patrick_mocesp70@hotmail.com

Acadêmico de Medicina pelas Faculdades Unidas do Norte de Minas (FUNORTE)

Enfermeiro, Especialista em Saúde da Família e Didática e Metodologia

do Ensino Superior pela Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES)

Montes Claros (MG)

(Brasil)

Recepción: 03/01/2025 - Aceptación: 20/03/2025

1ª Revisión: 22/02/2025 - 2ª Revisión: 17/03/2025

Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0

Cita sugerida: Silva, P.L.N. de (2025). Projeto Saúde aos Montes: monitoramento glicêmico e pressórico em praticantes de atividade física. Lecturas: Educación Física y Deportes, 30(324), 143-155. https://doi.org/10.46642/efd.v30i324.8091

 

Resumo

    As doenças cardiovasculares constituem um grupo de doenças de causas multifatoriais que repercutem clinicamente no funcionamento cardíaco. Representa a principal causa de morbimortalidade na população brasileira e mundial. Sendo assim, objetivou-se relatar a experiência no rastreio de doença cardiovascular por meio do monitoramento glicêmico e pressórico em praticantes de atividade física ao ar livre. Trata-se de um relato de experiência docente, juntamente aos discentes do curso Técnico em Enfermagem. A prática foi realizada no dia 28 de maio de 2023, o qual ocorreu à inauguração do Projeto Saúde aos Montes em um parque público, com vista a ofertar uma maior qualidade de saúde aos usuários. As instituições educacionais e as equipes de saúde da prefeitura disponibilizaram serviços de saúde, tais como aferição de pressão arterial, glicemia capilar, vacinação, fisioterapia, práticas de alimentação saudável e de atividade física. Foram registrados em uma planilha os valores glicêmicos e pressóricos de uma pequena parcela dos usuários. A amostra foi composta por 64 usuários, com prevalência do sexo feminino, com idade entre 41-50 anos e ausência de comorbidades. Das doenças crônicas registradas, a hipertensão foi a mais prevalente. Os valores glicêmicos e pressóricos encontravam-se, majoritariamente, dentro dos limites de normalidade. Conclui-se que o monitoramento glicêmico e pressórico contribui para o rastreio precoce de doenças cardiovasculares, bem como para a implementação precoce de seu diagnóstico e tratamento de modo a aumentar a sobrevida do usuário.

    Unitermos: Doença crônica. Cardiopatias. Hipertensão essencial. Diabetes mellitus. Fatores de risco.

 

Abstract

    Cardiovascular diseases are a group of multifactorial diseases that clinically affect cardiac function. They represent the leading cause of morbidity and mortality in both the Brazilian and global populations. This study aimed to report the experience of screening for cardiovascular disease through glycemic and blood pressure monitoring in individuals engaged in outdoor physical activity. This report details a teaching experience conducted with students from the Technical Nursing course on May 28, 2023, at the inauguration of the Mounts Health Project in a public park. The project aimed to improve the health of park users. Educational institutions and municipal health teams provided various health services, including blood pressure measurement, capillary glucose testing, vaccination, physical therapy, healthy eating guidance, and promotion of physical activity. Capillary blood glucose and blood pressure values were recorded for a subset of users. The sample consisted of 64 users, predominantly female, aged 41-50 years, and mostly without comorbidities. Among the recorded chronic diseases, hypertension was most prevalent. Glycemic and blood pressure values were generally within normal limits. In conclusion, glycemic and blood pressure monitoring contributes to the early screening of cardiovascular diseases, facilitating earlier diagnosis and treatment, and ultimately improving user survival.

    Keywords: Chronic disease. Hearth diseases. Essential hypertension. Diabetes mellitus. Risk factors.

 

Resumen

    Las enfermedades cardiovasculares constituyen un grupo de enfermedades con causas multifactoriales que tienen repercusión clínica en la función cardíaca. Representa la principal causa de morbilidad y mortalidad en la población brasileña y mundial. Por tanto, el objetivo fue reportar la experiencia en el cribado de enfermedad cardiovascular mediante monitoreo de glucemia y presión arterial en personas que practican actividad física al aire libre. Se trata de un informe de experiencia docente, en conjunto con estudiantes de la carrera de Técnico en Enfermería. La práctica se realizó el día 28 de mayo de 2023, durante la inauguración del Proyecto Salud en Montes en un parque público, con el objetivo de ofrecer una mayor calidad de salud a los usuarios. Las instituciones educativas y equipos de salud brindaron servicios de salud, como medición de presión arterial, glucemia capilar, vacunación, fisioterapia, prácticas de alimentación saludable y actividad física. Los valores de glucosa en sangre y presión arterial de una pequeña parte de los usuarios se registraron en una hoja de cálculo. La muestra estuvo constituida por 64 usuarios, con predominio del sexo femenino, entre 41-50 años y sin comorbilidades. De las enfermedades crónicas registradas, la hipertensión fue la más prevalente. Los valores de glucemia y presión arterial se encontraban en su mayoría dentro de límites normales. Se concluye que el monitoreo de glucemia y presión arterial contribuye al diagnóstico precoz de enfermedades cardiovasculares, así como a la implementación temprana de su diagnóstico y tratamiento.

    Palabras clave: Enfermedad crónica. Cardiopatías. Hipertensión esencial. Diabetes mellitus. Factores de riesgo.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 324, May. (2025)

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Introdução 

 

    As doenças cardiovasculares (DCV) constituem um grupo de alterações patológicas que alteram o funcionamento do músculo cardíaco de modo a repercutir na dinâmica circulatória e vascular. São tidas como problema de saúde pública, pois apresentam maior morbimortalidade mundial (Pinto, Mello, Lima, Lucena, e Morais, 2019). A mensuração da glicemia capilar (GC) e da pressão arterial (PA) são duas medidas simples, mas de grande importância, que contribuem para prevenir ou controlar o desenvolvimento das DCV. (Sociedade Brasileira de Diabetes [SBD], 2019; Barroso et al., 2021)

 

    Cada DCV manifesta sintomas bastante específicos, porém não exclusivos, no entanto, existem alguns sinais que podem servir de alerta para possíveis problemas cardíacos, sendo eles a epigastralgia (dor ou desconforto no centro do peito); fadiga ou esgotamento; falta de apetite e náuseas; síncope (perda da consciência e desmaios); dor no maxilar e no pescoço; edema de membros inferiores (MMII); noctúria (diurese noturna frequente); dor ou desconforto nos braços, ombro esquerdo, cotovelos ou costas; tosse noturna; sangramento, ferida ou inchaço nas gengivas; suor frio ou sudorese intensa; pés e mãos frios de forma constante; e ganho de peso injustificado. (Pinto et al., 2019; SBD, 2019; Pezzi Junior et al., 2022)

 

    No estudo de Massa, Duarte, e Chiavegatto Filho (2019), foi observado um aumento geral na prevalência de DCV em idosos no município de São Paulo na última década, apresentando prevalências iguais a 17,9% em 2000, 22,2% em 2006 e 22,9% em 2010. Já no estudo de Osawa, Urbano, e Suzuki (2016), em uma amostra de trabalhadores de condomínios em Londrina (Paraná), 39,5% eram hipertensos; 18,2% apresentavam hiperglicemia (Pré-Diabetes Mellitus [DM] e Diabetes Mellitus tipo 2 [DM2]); 35,3% com hipercolesterolemia; e 12,1% eram tabagistas. Todos estes fatores de risco contribuem para o aumento do desenvolvimento de uma DCV. A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC, 2022) informa que as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são responsáveis por, aproximadamente, 70% dos óbitos globais, equivalendo a mais de 38 milhões de mortes por ano, excedendo significativamente as mortes por causas externas e por doenças infecciosas. Aproximadamente, 45% de todos os óbitos por DCNT no mundo, mais de 17 milhões são causadas por DCV. Distribuição similar é observada no Brasil onde 72% das mortes resultam de DCNT, sendo 30% devidas às DCV e 16% a neoplasias, comprovando que as DCV são a principal causa de morte no país.

 

    As principais DCV incluem a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), doenças coronarianas, doenças cerebrovasculares, doença arterial periférica (DAP), doença cardíaca reumática (DCR), cardiopatia congênita, trombose venosa profunda (TVP) e tromboembolismo pulmonar (TEP) (SBD, 2019; Rezende, 2020). A HAS pode ser caracterizada como uma doença crônica o qual repercute em 25% da população brasileira e está associada à gênese dos demais problemas de saúde cardíacos. É descrita como uma doença silenciosa, tendo em vista que qualquer sintoma que possa ser manifestado é de caráter inespecífico (Pezzi Junior et al., 2022). No geral, a HAS é diagnosticada pelos altos níveis da PA, quando os valores da PA sistólica (PAS) e diastólica (PAD) são iguais ou ultrapassam os 140x90mmHg. Por isso, o diagnóstico deve ser feito com a medição frequente dos níveis da PA. É causada, na maioria das vezes, pelo excesso do consumo de álcool, cigarro, alimentos com muito sódio, sedentarismo e excesso de peso. (Santos, e Pol-Fachin, 2022)

 

    O monitoramento da glicose sanguínea é feito pelo teste de GC. Este procedimento é utilizado para rastreio de possíveis portadores de DM. O diagnóstico desta doença metabólica é dado por meio do exame laboratorial onde a glicemia é dosada em jejum ou por meio da hemoglobina glicosilada (HBA1c), sendo esta a fração da hemoglobina que se liga à glicose que ela incorpora a partir do sangue. Assim, quanto mais altas as taxas de glicose livre no sangue, maiores os valores da HBA1c (Amaral, Oliveira, e Viana, 2016; Freitas, Dias, Costa, e Silva, 2019). Para a implementação do diagnóstico, os valores de glicose devem estar entre 126mg/dL e 200mg/dL em dois exames diferentes de glicemia em jejum ou apenas um exame com resultado superior à 200mg/dL. Valores de HBA1c acima de 6,4% estabelece o diagnóstico de DM. (Alves, Cruz, Sales, Furuko, e Oliveira, 2020)

 

    Sendo assim, este estudo objetivou relatar a experiência no rastreio de DCV por meio do monitoramento glicêmico e pressórico em praticantes de atividades físicas (AF) ao ar livre.

 

Metodologia 

 

    Trata-se de um relato de experiência docente, juntamente aos discentes do 1º módulo do curso Técnico em Enfermagem, de uma instituição de nível técnico. No dia 28 de maio de 2023 foi realizada a inauguração do Projeto Saúde aos Montes, da Prefeitura de Montes Claros, Minas Gerais, em parceria com as instituições de educação de ensino técnico e superior com cursos na área da saúde, sendo elas o Colégio Excelência, Faculdades Unidas do Norte de Minas (FUNORTE), Faculdade de Saúde Ibituruna (FASI), Centro Universitário FIPMoc (UNIFIPMOC).

 

    O projeto objetiva estimular uma rotina saudável para a população montesclarense de modo a ampliar e potencializar ações de promoção da saúde, prevenção de doenças, recuperação de danos, sequelas ou complicações e reabilitação das funções sensório-motoras. A iniciativa inclui a prática de AF, práticas integrativas e/ou complementares e acompanhamento integral, além do serviço de ambulatório de especialidades médicas.

 

    O padrão da atividade física é determinado por intensidade, duração e volume, que são fatores que devem ser considerados para atingir os objetivos de saúde e bem-estar. A intensidade é a carga e a dificuldade dos exercícios a qual pode ser classificada como leve, moderada ou vigorosa e avaliada subjetivamente, considerando o esforço percebido. A duração é o tempo de treino, de modo que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda pelo menos 150 a 300 minutos de atividade física de moderada intensidade por semana para todos os adultos. E o volume é a quantidade de estímulo aplicado aos músculos. Esta variável pode ser determinada pelo tempo de treino, número de repetições, velocidade e tempo de descanso. Salienta-se que o volume e a intensidade são inversamente proporcionais.

 

    Para adultos com 65 anos ou mais, a recomendação é de pelo menos 150 minutos de atividade física aeróbica de intensidade moderada por semana. Para reduzir a massa corporal, é recomendado um esquema de maior freqüência semanal, maior duração da sessão e intensidade baixa a moderada.

 

    Os intervalos de valores pressóricos são classificados em ótima (PAS < 120 mmHg e PAD < 80 mmHg); normal (PAS 120-129 mmHg e PAD 80-84mmHg), normal limítrofe (PAS 130-139 mmHg e PAD 85-89 mmHg), hipertensão leve (PAS 140-159 mmHg e PAD 90-99 mmHg), hipertensão moderada (PAS 160-179 mmHg e PAD 100-109 mmHg) e hipertensão grave (PAS ≥ 180 mmHg e PAD ≥ 110 mmHg).

 

    O evento teve início às 7h30, o qual foi realizado no Parque Sagarana, localizado no bairro Ibituruna do município de Montes Claros, Minas Gerais. Este Parque concentra um grande número de usuários os quais praticam frequentemente AF do tipo caminhada e corrida ao ar livre. Ainda, configura um ambiente saudável propício ao estímulo das relações humanas, bem como da interação interpessoal, ambiental e familiar.

 

    Cada instituição educacional ofertou um tipo de serviço de saúde distinto no intuito de monitorizar alguns parâmetros clínicos, tais como a mensuração da GC e a aferição da PA, bem como fazer o rastreio de possíveis usuários com predisposição à doença cardiovascular. Ainda, fizeram parte da agenda a promoção a prática de alimentação saudável por meio da distribuição de kits com frutas e a orientação sobre seus benefícios diários; massoterapia para controle da dor; Shiatsu, acupuntura, auriculoterapia, escalda-pés e Reiki para alívio da ansiedade, estresse, cansaço e dor muscular; vacinação para atualização do cartão vacinal; e a promoção a prática de AF por meio do alongamento muscular, da caminhada, da corrida, da dança e a orientação sobre seus benefícios diários.

 

    Foi realizada a prática de mensuração glicêmica e aferição pressórica pelos estudantes do 1º módulo do curso Técnico em Enfermagem do Colégio Excelência, sob supervisão dos preceptores, sendo estes enfermeiros e docentes da instituição, de forma voluntária e pactuada. Utilizou-se como estratégia no alcance das metas o convite direto ao usuário em estar conferindo a sua GC e sua PA de forma voluntária e espontânea.

 

    Para o registro dos dados glicêmicos e pressóricos, foi utilizado um formulário disponibilizado pela própria equipe da Secretaria Municipal de Saúde, o qual contemplava as seguintes variáveis: nome do participante; data de nascimento (DN); prontuário; cadastro de pessoa física (CPF); comorbidades (hipertenso ou diabético); PA; e GC. Ao final do evento, as fichas devidamente preenchidas foram entregues ao responsável do evento para lançamento no sistema de informação do município.

 

    O estudo obedeceu aos preceitos éticos estabelecidos pela Resolução nº 510, de 7 de abril de 2016, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que regulamenta a pesquisa envolvendo, direta ou indiretamente, seres humanos. Tendo em vista o estudo tratar-se de atividade realizada com o intuito exclusivamente de educação, ensino ou treinamento sem finalidade de pesquisa científica, de alunos de curso técnico, o envio do projeto de pesquisa para a apreciação e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) não foi necessário/obrigatório.

 

Resultados 

 

    O término do evento se deu às 12 horas. Ao final, foi constituída uma amostra de 64 pessoas atendidas na mensuração glicêmica e aferição pressórica no estande do Colégio Excelência. Ressalta-se que outros estandes também realizaram esta mesma prática. Os dados obtidos foram tabulados e representados em tabelas para melhor análise. Houve maior prevalência de usuários do sexo feminino (57,9%), com idade entre 41-50 anos (23,4%), média de idade de 46,06 ± 2,71153, ausência de comorbidades conhecidas e uso de medicação crônica (67,2%), glicemia entre 80-89 mg/dL e PA entre 120x80-130x90 mmHg (48,4%) (Tabela 1).

 

Variáveis	N	%	MTC
			Mo	Me	MAP±DP
Sexo
Masculino	27	42,1	-	-	-
Feminino	37	57,9	-	-	-
Faixa etária (anos)
11-20	05	7,8	14 e 17	17	16±1,87083
21-30	04	6,2	24	24	23,75±1,25831
31-40	02	3,1	-	37,5	37,5±2,12132
41-50	15	23,4	43 e 47	47	46,06±2,71153
51-60	12	18,7	57	55,5	55,66±2,70801
61-70	14	21,8	64 e 65	65	65,85±2,28228
71-80	08	12,8	74	74	73,62±2,13391
80-+	04	6,2	92	92	90,5±6,75771
Comorbidades
Sim. Quais?	21	32,8	-	-	-
HAS.	12	18,7	-	-	-
DM.	04	6,2	-	-	-
HAS+DM	04	6,2	-	-	-
Catarata	01	1,7	-	-	-
Não	43	67,2	-	-	-
GC (mg/dL)
Não mensurada	11	17,1	-	-	-
< 70	04	6,2	-	58,5	57,5±4,04145
70-79	06	9,3	77	76	75,83±2,2283
80-89	14	21,8	86	86	84,78±2,51698
90-99	09	14,0	90	93	93,77±3,96162
100-126	09	14,0	-	111	109,77±8,25799
127-200	10	15,6	147	147	155,8±21,90282
> 200	01	2,0	-	261	-
PA (mmHg)
Não aferida	16	25,0	-	-	-
< 70x40	00	0,0	-	-	-
80x40 – 90x50	00	0,0	-	-	-
100x60 – 110x70	09	14,0	-	-	-
120x80 – 130x90	31	48,4	-	-	-
140x90 – 150x100	08	12,6	-	-	-
160x100 – 170x110	00	0,0	-	-	-
> 180x100	00	0,0	-	-	-

Notas: MTC: Medidas de Tendência Central. Mo: Moda. Me: Mediana. MAP: Média Aritmética Ponderada. DP: Desvio Padrão. HAS: Hipertensão Arterial Sistêmica. DM: Diabetes Mellitus. GC: Glicemia Capilar. PA: Pressão Arterial. Fonte: Autoria própria

 

    Pode-se observar que, tanto do público masculino quanto do público feminino, a maior parte dos testes de GC foram realizados de forma pós-prandial, com prevalência do sexo feminino, enquanto que apenas quatro usuários fizeram o teste no estado de jejum. Do total geral, apenas 11 usuários não quiseram medir a GC. O intervalo etário com maior número de usuários que realizaram o teste de glicemia pós-prandial foi entre 61-70 anos. Quanto à existência de comorbidades crônicas antes da realização do teste, a maioria referiu não ter. Porém, dos que referiram ter, a doença mais prevalente foi a HAS (Tabela 2).

 

    Tendo em vista a realização da aferição da PA, foi observado que a maior parte dos usuários encontrava-se dentro do limite de normalidade, tendo maior prevalência o sexo feminino. Das alterações obtidas, é possível observar que houve maior prevalência do quadro de hipotensão quando comparada a HAS, sendo que as mulheres avaliadas apresentaram maior índice de hipotensão grau 1, enquanto que os homens apresentaram maior índice de HAS grau 1. Do total geral, apenas 16 usuários não quiseram aferir a PA. A idade de maior prevalência para a normalidade foi entre 41-50 anos. Quanto à existência de comorbidades crônicas antes da aferição, a maioria referiu não ter. Porém, dos que referiram ter, a doença mais prevalente foi a HAS (Tabela 2).

 

Variáveis	NR	GC		NR	PA
					Hipotensão			Normal	HAS
		GJ	GPP		3	2	1		1	2	3
Sexo
Masculino	05	02	20	06	-	-	02	13	06	-	-
Feminino	06	02	29	10	-	-	07	18	01	01	-
Total	11	04	49	16	-	-	09	31	07	01	-
Faixa etária (anos)
11-20	01	01	03	03	-	-	02	-	-	-	-
21-30	-	-	04	02	-	-	01	01	-	-	-
31-40	-	-	02	01	-	-	01	-	-	-	-
41-50	04	01	10	01	-	-	01	12	01	-	-
51-60	01	01	10	02	-	-	02	06	01	01	-
61-70	01	01	12	05	-	-	02	04	03	-	-
71-80	01	-	07	02	-	-	-	06	-	-	-
80-+	03	-	01	-	-	-	-	02	02	-	-
Total	11	04	49	16	-	-	09	31	07	01	-
Apresenta comorbidades?
Sim	01	01	19	04	-	-	03	09	04	01	-
Não	10	03	30	12	-	-	06	22	03	-	-
Total	11	04	49	16	-	-	09	31	07	01	-
Se sim, quais?
HAS	-	01	12	02	-	-	02	05	04	-	-
DM	01	-	03	01	-	-	-	02	-	01	-
HAS+DM	-	-	03	01	-	-	01	01	-	-	-
Catarata	-	-	01	-	-	-	-	01	-	-	-
Total	01	01	19	04	-	-	03	09	04	01	-

Notas: Não Realizado. GC: Glicemia Capilar. GJ: Glicemia em Jejum. GPP: Glicemia Pós-Prandial. 

PA: Pressão Arterial. HAS: Hipertensão Arterial Sistêmica. DM: Diabetes Mellitus. Fonte: Autoria própria

 

Discussão 

 

    A prática de AF ao ar livre em estudos realizados durante o período da pandemia da COVID-19 mostrou ter maior prevalência em homens (Silva, Bicalho, Soares, Silveira, Silva, e Haikal, 2023; Crochemore-Silva et al., 2020). Durante a inauguração do Projeto Saúde aos Montes, pode-se observar por meio dos dados coletados que a participação da mulher às práticas de AF, principalmente ao ar livre, é superior à dos homens. Os dados do estudo de Bergmann et al. (2021) corroboram com os achados deste estudo onde a análise ajustada indicou a prevalência de AF realizada por mulheres, quando comparada à participação masculina, com frequência igual ou superior a duas vezes por semana.

 

    A implementação de uma rotina de AF reduz os fatores de risco para o desenvolvimento de uma DCV (Hernández-Martínez, Varona-Uribe, e Hernández, 2020), bem como de doenças metabólicas e suas complicações, de modo a favorecer a diminuição do sedentarismo e a melhoria da qualidade de vida (QV) (Rodulfo, 2021). Ainda, as mulheres tendem a aumentar a sua expectativa de vida em sete anos a mais do que os homens, pois elas frequentam mais as instituições de saúde e realizam periodicamente consultas e exames de rotina de modo a manter a saúde em dia. Já os homens estão mais expostos aos fatores de risco para DCV (Palomino, 2020), tais como a má alimentação, a obesidade, o sedentarismo, dentre outros, e se preocupam mais com o sustento do próprio lar de modo a não priorizar o autocuidado na maior parte das vezes. Com isso, outros estudos científicos corroboram essa prevalência. (Massa, Duarte, e Chiavegatto Filho, 2019; Barroso et al., 2021; Mello, Nogueira, Sena, e Abreu, 2020)

 

    Após os 40 anos de idade, a mulher passa a diminuir a sua produção de estrogênio, hormônio este que estabelece um fator protetor contra as DCV, e passa a praticar mais AF como mecanismo compensatório à redução hormonal. Isto ocorre durante o climatério, período de transição em que a mulher passa da fase reprodutiva para a fase de pós-menopausa. Dessa forma, a menopausa (última menstruação) é um fato que ocorre durante o climatério. Com isso, a prática de AF, além de reduzir os riscos de DCV, contribui para atenuar os sintomas da menopausa. (Avelar, Oliveira Junior, e Navarro, 2012; Rodrigues, Carvalho, e Gonçalves, 2019; Cabral et al., 2020)

 

    A presença de uma ou mais de uma comorbidade aumenta consideravelmente os riscos para o desenvolvimento de uma DCV (Rodulfo, 2021). A HAS e a DM configuram DCNT de caráter silenciosas as quais podem causar graves complicações ao paciente, principalmente quando estão associadas (Pinto et al., 2019; SBD, 2019; Barroso et al., 2021; Pezzi Junior et al., 2022; Santos, e Pol-Fachin, 2022). Neste evento, pode-se perceber que a maior parte dos praticantes de AF não apresenta comorbidades correspondendo a um padrão de vida saudável com baixo risco cardiovascular, porém dos praticantes que apresentam doenças de base associadas, houve maior prevalência da HAS relatada pelos usuários. Das PA alteradas que foram aferidas, quadros de hipotensão, principalmente leve, foi mais observado em mulheres. Já os quadros de HAS, também leves, em homens.

 

Conclusão 

 

    Por meio da participação neste evento, pôde-se observar que através de uma pequena parcela de usuários atendidos, que as mulheres em fase climatérica (entre 41-50 anos) se cuidam mais quando comparadas aos homens, de modo a aumentar a qualidade de vida e diminuir a incidência dos fatores de risco para o desenvolvimento de comorbidades. Portanto, o monitoramento glicêmico e pressórico contribui para o rastreio precoce de DCV, bem como para a implementação precoce de seu diagnóstico e tratamento de modo a aumentar a sobrevida do usuário.

 

    Apesar da relevância do tema abordado, este estudo teve como limitações o número de praticantes de AF ao ar livre atendidos no dia do evento. Isso, pois, durante a prestação de assistência aos usuários havia também outros espaços que disponibilizavam o mesmo serviço de aferição de PA e mensuração da GC. Ainda, houve o encerramento precoce do procedimento em decorrência da insuficiência de material para toda a demanda. Diante disso, faz-se necessário a realização de novos estudos na área a fim de estabelecer maiores níveis de evidência científica e estipular por melhores tratamentos aos portadores de DCV.

 

Referências 

 

Alves, S.T., Cruz, A.C., Sales, S.C., Furuko, T.S., e Oliveira, J.S.R. (2020). Avaliação dos níveis de hemoglobina glicada (HBA1C) em doadores de sangue de primeira vez por cromatografia líquida de alta eficiência (HLPC). Hematology, Transfusion and Cell Therapy, 42(S2), 353-354. http://doi.org/10.1016/j.htct.2020.10.593

 

Amaral, M.E.C., Oliveira, I.B., e Viana, B.G.B. (2016). Avaliação da glicemia capilar e do percentil do índice de massa corpórea em estudantes do ensino médio. Revista brasileira de Análises Clínicas, 48(2), 149-152. https://www.rbac.org.br/artigos/avaliacao-da-glicemia-capilar-e-do-percentil-do-indice-de-massa-corporea-em-estudantes-do-ensino-medio-48-n2/

 

Avelar, L.F.S., Oliveira Junior, M.N.S., e Navarro, F. (2012). Influência do exercício físico na sintomatologia de mulheres climatéricas. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 15(3), 537-545. http://doi.org/10.1590/S1809-98232012000300014

 

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