ISSN 1514-3465
Relação entre perfil glicêmico, intensidade de dor e
fatores psicológicos em mulheres com fibromialgia
Relationship between Glycemic Profile, Pain Intensity and Psychological Factors in Women with Fibromyalgia
Relación entre el perfil glucémico, la intensidad del dolor y los factores psicológicos en mujeres con fibromialgia
Khaled Omar Mohamad El Tassa
*khaledunicentro@hotmail.com
Joice Mara Facco Stefanello
**joice@ufpr.br
Diogo Homann
***diogomann@hotmail.com
*Professor do Departamento de Educação Física
e do Programa de Pós-Graduação em Educação
da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO)
Doutor em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Bolsista CNPq
**Professora do Departamento de Educação Física
e do Programa de Pós-Graduação em Educação Física
da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Doutora em Educação Física pela Universidade de Coimbra (Portugal)
***Professor orientador de atividades físicas
do Serviço Social do Comércio, Paraná, SESC-PR
Doutor em Educação Física (UFPR)
(Brasil)
Recepción: 06/02/2025 - Aceptación: 01/04/2025
1ª Revisión: 07/05/2025 - 2ª Revisión: 27/06/2025
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
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Cita sugerida
: El Tassa, K.O.M., Stefanello, J.M.F., e Homann, D. (2025). Impactos da pandemia na regularidade da prática de atividade física entre licenciandos em Educação Física. Lecturas: Educación Física y Deportes, 30(327), 98-120. https://doi.org/10.46642/efd.v30i327.8126
Resumo
Trata-se de um estudo transversal, de abordagem quantitativa, com delineamento comparativo e correlacional, que teve como objetivo investigar a relação entre variáveis psicológicas e fisiológicas em mulheres com fibromialgia. O estudo teve como objetivo avaliar a relação entre alteração do perfil glicêmico, intensidade de dor, sintomas depressivos e estados de humor, comparando esses indicadores entre mulheres com diagnóstico de fibromialgia e mulheres saudáveis. Foram avaliados intensidade dolorosa, limiar de dor, estados de humor e sintomas depressivos, em 28 mulheres com diagnóstico de fibromialgia e 17 mulheres saudáveis. Para o grupo de mulheres com fibromialgia e alteração do perfil glicêmico (FMCaltPG) existiu correlação moderada e positiva entre sintomas depressivos e intensidade de dor. Foi constatado também correlação inversa entre as concentrações de hemoglobina glicada e a intensidade dor, indicando que estas mulheres apresentam mais sintomas depressivos e com maior intensidade, no entanto, podem sentir menos dor. A proposta visou contribuir para a compreensão da interação entre fatores emocionais e metabólicos na experiência da dor crônica associada à fibromialgia.
Unitermos:
Fibromialgia. Dor. Sintomas depressivos. Estados de humor. Perfil glicêmico.
Abstract
This is a cross-sectional study, with a quantitative approach, with a comparative and correlational design, which aimed to investigate the relationship between psychological and physiological variables in women with fibromyalgia. The study aimed to evaluate the relationship between changes in the glycemic profile, pain intensity, depressive symptoms and mood states, comparing these indicators between women diagnosed with fibromyalgia and healthy women. Pain intensity, pain threshold, mood states and depressive symptoms were evaluated in 28 women diagnosed with fibromyalgia and 17 healthy women. For the group of women with fibromyalgia and changes in the glycemic profile (FMCaltPG), there was a moderate and positive correlation between depressive symptoms and pain intensity. An inverse correlation was also found between glycated hemoglobin concentrations and pain intensity, indicating that these women have more depressive symptoms and with greater intensity, however, they may feel less pain. The proposal aimed to contribute to the understanding of the interaction between emotional and metabolic factors in the experience of chronic pain associated with fibromyalgia.
Keywords:
Fibromyalgia. Pain. Depressive symptoms. States of mood. Glycemic profile.
Resumen
Estudio transversal, cuantitativo con un diseño comparativo y correlacional que tuvo como objetivo investigar la relación entre variables psicológicas y fisiológicas en mujeres con fibromialgia. El estudio tuvo como objetivo evaluar la relación entre cambios en el perfil glucémico, intensidad del dolor, síntomas depresivos y estados de ánimo, comparando estos indicadores en mujeres diagnosticadas con fibromialgia y mujeres sanas. La intensidad del dolor, el umbral del dolor, los estados de ánimo y los síntomas depresivos se evaluaron en 28 mujeres diagnosticadas con fibromialgia y 17 mujeres sanas. Para el grupo de mujeres con fibromialgia y cambios en el perfil glucémico (FMCaltPG), hubo una correlación moderada y positiva entre los síntomas depresivos y la intensidad del dolor. También se encontró una correlación inversa entre las concentraciones de hemoglobina glucosilada y la intensidad del dolor, lo que indica que estas mujeres experimentan más y más intensos síntomas depresivos, pero pueden experimentar menos dolor. La propuesta tuvo como objetivo contribuir a la comprensión de la interacción entre factores emocionales y metabólicos en la experiencia del dolor crónico asociado a la fibromialgia.
Palabras clave
: Fibromialgia. Dolor. Síntomas depresivos. Estados de ánimo. Perfil glucémico.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 327, Ago. (2025)
Introdução
A fibromialgia (FM) é uma síndrome caracterizada pela presença de hipersensibilidade dolorosa em pelo menos 11, dos 18 pontos específicos predeterminados, também conhecidos como tender points, quando submetidos a digito-pressão (Wolfe et al., 1990). Entre os sintomas característicos da fibromialgia, destacam-se a fadiga, os distúrbios do sono e a cefaleia (Martín Pérez et al., 2023; Helfenstein, e Feldman, 2002). Ademais, é comum a presença de comorbidades psiquiátricas, como alterações do humor, transtornos depressivos e ansiedade, que, embora não sejam sintomas diretos da síndrome, podem contribuir significativamente para a exacerbação da sintomatologia e para a piora da qualidade de vida dos pacientes.
Do ponto de vista psicossocial, a fibromialgia está fortemente associada a alterações emocionais e comportamentais que impactam de maneira significativa a funcionalidade e a qualidade de vida dos indivíduos acometidos. Entre essas alterações, destacam-se o aumento da irritabilidade, sentimentos persistentes de tristeza, isolamento social, dificuldades cognitivas -como prejuízos na atenção e na memória-, além de comprometimento nas atividades de rotina (Campos et al., 2024). Além disso, Galvez‑Sánchez et al. (2018) destacaram que a fibromialgia está associada a déficits cognitivos (atenção, memória e velocidade de processamento) e elevados níveis de ansiedade e depressão, impactando diretamente o funcionamento diário e a percepção da própria capacidade. A interação entre a dor crônica e o sofrimento psíquico estabelece um ciclo de retroalimentação negativa, dificultando a adaptação ao quadro clínico e tornando imprescindível uma abordagem terapêutica interdisciplinar.
Além dessas repercussões psicossociais, tem-se evidenciado, nos últimos anos, que indivíduos com fibromialgia também apresentam alterações metabólicas e neuroendócrinas, sugerindo a presença de mecanismos fisiopatológicos multifatoriais (Maciel, e Ferreira, 2024; Martín Pérez et al., 2023). Estudo aponta para disfunções no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, alterações nos níveis de neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, bem como anomalias na regulação do metabolismo energético celular (Maciel, e Ferreira, 2024). Tais evidências reforçam a natureza complexa da síndrome, que envolve uma inter-relação dinâmica entre fatores biológicos, psicológicos e comportamentais.
As consequências de alterações no perfil glicêmico são de gravidade crescente e decorrem de alterações micro e macrovasculares que levam à disfunção, ao dano ou à falência de vários órgãos (Sociedade Brasileira de Diabetes, 2010). Indivíduos que apresentam alterações glicêmicas (diabetes e pré-diabetes) são suscetíveis a complicações como cegueira, insuficiência renal crônica, doenças cardiovasculares (Boulton et al., 2005; Molitch et al., 2004), aumento de processos inflamatórios, redução da força muscular (Maciel, e Ferreira, 2024) e redução da função neurotrófica (Friis, e Nanjundappa, 1986), com possibilidade de redução da plasticidade das conexões neurais, e, consequente desenvolvimento da depressão. (Jacobson et al., 1997)
A compreensão dos sintomas e comorbidades associadas à fibromialgia tem sido aprofunda. Além dos sintomas clássicos como dor crônica generalizada, fadiga persistente e distúrbios do sono, pesquisas contemporâneas destacam a presença significativa de alterações cognitivas, frequentemente referidas como fibro fog, que englobam dificuldades de concentração, memória e processamento de informações (Gau et al., 2023). Adicionalmente, há uma prevalência elevada de comorbidades psiquiátricas, como ansiedade e depressão, que não apenas coexistem com a fibromialgia, mas também influenciam negativamente a intensidade da dor e a qualidade de vida dos pacientes (Pellin et al., 2024; Gau et al., 2023). A interação entre dor crônica, distúrbios do sono e sintomas ansiosos parece configurar um ciclo patológico que agrava o impacto da doença (Catalá et al., 2023). Destaca-se que alterações nos estados de humor, nos sintomas depressivos (Moreira et al., 2003; Gaskin et al., 2022) têm sido evidenciadas, bem como desmotivação (Ahmadi et al., 2023), em indivíduos com fibromialgia.
Contudo, os estados de humor possuem duração e intensidade variáveis, refletindo a capacidade do indivíduo de vivenciar sentimentos e emoções como exaltação, felicidade, tristeza, nervosismo, ansiedade, angústia, raiva, indisposição, cansaço e insatisfação, entre outros (Gaskin et al., 2022). Esses estados são expressos por meio das reações do sujeito diante das situações cotidianas e da forma como ele interage com o mundo (Rohlfs et al., 2008). Nesse contexto, alterações do humor, especialmente os sintomas depressivos, têm sido associadas a prejuízos significativos em diversas condições clínicas.
Especificamente em indivíduos com diabetes mellitus, tais sintomas estão relacionados a um pior controle glicêmico (Manoudi et al., 2012; Van Tilburg et al., 2001; Grandinetti et al., 2000). Pessoas com diabetes apresentam o dobro de probabilidade de desenvolver depressão (Andersen et al., 2004), com prevalências variando entre 0% e 60,5% (Maharaj, 2011; Moreira et al., 2003), sendo as mulheres particularmente mais suscetíveis. (Maharaj, 2011; Andersen et al., 2004)
Em indivíduos com FM, a depressão apresenta grande impacto funcional e tem abrangência multifatorial, envolvendo inúmeros aspectos de ordem biológica, psicológica e social, como perda de força muscular (Maciel, e Ferreira, 2024; Martín Pérez et al., 2023). Alterações dos estados de humor e sintomas depressivos, dentre outras consequências, ocasiona anormalidades relacionadas à saúde emocional de pessoas com FM, com influência negativa na qualidade de vida desses indivíduos.
Diante do exposto, o presente estudo tem como objetivo avaliar a relação entre alteração do perfil glicêmico, intensidade de dor, sintomas depressivos e estados de humor em mulheres com fibromialgia.
Método
Participantes
Estudo de corte transversal, do tipo causal-comparativo. A seleção das participantes do estudo foi realizada de forma intencional e por conveniência, a fim de atender aos objetivos do estudo. Assim, participaram da pesquisa mulheres na faixa etária de 30 a 50 anos (Controle 43,4 ± 4,7 e Fibromiálgicas 44,8 ± 5,5), com fibromialgia (FM) com e sem alteração do perfil glicêmico, e controles saudáveis. As participantes com FM foram recrutadas exclusivamente do Ambulatório de Reumatologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC/UFPR), Curitiba, Paraná, de acordo com os critérios do Colégio Americano de Reumatologia - ACR (Wolfe et al., 1990), com base no prontuário médico. Já o grupo de mulheres saudáveis foi recrutado através do aceite de convite realizado as participantes de Projetos de Extensão vinculas a Universidade onde foi realizada a pesquisa.
Considerando a especificidade da população estudada e os objetivos propostos do estudo, foram excluídas mulheres que não atendessem à idade estipulada para o desenvolvimento do estudo, que estivessem no período da menopausa e/ou inseridas em programas de atividades físicas regulares e que apresentassem: índice de massa corporal (IMC) ≥ 40 Kg/m2; doenças coronárias, pulmonares e neurológicas não tratadas; histórico clínico de complicações cardiovasculares; distúrbios da tireoide não controlados (hipertireoidismo, hipotireoidismo); doenças reumáticas (osteoartrite, artrite reumatoide, osteoporose, tendinites de MMII); alterações osteomusculares (hérnia discal, espondilólise, espondilolistese); paralisias e amputações; histórico de fraturas e cirurgias articulares recentes, que pudessem interferir na execução das avaliações previstas no estudo; dependência de dispositivo de auxílio para o desempenho de atividades diárias; manifestação clínica grave de complicações crônicas do diabetes; terapêutica de insulina, além de alteração do perfil glicêmico, pelos exames de glicose e HbA1c (pré-diabetes e diabetes) para as participantes do grupo controle saudável, e, somente pelo exame de glicose (diabetes), para as participantes dos grupos com FM.
De acordo com os critérios de inclusão/exclusão, que foram descritos previamente, 28 mulheres com fibromialgia concluíram o estudo, sendo que 16 compuseram o grupo com FM e sem alteração do perfil glicêmico, e, 12 fizeram parte do grupo de fibromiálgicas com alteração do perfil glicêmico. As 17 mulheres que compuseram o grupo controle, sem o diagnóstico da FM, foram pareadas pela idade e IMC aos grupos com fibromialgia. Para a composição dos grupos FM, com e sem alteração do perfil glicêmico, foi levado em consideração o resultado do Teste de Concentração de Hemoglobina Glicada (HbA1c). Desta forma, foi considerado como amostra válida para este estudo 45 participantes, distribuídas em três grupos: (1) controles saudáveis (GC), composto por 17 mulheres; (2) mulheres com FM sem alteração do perfil glicêmico (FMSaltPG), composto por 16 participantes; (3) mulheres com FM e alteração do perfil glicêmico (FMCaltPG), composto por 12 participantes.
Procedimentos
Todas as informações sobre objetivos, procedimentos, avaliações e questões legais do estudo foram apresentadas às voluntárias, e, aquelas que optaram por participar da pesquisa, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná - HCUFPR (CEP/HC 01469212.7.1001.0096). Após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, as voluntárias realizaram todas as avaliações previstas, em dois dias, inclusive dosagens sanguíneas.
As avaliações foram realizadas no Centro de Estudo do Comportamento Motor (CECOM) da Universidade Federal do Paraná, sendo que as participantes realizaram coleta de sangue e preenchimento de questionários. No primeiro dia, foram mensuradas as medidas antropométricas, preenchimento dos questionários de sintomas depressivos e estados de humor. No segundo dia, dosagens sanguíneas, avaliação do limiar de dor (coxa) e mensuração da intensidade de dor.
Avaliações antropométricas
As técnicas utilizadas para obtenção das medidas antropométricas foram realizadas conforme o Anthropometric Standardization Reference Manual (Lohman, Roche, e Martorel, 1988). As medidas foram obtidas através do valor médio entre três mensurações, sendo realizadas as seguintes medições morfológicas: massa corporal (kg) e estatura (cm) para obtenção do índice de massa corporal (kg/m²) e circunferência abdominal (cm).
Caracterização da fibromialgia
A avaliação clínica do limiar da dor foi realizada pelos médicos reumatologistas do Ambulatório de Reumatologia do HC/UFPR, como recomendado pelo Colégio Americano de Reumatologia (Wolfe et al., 1990), com a aplicação da pressão sobre os tender points com força equivalente a 4 kgf, por meio de um dolorímetro analógico (Algômetro de Fischer, 1987), aparelho utilizado para a mensurar a dor.
Avaliação da intensidade e limiar da dor
A intensidade da dor foi avaliada pela escala visual analógica de dor (EVA), de 100 mm (Maeda et al., 2006), que consiste em instrumento de avaliação subjetiva, da dor sentida em determinado momento ou período de tempo. É considerada escala comum, de simples aplicação, confiável e altamente correlacionada com outras medidas de dor. (Katz, e Melzack, 1999)
Utilizando a dolorimetria, através do algômetro de Fischer (Pain Diagnostics & Thermography, EUA), foi avaliado o limiar de sensibilidade dolorosa à pressão de um músculo da coxa (quadríceps femoral), com objetivo de obtenção de dados de um segmento corporal de interesse no estudo. O escore obtido de cada participante foi utilizado para quantificar o limiar de dor na coxa em kg/cm².
Avaliação dos estados de humor
Para avaliação dos estados de humor foi utilizada a Escala de Humor Brasileira (BRAMS) (Rohlfs, 2008), que se constitui em um questionário de acompanhamento de variáveis psicológicas (Terry et al., 2003). O BRAMS, adaptado do Profile of Moods States (POMS) (Mcnair et al., 1971), foi desenvolvido para permitir uma rápida mensuração dos estados de humor de populações compostas por adultos e adolescentes. (Terry et al., 2003)
Avaliação dos sintomas depressivos
O Inventário de Depressão de Beck (IDB), desenvolvido por Aaron Beck em 1961, e validado para a população brasileira por Gorestein, e Andrade (1996), é uma das ferramentas de autoavaliação de depressão mais amplamente utilizadas, tanto em pesquisa quanto em contexto clínico (Dunn, e Sham, 1993). Esse inventário é reconhecido por sua eficácia e por fornecer uma medida precisa e de fácil aplicação para avaliar a severidade dos sintomas depressivos em diferentes contextos.
Análise estatística
Para verificação da normalidade das variáveis, foi utilizado o teste de Jarque-Bera, que avalia a simetria e a curtose de uma distribuição. A escolha deste teste se deu pela sua aplicabilidade em amostras grandes, onde o teste de Shapiro-Wilk pode ser menos eficiente devido à sua sensibilidade em amostras de tamanho reduzido (Royston, 1992). Além disso, o teste de Jarque-Bera é amplamente utilizado em análises de séries temporais e em contextos que envolvem grandes volumes de dados, como no presente estudo. Os dados foram analisados utilizando-se o software Statistica ® (Statsoft Inc., versão 7.0, USA). Valores de p menores do que 0,05 indicaram significância estatística.
Resultados
Características gerais da amostra
Neste tópico, as características gerais da amostra foram comparadas entre os grupos controle e fibromialgia, e, posteriormente, entre grupos controle, fibromialgia sem alteração do perfil glicêmico e fibromialgia com alteração do perfil glicêmico.
A idade e as variáveis antropométricas não apresentaram diferenças estatisticamente significantes (p>0,05) ao comparar o grupo controle e o de mulheres com fibromialgia (Tabela 1). Por outro lado, as mulheres com fibromialgia diferiram daquelas sem fibromialgia (Figura 1), apresentando limiar de dor reduzido (p<0,01) e maior intensidade de dor (p<0,01) na coxa, quando comparadas aos controles saudáveis.
Tabela 1. Características gerais da amostra
|
Controle
(n = 17) |
Fibromialgia
(n = 28) |
p
|
Média
± DP |
Média
± DP |
||
Idade
(anos) |
43,4 ± 4,7 |
44,8 ± 5,5 |
0,377 |
Massa
Corporal (kg) |
71,3 ± 13,3 |
66,3 ± 9,0 |
0,177 |
Estatura
(cm) |
157,7 ± 6,1 |
156,2 ± 4,3 |
0,362 |
IMC
(kg/m2) |
28,8 ± 5,8 |
27,2 ± 4,2 |
0,294 |
CA
(cm) |
92,1 ± 12,4 |
89,3 ± 8,6 |
0,432 |
Resultados apresentados em média ± desvio padrão (DP); IMC: Índice de Massa Corporal; CA: Circunferência Abdominal; Teste t de Student para amostras independentes e Teste não paramétrico de Mann-Whitney foram utilizados. Fonte: Os autores
Figura 1. Comparativo das características dolorosas entre mulheres sem e com fibromialgia. Teste não paramétrico de Mann-Whitney
Fonte: Os autores
Os resultados comparativos entre o grupo controle e os grupos de mulheres com fibromialgia (com e sem alterações do perfil glicêmico) são apresentados na Tabela 2 e Figura 2. Os grupos foram homogêneos quanto à idade e variáveis antropométricas (p>0,05). Os dois grupos com fibromialgia apresentaram piores características dolorosas (limiar e intensidade de dor) comparadas ao grupo controle, porém não existiram diferenças entre o grupo de mulheres com fibromialgia sem alteração do perfil glicêmico (FMSaltPG) e o grupo de mulheres com fibromialgia com alteração do perfil glicêmico (FMCaltPG).
Tabela 2. Características gerais da amostra considerando os três grupos
|
Controle
(n = 17) |
FMSaltPG
(n = 16) |
FMCaltPG
(n = 12) |
p |
Média
± DP |
Média
± DP |
Média
± DP |
||
Idade
(anos) |
43,4 ± 4,7 |
43,4 ± 5,8 |
46,7 ± 4,7 |
0,172 |
Massa
Corporal (kg) |
71,3 ± 13,3 |
63,8 ± 6,0 |
69,6 ± 11,3 |
0,118 |
Estatura
(cm) |
157,7 ± 6,1 |
157,4 ± 3,6 |
154,7 ± 4,9 |
0,249 |
IMC
(kg/m2) |
28,8 ± 5,8 |
25,8 ± 2,9 |
29,2 ± 4,9 |
0,108 |
CA
(cm) |
92,1 ± 12,4 |
86,1 ± 7,9 |
93,6 ± 7,9 |
0,103 |
Resultados apresentados em média ± desvio padrão (DP) comparando os grupos controle e fibromialgia sem alteração do perfil glicêmico (FMSatlPG) e fibromialgia com alteração do perfil glicêmico (FMCaltPG); IMC: Índice de Massa Corporal; CA: Circunferência Abdominal; Análise de Variância com uma fonte de variação para amostras independentes. Fonte: Os autores
Figura 2. Comparativo das características dolorosas entre mulheres sem fibromialgia e com fibromialgia sem e com alteração do perfil glicêmico; análise de variância com uma fonte de variação para amostras independentes
Fonte: Os autores
Sintomas depressivos e estados de humor
Neste tópico, são apresentados os resultados das comparações entre os dois grupos (controle e fibromialgia) e três grupos (controle, fibromialgia sem alteração do perfil glicêmico e fibromialgia com alteração do perfil glicêmico), bem como a relação entre estas variáveis.
Os resultados comparativos entre o grupo controle e de mulheres com fibromialgia para os sintomas depressivos são apresentados na Figura 3. O grupo com fibromialgia apresentou mais sintomas depressivos e com maior intensidade para esta variável, quando comparado com o grupo de mulheres sem fibromialgia (p<0,05).
Figura 3. Comparação entre o grupo controle e fibromialgia para os sintomas depressivos. Teste não paramétrico de Mann-Whitney foi utilizado
Fonte: Os autores
Na Figura 4 são apresentados os resultados comparativos para os estados de humor entre o grupo controle e com fibromialgia. O grupo com fibromialgia apresentou piores resultados para todas as subescalas dos estados de humor (p<0,05) comparado ao grupo controle. O grupo de mulheres com fibromialgia apresentou elevada tensão, depressão, fadiga, confusão mental e raiva, associadas ao baixo vigor.
Figura 4. Comparação entre o grupo controle e fibromialgia para os estados de humor. Existiram diferenças estatisticamente significantes em todas as comparações (p<0,05). Teste não paramétrico de Mann-Whitney foi utilizado
Fonte: Os autores
Na Tabela 3 são apresentados os resultados das correlações para os grupos controle e fibromialgia envolvendo as variáveis intensidade de dor, limiar de dor, estados de humor e sintomas depressivos. Para o grupo com fibromialgia verificou-se correlação positiva entre as variáveis sintomas depressivos e intensidade de dor (r = 0,45; p<0,05).
Tabela 3. Correlações entre características dolorosas, estados de humor e sintomas depressivos para o grupo controle e com fibromialgia
|
Controles
(n = 17) |
Fibromialgia
(n = 28) |
||
Limiar
dor coxa |
Dor |
Limiar
dor coxa |
Dor |
|
Limiar
dor coxa |
- |
-0,26 |
- |
0,13 |
Dor |
-0,26 |
- |
0,13 |
- |
Sintomas
depressivos |
0,33 |
0,16 |
-0,18 |
0,45* |
Estados
de humor |
||||
Tensão |
0,29 |
0,28 |
0,10 |
0,27 |
Depressão |
-0,05 |
0,43 |
0,24 |
0,09 |
Vigor |
-0,15 |
-0,44* |
-0,07 |
0,02 |
Fadiga |
-0,22 |
0,42 |
0,35 |
0,18 |
Confusão
mental |
0,26 |
0,12 |
-0,01 |
0,28 |
Raiva |
0,03 |
0,23 |
-0,17 |
0,15 |
*Correlação significativa (p<0,05). Correlações de Pearson e Spearman foram utilizadas. Fonte: Os autores
Na Tabela 4 são apresentados os resultados comparativos entre os três grupos para os sintomas depressivos avaliados pelo Inventário de Depressão de Beck (IDB). Os dois grupos com fibromialgia, com e sem alterações do perfil glicêmico, apresentaram maior intensidade e mais sintomas depressivos comparados ao grupo controle (p<0,05), porém não diferiram entre si (p>0,05). Os dois subgrupos com fibromialgia apresentaram piores estados de humor quando comparados ao grupo controle, ou seja, elevada tensão, depressão, confusão mental, raiva e fadiga, associadas ao baixo vigor. Ao comparar os dois subgrupos com fibromialgia entre si, houve diferenças somente para a subescala fadiga (p<0,01), com maior pontuação para o grupo FMSaltPG.
Tabela 4. Comparação entre os grupos controle e fibromialgia, sem e com alterações do perfil glicêmico, para os estados de humor e sintomas depressivos
|
Controle
(n = 17) |
FMSaltPG
(n = 16) |
FMCaltPG
(n = 12) |
p |
Média
± DP |
Média
± DP |
Média
± DP |
||
Sintomas
Depressivosa,b |
10,4 ± 8,5 |
23,8 ± 8,7 |
24,2 ± 11,9 |
<
0,01 |
Estados
de humor |
||||
Tensãoa |
4,2 ± 2,6 |
8,6 ± 4,6 |
6,1 ± 4,4 |
0,025 |
Depressãoa,b |
2,4 ± 2,7 |
6,4 ± 3,9 |
5,4 ± 4,0 |
< 0,01 |
Vigora,b |
8,7 ± 4,1 |
5,9 ± 3,3 |
6,3 ± 3,4 |
0,049 |
Fadigaa,b,c |
3,3 ± 4,3 |
10,7 ± 4,2 |
6,3 ± 4,2 |
< 0,01 |
Confusão
Mentala |
2,1 ± 3,4 |
6,1 ± 4,5 |
4,3 ± 3,9 |
0,026 |
Raivaa,b |
0,8 ± 2,4 |
3,3 ± 3,6 |
3,2 ± 4,2 |
0,011 |
Dados expressos em média ± desvio padrão (DP); FMSaltPG: grupo fibromialgia sem alteração do perfil glicêmico; FMCaltPG: grupo fibromialgia com alteração do perfil glicêmico; Teste não paramétrico de Kruskal-Wallis e post hoc de Dunns quando necessário; a = Controle versus FMSaltPG; b = Controle versus FMCaltPG; c = FMSaltPG versus FMCaltPG. Fonte: Os autores
Na Tabela 5 são apresentados os resultados das correlações entre os grupos de fibromialgia sem e com alteração do perfil glicêmico, envolvendo as variáveis intensidade de dor, limiar de dor, estados de humor e sintomas depressivos. A variável sintomas depressivos apresentou correlação positiva (p<0,05) com intensidade de dor (r=0,72) para o grupo FMCaltPG.
Tabela 5. Correlações entre características dolorosas, estados de humor e sintomas depressivos entre os grupos fibromialgia sem e com alteração do perfil glicêmico
|
FMSaltPG
(n = 16) |
FMCaltPG
(n = 12) |
||
Limiar
dor coxa |
Dor |
Limiar
dor coxa |
Dor |
|
Limiar
dor coxa |
- |
0,38 |
- |
-0,33 |
Dor |
0,38 |
- |
-0,33 |
- |
Estados
de humor |
||||
Tensão |
0,10 |
0,40 |
0,01 |
0,14 |
Depressão |
0,39 |
0,37 |
0,19 |
-0,15 |
Vigor |
-0,07 |
-0,31 |
-0,13 |
0,36 |
Fadiga |
0,34 |
0,26 |
0,29 |
0,05 |
Confusão
mental |
0,30 |
0,28 |
-0,26 |
0,51 |
Raiva |
-0,39 |
-0,06 |
0,09 |
0,40 |
Sintomas
depressivos |
0,06 |
0,21 |
-0,52 |
0,72* |
*Correlação significativa (p<0,05). Correlações de Pearson e Spearman foram utilizadas. Fonte: Os autores
Discussão
Sintomas depressivos e estados de humor
No presente estudo, o grupo com fibromialgia relatou maior intensidade de sintomas depressivos do que o grupo controle. Quando comparados os grupos de mulheres com fibromialgia com e sem alteração do perfil glicêmico, não foram constatadas diferenças significativas. Dessa forma, a hipótese deste estudo que previa que mulheres com fibromialgia e com alterações do perfil glicêmico apresentariam mais sintomas depressivos e com maior intensidade, quando comparadas às mulheres com fibromialgia sem alterações do perfil glicêmico e mulheres saudáveis, foi parcialmente aceita.
Estudos têm apontado que sintomas depressivos é maior em indivíduos com fibromialgia do que em outras comorbidades que tem como sintoma a dor crônica (Gormsen et al., 2010; Birtane et al., 2007) ou outras condições reumatológicas como a artrite reumatóide (Birtane et al., 2007). Nesse estudo, o grupo de mulheres com fibromialgia apresenta possível quadro de depressão, considerando os pontos de corte adotados para populações sem diagnóstico prévio (acima de 21 pontos no Inventário de Depressão de Beck). (Gorenstein, e Andrade, 1996)
A depressão é comorbidade psiquiátrica frequente em indivíduos com fibromialgia (Fietta et al., 2007). Mesmo sem diagnóstico formal, os sintomas depressivos acometem cerca de 40% desses indivíduos (Kato et al., 2006). A alta frequência de indivíduos com fibromialgia que demonstram estado depressivo sugere que a dor pode ter participação efetiva nessa condição clínica. No presente estudo, foram constatadas correlações positivas significativas entre a intensidade de dor e os sintomas depressivos nas mulheres com fibromialgia (r=0,45), indicando que quanto maior a dor, mais e com maior intensidade são os sintomas depressivos identificados nessa população. No entanto, essas correlações apresentaram-se fracas, indicando uma relação, embora estatisticamente significativa, de magnitude reduzida entre as variáveis. Correlação ainda maior (r=0,72) foi encontrada entre intensidade de dor e sintomas depressivos para o grupo com fibromialgia que apresenta alteração no perfil glicêmico, sugerindo que essa alteração metabólica pode exercer forte influência sobre a intensidade de dor e sintomas depressivos em mulheres com fibromialgia. A coexistência entre dor e sintomas depressivos na fibromialgia pode ser explicada pela sobreposição de processos fisiopatológicos, como disfunção do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, alterações no sistema monoaminérgico, neuroinflamação, estresse oxidativo e disfunções metabólicas, especialmente em casos com alteração no perfil glicêmico. (Maletic, e Raison, 2009)
Sintomas depressivos estão associados com redução do limiar de dor, devido às alterações no funcionamento das estruturas encefálicas responsáveis pela modulação da dor (Norman et al., 2010; Fitzgerald et al., 2008; Giesecke et al., 2005; Vythilingam et al., 2004). Uma possível explicação para a maior percepção de dor em indivíduos com fibromialgia e sintomas depressivos, pode ser a tendência de a depressão em indivíduos com fibromialgia assumir estilo cognitivo definido por "catastrofização", representando a tendência de o indivíduo perceber a dor de forma ampliada e insuportável. (Gracely et al., 2004)
Ao comparar os estados de humor de mulheres com fibromialgia (com e sem alteração no perfil glicêmico) e as controles saudáveis, pôde-se aceitar apenas parcialmente outra hipótese desse estudo, uma vez que o grupo com fibromialgia apresentou piores resultados para todas as subescalas dos estados de humor quando comparado ao grupo controle, e apenas para a subescala fadiga quando foram comparados os dois grupos de mulheres com fibromialgia. O grupo FMSaltPG apresentou maior fadiga do que o grupo FMCaltPG.
Os transtornos de humor são comuns entre indivíduos com dor crônica (Bair et al., 2003), com elevadas taxas (cerca de 80%) em indivíduos com fibromialgia (Consoli et al., 2012), mas sua causalidade ainda é desconhecida (Jensen et al., 2010). A alteração dos estados de humor em indivíduos com fibromialgia pode levar a uma má percepção da própria saúde física (Jensen et al., 2010). Em indivíduos com fibromialgia, além da dor musculoesquelética crônica e difusa também têm sido diagnosticados fatores como fadiga, distúrbios do sono, dor de cabeça (Helfenstein, e Feldman, 2002), depressão e ansiedade (Marques et al., 2002; Wolfe et al., 1990). Quanto maior o número de sintomas relacionados à fibromialgia apresentados por esses indivíduos, mais deprimido é o estado de humor nessa população (Brandt et al., 2011). Desta forma, pode-se dizer que as manifestações clínicas apresentadas por indivíduos com fibromialgia podem interferir em seus estados de humor. (Brandt et al., 2011)
Alterações do perfil glicêmico, características dolorosas, estados de humor e sintomas depressivos de mulheres com fibromialgia
No presente estudo, quando comparado o grupo fibromialgia com grupo controle, tanto para intensidade de dor, quanto para limiar de dor, os escores foram significativamente piores no grupo fibromialgia. A dor crônica é condição debilitante, associada com desconforto muscular, limitações de mobilidade e comprometimento de atividades diárias para a população acometida dos sintomas. A dor crônica talvez seja o principal limitante do desempenho físico. A dor muscular crônica tem impacto negativo para realização das atividades diárias, além de interferir na força muscular (Okumus et al., 2006). A intensidade de dor, generalizada, e em alguns pontos específicos dos membros inferiores são responsáveis por influenciar negativamente o desempenho físico/funcional de mulheres com fibromialgia. (Góes et al., 2012)
Outro objetivo deste estudo foi investigar a influência da alteração do perfil glicêmico sobre os estados de humor e sintomas depressivos de mulheres com fibromialgia. Na fibromialgia, além dos sintomas dolorosos, os distúrbios de sono relatados pela maioria dos indivíduos (Bennett et al., 2007) e o excesso de peso apresentam grande prevalência nesta população (Ursini et al., 2011), consideradas comorbidades relevantes que podem provocar alterações metabólicas nestes indivíduos, incluindo alterações do perfil glicêmico. Estudos em indivíduos com diabetes mellitus tipo 2 (DM2) verificaram que a prevalência de fibromialgia pode variar entre 15-23%, sendo que esta frequência é maior nos indivíduos diabéticos quando comparados aos indivíduos saudáveis (Tishler et al., 2003; Wolak et al., 2001). No entanto, existem carências de estudos que tenham investigado o perfil glicêmico de indivíduos com fibromialgia.
Outro importante achado deste estudo foi que, embora não se tenha encontrado diferenças entre os dois grupos com fibromialgia para as características dolorosas, a hipótese de que mulheres com fibromialgia com alterações do perfil glicêmico apresentariam maior intensidade dolorosa e reduzido limiar de dor, quando comparadas às mulheres com fibromialgia sem alteração do perfil glicêmico e mulheres saudáveis foi aceita parcialmente, pois a diferença ocorreu entre o grupo FMCaltPG, que apresentou mais dor e menor limiar de dor, somente quando comparado ao grupo controle.
Cabe ressaltar, que a presença de fibromialgia no DM2 é significantemente associada com elevada concentração de hemoglobina glicada (HbA1c) (Tishler et al., 2003). Parece existir relação positiva e forte entre o número de tender points e as concentrações de HbA1c em sujeitos com DM2 que apresentam também o diagnóstico de fibromialgia (Tishler et al., 2003), indicando que altas concentrações de hemoglobina glicada estão associadas a maior presença de dor. Porém, no presente estudo, embora não tenha sido avaliado o número de tender points, verificou-se relação inversa entre as concentrações de HbA1c e intensidade de dor.
Indivíduos com neuropatia diabética sofrem de hiperalgesia de calor, sensações de formigamento, dor em queimação e dormência nas extremidades afetadas (Veves et al., 2008). De forma similar, em indivíduos com fibromialgia a hipersensibilidade da pele a estímulos mecânicos ou térmicos e sensações de queimação ou formigamento, bem como ataques de dor têm sido frequentemente descritos (Kosek et al., 1996). Os sintomas sensoriais embora sejam, na maioria dos casos, distintos e quase únicos para cada uma das duas síndromes, indicando etiologia específica, verifica-se que o mecanismo de geração de sintomas, envolvendo fenômenos sensoriais é muito similar, ou seja, mesmo com etiologia específica, é identificada sobreposição dos perfis sensoriais em 20-35% em indivíduos de ambas as etiologias. (Koroschetz et al., 2011)
Conclusões
Existiram diferenças entre os sintomas depressivos e os estados de humor entre o grupo controle e o grupo com fibromialgia. Porém, entre os grupos com fibromialgia (com e sem alteração do perfil glicêmico), não foram constatadas diferenças significativas, exceto para a variável "fadiga" dos estados de humor. No grupo com fibromialgia e alteração do perfil glicêmico, verificou-se uma forte correlação positiva entre sintomas depressivos e intensidade da dor, indicando possível influência do estado glicêmico alterado sobre a relação entre dor e sintomas afetivos.
Os sintomas depressivos, por sua vez, não pareceram interferir diretamente no desempenho físico e funcional das mulheres com fibromialgia. Em relação aos estados de humor, observou-se correlação entre algumas subescalas (vigor, confusão mental, raiva, tensão e depressão) e o desempenho físico (torque e taxa de desenvolvimento de torque dos músculos do joelho), nos três grupos analisados. No entanto, tais associações não seguiram um padrão consistente, especialmente entre os grupos com fibromialgia. Assim, o maior comprometimento funcional parece estar mais fortemente relacionado às características dolorosas do quadro clínico.
Ainda que não tenham sido identificadas diferenças significativas entre os grupos com fibromialgia quanto às características dolorosas, observou-se, no grupo com alteração do perfil glicêmico, uma correlação inversa entre as concentrações de hemoglobina glicada e a intensidade da dor. Esse achado sugere que, na presença de um estado hiperglicêmico, pode haver alterações na sensibilidade à dor, resultando em menor percepção dolorosa. Tais resultados reforçam a hipótese de que fatores metabólicos podem modular a experiência de dor em mulheres com fibromialgia, apontando para uma possível influência do metabolismo glicêmico sobre a nocicepção.
Como intervenção possível, os achados desta pesquisa sugerem que o monitoramento e controle do perfil glicêmico podem representar uma estratégia complementar relevante na gestão da dor e dos sintomas depressivos em pacientes com fibromialgia. Estratégias interdisciplinares envolvendo acompanhamento clínico-metabólico, suporte psicológico e programas de atividade física adaptada podem favorecer o manejo mais eficaz dos sintomas.
A usabilidade prática dos resultados reside na possibilidade de personalização das abordagens terapêuticas, considerando o perfil metabólico individual das pacientes. Para o grupo estudado, isso pode significar um avanço no entendimento dos fatores que agravam ou atenuam os sintomas, contribuindo para um cuidado mais sensível às variáveis biológicas e psicossociais envolvidas.
Contudo, algumas limitações devem ser consideradas: a amostra reduzida limita a generalização dos resultados; não houve avaliação longitudinal para verificar alterações ao longo do tempo; e não foram exploradas variáveis como resistência à insulina, composição corporal detalhada, ou parâmetros neuroendócrinos que poderiam aprofundar a análise da interação metabólica com os sintomas.
Diante disso, recomenda-se que pesquisas futuras explorem de forma mais robusta a modulação neuroendócrina e inflamatória relacionada ao perfil glicêmico em mulheres com fibromialgia, assim como ensaios clínicos que investiguem os efeitos de intervenções metabólicas (como controle glicêmico ou dieta de baixo índice glicêmico) sobre dor e humor. Estudos com delineamentos longitudinais também são necessários para avaliar a estabilidade das correlações observadas ao longo do tempo.
Apoio
O desenvolvimento deste estudo contou com apoio financeiro da Fundação Araucária (FA) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 327, Ago. (2025)