Juarez Serpa Junior*

juarezserpa7@gmail.com

Gabriel Victor França Alcântara*

gabriel.alcantara@aluno.uece.br

Patrick Alan de Souza Pfeiffer**

patrickpfeiffer_13@hotmail.com

Kalinne Fernandes Silva***

kalinne_30@hotmail.com

paula.soares@uece.br

Júlio César Gomes da Silva++

juliocesar.silva@uece.br

*Graduação em Licenciatura Educação Física

Universidade Estadual do Ceará (UECE)

**Mestre e Doutor em Educação Física

pelo Programa Associado em Educação Física

da Universidade Federal da Paraíba

e Universidade de Pernambuco (UFPB/UPE)

*** Mestra em Educação Física

pelo Programa Associado em Educação Física (UFPB/UPE)

+Mestra em Ciências Fisiológicas (UECE)

Doutorado em Biotecnologia (RENORBIO-UFC)

Pós Doutorado em Microscopia

pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Morfofuncionais (UFC)

Professora do Programa de Pós-graduação

em Ciências Fisiológicas (PPGCF/ISCB/UECE)

Docente do Curso de Educação Física (UECE)

++Mestre, Doutor e Pós-Doutor

pelo Programa Associado de Pós-graduação em Educação Física

da Universidade Federal da Paraíba

e Universidade de Pernambuco (UFPB/UPE)

Professor do Mestrado em Gestão em Saúde (MEPGES/UECE)

Docente do Curso de Educação Física (UECE)

(Brasil)

Recepción: 20/03/2025 - Aceptación: 27/07/2025

1ª Revisión: 28/05/2025 - 2ª Revisión: 21/07/2025

Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0

Cita sugerida: Serpa Junior, J., Alcântara, G.V.F., Pfeiffer, P.A. de F., Silva, K.F., Soares, P.M., e Silva, J.C.G. da (2025). Estados de humor antes e após o jogo de futebol de travinha em homens saudáveis. Lecturas: Educación Física y Deportes, 30(329), 42-57. https://doi.org/10.46642/efd.v30i329.8185

 

Resumo

    O objetivo do estudo foi analisar os estados de humor antes e após o jogo de futebol de travinha em homens saudáveis. A amostra foi composta por 18 homens saudáveis com faixa etária entre 18 e 30 anos. O jogo de futebol de travinha foi realizado em uma quadra com tamanho de 28 metros de comprimento por 15 metros de largura e as metas tiveram o tamanho de 1,20 metros de largura por 0,80 metros de altura. O jogo foi realizado com dois períodos de 10 minutos com o intervalo de 10 minutos entre os períodos. Para a realização do jogo de futebol de travinha, os participantes foram divididos em 6 equipes de 3 jogadores e logo após foi respondido a escala de humor de Brunel (BRUMS) no momento pré-jogo. Logo após, foi iniciado o jogo e após o termino do jogo os participantes responderam a escala Brums imediatamente pós jogo e 60 minutos depois do pós jogo de futebol de travinha. Observou-se que houve um aumento significativo da percepção de tensão e fadiga e uma redução significativa da percepção de vigor imediatamente após o jogo de futebol de travinha (p< 0,05). Conclui-se que houve alteração aguda negativa nos estados de humor dos participantes após o jogo de futebol de travinha, no entanto, 1 hora após o jogo os estados de humor retornaram para os níveis pré-jogo.

    Unitermos: Desempenho esportivo. Futebol. Humor.

 

Abstract

    The aim of this study was to analyze mood states before and after the game of Soccer of Travinha in healthy men. The sample consisted of 18 healthy men aged between 18 and 30. The entire session on the day of the soccer game lasted ≅ 90 minutes. The soccer game was played on a court measuring 28 meters long by 15 meters wide and the goals were 1.20 meters wide by 0.80 meters high. An official futsal ball was used for the game and the match was played by two teams made up of three players each. The game was played in two 10-minute periods with a 10-minute break between periods. To play the soccer game, the participants were divided into 6 teams of 3 players and then answered the Brunel Mood Scale (BRUMS) before the game. Then the game started and after the game had finished the participants answered the Brums scale immediately after the game and 60 minutes after the soccer match. It was observed that there was a significant increase in the perception of tension and fatigue and a significant reduction in the perception of vigor immediately after the soccer game (p< 0.05). We conclude that there was a negative change acute in the mood states of the participants after the soccer game, however, 1 hour after the game the mood states returned to pre-game levels.

    Keywords: Sports performance. Soccer. Mood.

 

Resumen

    El objetivo de este estudio fue analizar el estado de ánimo antes y después de un partido de Fútbol de Travinha en hombres sanos. La muestra estuvo compuesta por 18 hombres sanos de entre 18 y 30 años. El partido se disputó en una cancha de 28 metros de largo por 15 metros de ancho, con porterías de 1,20 metros de ancho por 0,80 metros de alto. El partido constó de dos tiempos de 10 minutos cada uno con un descanso de 10 minutos entre ellos. Los participantes se dividieron en seis equipos de tres jugadores, y se administró la Escala de Estado de Ánimo de Brunel (BRUMS) inmediatamente antes del partido. El partido comenzó inmediatamente después, y al finalizar el mismo, los participantes completaron la escala Brums inmediatamente después del partido y luego de 60 minutos. Se observó un aumento significativo en la percepción de tensión y fatiga, y una reducción significativa en la percepción de vigor inmediatamente después del partido de fútbol informal (p<0,05). Se concluyó que hubo un cambio negativo agudo en el estado de ánimo de los participantes después del partido de fútbol; sin embargo, una hora después del partido, su estado de ánimo regresó a los niveles previos al partido.

    Palabras clave: Rendimiento deportivo. Fútbol. Estado de ánimo.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 329, Oct. (2025)

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Introdução 

 

    A história do futebol no Brasil remonta ao início do século XX, quando o esporte foi introduzido no país por imigrantes europeus, principalmente britânicos. A partir desse momento, o Brasil testemunhou a transformação do futebol em uma paixão nacional que transcende as fronteiras e se reflete nos aspectos mais profundos da identidade cultural (Damas, 2016; Nakamura, e Cerqueira, 2021). Entre as várias formas de futebol praticadas no Brasil, o "Futebol de Travinha" se destaca como uma modalidade que, apesar de suas raízes informais, tem desempenhado um papel significativo na vida de muitos jovens atletas em comunidades locais (Gomes-Da-Silva et al., 2018). Esta variação do futebol é frequentemente caracterizada por jogos amigáveis e espontâneos que ocorrem nos campos e ruas de bairros por todo o país. (Barros, 2008; Gomes-Da-Silva et al., 2018)

 

    No entanto, a partir do ano de 2015, após a criação da confederação brasileira de futebol de travinha, essa brincadeira popular antiga alcançou o status de esporte (CBFT, 2023). Atualmente, o futebol de travinha é considerado uma modalidade esportiva coletiva sendo um jogo do tipo invasão. O jogo de futebol de travinha (JFT) possui regras bem definidas, tais como, é realizado em dois períodos de 10 minutos em uma quadra de 28 metros de comprimento e 15 metros de largura, disputado por duas equipes compostas por três jogadores, e parece ser realizado em alta intensidade, uma vez que a quantidade de atletas é reduzida para um espaço de jogo grande. (CBFT, 2023)

 

    Nessa perspectiva, existem evidencias de que a prática de exercícios físicos ou esportes intensos podem gerar alterações no estado de humor (Arruda et al., 2013; Silva et al., 2018; Silva et al., 2019), provocar sensação aguda de fadiga (Silva et al., 2018; Silva et al., 2024). No entanto, alguns estudos reportam divergentes respostas psicológicas relacionadas aos exercícios ou esportes de lazer realizados em alta intensidade, apresentando benefícios (Balban et al., 2023; Baek et al., 2024; Mehrsafar et al., 2020), malefícios ou qualquer alteração nos estados de humor (Arruda et al., 2013; Rodrigues Silva et al., 2018).

 

    O humor é um estado de ativação emocional ou afetiva, de duração variada e inconstante intensidade e reflete os estados emocionais, corporais e comportamentais do indivíduo, bem como os seus sentimentos, pensamentos e entusiasmo durante a realização de uma dada tarefa (Weinberg, e Gould, 2017). Dessa forma, tem se verificado na literatura que estudos prévios investigaram o efeito da prática esportiva recreativa nos estados de humor de homens adultos (Rodrigues Silva et al., 2018). De fato, a inserção em esporte de participação com característica de lazer vem sendo utilizado como alternativa para prevenção e o controle de morbidades psíquicas e favorecem a socialização, o entretenimento e a integração com família e amigos (Rocha et al., 2024).

 

    No entanto, embora o esporte de participação apresente diversos benefícios para saúde física e mental de indivíduos de diferentes faixas etárias (Geraldes et al., 2019), em esportes coletivos como por exemplo, o futebol de travinha, o fato do jogo ter um tempo de duração permanente e a presença de várias equipes naquela determinada atividade pode impor aos participantes uma pressão pela vitória na partida para que continuem jogando por mais tempo (Rose Júnior, 2002). Com isso, pode ocorrer no momento pós partida alterações no nível de raiva, confusão mental, depressão e tensão que são aspectos que apresentam relação com o perfil emocional, além de alterações na percepção de vigor e fadiga que apresentam relação com a intensidade do jogo.

 

    No estudo de Rodrigues Silva et al. (2018), esses autores submeteram 85 homens a jogos recreacionais de futebol de campo e os resultados mostraram que os praticantes da “pelada” ficaram mais fadigados, com mais raiva e com menos vigor após a partida. Nessa perspectiva, o jogo de futebol de travinha exige corridas rápidas, mudanças constantes de direção e controle de bola (Miguel, e Campos, 2011), o que pode sobrecarregar o sistema cardiovascular e muscular, além de que o confronto com o adversário e a busca pela vitória durante a partida pode acarretar alterações nos estados de humor dos praticantes. Dessa forma, existem muitas competições estaduais do futebol de travinha e geralmente os participantes são homens jovens, assim esse estudo poderá auxiliar psicólogos esportivos e treinadores a entenderem as alterações que poderão ocorrer após um jogo de futebol de travinha nos estados de humor de homens saudáveis e realizarem intervenções psíquicas no período de preparação.

 

    A partir disso, o objetivo do estudo foi analisar a variação do estado de humor em relação à prática do jogo de futebol de travinha em homens saudáveis. A hipótese do estudo é que após o jogo de futebol de travinha ocorreria alterações dos domínios negativos no estado de humor de indivíduos saudáveis.

 

Métodos 

 

Amostra 

 

    A amostra foi composta por 18 homens saudáveis fisicamente ativos (22,2 ± 2,4 anos) da cidade de Fortaleza-Ceará que tinham experiência com o jogo de futebol de travinha. A amostragem foi de conveniência. Os critérios de inclusão foram: a) pertencerem à faixa etária entre 18 e 30 anos; b) serem do sexo masculino; c) não apresentarem histórico de doenças cardiovasculares ou pulmonares; d) sem lesões osteomusculares; e) que fossem fisicamente ativos. Adotou-se como critério de exclusão: a) os voluntários que apresentarem durante o experimento algum agravante cardiovascular ou osteomuscular. Não foi excluído nenhum voluntário no estudo.

 

    O presente estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade Estadual do Ceará, atendendo aos requisitos do Conselho Nacional de Saúde - Resolução 466/12. Após as explicações dos possíveis riscos e benefícios e procedimentos da pesquisa os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) elaborado de acordo com a declaração de Helsinque. O estudo foi aprovado no comitê de ética da Universidade Estadual do Ceará, com o CAAE: 77163024.3.0000.5534 e protocolo de aprovação de número 6.674.862.

 

Desenho do estudo 

 

    No primeiro dia do estudo, foi realizada uma reunião para esclarecimentos sobre o objetivo, risco e benefícios da pesquisa para os participantes. Após 48 horas os voluntários retornaram ao complexo poliesportivo da Universidade Estadual do Ceará para assinarem o TCLE, o questionário internacional de atividade física (IPAQ) versão curta para análise do nível de aptidão física. Após 24 horas, os participantes voltaram ao complexo esportivo para realização do jogo de futebol de travinha, conforme figura 1. Os voluntários foram instruídos a abster-se da ingestão de suplementos nutricionais, cafeína e bebidas alcoólicas antes dos JFT e ingerirem uma alimentação leve de 2 a 4 horas antes da sessão e a não praticar exercício físico 24 horas antes das sessões.

 

Fonte: Autores

 

Procedimentos 

 

    Critérios pré participação 

 

    Utilizou-se como critério pré participação a medida autorreportada de atividade física por meio do questionário internacional de atividade física (IPAQ) versão curta. Esse instrumento é composto por seis questões que mensuram a frequência semanal e a duração das atividades físicas realizadas na última semana, incluindo a caminhada, atividades físicas de intensidade moderadas e vigorosas. O IPAQ foi validado (Craig et al., 2003) e apresenta índices de validade satisfatórios (média de classificação = ,750) em sua versão brasileira (Matsudo et al., 2001). Os voluntários do estudo foram classificados como fisicamente ativos.

 

    Jogo de futebol de travinha 

 

    O jogo de futebol de travinha teve duração total de ≅ 20 minutos. O jogo de futebol de travinha foi realizado em uma quadra com tamanho de 28 metros de comprimento por 15 metros de largura e as metas tiveram o tamanho de 1,20 metros de largura por ,80 metros de altura. Foi utilizada uma bola oficial de futsal para realização do jogo e a partida foi disputada por duas equipes compostas por três atletas em cada uma delas. O tempo de duração da partida foi de dois períodos de 10 minutos com dez minutos de intervalo. Todos os requisitos da estrutura do jogo de futebol de travinha tais como, dimensão da quadra de jogo, tempo de duração da partida, dimensão das metas foram padronizados de acordo com o livro de regras da modalidade (CBFT, 2023). Toda vez que a bola saia da quadra de jogo ou que o árbitro solicite, o cronometro foi pausado. Os participantes foram divididos em 6 equipes de 3 jogadores.

 

    Avaliação dos estados de humor 

 

    Os estados de humor dos voluntários foram avaliados por meio da escala de Humor de Brunel (BRUMS). A escala de BRUMS foi desenvolvida para medir rapidamente os estados de humor de indivíduos, sendo adaptada do Profile of Mood States (POMS), traduzida para o português (Rohlfs et al., 2008) e validada por Rohlfs (2006) com coeficientes de confiabilidade variando de 0,76 a 0,90. Este questionário tem 24 adjetivos, distribuídos em seis domínios subjetivos e transitórios de humor: (a) tensão - reflete uma elevada tensão nos músculos esqueléticos (b) depressão - indica um estado de humor depressivo e uma sensação de incapacidade funcional e futilidade; (c) raiva - reflete uma irritação no humor e hostilidade em relação aos outros, além de rebelião e mau humor (d) fadiga - representa inercia, fadiga e baixos níveis de energia; (e) confusão - reflete a estado de humor caracterizado pela confusão mental (fatores negativos) e (f) vigor - indica um estado de humor caracterizado por elevada energia física (fator positivo). (Silva et al., 2018)

 

    Os voluntários foram familiarizados com a escala de humor e classificaram os adjetivos em uma escala de cinco pontos (0= absolutamente não; 1= um pouco; 2= moderadamente; 3= bastante; 4= extremamente) para descrever seu estado de humor atual. O instrumento foi aplicado com os participantes da amostra nos momentos pré exercício, imediatamente após o jogo e em 1 hora após o jogo, no qual os mesmos responderam a seguinte pergunta: “Como você se sente agora?”. Com os dados mensurados da escala de BRUMS, foi calculada a Perturbação total de humor (PTH) por meio da fórmula: PTH = (T+D+R+F+C) - V + 100, aplicando os resultados encontrados dos domínios: Tensão (T), Depressão (D), Raiva (R), Fadiga (F) Confusão Mental (C) e Vigor (V) (Werneck et al., 2010; Terry, e Lane, 2010). Deste modo, o perfil de humor que apresenta alto valor de vigor e baixos valores para as demais variáveis é denominado “perfil iceberg”, caracterizando positivamente a saúde mental do indivíduo. A confiabilidade do instrumento para o PTH no presente estudo variou de ,61 a ,79

 

Procedimentos de coleta de dados 

 

    Para a realização do jogo de futebol de travinha, os voluntários chegaram ao ginásio poliesportivo durante o período da manhã e ficaram em repouso sentados durante 10 minutos, em seguida os participantes foram divididos em 6 equipes de 3 jogadores e logo após foi respondido a escala de humor de Brunel (BRUMS) no momento pré-jogo simulado. Logo após, foi iniciado o jogo e após o termino do jogo os participantes responderam a escala Brums imediatamente pós jogo e 1 hora pós jogo de futebol de travinha.

 

Análise estatística 

 

    Os dados foram analisados no pacote estatístico computadorizado Statistical Package for the Social Science (SPSS) versão 23.0. Inicialmente, foi realizada uma análise exploratória para verificar a normalidade (Teste de Shapiro-Wilk) e homogeneidade (Teste de Levene) dos dados. Como os dados atenderam aos pressupostos de normalidade foi utilizado o teste de Analise de variância de medidas repetidas, [(tempo: pré-jogo vs. imediatamente pós jogo vs. 1hora pós-jogo)] seguida do teste post hoc de Bonferroni para analisar os efeitos do jogo de futebol de travinha no estado de humor dos voluntários. No presente estudo, calculou-se o alfa de Cronbach (α) para análise da confiabilidade do instrumento de humor para a variável PTH. Utilizou-se a variação percentual (Δ%) na interação tempo para os domínios dos estados de humor. Os dados foram apresentados em média e desvio padrão. O nível de significância adotado foi de p< 0,05. Para cada variável dependente foi apresentado o valor da magnitude das diferenças (F), significância (p) e a estimativa do tamanho de efeito usando pontos de corte de ,2; ,5 e ,8 para representar um tamanho pequeno, médio e grande, respectivamente. (Rhea, 2004)

 

Resultados 

 

    Na análise da percepção de tensão, observou-se que houve um aumento significativo entre os momentos pré-jogo vs. imediatamente após o jogo (p = 0,007; Δ% = 93,3; TE = 1,7). Na análise da percepção de raiva, observou-se que não houve diferença significativa entre os momentos pré-jogo vs. imediatamente após o jogo vs. 1 hora após o jogo (F= ,812; p= ,439; n² = 0,046). Na análise da percepção de depressão, observou-se que não houve diferença significativa entre os momentos pré-jogo vs. imediatamente após o jogo vs. 1 hora após o jogo (F = ,670; p = ,518; n² = ,038). Na análise da percepção de confusão mental, observou-se que não houve diferença significativa entre os momentos pré-jogo vs. imediatamente após o jogo vs. 1 hora após o jogo (F= ,079; p= ,924; n² = ,005).

 

    Já na análise da percepção de vigor, verificou-se que houve uma redução significativa do momento pré-jogo vs. imediatamente após o jogo (p = ,001; Δ% = -36,5; TE= -1,2) e um aumento significativo do momento imediatamente pós jogo vs. 1 hora após o jogo (p= ,004; Δ%= 45,7; TE= 2,0). Fato semelhante ocorreu na análise da percepção da fadiga, em que se observou que houve uma redução significativa do momento pré-jogo vs. imediatamente após o jogo (p< ,001; Δ%= 230,4; TE = 13,2) e um aumento significativo do momento imediatamente pós jogo vs. 1 hora após o jogo (p< ,001; Δ% = -65,7; TE = -10,2), conforme Figura 2.

 

Legenda: T= tensão; D= depressão; R= raiva; V= vigor; F= fadiga; C= confusão mental; a= significativamente diferente do momento pré-jogo; b= significativamente diferente do momento imediatamente após jogo. Fonte: Autores

 

    Na análise da perturbação total de humor, verificou-se que houve um aumento significativo entre os momentos pré-jogo vs. imediatamente após o jogo (p< ,001; Δ%= 9,02; TE= 8), conforme Figura 3.

 

Legenda: PTH= perturbação total de humor; a= significativamente diferente do momento pré-jogo. Fonte: Autores

 

Discussão 

 

    O objetivo do estudo foi analisar os estados de humor antes e após o jogo de futebol de travinha em homens saudáveis. A hipótese do estudo foi comprovada uma vez que ocorreram alterações agudas negativas no estado de humor após o jogo de futebol de travinha. Os principais achados do estudo foram: a) houve a caracterização do perfil iceberg no momento pré-jogo; b) houve um aumento significativo da percepção de tensão e fadiga imediatamente após o jogo de futebol de travinha; c) houve uma redução significativa da percepção de vigor imediatamente após o jogo de futebol de travinha e d) houve um aumento significativo da PTH imediatamente após o jogo de futebol de travinha.

 

    Dessa forma, fica evidente que no momento pré-jogo de futebol de travinha os voluntários apresentaram boa saúde mental, apresentando um “perfil iceberg” representada por uma elevada percepção de vigor e níveis moderados de tensão e baixa depressão, raiva, fadiga e confusão mental. Isso pode ser considerado positivo pois além de determinar uma ótima saúde mental, esse perfil de humor evidencia que estavam bem recuperados fisicamente para participarem do jogo e não indica sobrecarga de treinamento (Silva et al., 2018).

 

    Por outro lado, foi observado no presente estudo que para as variáveis de confusão mental, depressão e raiva, não foram encontradas diferenças significativas entre os momentos pré-jogo vs. imediatamente pós jogo, mostrando que esses domínios negativos são menos sensíveis a prática esportiva aguda, pelo menos em populações com perfil de humor semelhante ao da amostra utilizada no estudo. Isso também ocorreu no estudo de Silva et al. (2019) em que esses autores submeteram homens jovens saudáveis a uma sessão de corrida de alta intensidade (80% VO2máx) e verificaram que não houve alterações na percepção de raiva, confusão mental e depressão após o exercício.

 

    Outro ponto que deve ser abordado é que o jogo de futebol de travinha não foi realizado em forma de “pelada”, então o fato do participante ao perder a partida não ter que esperar para entrar novamente em uma partida deve ter sido um fato para que não ocorresse alterações na percepção de raiva. Esse fato observado no presente estudo, foi diferente do que ocorreu no estudo de Rodrigues Silva et al. (2018), em que esses autores submeteram 85 homens a jogos recreacionais de futebol de campo e os resultados mostraram que os praticantes da pelada tiveram um aumento significativo da percepção de raiva após a partida.

 

    Por outro lado, ficou evidente que imediatamente após o jogo de futebol de travinha houveram alterações negativas na PTH promovidos pelo aumento da percepção de tensão e fadiga. Após a prática de atividade física intensa, o organismo responde com um aumento na percepção de tensão devido a uma série de reações fisiológicas e psicológicas (Werneck et al., 2010). Ocorre um estímulo no sistema nervoso simpático, resultando em elevações na frequência cardíaca, na pressão arterial e nos hormônios do estresse, como a adrenalina e cortisol. (Hall et al., 2002)

 

    Além disso, durante atividades físicas intensas, como o futebol de travinha, o corpo produz lactato e íons de hidrogênio que podem diminuir o pH intramuscular e causar desconforto e sensação de queimação nos músculos. Dessa forma, a redução do pH intramuscular pode ativar fibras nervosas aferentes por meio de quimiorreceptores localizados no músculo (Silva et al., 2019), elevando, assim, a sensibilidade à dor (Frey et al., 2008; Wang et al., 2017), dessa forma, esses fatores podem ter contribuído negativamente após a partida para o aumento do nível de tensão dos participantes do jogo de futebol de travinha.

 

    Ainda nessa perspectiva, verificou-se que houve uma elevação da percepção de fadiga após a partida de futebol de travinha que pode ter sido intensificada por vários fatores que envolvem tanto demandas físicas quanto mentais dos jogadores. No presente estudo, foi observado um tamanho de efeito alto para a percepção de fadiga imediatamente após o jogo de futebol de travinha, fato semelhante ocorreu no estudo de Silva et al. (2019) que submeteram indivíduos a corridas na esteira com uma alta intensidade (80%VO2máx) e observaram que imediatamente após o esforço na esteira ocorreram significativas alterações e um alto tamanho de efeito (TE > 2,0) na percepção de fadiga.

 

    De fato, mesmo em um espaço menor, o jogo de futebol de travinha é de alta intensidade, semelhante ao futsal, exigindo corridas rápidas, mudanças constantes de direção e controle de bola (Miguel, e Campos, 2011), o que pode sobrecarregar o sistema cardiovascular e os músculos. Além disso, a recuperação entre as ações tática-técnicas é mínima devido ao ritmo acelerado do jogo, o que contribui para o acúmulo de fadiga. Além disso, o futebol de travinha exige tomada de decisões rápidas e precisas, o que pode aumentar o esforço mental. A necessidade de executar estratégias e manter a posse de bola em um espaço limitado também acrescenta ao desgaste físico e mental.

 

    Durante o exercício intenso, as reservas de glicogênio e outros recursos energéticos são significativamente reduzidas, contribuindo para uma sensação de exaustão (Arruda et al., 2013). O estresse físico e mental gerado pelo jogo também intensifica a percepção de cansaço, enquanto a resposta inflamatória nos músculos pode causar dor e rigidez. A rápida mudança do estado de esforço intenso para o repouso pode fazer com que os sinais de fadiga, que estavam menos evidentes durante o jogo devido à adrenalina e ao foco, se tornem mais perceptíveis após o término da partida. (Rohlfs et al., 2005)

 

    A percepção de vigor diminuiu significativamente imediatamente após o jogo de futebol de travinha, como visto foi um tamanho de efeito alto (TE = -1,2) e isso pode ser explicado devido a várias razões relacionadas ao esforço físico e mental exigido durante a partida. Esses achados corroboram com o estudo de Werneck et al. (2010), que mostraram que exercícios de alta carga levaram a um estado de humor negativo agudo entre homens saudáveis. Esse esforço intenso no futebol de travinha causa fadiga muscular e cansaço geral, resultando em uma redução imediata na sensação de vigor.

 

    Além disso, o estresse mental e a necessidade de concentração constante para tomar decisões rápidas e executar jogadas também contribuem para a sensação de cansaço mental e físico (Meeusen et al., 2013). Após o jogo, o corpo ainda está em processo de recuperação e adaptação, e a sensação de vigor diminui à medida que o corpo trabalha para restaurar seu equilíbrio interno e reverter os efeitos do esforço intenso.

 

    Apesar do aumento na percepção de fadiga e redução do vigor está relacionado a dinâmica do jogo de futebol de travinha que exige um intenso confronto e movimentação dos praticantes. Já existem evidencias que a prática regular de atividade física ou esportes de lazer/participação de forma crônica e sistematizada está associada a diversos benefícios psicológicos, como menor reatividade ao estresse, redução de ansiedade, depressão e hostilidade, melhoria do humor, do autoconceito e do bem-estar psicológico, em pessoas saudáveis. (Brandt et al., 2014)

 

    É importante destacar que embora o futebol de travinha seja considerada uma modalidade esportiva e sejam realizadas muitas competições a nível estadual e nacional, é inegável que ainda é observada como uma atividade esportiva de lazer e se torna uma importante atividade física capaz de proporcionar momentos de alegria e descontração que podem auxiliar indivíduos a enfrentar os desafios diários.

 

    Assim, os resultados do presente estudo são relevantes para treinadores, psicólogos esportivos e pesquisadores interessados em entender as implicações do jogo de futebol de travinha nos estados de humor de homens jovens saudáveis para realizarem intervenções psíquicas em momentos de preparação para competições, principalmente em relação a elevação do nível de tensão que pode ocorrer pós partida e pode ser ocasionado devido a uma série de reações fisiológicas e psicológicas. Já que ocorreram alterações agudas pós jogo é importante ter cautela em ações logo após o jogo, como reuniões de grupo, palestra do treinador.

 

    O estudo apresenta algumas limitações, em primeiro lugar, os resultados obtidos são aplicáveis à população estudada e não podem ser extrapolados para homens jovens ou de meia idade em geral. Além disso, nenhuma variável relacionada às respostas metabólicas ao exercício, como concentração de lactato sanguíneo, adrenalina, cortisol e o pH intramuscular, foram verificadas na presente pesquisa e variáveis contextuais como o resultado do jogo não foram consideradas no presente estudo. Essas variáveis seriam úteis para fornecer informações adicionais relevantes ao interpretar e discutir nossos resultados.

 

Conclusão 

 

    Conclui-se que os homens jovens saudáveis apresentaram um bem-estar psicológico no momento pré-jogo ocasionando o “perfil de humor iceberg”. Imediatamente após o jogo de futebol de travinha não ocorreram alterações em domínios negativos que tem relação com o perfil emocional, tais como: raiva, confusão mental e depressão. Houve alteração aguda de forma negativa apenas em domínios que apresentam relação com a intensidade do jogo principalmente pela mudança na percepção de tensão, vigor e fadiga. Contudo, após uma hora da realização do jogo de futebol de travinha ocorreu uma rápida recuperação dos participantes uma vez que os estados de humor retornaram para os níveis pré-jogo. Dessa forma, o jogo de futebol de travinha não induz níveis de humor negativos permanentes.

 

    Sugere-se para futuros estudos a realização de estudos adicionais com amostras maiores e diversificadas para confirmar e expandir essas conclusões, bem como analisar variáveis contextuais em condições reais de competição no jogo de futebol de travinha.

 

Referências 

 

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Baek, J.E., Hyeon, S.J., Kim, M., Cho, H.Y., e Hahm, S.C. (2024). Effects of dual-task resistance exercise on cognition, mood, depression, functional fitness, and activities of daily living in older adults with cognitive impairment: a single-blinded, randomized controlled trial. BMC geriatrics, 24(1), 369. https://doi.org/10.1186/s12877-024-04942-1

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 329, Oct. (2025)