ISSN 1514-3465
Percepção familiar acerca de atividades físicas para
pessoas com deficiência intelectual: barreiras e facilitadores
Family Perception of Physical Activities for Individuals with Intellectual Disabilities: Barriers and Facilitators
Percepción familiar de la actividad física en personas con discapacidad intelectual: barreras y facilitadores
Marcele Sachete Dorneles
*dornelesmarcele.ef@gmail.com
Artur Carloto Gindri
**gindri.artur@acad.ufsm.br
Luciana Erina Palma
***luciana.e.palma-viana@ufsm.br
*Mestra em Educação Física
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
**Doutora em Ciência do Movimento Humano (UFSM)
Graduado em Educação Física Licenciatura (UFSM)
(Brasil)
Recepción: 06/03/2025 - Aceptación: 04/08/2025
1ª Revisión: 11/07/2025 - 2ª Revisión: 28/07/2025
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
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Cita sugerida
: Dorneles, M.S., Gindri, A.C., e Palma, L.E. (2025). Percepção familiar acerca de atividades físicas para pessoas com deficiência intelectual: barreiras e facilitadores. Lecturas: Educación Física y Deportes, 30(329), 29-41. https://doi.org/10.46642/efd.v30i329.8167
Resumo
A prática de atividade física é indicada para toda a população, incluindo crianças, adolescentes, adultos e idosos. No entanto, ao considerar determinados grupos, como as pessoas com deficiência, o caminho para esse acesso muitas vezes é repleto de dificuldades. Diante disso, este estudo visa investigar as principais barreiras e os facilitadores para a prática de atividade física, na percepção de familiares de pessoas com deficiência intelectual (PCDI). A amostra foi composta por familiares dos participantes de um projeto de extensão. Utilizou-se uma ficha com dados de identificação e um questionário adaptado para analisar os motivos da não prática de atividade física e os fatores que não dificultam a prática. Os resultados indicaram que o mau humor, a falta de interesse, a falta de habilidades físicas e a limitação de recursos financeiros são barreiras que levam à não prática, enquanto fatores como jornada de trabalho, compromissos familiares, tarefas domésticas, falta de incentivo da família e/ou amigos, falta de recursos financeiros, dores leves ou mal-estar e falta de energia foram citados como facilitadores, ou seja, aspectos que não dificultam a prática de atividades físicas. Portanto, conclui-se que as barreiras e os facilitadores se efetivam no cotidiano, determinando e interferindo na qualidade de vida e saúde das pessoas com deficiência. No entanto, entendê-los e buscar alternativas para minimizá-los demandam estratégias específicas para a construção de uma sociedade mais inclusiva.
Unitermos:
Atividade física. Deficiência intelectual. Barreiras. Facilitadores.
Abstract
The practice of physical activity is recommended for the entire population, including children, adolescents, adults, and the elderly. However, when considering certain groups, such as people with disabilities, the path to access is often filled with difficulties. Accordingly, this study aimed to investigate the barriers and facilitators to the practice of physical activities, based on the perception of family members by individuals with intellectual disabilities. The sample consisted of family members of participants in an extension project. An identification data sheet and a questionnaire adapted were used to analyze the reasons for not engaging in physical activity and the factors that do not hinder its practice. The results indicated that bad mood, lack of interest, lack of physical skills, and limited financial resources are barriers to physical activity. In contrast, factors such as work schedule, family commitments, household chores, lack of encouragement from family and/or friends, lack of financial resources, mild pain or discomfort, and lack of energy were cited as facilitators, meaning they do not hinder the practice of physical activities. Therefore, it is concluded that barriers and facilitators manifest in daily life, influencing and impacting the quality of life and health of people with disabilities. However, understanding these factors and seeking alternatives to minimize them require specific strategies for building a more inclusive society.
Keywords:
Physical activity. Intellectual disability. Barriers. Facilitators.
Resumen
La actividad física se recomienda para toda la población, incluyendo niños, adolescentes, adultos y personas mayores. Sin embargo, al considerar ciertos grupos, como las personas con discapacidad, el camino hacia este acceso suele estar plagado de dificultades. Por lo tanto, este estudio tiene como objetivo investigar las principales barreras y facilitadores para la actividad física, según la percepción de los familiares de personas con discapacidad intelectual (PCDI). La muestra consistió en familiares de participantes en un proyecto de extensión. Se utilizó un formulario con datos de identificación y un cuestionario adaptado para analizar los motivos para no realizar actividad física y los factores que no la obstaculizan. Los resultados indicaron que el mal humor, la falta de interés, la falta de habilidades físicas y los recursos financieros limitados son barreras que llevan a la inactividad, mientras que factores como las horas de trabajo, los compromisos familiares, las tareas del hogar, la falta de estímulo de la familia y/o amigos, la falta de recursos financieros, el dolor o malestar leve y la falta de energía se citaron como facilitadores, es decir, factores que no obstaculizan la actividad física. Por lo tanto, se puede concluir que existen barreras y facilitadores en la vida cotidiana, que determinan e interfieren con la calidad de vida y la salud de las personas con discapacidad. Sin embargo, comprenderlos y buscar alternativas para minimizarlos requiere estrategias específicas para construir una sociedad más inclusiva.
Palabras clave
: Actividad física. Discapacidad intelectual. Barreras. Facilitadores.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 329, Oct. (2025)
Introdução
A prática de atividade física é indicada para toda a população e endossada pela World Health Organization (2020), a qual fornece diretrizes baseadas em evidências para a promoção da saúde pública entre crianças, adolescentes, adultos e idosos. Essas diretrizes incluem, também, orientações para a prática de atividade física por pessoas com deficiência (PCD).
É imprescindível salientar que as pessoas com deficiência constituem um grupo heterogêneo, que reúne em uma mesma categoria indivíduos que podem ter diferentes condições motoras, sensoriais, intelectuais ou múltiplas e, sendo assim, as ações de saúde precisam considerar diferentes necessidades e especificidades (Interdonato, e Greguol, 2012).
Citton, Arossi, e Santos (2022) apontam que os serviços de promoção da saúde são importantes na determinação da qualidade de vida e do estado de saúde de pessoas com deficiência. No entanto, embora a adoção de bons hábitos traga benefícios para a saúde e a qualidade de vida, para determinadas populações, como as PCD, o acesso a esses serviços nem sempre é um fator facilitador.
A aplicação de políticas públicas voltadas para a inclusão, acessibilidade e ambientes adaptados é fundamental para garantir que todas as pessoas tenham igualdade de acesso e oportunidades. Essas políticas devem abranger áreas como planejamento urbano e arquitetônico, transporte acessível, educação, emprego e capacitação, saúde e assistência social (Venâncio, e Moraes, 2020) e outras demandas que contribuam para criar fatores facilitadores, em vez de tornarem-se barreiras para as PCD.
Interdonato, e Greguol (2012) salientam que, embora existam barreiras, a deficiência não pode ser considerada em si a causa dessa situação, mas sim a ação de agentes externos ao indivíduo. Quando essas barreiras se sobressaem, acentuam-se a inatividade física, o sedentarismo, a obesidade e outras consequências que podem ser geradas através dessas adversidades.
Diante desse cenário, este estudo visa investigar as principais barreiras e os facilitadores para a prática de atividade física, na percepção de familiares de pessoas com deficiência intelectual (PCDI).
Método
Trata-se de um estudo qualitativo descritivo, visando a obtenção de declarações e informações específicas, sejam elas de cunho pessoal, demográfico, entre outros, acerca dos participantes (Jerry, Jack, e Stephen, 2012). A amostra foi composta por oito familiares de participantes de um programa de extensão que desenvolve atividades aquáticas para pessoas com deficiência intelectual. As atividades aconteciam no Complexo de Piscinas de uma Universidade Federal do interior do Rio Grande do Sul.
O estudo utilizou o questionário proposto por Martins, e Petroski (2000), denominado “Mensuração da percepção de barreiras para a prática de atividades físicas”. Além disso, foi utilizada uma Ficha com Dados de Identificação, contendo questões sobre estado civil, idade, escolaridade e classificação econômica, que, como Martins, e Petroski (2000) ressaltam, são elementos fundamentais para a análise das barreiras existentes. Cabe salientar que a opção de resposta “outros” foi preservada, como sugerem os autores, considerando que a recente crise da COVID-19 impôs mudanças significativas na vida da população e poderia indicar novas barreiras não contempladas no instrumento original.
Para a coleta dos dados, solicitou-se autorização da coordenadora do programa, que concedeu o espaço para a aplicação dos instrumentos. Em seguida, foi agendado um dia específico com os familiares para a aplicação individual da Ficha de Dados de Identificação e do questionário adaptado de Martins, e Petroski (2000). Embora o questionário original mensure a percepção própria, ele foi adaptado para que os familiares pudessem responder com base em suas percepções por seus filhos e filhas. Todos os participantes foram informados sobre os objetivos do estudo e, ao concordarem, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Resultados e discussão
A Ficha com Dados de Identificação buscou trazer as características dos participantes do estudo. Embora os familiares (mães: 06; irmã: 01; tutor responsável: 01) tenham respondido o instrumento, é de suma importância conhecer o perfil das pessoas com deficiência intelectual a quem se referem às respostas. No grupo analisado, haviam duas mulheres e seis homens, com idade média de 36,5 anos. A grande maioria não frequenta ou nunca frequentou o ensino escolar e/ou instituições de ensino. Em relação à classe social, os participantes situam-se entre a classe média e a baixa. Ainda, é válido mencionar que essas pessoas são estimuladas por seus pais, familiares ou responsáveis a participar de outras práticas corporais, como dança, fisioterapia e caminhadas, o que representa um fator diferencial. Nesse sentido, os resultados obtidos podem se diferenciar daqueles encontrados em grupos totalmente sedentários ou com apenas um programa de atividade física esportiva em seu cotidiano.
Os resultados obtidos a partir das análises dos dados coletados estão organizados em duas categorias: 1) Barreiras para a prática de atividades físicas; e 2) Facilitadores para a prática de atividades físicas.
Barreiras para a prática de atividades físicas
Dentre as barreiras identificadas, os principais motivos apontados pelos familiares para a ausência dos praticantes na realização de atividades físicas estão relacionados ao mau humor, à ausência ou falta de interesse em praticar, à falta de habilidades físicas e à limitação de recursos financeiros, como apresentado na figura abaixo (Figura 1).
Figura 1. Barreiras para não praticar atividade física
Fonte: Dados de pesquisa
O mau humor pode estar atrelado às diferentes demandas e enfrentamentos do dia a dia, como acordar cedo, fazer tarefas diárias ou outras atividades, realizar refeições de seu gosto ou não, realizar atividades de lazer, lidar com questões emocionais, hormonais e outras. Wethington, Glanz, e Schwartz (2015) corroboram esse entendimento explanando sobre o conceito de “coping”, definido como um processo de interação entre indivíduo e meio ambiente. Frente a um evento estressor, o indivíduo realiza uma avaliação sobre os potenciais danos ou ameaças, para, então, fazer uma avaliação, dita secundária, sobre sua capacidade de alterar a situação e manejar as reações emocionais negativas. Ainda, Palma, Patias, e Feck (2020) ressaltam que cada pessoa, a partir de sua personalidade, molda o que lhe atrai e o que não atrai, sendo necessário criar estratégias que motivem a prática de atividades.
Desse modo, a motivação, quando relacionada à falta de interesse do indivíduo, pode induzir ao abandono de atividades, acarretando na minimização de relações sociais, emocionais e físicas. Greguol (2017) destaca que as crenças e atitudes dos familiares, dos amigos e das próprias pessoas com deficiência podem ser barreiras ou facilitadores para a prática.
Além disso, Pestana, Barbieri, Vitório, Figueiredo, e Mauerberg-deCastro (2018) enfatizam que, com o aumento da expectativa de vida das pessoas com deficiência intelectual nos últimos anos, a saúde desse grupo tem sido cada vez mais contemplada nas políticas públicas de saúde. Como resultado, houve uma melhoria nas condições de vida, incluindo a incorporação de uma rotina regular de atividade física. No entanto, o número de pessoas sedentárias ainda é elevado, sendo 10% maior do que na população em geral. Esses dados podem estar relacionados à importância da disseminação de atividades físicas e esportivas entre a população com deficiência, especialmente em relação à motivação e aos recursos financeiros, que podem afetar famílias de classe média e baixa.
Com isso, é importante que a disseminação do conhecimento sobre os benefícios e as possibilidades de prática de atividades físicas por essa população seja um fator essencial para uma melhor adesão aos programas disponíveis (Vasudevan, Rimmer, e Kviz, 2015). Nessa perspectiva, deve haver um trabalho procedimental capaz de captar e manter os indivíduos, de forma quase que permanente, na prática de atividades físicas.
A população com DI é caracterizada por limitações na função intelectual, como raciocínio, aprendizagem e resolução de problemas, e no comportamento adaptativo, que abrange uma série de habilidades sociais e práticas do dia a dia (Pestana, Barbieri, Vitório, Figueiredo, e Mauerberg-deCastro, 2018). Todavia, o desenvolvimento de habilidades motoras e intelectuais precisa ser introduzido desde cedo, visto que a estimulação motora é essencial para que, ao longo da vida, se aprimorem os domínios motores, cognitivos, afetivos e sociais, os quais contribuem para a melhoria da qualidade de vida dessa população.
As habilidades físicas, desenvolvidas desde os primeiros meses de vida (Naula, e Ayala, 2021), também se tornaram um fator de destaque nas respostas obtidas. Seron, Arruda, e Greguol (2015) evidenciaram que as habilidades físicas, ou a falta delas, estão ligeiramente ligadas a outros fatores externos ao indivíduo, como recursos financeiros, falta de conhecimento acerca de suas possibilidades, apoio familiar e/ou a noção das potencialidades do indivíduo. Quando não desenvolvidas desde a infância, essas habilidades podem resultar em sua ausência e na constante necessidade de aprimoramento.
Para alcançar a maximização de habilidades físicas, é preciso considerar tanto fatores internos quanto externos. São essas relações entre tarefas, aspectos sociais, apoio de familiares, amigos e profissionais envolvidos, assim como o conhecimento desses na área, que atuam como incentivo para a prática de atividades físicas e motivam os participantes a estarem e permanecerem no ambiente de prática. Contudo, aspectos como a falta de recursos minimizam as oportunidades.
Nesse sentido, a falta de recursos financeiros, apontada com prevalência pelos familiares, é um fator que inibe a procura por atividades físicas, pois, de modo geral, essas práticas possuem um custo financeiro que nem sempre condiz com a condição das PCD e de seus familiares, interferindo, assim, na realização de atividades e exercícios físicos. Rimmer, e Marques (2012) sinalizam que existem provavelmente mais de 1 bilhão de pessoas com deficiência em todo o mundo, com maior prevalência nos países mais pobres, e que essas apresentam menos oportunidades de se envolverem em programas de atividades físicas quando comparadas àquelas sem deficiência.
Ademais, ao perguntar sobre outros motivos que influenciam a não prática de atividades físicas, foi relatada a carência de transporte até o local. Nesse contexto, ao identificar os locais de práticas de atividades físicas, os familiares podem se deparar com a falta e/ou escassez de transporte, seja ele público ou privado.
Esses fatores, demarcados como motivos para a não prática de atividades físicas, se tornam barreiras que geram impedimentos à participação das PCD em diferentes contextos. A interação entre fatores arquitetônicos, sociais, econômicos e políticos intensifica as barreiras existentes, gerando impactos negativos na qualidade de vida e autonomia de pessoas com deficiência. (Gaspar, Padula, Freitas, Oliveira, e Torriani-Pasin, 2019; Wright, Roberts, Bowman, e Crettenden, 2019)
Portanto, na percepção dos familiares, é possível considerar que o mau humor, a ausência ou falta de interesse em praticar atividades e a falta de habilidades físicas estão direcionadas para as PCDI, e que, diretamente, os recursos financeiros são barreiras para os familiares incentivarem a prática de atividades físicas.
Facilitadores para a prática de atividades físicas
O questionário incluiu perguntas sobre os facilitadores, com o objetivo de identificar fatores facilitadores para prática de atividades físicas, segundo a percepção dos familiares das PCDI participantes do estudo. A jornada de trabalho, compromissos familiares, tarefas domésticas e dores leves ou mal-estar foram as respostas mais citadas, como aponta o próxima figura (Figura 2).
Figura 2. Facilitadores para a prática de atividades físicas
Fonte: Dados de pesquisa
Observa-se que os indicadores mais citados como facilitadores estão relacionados ao cotidiano dos familiares, à rotina de seus filhos e filhas ou irmãos(ãs) e a outros fatores que garantem a permanência desses indivíduos nas atividades. Olea et al. (2024) afirmaram, em seu estudo, que o incentivo e o companheirismo de familiares e amigos são essenciais, ainda mais quando se considera que, em alguns casos, a PCD depende do apoio desde o planejamento das atividades até o deslocamento ao local de prática.
O estudo de Jung, Marques, e Kalinoski (2017) também descreveu as barreiras e os facilitadores para a prática de atividade física no tempo livre e sua associação com a prática das pessoas com DI maiores de seis anos inseridas nas APAES do Rio Grande do Sul. Os autores concluíram que as barreiras e os facilitadores estão, normalmente, ligados ao estímulo recebido pelas pessoas com DI. Entre as barreiras mais frequentes para prática de atividade física, destacam-se a falta de dinheiro e a escassez de projetos sociais próximos aos lares.
Ao comparar esses resultados com o presente estudo, podem-se observar semelhanças e diferenças nos facilitadores destacados. A falta de espaços adequados não é considerada um facilitador em nenhum dos dois estudos, havendo evidências de que isso impacta negativamente na permanência e na prática nas atividades físicas esportivas. Por outro lado, a falta de companhia e o incentivo de familiares e amigos se apresentam como fatores facilitadores, evidenciando que famílias e amigos têm uma função crucial na permanência e efetividade das atividades em ambos os grupos estudados.
Neste sentido, é importante destacar que o incentivo e o estímulo proporcionados pelos familiares são facilitadores cruciais para o desenvolvimento da prática de atividades físicas para as PCDI, mesmo diante das barreiras que ainda dificultam essa realização. Além disso, a existência de espaços públicos e privados que incluam e estimulem essas vivências é essencial para promover a adesão à prática de atividades físicas por parte do público com deficiência.
Em outro estudo observado, Teixeira, Graup, e Copetti (2022) analisaram a percepção dos pais/responsáveis sobre as barreiras para a prática de atividade física, tanto dentro quanto fora do ambiente escolar, de estudantes com DI em escolas públicas de um município da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. O estudo revela que as barreiras estão relacionadas aos estímulos que as pessoas com deficiência recebem, sejam de cunho social, por meio de políticas de promoção à saúde dentro e fora da escola, à percepção da capacidade para praticar atividades físicas e ao entendimento dos familiares sobre a importância dessas práticas. Este estudo se contrapõe ao realizado em nossa autoria, visto que as relações sociais são dominantes e influenciadoras na participação e continuidade na prática física em questão.
A adesão de um estilo de vida fisicamente ativo não depende somente de uma decisão individual, mas sim de oportunidades e da inter-relação de diversos fatores, sejam eles individuais, coletivos, ambientais, sociais, culturais, econômicos e políticos (Brasil, 2021).
Os estudos citados abrangem análises importantes sobre os facilitadores e barreiras para a prática de atividades físicas por pessoas com DI, as quais também se destacam neste estudo. Os familiares desempenham um papel fundamental como elemento mediador, pois é através deles que pessoas com DI têm maior facilidade em acessar a prática de atividades físicas. As políticas públicas também são elos primordiais, pois é através delas que ocorre a busca pelos direitos das PCD, assim como a inclusão em diversos âmbitos sociais.
Conclusão
Buscou-se identificar e analisar as barreiras e os facilitadores para a prática de atividades físicas na percepção dos familiares de pessoas com deficiência intelectual. Os resultados apontaram que as principais barreiras para a prática de atividades físicas por pessoas com deficiência intelectual neste estudo são o mau humor, a falta de interesse, a falta de habilidades físicas e de recursos financeiros.
Em contrapartida, os fatores facilitadores predominam, pautados na jornada de trabalho, compromissos familiares, tarefas domésticas e dores leves ou mal-estar, que não interferem para a não prática de atividades físicas por parte dos participantes. Desse modo, é preciso maximizar os facilitadores e ter a compreensão do quão benéfico é aliar o cotidiano à prática de atividade física.
Ademais, entende-se que algumas barreiras, como a limitação de recursos financeiros, e facilitadores, como jornada de trabalho, compromissos familiares e tarefas domésticas, estão diretamente ligadas à percepção da própria família, que define a inserção e a constância da prática de atividades físicas na vida das PCDI.
Embora as barreiras sejam evidenciadas, é preciso minimizá-las com estratégias que facilitem o dia a dia dos participantes e os estimulem a praticar atividades, desde as mais simples até as mais elaboradas, como as desenvolvidas no projeto. Tais atividades são contribuições importantes para a mudança de hábitos, a melhoria da saúde e da qualidade de vida.
Assim, barreiras e facilitadores estão presentes na rotina e influenciam significativamente o comportamento e as decisões dos indivíduos. Torna-se importante identificar esses fatores e compreender os motivos que permeiam sua presença em atividades físicas. Debater o assunto e criar espaços mais inclusivos são lutas diárias a serem vencidas, a fim de criar mais espaços e opções de prática e promover a inclusão, minimizando as barreiras enfrentadas pelas pessoas com deficiência.
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 329, Oct. (2025)