (29)

1 dia por semana

5,7% (3)

1,9% (1)

2 dias por semana

7,5% (4)

5,7% (3)

3 dias por semana

9,4% (5)

9,4% (5)

4 dias por semana ou mais

51,0% (27)

28,3% (15)

Fonte: Autores

 

    Em relação ao tempo diário de execução de suas atividades laborais de intensidade moderada, pode-se verificar na Tabela 7 abaixo, que houve uma queda da frequência diária de atividades de intensidade moderada durante o isolamento social.

 

Tabela 7. Tempo gasto fazendo atividades de intensidade moderada no trabalho em um dia “típico”

 

Pré-pandemia

Durante a pandemia

Não se aplica

26,4% (14)

54,7% (29)

10 a 20 minutos

7,5% (4)

-

20 a 30 minutos

9,4% (5)

7,5% (4)

30 a 60 minutos

22,6% (12)

9,4% (5)

1 a 2 horas

11,3% (6)

7,5% (4)

2 a 3 horas

3,8% (2)

5,7% (3)

Mais de 3 horas

18,9% (10)

15,1% (8)

Fonte: Autores

 

Viagem/deslocamento 

 

    A Tabela 8 demonstra uma redução no uso de caminhada e bicicleta como meio de deslocamento durante a pandemia, possivelmente refletindo o medo de contágio e a preferência por evitar contato social ou sair de casa. Adicionalmente, a frequência do uso desses meios de transporte no cotidiano é apresentada na Tabela 9.

 

Tabela 8. Uso da caminhada ou bicicleta para deslocar entre os lugares

 

Pré-pandemia

Durante a pandemia

Sim

81,1% (43)

56,6% (30)

Não

18,9% (10)

43,4% (23)

Fonte: Autores

 

Tabela 9. Frequência em dias da semana fazendo uso da caminhada ou bicicleta para deslocar entre os lugares

 

Pré-pandemia

Durante a pandemia

Não se aplica

18,9% (10)

43,4% (23)

1 dia por semana

-

3,8% (2)

2 dias por semana

-

15,1% (8)

3 dias por semana

7,5% (4)

15,1% (8)

4 dias por semana ou mais

73,6% (39)

22,7% (12)

Fonte: Autores

 

Atividades recreativas 

 

    Ao serem perguntados sobre a prática de esportes, exercícios e atividades recreativas de intensidade vigorosa, como correr ou jogar futebol, durante pelo menos 10 minutos de forma contínua, pode-se verificar na Tabela 10, que anterior ao período pandêmico, os entrevistados realizavam mais atividades vigorosas, em relação ao período de isolamento social.

 

Tabela 10. Porcentagem da prática de esportes, exercícios e atividades recreativas de intensidade vigorosa

 

Pré-pandemia

Durante a pandemia

Sim

86,8% (46)

50,9% (27)

Não

13,2% (7)

49,1% (26)

Fonte: Autores

 

    Em relação à frequência semanal da prática das variáveis apresentadas acima de forma vigorosa, é notável na Tabela 11 que houve uma queda considerável da frequência semanal de atividades físicas recreativas durante a pandemia.

 

Tabela 11. Frequência semanal da prática de esportes, exercícios e atividades recreativas de intensidade vigorosa

 

Pré-pandemia

Durante a pandemia

Não se aplica

13,2% (7)

49,1% (26)

1 a 2 dias por semana

20,8% (11)

15,1% (8)

3 a 4 dias por semana

41,5% (22)

17,0% (9)

5 ou mais dias por semana

24,5% (13)

18,9% (10)

Fonte: Autores

 

    Referindo-se a as variáveis acima, mas em intensidade moderada é possível analisar na Tabela 12 se os indivíduos praticavam ou não. Já na Tabela 13 a frequência semanal dessas atividades. Em ambas foi notada uma queda na execução e frequência na prática das atividades.

 

Tabela 12. Dados sobre pratica algum esporte, exercício ou atividades recreativas de intensidade modera

 

Pré-pandemia

Durante a pandemia

Sim

71,7% (38)

52,8% (28)

Não

28,3% (15)

47,2 (25)

Fonte: Autores

 

Tabela 13. Frequência sobre praticar algum esporte, exercício ou atividades recreativas de intensidade moderada

 

Pré-pandemia

Durante a pandemia

Não se aplica

28,3% (15)

47,2% (25)

1 a 2 dias por semana

30,2% (16)

11,3% (6)

3 a 4 dias por semana

22,6% (12)

24,5% (13)

5 ou mais dias por semana

18,9% (10)

17,0% (9)

Fonte: Autores

 

Comportamento sedentário 

 

    A Tabela 14 demonstra quais esportes, exercícios ou atividades recreativas os voluntários eram adeptos. De acordo com as respostas, durante a pandemia os participantes deixaram de praticar esportes coletivos, natação, musculação e outros, devido os espaços destinados a estas práticas terem sido interditados. Já as atividades praticadas ao ar livre, como ciclismo e a corrida mantiveram seus adeptos durante o período pandêmico.

 

Tabela 14. Esportes, exercícios ou atividades recreativas praticadas

 

Pré-pandemia

Durante a pandemia

Esporte Coletivos (Futebol, Vôlei,

Basquetebol, Handebol etc.)

26% (26)

3% (3)

Corrida

17% (17)

16% (16)

Natação

10% (10)

3% (3)

Ciclismo

7% (7)

6% (6)

Musculação

25% (25)

16% (16)

Crossfit

3% (3)

3% (3)

Outros

6% (6)

7% (7)

Não se aplica

6% (6)

46% (46)

Fonte: Autores

 

    Ao serem perguntados sobre comportamento sedentário, foi notável que durante o período pandêmico houve um aumento considerável do comportamento sedentário, como mostra a Tabela 15.

 

Tabela 15. Dados sobre quanto tempo os participantes costumam

passar sentados ou deitados em um dia, sem incluir as horas de sono

 

Pré-pandemia

Durante a pandemia

1 a 2 horas

32,1% (17)

15,1% (8)

3 a 4 horas

34,0% (18)

18,9% (10)

4 a 7 horas

22,6% (12)

37,7% (20)

7 a 10 horas

5,7% (3)

15,1% (8)

Mais de 12 horas

5,7% (3)

13,2% (7)

Fonte: Autores

 

Discussão 

 

    O presente estudo teve como objetivo analisar os níveis de atividade física (AF) de estudantes do curso de Licenciatura em Educação Física durante a pandemia, comparando-os com o período anterior, além de investigar a frequência das práticas nesse intervalo. Os resultados trazem uma redução significativa em relação aos níveis de AF para o público estudado, especialmente nas dimensões relacionadas ao trabalho, deslocamento e lazer. Tal redução acompanha uma tendência já observada em estudos de base populacional que foram conduzidos em diferentes regiões do Brasil. (Crochemore-Silva et al., 2020; Malta et al., 2020)

 

    A mudança de práticas coletivas para individuais pode ser interpretada como uma resposta adaptativa diante das restrições que foram impostas para o controle da COVID-19, No entanto, essa adaptação não foi suficiente para mitigar os efeitos adversos do confinamento. Ferreira et al. (2020) destacam que o isolamento domiciliar intensificou hábitos sedentários, favorecendo o desenvolvimento de comorbidades como obesidade, hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares, além de agravar quadros de ansiedade e depressão. De forma complementar, Crochemore-Silva et al. (2020) observaram que, embora muitos indivíduos tenham mantido a prática de AF durante a pandemia, ela foi realizada, em sua maioria, de forma autônoma e sem acompanhamento profissional.

 

    A redução das AF de intensidade moderada e vigorosa no contexto laboral pode estar relacionada à adoção do trabalho remoto e ao aumento do desemprego durante a pandemia (IBGE, 2020). Para estudantes de Educação Física, cuja formação requer vivências práticas e corporais, a suspensão das atividades presenciais representa um prejuízo significativo, de forma que a sua formação não envolve apenas um conhecimento teórico, mas também o engajamento corporal com a prática que foi altamente prejudicado com a suspensão das atividades presenciais. (Macedo, e Neves, 2021)

 

    No que se refere ao deslocamento, a redução do uso de meios ativos de transporte, como caminhada e bicicleta, pode ser atribuída às restrições de mobilidade impostas por decretos municipais (Belo Horizonte, 2020), afetando diretamente os níveis de AF diária.

 

    Ainda assim, observou-se um aumento na prática de atividades ao ar livre e individuais, como caminhadas e corridas. Esse comportamento parece estar relacionado ao fechamento de academias, estúdios e à suspensão de práticas coletivas, fenômeno que também foi identificado em outras populações. (SBMEE, 2020a)

 

    As medidas de isolamento também impactaram negativamente o estilo de vida dos estudantes, reduzindo os níveis de AF e intensificando o tempo de tela. Esse padrão de comportamento, como apontado por Malta et al. (2020), está associado ao aumento de fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis. Além disso, as incertezas quanto ao futuro e o aumento dos transtornos emocionais podem ter amplificado o desinteresse e a apatia em relação à prática de exercícios físicos. (Silva Matos et al., 2020; Teodoro et al., 2020)

 

    Diante desta situação, é de suma importância que haja intervenções institucionais que visem à retomada das práticas de AF entre estudantes universitários, considerando os inúmeros benefícios da prática regular de AF para os sistemas cardiovascular, metabólico, imunológico e para a saúde mental, além de sua manutenção como estratégia preventiva frente a futuras pandemias. (Pitanga, Beck, e Pitanga, 2020b)

 

    Ademais, é necessária a ampliação de pesquisas acerca da temática, utilizando métodos mistos (qualitativos e quantitativos). Dessa forma, será possível compreender com maior profundidade as barreiras e facilitadores enfrentados pelos estudantes. Estudos longitudinais também serão importantes para avaliar os efeitos crônicos da pandemia nos hábitos relacionados à saúde. Além disso, são necessários estudos que levem em consideração fatores como gênero, classe social e raça, a fim de obter uma compreensão mais abrangente e crítica do fenômeno.

 

Conclusão 

 

    Os dados mostram que, durante a pandemia, houve uma queda significativa na prática de atividades físicas relacionadas ao trabalho, deslocamento e lazer, enquanto houve um aumento do sedentarismo. Essa tendência foi observada em diversas regiões do país, refletindo as restrições impostas pelo período. Observou-se também um deslocamento para atividades físicas individuais ao ar livre, em substituição às práticas coletivas em ambientes fechados. Esses resultados evidenciam impactos negativos na prática de atividade física entre estudantes de Educação Física.

 

    Diante disto, destaca-se a importância de políticas públicas voltadas à promoção e manutenção da atividade física, observando protocolos rigorosos de biossegurança. Essas ações podem estimular as pessoas a se movimentarem em diferentes ambientes, como escolas e locais de trabalho, promovendo uma vida mais ativa e saudável para todos.

 

    No âmbito institucional, recomenda-se criar programas que incentivem a prática regular de atividade física, com a oferta de espaços adequados, equipamentos apropriados e horários acessíveis. Além disso, campanhas educativas e o uso de tecnologias digitais podem potencializar o engajamento e o acompanhamento, principalmente em momentos de distanciamento social.

 

    Por fim, é fundamental a realização de estudos futuros que investiguem mais profundamente as motivações, barreiras e estratégias para a manutenção da atividade física, especialmente entre estudantes de cursos práticos como Educação Física. Essas pesquisas podem orientar intervenções mais eficazes e direcionadas.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 327, Ago. (2025)